"Confissões de seu servo pessoal, Srutakirti dasa
implorando para permanecer Dasa Dasa Anu Dasa vida após vida!"
TODAS AS GLÓRIAS A SRI GURU E GAURANGA!
Esse livro é dedicado a glorificação de
A.C. Bhaktivedanta Swami,
nosso querido Guru Maharaja, Srila Prabhupada!
Dedicado a ISKCON, o Corpo de Srila Prabhupada,
No centenário de Sua Divina Graça, 100o
Aniversário do Seu Dia de Aparecimento!
Dedicado a todos os servos de Sua Divina Graça,
Dedicado a todos Vaishnavas!
Copyright @ 1996, 1978 de Vincent Fiorentino. Todos
direitos reservados. Esse material não pode ser reproduzido na integra ou em
parte de qualquer maneira, sem a permissão do autor.
Traduzido por Giridhari Das
Conteúdo:
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Índice
Srila Prabhupada Uvaca 1
Outubro de 1972,
Vrindavan, Índia
Templo de Radha
Damodara
(Trecho de uma
carta)
São 5:30 da manhã
e Srila Prabhupada acabou de me chamar no seu quarto, querendo saber por que
Shyamasundara e Pradyumna ainda estão dormindo. "Não sei", respondi.
Ele me pede para chamá-los. Quando voltamos Srila Prabhupada nos diz que temos
que conquistar o sono.
"Acordar cedo
e tomar um banho frio não são austeridades, mas apenas bom senso e boa higiene”,
diz Srila Prabhupada. Então revelando uma incrível verdade, Sua Divina Graça
diz, "Cantando dezesseis voltas, seguindo os princípios regulativos,
acordando cedo, reduzindo o comer e o dormir, obtemos a energia espiritual. Se
alguém seguir esses princípios durante doze anos, tudo que ele falar será
perfeito!”
Todas as glórias a
Srila Prabhupada!
Oito de setembro
de 1972
ISKCON Pittsburgh
Esse é meu
primeiro dia como servo de Srila Prabhupada. A totalidade de meu treinamento
para me tornar o seu servo foi composta por ver Sudama Maharaja dando uma
massagem em Srila
Prabhupada e ser instruído, "Quando Srila Prabhupada
tocar o sino, vá imediatamente a seu quarto e veja como você pode servi-lo”.
São agora 2:00 da
tarde. O sino toca. Muito nervoso, vou
correndo a seu quarto e presto-lhe reverências. Sentando pergunto: "Que
posso fazer, Srila Prabhupada?". Ele sorri e responde: "Oh! Nada. Só
queria saber se você é rápido’.
Depois de
completar minha primeira missão com sucesso, relaxei e voltei ao meu quarto.
Srila Prabhupada estava me deixando a vontade com seu senso de humor, gentileza
e carinho.
Outubro de 1972,
Vrindavan, Índia,
Templo de Radha
Damodara
Brahmacari:
"Srila Prabhupada, diz aqui no livro de Krsna, em uma das histórias, que
Krsna e Balarama saltaram de uma montanha que tinha 88 milhas de altura. Onde
fica essa tal montanha?
Srila Prabhupada
pausou e então respondeu: "No céu."
Em outra ocasião:
Brahmacari:
"Srila Prabhupada, eu quero sempre estar a seus pés de lótus!"
Srila Prabhupada:
"Isso vai ser difícil, porque eu estou sempre me mexendo."
Srila Prabhupada
tinha um grande senso de humor.
Jardim de Srila
Prabhupada
ISKCON, Nova
Dwarka
Srila
Prabhupada estava em seu jardim com os pais de um jovem devoto. Sendo
responsável pelo paisagismo eles tiveram a boa sorte de agradar Sua Divina
Graça.
Kirtanananda
Maharaja e eu estávamos presentes. "Um devoto tem muito orgulho de ser um
servo de Krsna," disse Srila Prabhupada. "Um devoto tem esse orgulho.
Nós não temos vergonha de ser um servo de Krsna." Srila Prabhupada falou
então diretamente ao pais, "Seu filho é um bom rapaz e um bom
devoto." Eles ficaram muito satisfeitos pelas doces palavras de Sua Divina
Graça. Agora mais à vontade, eles comentam: "Os devotos não parecem ser
muito ambiciosos."
"É isso
mesmo," Srila Prabhupada falou. "Um devoto não tem qualquer ambição.
Ele simplesmente quer fazer algum humilde serviço para Krishna. Ele não tenta
fazer nada grandioso. Um devoto não tem ambição. Nós não temos ambição
alguma."
Vendo o
desconforto dos pais, Kirtanananda Maharaja interveio: "O que Prabhupada
quer dizer é que os devotos não têm ambição material." Srila Prabhupada
respondeu enfaticamente: "Não! Nós não temos ambição. O devoto não é nada
ambicioso. Nós só queremos servir Krsna."
Srila Prabhupada
sabia sempre o ponto que ele queria estabelecer. Às vezes seus discípulos
interrompiam Srila Prabhupada para interpretar suas declarações, achando que
Srila Prabhupada não entendia as pessoas devido a diferenças culturais.
Conhecendo a
elevada posição de nosso querido Srila Prabhupada, podemos compreender que Sua
Divina Graça sabia com quem ele estava lidando, o que eles queriam dizer e
exatamente o que ele queria que eles entendessem. Srila Prabhupada não
compromete a filosofia para agradar ninguém. Ele fala a verdade absoluta!
Jai Srila
Prabhupada!
Sete de outubro de
1972
San Francisco,
ISKCON
(Trecho de uma
carta)
Em vista da
maratona de 1000 000 de livros, nós gostaríamos de compartilhar esse néctar de
lila para o prazer de Srila Prabhupada e todos os seus discípulos e netos
espirituais.
Recentemente Srila
Prabhupada disse que nossa verdadeira pregação é a distribuição de livros. Ele
diz: "O que você pode falar a uma pessoa em três minutos? Mas se essa
pessoa lê uma página de um livro, isso pode salvá-la. Da maneira que tiver que
ser feito está bom, mas se você deixar a pessoa com raiva e ela não levar um livro,
então isso foi tolice sua."
As declarações de
Srila Prabhupada mostram a diferença entre nossas palavras e as suas. O poder
vem da pureza. Srila Prabhupada é um devoto puro, nós somos seus humildes
servos. Somos afortunados de distribuir suas palavras na forma de livros.
Srila Prabhupada
disse: "Meu Guru Maharaja diariamente produzia um pequeno jornal. O jornal
custava alguns centavos e sempre que um brahmacari voltava das ruas falando que
tinha vendido um exemplar, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati ficava muito feliz e
dizia:"Oh! Isso que você fez é muito bom!. Você é um bom
rapaz."
ISKCON, Nova Dwarka, LA., Califórnia
Hoje minha esposa,
Kusa devi, meu filho, Mayapuracandra, e eu pegamos um pequeno passarinho que
estava no nosso quintal e o botamos numa gaiola com comida e água. Ele parece
doente e prestes a morrer, mas não poderíamos deixar isso acontecer sem lhe dar
uma atenção especial. Ao seu lado botamos um CD Hare Krishna tocando
continuamente, caso ele esteja prestes a partir de seu corpo. Veremos se ele
vai melhorar ao ficar vivo ou ao morrer.
Às vezes, nós
devotos não agimos dessa maneira. Eu sempre ouvia que era melhor não nos
enredar nos assuntos de outras entidades vivas. Afinal de contas não somos
nosso corpo. Somos almas espirituais, constitucionalmente parte e parcela de
Krishna, e Seu servo. Se nós servimos o pássaro talvez tenhamos que nascer de
novo para receber os benefícios piedosos desta ação. A história abaixo talvez
explique a razão pela qual nós agimos desta maneira:
Era primavera de
1973 em Nova
Dwarka. Srila Prabhupada tocou seu sino. Imediatamente fui ao
seu quarto e prestei-lhe reverências. Quando sentei, seus olhos ficaram
arregalados. Olhando-me com grande preocupação ele apontou ao chão, próximo de
minhas pernas, e perguntou: "Você está vendo esse inseto?" Olhando em
volta durante alguns momentos finalmente vi o pequeno inseto.Indiquei que sim,
não tendo idéia do que estava para acontecer.
Num tom muito
sério, Sua Divina Graça disse: "Tenho visto esse inseto já há algum tempo
e ele não se moveu. Acredito que ele esteja com fome. Pegue uma flor prasadam e
leve-o para fora. Coloque-o numa planta para que ele possa se nutrir."
Imediatamente fiz o que meu mais
misericordioso Guru Maharaja pediu e voltei aos aposentos dos servos.
Nenhum de nós
mencionou o inseto de novo. Foi apenas mais uma maravilhosa ocasião onde ele me
mostrou o quanto indiscriminadamente misericordioso é um devoto puro. Sua
Divina Graça não achava que era um desperdício de tempo mitigar
transcendentalmente o sofrimento de até
a menor entidade viva. Agora, só por ver o menor dos insetos, sou forçado a me
lembrar de meu querido Srila Prabhupada. Não importa o quanto somos
insignificantes, se fomos afortunados o suficiente para conseguir o olhar de um
nitya-siddha, nossas vidas serão enormemente beneficiadas.
26 de abril de 1973
Los Angeles, Califórnia
ISKCON, Nova
Dwarka
(Trecho de uma
carta)
Desde que voltamos
a Los Angeles, Srila Prabhupada tem vindo aos meus aposentos para me mostrar
como preparar alguns pratos novos. A maneira com a qual ele entra, senta-se no
chão e comanda as atividades é realmente encantadora.
Outro dia
Jayatirtha deu a Srila Prabhupada um relógio de mesa que mostra o horário de
qualquer cidade no mundo, com o girar de um mostrador. Prabhupada ficou
bastante satisfeito com o relógio e disse que o homem que o inventou merecia os
US$300 que custou por ter esforçado tanto seu cérebro.
No andar de cima
está agora um famoso alfaiate. Ele elabora roupas para milionários, mundo afora
e quer preparar todo um conjunto de roupas para Prabhupada. Não consigo
imaginar o que ele pode fazer com uma kurta e um dhoti para ficar diferente e
ainda sim conseguir que Prabhupada os use.
12 de setembro de
1972
Dallas, Texas
Os últimos dias
têm sido os mais maravilhosos que já tive em Consciência de Krsna, apesar do
fato de não saber o que estou fazendo. Já dei a Srila Prabhupada três
massagens. Tendo recebido seu único comentário: "Muito obrigado."
Ontem ele entrou na cozinha e me mostrou como preparar seu almoço na sua panela
de três compartimentos. Ele fez dahl e verduras usando o mesmo chaunce e me
mostrou como enrolar chapatis sem usar o rolo. Ele falou que eles ficam
melhores assim – se você consegue fazê-los. Hoje ele novamente cozinhou seu
almoço para meu benefício. Ele fez três verduras, dahl, e arroz na panela, e eu
fiz os chapatis. Para suas outras refeições ele falou que ele queria um pouco
de fruta com leite de manhã e fruta no final da tarde – nada mais. Ele
enfatizou que só queria pequenas porções em seu prato.
Trecho de uma
carta datada de Sete de outubro de 1972
Essa manhã,
enquanto andava no Merit Park, no centro de Oakland, nós passamos por um
pequeno zoológico com um grande cartaz na entrada. Lá estava escrito:
"Mundo de Fantasia das Crianças". Prabhupada leu em voz alta e então,
apontando os arranha céus, falou: "Mundo de Fantasia dos Adultos".
Vyasa-Puja de
Srila Prabhupada 1973
Bhaktivedanta
Manor, Inglaterra
Faz dois anos e
meio que sou um brahmacari e estou ficando inquieto. Meus sentidos estão me
atraindo. Srila Prabhupada explicou inúmeras vezes que temos que reduzir a
quantidade de sono e comida para avançar espiritualmente. Assim, decidi
aproveitar esses dois dias de jejum para reduzir na alimentação. Quando quebrei
o jejum a meia-noite de Janmastami, eu comi bem pouco. Na tarde seguinte,
depois das comemorações do Vyasa-Puja de Srila Prabhupada, novamente comi bem
pouco. Não sentia fome. Suponho que meu estômago tivesse encolhido. No dia
seguinte, depois de novamente comer um pequeno almoço, Srila Prabhupada me
chamou em seu quarto. Depois de reduzir minha alimentação em apenas algumas
poucas refeições, Srila Prabhupada comentou observando-me: "Sua cara está
parecendo muita magra. Você não está se sentindo bem?". "Não, Srila
Prabhupada, estou bem. Estava tentando reduzir na minha alimentação.” "O
que é isso!?" Srila Prabhupada questionou, "Você tem serviços a serem
prestados. Você não deve reduzir sua alimentação. Isso é tolice. Você tem que
me dar massagens e fazer tantas outras coisas. Não reduza. Você deve comer tudo
que conseguir digerir. É isso que você deve comer."
Incrivelmente, em
nossos primeiros dezesseis meses juntos, essa é a segunda conversa que Srila
Prabhupada teve comigo a respeito do consumo de prasadam. Finalmente, decidi
não me preocupar com a quantidade de prasadam que comia em minhas refeições.
Veja só como Srila
Prabhupada é misericordioso! Sua Divina Graça tem um perspicaz poder de
observação, e esta sempre atento ao nosso bem estar. Às vezes, nós ficamos
muito ocupados planejando maneiras de avançar, mas Srila Prabhupada nos guia e
cuida de nós há todos instantes.
Jai Srila
Prabhupada!
Verão 1973-
Bhaktivedanta Manor, Inglaterra
Allen Ginsberg
acaba de chegar da Índia. Quando ele vem ter seu darsana com Srila Prabhupada
ele traz consigo um órgão. "Você está cantando Hare Krishna?",
pergunta Srila Prabhupada. "Sim, eu ainda canto Hare Krishna e outras
coisas. Posso tocar o órgão para você e cantar?", diz Allen. Srila
Prabhupada diz: "Sim, você pode."
Allen Ginsberg
começa tocar seu órgão, cantando "Ooooommm." Cada vez que ele cantava
"Om" sua voz ficava mais e mais grave. Enquanto isso, Srila
Prabhupada reclinava-se confortavelmente atrás de sua mesa. Quando Allen
Ginsberg acabou, Srila Prabhupada falou: "Você pode cantar o que você
quiser, mas continue cantando Hare Krishna. Enquanto você cantar Hare Krishna
estará tudo bem. Você pode cantar o que quiser, mas não pare de cantar Hare
Krishna."
Agora já tinham
muitos devotos no quarto. Srila Prabhupada falou: "Então, teremos
kirtan." Allen Ginsberg começou liderando, tocando o órgão e cantando o
maha-mantra. Depois de alguns minutos Srila Prabhupada olhou para Hamsadutta e
disse: "Sua vez de liderar."Então, virando para Allen Ginsberg,
falou: "Ele vai liderar, ele vai cantar." Pela graça de Srila
Prabhupada todo nós estávamos participando de um kirtan extático.
Srila Prabhupada
sabe como estimular a todos, não importa qual sua orientação ou passado. Sua
Divina Graça nos inspira a seguir o caminho de volta para o lar, de volta ao
Supremo.
Jai Srila
Prabhupada!
Junho de 1973
Mayapura
Candrodaya Mandir
Esse mês, o irmão
espiritual de Srila Prabhupada, Damodara Maharaja, veio visitar Sua Divina
Graça. Srila Prabhupada não estava muito interessado em vê-lo. Uma vez ele me
falou: "Se Damodara Maharaja vier, eu não quero vê-lo. Ele simplesmente
vem e fala: "essa math, eles estão fazendo isso, e aquela math eles
estão fazendo aquilo, e meus discípulos estão fazendo isso." Srila
Prabhupada então falou: "Não estou interessado nessas coisas. Eu adoraria
se ele viesse e falasse sobre Krsna ou falasse sobre filosofia, mas ele fala
sobre todas essas tolices. Eu não estou muito interessado em ouvi-las."
Falei para Srila
Prabhupada que tentaria impedir Damodara Maharaja de entrar em seu quarto. A
próxima vez que ele veio, eu lhe falei que Sua Divina Graça estava descansando
e não poderia ser incomodado. Damodara Maharaja não ficou satisfeito com meu
argumento. "Prabhupada falou que eu poderia vir sempre que quisesse. Por
que você não me deixa vê-lo?", ele perguntou. De novo, lhe expliquei:
"Não posso incomodá-lo enquanto ele está descansando." Damodara
Maharaja ficou furiosamente andando para um lado e para outro, determinado a
fazer as coisas de sua maneira. Eu já estava suando.
Milagrosamente,
Srila Prabhupada saiu de seu quarto, através da varanda, a caminho do banheiro
do outro lado do prédio. Imediatamente Damodara Maharaja chamou-o,
"Prabhupada! Swamiji!" Srila Prabhupada respondeu: "Oh! Entre,
entre. Eu já estarei com você." Quando Srila Prabhupada voltou ao seu
quarto, Damodara Maharaja falou: "Seus discípulos estão me criando muitas
dificuldades. Eles não me deixam entrar para vê-lo."
Srila Prabhupada
virou-se para mim, dizendo: "Por que você está criando tantos problemas
para ele? Eu te disse que sempre que ele vier, você deixe-o entrar. Ele é meu
irmão espiritual. Ele deve ter permissão de entrar imediatamente."
Respondi: "Tudo bem, Srila Prabhupada."
Eu estava vibrando
por ter tido a oportunidade de servir Srila Prabhupada assim tão intimamente e
me senti abençoado por ter acesso a seus pensamentos mais íntimos. Sua Divina
Graça foi capaz de agradar seu irmão espiritual e eu recebi a oportunidade de
ajudar. Srila Prabhupada nos mostrou como devemos tratar um irmão espiritual,
não importa o que sentimos. Ele era um diplomata transcendental e eu tive o
deleite de ser o seu confidente.
Setembro de 1972
Essa tarde, no
jardim, Srila Prabhupada sentou-se com a coluna bem reta e com seus olhos
abertos cantou, "Govindam adi purusam tam aham bhajami. Esse é o nosso
orgulho. Nós somos servos da pessoa mais grandiosa – Krsna. Todos são servos,
mas nosso orgulho é que somos servos de Krsna. Govindam adi purusam tam aham
bhajami."
Uma Massagem
Matinal de Srila Prabhupada
Quando era ainda
um pequeno menino andando com sua Mataji, Srila Prabhupada viu algumas armas de
brinquedo. "Quando eu vi as armas imediatamente tinha que tê-las,"
ele falou. Como sua mãe não queria lhe comprar uma, ele começou a chorar. Finalmente
sua mãe falou: "Está bem, está bem, vou lhe comprar uma arma. Srila
Prabhupada olhou para a arma em sua mão e então olhou para sua outra mão
vazia:"Eu não tenho um arma para essa mão. Eu tenho que ter uma para cada
mão"ele disse. "Não", disse sua mãe. Mas mesmo nesta tenra
idade, a determinação de Prabhupada era inabalável e ele conseguiu o que
queria. "Naquele instante", disse ele, "eu me deitava na rua e
começava a espernear, batendo meus pés, punhos e cabeça no chão." Ele chamava
isso de um ataque. Mostrando-me um marca em sua testa, ele falou: "essa
cicatriz é dessa época. Eu tinha plena certeza que deveria ter as duas armas.
Então, ela me comprou a outra arma."
Ele continuou:
"Quando eu queria alguma coisa, tinha que tê-la e minha mãe tinha que consegui-la.
Caso contrário, eu falava para meu pai e ele ficava muito chateado com minha
mãe e então ela tinha que fazer. Eu não sei" disse ele, "talvez meu
pai soubesse."
Srila Prabhupada
fez esse mui sutil comentário sobre seu pai "saber" a posição de seu
querido filho. Prabhupada não entrou em maiores detalhes, dando-nos a
oportunidade de chegar às nossas próprias conclusões. Aqui, novamente, nós
podemos ver a grande humildade que tem o devoto puro do Senhor Supremo.
Jai Srila
Prabhupada!
Devoto: Minha
mente vagueia o tempo todo enquanto canto. Não consigo controlá-la.
Srila Prabhupada:
"Que história é essa de controlar a mente? Você tem que cantar e ouvir. Só
isso. Você tem que cantar com a sua língua, e o som você escuta, é só. O que
isso tem a ver com a mente?"
31de novembro de
1972
ISKCON Bombaim
(Trecho de uma
carta)
Recebi sua carta e
fico feliz de saber das notícias atuais do mundo ocidental. Nenhum dos itens
era do conhecimento de Srila Prabhupada. Um item foi especialmente
interessante. Era a respeito da separação de homens e mulheres no templo de
Nova Iorque. Srila Prabhupada recebeu a carta a respeito deste assunto no mesmo
tempo que a sua chegou. Quando ele ficou sabendo que as mulheres só eram
permitidas no templo em horários estritos, por agitar os brahmacaris, ele falou
que os brahmacaris poderiam ir para as montanhas, pois não era possível ter
tais regras em nossos templos.
Em sua carta a
Ekayani, Srila Prabhupada disse: "Eu não sei porque essas coisas estão
sendo inventadas. Nós já temos o nosso padrão Vaisnava. É suficiente para todos
grandes, grandes santos e acharyas em nossa linha – por que deveria ser
inadequado para meus discípulos para eles então criarem algo? Isso não é
possível. Quem introduziu essas coisas – que mulheres não podem cantar japa no
templo, que elas não podem realizar arati e tantas outras coisas? Se eles ficam
agitados, então deixe os brahmacaris irem para a floresta, eu nunca introduzi
essas coisas. Se os brahmacaris não podem ficar na presença de mulheres no
templo, então eles podem ir para floresta, não ficar em Nova Iorque , por que em Nova Iorque tem tantas
mulheres, como eles poderão evitar vê-las? Melhor coisa é irem para a floresta
para não verem qualquer mulher, se eles ficam agitados tão facilmente, mas
então ninguém irá vê-los também, e como
nosso trabalho de pregação continuará?"
12 de setembro de
1972,
ISKCON, Dallas
(Trecho de uma
carta)
Outro dia Srila
Prabhupada tocou seu sino para me chamar. Entrei em seu quarto e prestei-lhe
reverências. Quando sentei ele sorriu e me disse: "Srutakirti, seu nome é
longo demais. Eu vou chamá-lo de Sruto." Durante os próximos dias Sua
Divina Graça calorosamente me chamou de "Sruto". Meu carinho por ele aumentou
imensamente. Ter Srila Prabhupada personalizando meu nome foi muito prazeroso.
Na noite passada
Srila Prabhupada ficou até as 11:30 da noite esclarecendo filosoficamente um
pequeno grupo de devotos, no qual eu estava incluso. Eu me sentia cansado, mas
era incapaz de me retirar de conversas tão nectáreas
Todas as glórias a
Srila Prabhupada!!!
Trecho de uma
carta datada 7 de outubro de 1972
Um dia em seu
quarto em Los Angeles
um psiquiatra estava criticando os devotos porque eles forçavam o público a
aceitar seus serviços. Srila Prabhupada rapidamente indicou que isso nos fazia
melhor que ele. Ele disse que nós dávamos nossos serviços para todos de graça
indo até eles, enquanto ele fazia as pessoas irem até ele e ainda lhes cobrava.
O psiquiatra silenciou-se rapidamente.
Carta a um devoto
a respeito de Srila Prabhupada e Dormir
Srila Prabhupada
falava sobre dormir em certas ocasiões. Quando eu me tornei seu servo, ele me
chamou a seu quarto depois de tirar um cochilo rápido após o almoço. Isso foi
no templo de Dallas quando Srila Prabhupada foi ver as instalações do gurukula.
Ele me perguntou se eu cochilava depois do almoço. Disse-lhe que não. Isso não
era algo que era feito nesta época. Então ele falou: "Eu sou um homem
velho e não consigo dormir muito tempo de uma só vez, portanto tiro um cochilo
depois do almoço."
Eu só estava com
ele há poucos dias nessa época. Mas sua humildade já tinha conquistado meu
coração. Em uma outra ocasião quando ele estava preparando-se para descansar à
tarde, falou para mim: "Sempre que vou descansar, penso: ‘Acredito que
agora vou desperdiçar meu tempo.’"
Srila Prabhupada
era incrível. Depois de estar dois anos
com ele uma coisa que eu sabia com toda certeza era que ele nunca, mas nunca,
desperdiçava seu tempo. Com vinte anos de idade, eu tinha dificuldade em
acompanhar seu ritmo em suas voltas ao mundo para esclarecer seus discípulos.
Ele tinha setenta e cinco anos nessa
época. Às vezes durante sua caminhada matinal, alguns de seus discípulos
sacudiam a cabeça, olhando um ao outro, querendo saber quando ele começaria a
voltar, pois já estavam ficando cansados de andar.
Uma vez Srila
Prabhupada estava num vôo curto saindo do JFK (Nova Iorque). Como era um avião
largo – aquele avião tinha uns 10 assentos lado a lado – muitos devotos
compraram bilhetes que lhes colocavam na mesma fileira que Srila Prabhupada.
Quem não gostaria da oportunidade de sentar-se perto de seu guru? Eu estava ao
lado de Srila Prabhupada – meu mais afortunado dever como seu servo. Com o
passar do tempo, infelizmente, alguns discípulos começaram a apagar. Era um
espetáculo e tanto – cabeças raspadas balançando para cima e para baixo ao
longo da fileira, como aquelas pequenas bonecas com as cabeças em molas que as
pessoas botam no vidro traseiro de seus carros. Prabhupada não estava nada
satisfeito com o a apresentação tamásica e deixou que eu soubesse.
"Veja só", disse ele, "todo mundo está inteiramente acordado
exceto os devotos. Eles estão em maya, dormindo. Todo mundo está acordado. Por
que eles não podem ficar acordados?" Normalmente quando Srila Prabhupada
falava comigo desta maneira eu ficava quieto. Com medo de dizer a coisa errada,
algo que pudesse incomodá-lo mais ainda, eu só ficava sentado lá e esperava ele
parar, sem dizer sequer uma palavra. Esse era um desses momentos. Durante meu
tempo com Srila Prabhupada, aprendi que
não existia tal coisa como uma boa razão. Não existia nenhum argumento que você
pudesse usar que Prabhupada não derrotava, e eu não era suficientemente
avançado para tê-lo me corrigindo regularmente. Portanto, nem tentei argumentar que, ao contrário dos
karmis, os devotos só dormiam algumas poucas horas. Prabhupada passou mais
alguns minutos mostrando como mesmo os karmis estavam acordados, mas os devotos
não conseguiam ficar acordados. Uma coisa era certa: eu não cochilei naquele
vôo.
7 de outubro de
1972,
ISKCON, Los
Angeles
Muitas vezes Sua
Divina Graça comentava como ele gostava do jardim. Ele falou que depois de
viajar em volta ao mundo tantas vezes ele chegou a conclusão que esse era seu
lugar favorito. Eu acho que isso é devido as mais de trinta plantas de Tulasi suntuosamente crescendo em
seu jardim. Srila Prabhupada falou: "Onde quer que esteja Tulasi, lá é
Vrindavan."
Krishna Balarama
Mandir: Vrindaban, Índia
Hoje estou sozinho
nos aposentos de Srila Prabhupada, dando-lhe uma massagem e me sinto sem jeito.
Ele está sentado de pernas cruzadas e eu estou sentado em frente dele,
massageando sua cabeça com óleo de sândalo. Estou embaraçado porque está muito
aparente que ele está olhando para os meus pés já há um bom tempo. Acredito que
nunca me senti tão consciente na presença de meu mestre espiritual.
Para minha
surpresa Sua Divina Graça falou: "Então, sua mãe é muito bonita?"
Agora, num estado de choque, respondo: "Bem, ele já tem quase cinqüenta
anos de idade agora, mas, sim, ela foi uma mulher muito atraente." Ele
diz: "Sim, eu sabia. Eu estava reparando seus pés. Seus pés são muito
simpáticos. Eles dizem que isso significa que sua mãe é bonita. Eu estava só
checando. Eu queria ver se isso era verdade."
Srila Prabhupada
era muito pessoal com seus discípulos. Ele cuida de nós, se preocupa com nós, e
está interessado em
nós. Jai Srila Prabhupada!
Julho de 1974,
Nova Vrindaban
Acabei de juntar-me
novamente a Srila Prabhupada depois de deixar seu serviço pessoal por seis
meses. Hoje, os devotos estão falando da maneira correta de se preparar
rasgulla. Srila Prabhupada disse: "Vou mostrar a vocês como fazer
rasgulla. Prepare tudo hoje." Todos devotos ficaram excitados. A maioria
teria sua única oportunidade de ver Prabhupada trabalhando na cozinha. Srila
Prabhupada explicou como preparar a coalhada e fazer a água açucarada. Quando
tudo estava pronto Srila Prabhupada entrou a cozinha e começou a cozinhar a
rasgulla. Todos olhos estavam em Srila Prabhupada enquanto que ele habilmente
induzia as bolas a rolarem no xarope. Todos exceto os de um sannyasi que estava
olhando para a rasgulla. Srila Prabhupada o corrigiu dizendo: "Você já
comeu metade desses."
Passando-se um
tempo, Srila Prabhupada virou para Kirtananda Maharaja e disse: "Agora
você pode assumir." No momento em que Srila Prabhupada
tirou suas mãos da colher as rasgullas desmontaram, encolhendo pela metade.
Kirtananda Maharaja tentou salvar a oferenda, mas já era inútil. Elas já
estavam estragadas. Alguns, de nós provaram-nas, só para ter certeza, mas,
infelizmente, o gosto estava péssimo.
Pela misericórdia
sem causa do Mestre Espiritual tudo é possível.
setembro de 1975,
Calcutá
Srila Prabhupada
está sendo transportado em um carro.
Parahamsa Swami e eu estamos com ele. Ao passar por um pequeno parque Srila
Prabhupada sorri e disse: "Eu jogava futebol aqui quando era jovem.
Adorava ser o goleiro porque era preguiçoso, não gostava de ficar correndo.
Essa era a posição que eu gostava."
Tempo e local
desconhecido.
Hoje, enquanto
massageava Srila Prabhupada ele me mostra uma cicatriz em sua perna e diz:
"Está vendo essa cicatriz? Isso aconteceu quando eu era jovem. Estava em
frente à minha casa e tinha fósforos. De alguma forma eu comecei um fogo e
minhas roupas imediatamente ficaram em chamas. Foi muito ruim. Eu não sei o que teria
acontecido comigo, mas, de repente, não sei da onde, apareceu um homem, apagou
o fogo e depois sumiu."
Srila Prabhupada
não entrou em maiores detalhes sobre esse cavalheiro que veio do nada. Ele
definitivamente deu a entender que a pessoa tinha vindo diretamente do mundo
espiritual. Eu sei que não posso pedir para ser mais específico. Depois de
estar tanto tempo com Srila Prabhupada sabia que ele já tinha falado o tanto
que queria. No passar dos dois anos que fiquei com ele, Srila Prabhupada nunca
fez qualquer comentário na minha presença declarando que ele tinha vindo do
mundo espiritual. Ele é tão piedoso e misericordioso que ele nos estimula
dizendo que podemos nos tornar Conscientes de Krsna nessa vida mesmo.
Ele é o acarya,
ensinando pelo exemplo. Ele nunca nos pediu para fazer algo que ele mesmo não
fazia. Ele comia, dormia, cantava suas voltas, acordava cedo, lia o Srimad
Bhagavatam. Ele nunca agia de forma superior a seus discípulos. Às vezes ele
dizia, "É meu dever corrigi-lo porque você é meu discípulo." Nós
somos suas crianças e seu dever é nos ensinar.
Nós sabemos que
Srila Prabhupada nos foi enviado do mundo espiritual por Sri Caintanya
Mahaprabhu, mas uma razão pela qual eu sou tão apegado a ele é porque ele nos
deixou ficar a vontade consigo, agindo como se ele estivesse
"praticando" Consciência de Krsna,
ao invés de ser a encarnação do mesmo.
Pessoalmente, eu
sempre achei que aquela pessoa que apagou o fogo foi Krsna, a Suprema
Personalidade de Deus.
7 de outubro de
1972
ISKCON, Los
Angeles
(Trecho de uma
carta)
Certa tarde no
jardim de Nova Dwarka, Srila Prabhupada olhava para o céu e falou: "Então,
o céu é a cor de Krsna?" Um discípulo respondeu: "No livro de Krsna
diz que Krsna é azul escuro como uma nuvem de chuva." Srila Prabhupada
disse: "O céu é a cor de Krsna. É a luz da efulgência do corpo de Krsna
que faz o céu ficar azul."
Às vezes depois de
deixar o jardim, ele voltava ao seu quarto e escutava gravações da aula de
Srimad Bhagavatam daquela manhã. Então ele me pedia para escolher um jasmim
estrelado que florescia a noite nos arbustos do seu jardim. O perfume da flor
era especialmente fragrante à noite. Uma noite, enquanto segurava um ramo
próximo a seu nariz por vários minutos, ele disse: "Ah, isso é
Krsna!".
Várias vezes eu as
levava a seu quarto logo antes da massagem da tarde. Durante sua massagem ele
freqüentemente as cheirava. Ele então as deixava em seu travesseiro, próximo ao
seu nariz, toda noite. Na manhã seguinte eu encontrava as flores delicadamente
sobre seu travesseiro, exatamente onde estavam na noite anterior. As flores
pareciam tão frescas e perfumadas como se tivessem sido apanhadas naquele
instante. Sua Divina Graça está sempre nos mostrando como Krishna está por toda
parte da criação material.
25 de outubro de
1972, Vrindavan, Índia
Templo de Radha
Damodara
(Trecho de uma
carta)
Enquanto
caminhávamos ao longo do Yamuna, Srila Prabhupada pediu a um de nós para pegar
um pouco de água. Shyamasundara Prabhu trouxe um pouco em sua mão. Srila
Prabhupada jogou um pouco em sua cabeça e nos pediu para fazer o mesmo. Então
ele disse: "Isso é tão bom quanto tomar um banho no Yamuna."
Enquanto estávamos
no palácio no Keshi-ghata, Srila Prabhupada advertiu os devotos a não
mergulharem no Yamuna porque tinham muitas tartarugas grandes na água e
podíamos nos machucar. Srila Prabhupada está sempre preocupado com nosso
bem-estar, sob todos aspectos.
Uma Mensagem Em Resposta Ao Passatempo
De Brigas Entre As Facções.
Medos de Revelar
Meu Coração
Acabei de colocar
algumas gotas de néctar de Prabhupada, porém eu estou realizando a minha falta
de qualificações e as limitações de meu esforço. Quem pode realmente glorificar
o Senhor e Seu devoto puro? Lendo algumas críticas feitas por respeitáveis
devotos, fiquei com medo. Enquanto escrevia diariamente, já estava me
preocupando com a possibilidade de alguém achar minhas memórias ofensivas ou
blasfemas. Obviamente, sou cheio de defeitos. Minhas intenções são de
glorificar Sua Divina Graça e distribuir aos meus irmãos e irmãs espirituais um
pouco do néctar de Prabhupada. Meu desejo é poder compartilhar o glorioso
desejo de Srila Prabhupada de servir o Senhor, para que todos possamos nos
inspirar e continuar o processo de serviço devocional, desejando pessoalmente
servir nosso querido Srila Prabhupada e dar continuidade a sua missão.
Eu sinto que é meu
dever contar minhas memórias de Sua Divina Graça. Nunca fui muito filosófico
mas sempre amei a maneira como Srila Prabhupada conduzia cada minuto de sua
vida. Ele foi, literalmente, meu pai. Meu próprio pai morreu quando eu tinha
três anos de idade e até completar meus dezenove anos, quando encontrei Srila
Prabhupada, nunca tive uma grande
influência masculina na minha vida. Acredito que isso é uma razão pela qual
minhas histórias têm a tendência de mostrar mais seu lado carinhoso. Existem
tantas facetas da personalidade de Srila Prabhupada, mas só lembro-me de sua
doçura, compaixão, misericórdia e sua simples inocência e bondade. Tendo dado
aulas ao longo dos anos tem me ficado aparente que os devotos estão ansiosos
para ouvirem a respeito dessas qualidades.
Algumas das
histórias favoritas são aquelas onde eu descrevo como ele me corrigia me
chamando de nomes pitorescos como "mlechha", "homem morto",
"bandido", etc. São histórias extáticas porque quando as conto, espero poder transmitir o amor que Srila Prabhupada tinha por mim. Sei que ele
me amava e, portanto ele podia me xingar assim, para tentar penetrar minha
cabeça dura. Se eu fosse escrever essas mesmas histórias, tenho certeza que alguém iria ficar ofendido,
achando que eu estava vendo Srila Prabhupada como um pessoa normal.
Em 1978 eu me
sentei com Satsvarupa Maharaja e ele gravou minhas memórias durante um período
de cinco dias. Agora vejo esses manuscritos e posso ver tantas coisas que
seriam ofensivas para alguns devotos. Porém, essas atividades aconteceram. Por
favor, perdoem-me pelas recordações imperfeitas. Compreendo que minha
habilidade de compartilhar é cheia de imperfeições, mas se eu esperar até me
purificar, temo que vocês nunca as ouçam. Srila Prabhupada falou tantas coisas.
Ele gerenciou uma sociedade transcendental mundial com um bando de ocidentais
desqualificados. Ele era a "Consciência de Krishna" dentro da ISKCON.
Em meus
manuscritos muitas vezes digo que Srila
Prabhupada estava ansioso ou que ele cantava em voz alta quando estava
chateado. Ele instruiu os outros a fazerem o mesmo. Uma vez ele me disse:
"quando você estiver com sono e tem voltas para completar, você pode andar
pelo quarto e cantar, como eu faço." Eu sei que Srila Prabhupada nunca
estava com sono, não da maneira como que fico com sono. Eu estou dormindo,
mesmo quando estou acordado. De fato, os únicos momentos onde eu estou acordado
são quando eu me lembro dele. Em seu sono ele estava com Krsna da mesma forma
que estava quando acordado.
Eu vi Srila
Prabhupada aflito, ansioso, chateado, com raiva e furioso. Freqüentemente isso
era devido à nossa imaturidade ou nossas tentativas de mudar a filosofia, etc.,
mas não importa qual era seu humor, ele estava sempre absorto em Consciência de
Krsna.
Rezo para que
todos vocês continuem escrevendo sobre os passatempos transcendentais de Sua
Divina Graça. Sei que sou caído e que é muito provável que não consiga apresentá-lo corretamente.
Dependo da minha esposa, Kusa devi, para editar todas minhas escritas, ela é
muito mais avançada do que eu e pode cancelar a maioria das minhas ofensas
antes de chegarem ao público. Fui o servo de Srila Prabhupada durante dois anos
e eu sei que cometi mais ofensas que vocês possam imaginar, mas sua
misericórdia é tão grande que ele me permite continuar fazendo algum serviço.
TODAS AS GLÓRIAS A
SRILA PRABHUPADA!
Eu já falei,
"Todas as glórias a Srila Prabhupada" milhares e milhares de vezes,
inconscientemente repetindo essas gloriosas palavras sem total compreensão,
atenção ou consciência. Eu as repito como um robô. Eu preciso celebrar o real
significado deste mantra.
TODAS AS GLÓRIAS A
SRILA PRABHUPADA!
Relendo as
histórias nesta pasta a frase "Todas As Glórias a Srila Prabhupada!"
Significa mais para mim agora do que jamais foi possível no passado. Não estou
interessado em apresentar meus pontos de vista pessoais sobre iniciação no ramo
da ISKCON do Brahma Madhava Sampradaya através desse trabalho.
Srila Prabhupada
dizia muitas vezes que a verdade absoluta é imutável. Ele nos deu o presente
inigualável da "Verdade Absoluta". Minha compreensão não vai ser
mudada por pontos de vista filosóficos apresentados por diferentes grupos
dentro ou fora da ISKCON.
É obvio que isso é
valido para muitos devotos sinceros, que escreveram volumes de ensaios, cartas,
panfletos, etc. Eles têm sido afortunados por terem sido expostos ao processo
de serviço devocional pelo nosso glorioso mestre espiritual Srila Prabhupada.
TODAS AS GLÓRIAS A
SRILA PRABHUPADA!
Essas lindas
palavras significam tanto para mim agora. São 3:00 da manhã. Acabei de acordar
de um sonho com meu amado Mestre Espiritual onde ele ocupava alguns de seus
discípulos. Estou muito feliz de ter atividades como essas que ocorrem na minha
vida e assim tenho que compartilhar essa benção com outros.
Se não fosse
através de Srila Prabhupada, quais seriam as causas de nossas disputas na vida?
Alguns de nós estaríamos discutindo quem ganharia a copa. Outros estariam mais
dispostos a discutir o preço de ações na bolsa, etc. Os mais piedosos estariam
tendo debates sobre como melhor apresentar os ensinamentos de Jesus de uma
maneira mais pura.
Nós somos tão
afortunados. Nós podemos discutir e debater sobre a melhor maneira de dedicar
nosso corpo, a mente e inteligência no processo de serviço devocional ao Senhor
Krishna. Srila Prabhupada pegou esse bando briguento e nos tornou um grupo
muito afortunado.
TODAS AS GLÓRIAS A
SRILA PRABHUPADA!
Existem devotos
que querem ser iniciados diretamente por Srila Prabhupada, cantar suas
dezesseis voltas e seguir os princípios
regulativos. Existem outros que querem ser iniciados por um dos discípulos de
Srila Prabhupada, cantar dezesseis voltas e seguir os princípios regulativos. E
por aí vai.
Eu posso ver Srila
Prabhupada sorrindo agora. É um sorriso lindo, que eu já vi muitas vezes antes
e rezo para continuar a ver. Ele certamente vai rir por último. Ele pegou um
grupo de ocidentais irreligiosos, peritos em brigar, e nos fez brigar sobre ele.
O que poderia ser melhor?
Trabalhar juntos
para ele? Isso seria bom. Obviamente, a única maneira de fazer isso é servi-lo
e, se preciso, brigar um pouco também.
TODAS AS GLÓRIAS A
SRILA PRABHUPADA!
Parece que é isso
que esta acontecendo aqui, porém nós estamos todos dedicados a glorificar Srila
Prabhupada.
Tenho que
confessar que gosto de uma boa briga. Isso é, gosto de ver a ação de longe, de
um lugar seguro. Meu ego raramente me permite lutar diretamente, a não ser que
eu saiba que posso vencer. Perder seria demais para meu falso ego, mas como um
apreciador de esportes, gosto de assistir a uma boa briga. Isso é natural. Mas
esse assunto é de longe grande demais para minha pequena mente. É necessário
apresentar uma tese para apresentar um pequeno argumento. Não sou nem um pouco
qualificado para tal tarefa. Na escola, não tinha nenhuma vontade de me juntar
ao clube de debates. A única coisa a que estava disposto discutir era de quem
era o carro mais veloz, qual era a menina mais bonita, e, é claro, quem iria
ganhar o campeonato.
Não quero criticar
vaishnavas aqui, nem quero minimizar o assunto sendo discutido por uma
assembléia de devotos. Eu permaneço humilde na frente de todos aqueles que
buscaram abrigo aos pés de lótus de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami,
Prabhupada. Espero que eu possa obter a misericórdia de todos devotos reunidos
para ser tão passional em meu amor por ele.
São três da manhã
e Srila Prabhupada me acordou de um sonho maravilhoso. É sua misericórdia sem
causa, e ele está estaticamente em minha mente. Durante os dois anos que passei no serviço pessoal de Srila
Prabhupada, era extremamente claro que ele queria que nós trabalhássemos
juntos. Divergências sempre existiram e sempre existirão. Apesar de nossos
problemas, é possível trabalharmos juntos.
Srila Prabhupada
às vezes contava a história dos filhos que estavam massageando o pai. Eles
tinham suas divergências. Um filho dava uma cutucada onde o outro estava
massageando, esse outro então fazia o mesmo onde seu irmão estava massageando.
Obviamente, isso não era nada bom para ninguém.
Durante nossos
debates e discussões é importante lembrarmos que estamos todos massageando o
corpo de nosso pai, Srila Prabhupada. Se nós, mantermos isso em mente, as
diferenças existirão, mas respeitando um ao outro como amadas crianças de Srila
Prabhupada, nós poderemos dar ao nosso pai uma excelente massagem. ISKCON é o
corpo de Srila Prabhupada. Srila Prabhupada falou que sua caminhada matinal e
sua massagem o mantinham em boa saúde. Vamos todos contribuir para a saúde,
nosso amado, Guru Maharaja dando-lhe uma boa massagem enquanto honramos nossos
Irmãos e Irmãs Espirituais. Vamos concentrar nossos motivos e ações nas:
GLÓRIAS DE SRILA
PRABHUPADA!
Quase toda manhã
Srila Prabhupada acordava as duas ou três da manhã e começa seu trabalho de
tradução para que seus discípulos pudessem ter êxtases transcendentais escritos
para lerem sempre. Algumas manhãs, eu era afortunado o suficiente para acordar
ao som de sua voz no quarto ao lado. Às vezes ele estava fazendo a tradução das
palavras, as vezes lentamente falando um significado no Dictaphone. Mesmo eu
estando enfurnado no modo da ignorância, ainda assim me sentia afortunado de
poder ouvir a história transcendental sendo gravada. Agora, vinte e cinco anos
depois, finalmente acordei cedo de manhã para escrever a única êxtase
transcendental que tive pela misericórdia de todos devotos e meu Mestre
Espiritual, e isso é:
TODAS AS GLÓRIAS A
SRILA PRABHUPADA!
Implorando para
ser sempre o servo de Srila Prabhupada,
Srutakirti dasa
Agosto de 1973,
Bhaktivedanta Manor
Faz um ano que
estou com Srila Prabhupada e já me
acostumei com o seu ritmo
transcendental. Às vezes, sentado em meu quarto, ouvia os doce sons de seu órgão vindo de seu
quarto.Sabia que eu podia convidar quaisquer devotos que tivessem por perto do
quarto de Prabhupada enquanto Sua Divina Graça cantava, mas hoje não tinha
ninguém por perto. Então, fui a seu quarto e prestei-lhe minhas humildes
reverências. Ao sentar fui coberto pelo néctar do melodioso bhajan de Srila
Prabhupada. Todos entravam em êxtase só por ouvi-lo tocar o órgão que, junto
com o som de sua voz, amolecia meu coração de pedra. Sentei-me em silêncio,
escutando-o, sem me mexer. Não queria criar qualquer tipo de distração enquanto
ele estava nesse humor. Para mim era um espanto como ele podia ter tantas
responsabilidades, mas era sempre capaz de sentar-se em seu quarto e cantar
japa, fazer bhajanas, e ler seus livros.
Depois de um
minuto, tirando seus olhos do órgão, ele olhou para mim e fez um sinal com a
cabeça, eu já sabia que era para eu
pegar seus karatals e começar a acompanhá-lo. Quando ele terminou, eu disse:
"Srila Prabhupada, seu kirtan e bhajans são sempre diferentes de todos
outros que já escutei." Ele começou a rir e respondeu: "Sim, eu tenho
meu próprio estilo de cantar."
É claro que o
estilo de Srila Prabhupada era às vezes imitado, mas nunca era igual. Afinal de
contas, quem mais poderia montar uma sociedade internacional cantando debaixo
de uma árvore?
Inverno de 1972,
Índia
No meu primeiro
tour pela Índia, outono e inverno de 1972, Malati devi cozinhou para Srila
Prabhupada. Ela era a esposa de Shyamasundar dasa, o secretário de Srila
Prabhupada. Eles tinham uma filha, Sarasvati, que tinha uns três anos de idade
naquela época. Ela era a menininha mais afortunada. Ela era a única pessoa que
eu conheço que podia entrar e sair do quarto de Srila Prabhupada sem ser
anunciada.
Era como se ela
aparecesse do nada, como uma pequena Narada Muni, em diferentes templos, mundo
afora. Ela sempre acabava aparecendo no quarto de Prabhupada durante alguns
momentos, e então, da mesma forma que vinha, ela desaparecia. Ele gostava de
sua companhia. Às vezes ela sentava em seu colo. Outras vezes ele criava
dificuldades para ela, carinhosamente provocando-a como um avô faria. Agora uma
coisa a respeito dela era certo, ela sempre tinha prasadam em suas mãos e boca.
Srila Prabhupada observava isso e às vezes ele dava-lhe doces que ficavam em
sua mesa.
Um dia ela entrou
no quarto enquanto eu estava massageando Srila Prabhupada. Como sempre ela
estava comendo. Ele falou: "Você está sempre comendo. Sabe do que você me
lembra, Sarasvati?" Ela olhou para ele com sua boca cheia de comida, e,
balançando a cabeça, indicou que ela não tinha idéia. "Você me lembra da
cidade de Nova Iorque – os caminhões de lixo!” "Você conhece os caminhões
de lixo de Nova Iorque?" Com a cabeça ela indicou que sim. Prabhupada
continuou: "Em Nova
Iorque eles têm esses enormes caminhões de lixo. Eles descem
a rua e os trabalhadores botam o lixo dentro dele." Aqui, Srila Prabhupada
abriu seus braços, um sobre sua cabeça e o outro próximo ao chão. "Ele
descem a rua e botam o lixo no caminhão, na grande boca do caminhão e aí o
caminhão vai zzzzzzzzuuuuummmmmmmmmmm e fecha e come tudo. Então faz
iiiimmmmmmm e abre de novo. Assim."
Falando assim, ele
imitou o abrir e fechar da boca do caminhão de lixo com suas mãos. "Sua
boca é exatamente assim. Você está sempre botando coisas nela. Igual aos
caminhões de lixo de Nova Iorque."
Ele conseguia
diverti-la, mas com a mesma rapidez com qual ela aparecia, logo sumia. Talvez
ela ia pegar mais prasadam de sua mataji. Continuei fazendo a massagem em Srila Prabhupada ,
impressionado por sua grandeza e tentei imaginar que ações piedosas ela deve
ter realizado para poder brincar com Sua Divina Graça tão intimamente. A
oportunidade que eu tive de presenciar o lila de Srila Prabhupada era
claramente um sinal de sua misericórdia sem causa. O jeito carinhoso e
brincalhão de Srila Prabhupada continua a amolecer meu coração de pedra.
Caminhada Matinal,
Perth, Austrália
Andar de manhã com
Srila Prabhupada nunca era chato. Às vezes Sua Divina Graça não falava nada, e
só cantava japa durante toda caminhada. Isso podia ser decepcionante para
alguns devotos que não tinham essa rara oportunidade normalmente. Às vezes eles
faziam perguntas, na esperança de conseguir com que Srila Prabhupada começasse
um debate ou conversa, mas isso era um negócio arriscado. Srila Prabhupada não
era sujeito às nossas vontades. Às vezes ele dava uma resposta rápida a essas
perguntas e continuava a andar em silêncio.
Hoje, porém, Srila
Prabhupada estava falante, bem humorado. Sorrindo ele perguntou aos devotos:
"O devoto é correto ou trapaceiro?" Um devoto respondeu: "Ele é
correto, Srila Prabhupada." Com um brilho malandro em seus olhos ele
perguntou: "Tem certeza? Ele é correto ou trapaceiro?" Seus
discípulos, sem compreenderem que tinham caído numa armadilha, novamente
responderam com entusiasmo: "Sim, o devoto é correto!"
Srila Prabhupada
então lhes deu a resposta inesperada: "De fato, o devoto é
trapaceiro!" Todos ficaram fixos em suas posições, boquiabertos. Srila
Prabhupada explicou: "Veja eu, por exemplo, vim a seu país e estavam todos
comendo carne, se intoxicando, fazendo todo tipo de tolice. Enganei a todos.
Enganei vocês a se tornarem Conscientes de Krishna. Então, nesse sentido, o
devoto tem que ser trapaceiro, porque ele tem que poder enganar, como eu
enganei a todos. Ninguém queria ser Consciente de Krishna, mas eu os enganei.”
Srila Prabhupada era
o Acarya. Ele nos ensina pelo exemplo. Ele nos mostrou sua arte nos enganando
novamente durante a caminhada matinal.
Entrar no quarto
de Srila Prabhupada era sempre uma experiência esclarecedora. Às vezes Srila
Prabhupada sentava e lia seus livros. Quando ele os lia parecia que tinham sido
escritos por outra pessoa, pois ele não os lia com a mente de um autor
procurando erros de edição ou gramática. Ele os lia com o prazer de um devoto
puro, lendo os passatempos do Supremo Senhor a Quem ele estava inteiramente
apegado.
Um dia em Los Angeles entrei em
seu quarto para realizar minhas tarefas e ele estava sentado lendo o
"Bhagavad Gita Como Ele É". Depois que eu prestei-lhe reverências,
ele olhou-me e disse: "Se você ler somente esse livro e compreendê-lo,
você se torna Consciente de Krishna ainda nesta vida." Alguns meses
depois, quando entrei em seu quarto, ele estava lendo o "Néctar da
Devoção". Ele olhou-mee disse: "Esse livro é tão bom. Só por ler esse
único livro você pode se tornar Consciente de Krishna."
Srila Prabhupada
nos ensinava através de seus exemplos. Ele fazia tudo que ele nos pedia para
fazer. Ele pedia para lermos seus livros e ele os lia também.
Sete de outubro de
1972, Berkeley, Califórnia
Essa noite Srila
Prabhupada falou na Universidade da Califórnia, em Berkeley, penetrando o
coração da capital neo-intelectual hippie. Os devotos de São Francisco
receberam sua palestra com entusiasmo e prazer. Eles prepararam barris de
pipoca e as distribuíram depois da palestra de Srila Prabhupada.
Srila Prabhupada
perguntou: "O que é isso?" Jayananda, que foi um personagem chave na
preparação e distribuição de pipoca prasadam nos sankirtans da rua de Berkeley
já algum tempo, respondeu: "Pipoca, Srila Prabhupada, você quer um
pouco?" Srila Prabhupada respondeu curioso: "Sim, me dê um
pouco."
Os devotos
distribuíam a pipoca num pequeno saquinho onde estava escrito o mantra
"Hare Krsna". Srila Prabhupada comeu a pipoca com grande deleite e
disse: "Oh, isso é bom!" Todos devotos, especialmente aqueles que
tinham preparado e distribuído a prasadam, sentiram enorme prazer. Agora eles
tinham certeza que sua oferta tinha sido aceita e suas vidas eram bem
sucedidas. Quando Srila Prabhupada acabou de comer a pipoca no saquinho,
aumentou ainda mais o carinho que todos Vaisnavas presentes sentiam por ele,
pois deixou sua mão dentro do saquinho, alegremente. Foi muito doce. Todos
devotos atentamente acompanhavam cada movimento de Srila Prabhupada. A atitude
brincalhona de Sua Divina Graça sempre entusiasmava o coração dos devotos.
Cheios de alegria
os devotos realizaram um extático Hare Nama Sankirtan na Av. Telegraph, um
lugar famoso por seus habitantes hippies. A caminho de casa, Srila Prabhupada
continuou a entusiasmar os devotos dirigindo lentamente ao longo do grupo de
sankirtan. Todos devotos cantavam em bem-aventurança e dançavam eufóricos,
motivados pela presença e supervisão de Srila Prabhupada.
Na noite seguinte
Srila Prabhupada teve outro programa de pregação. Desta vez os devotos
trouxeram pipoca para Srila Prabhupada e a ofereceram. Srila Prabhupada falou:
"Não, eu sou velho e não posso fazer esse tipo de coisa com muita
freqüência. É muito bom, mas para mim é difícil de digerir. Ele recusou dizendo:
"É muito bom. Eu gosto."
Jai Srila
Prabhupada!
Seu servo,
Srutakirti dasa e
Kusa devi dasi (sim, eu também estava presente)
Abril de 1973, Los Angeles, Califórnia
Templo de Nova
Dwarka
Sempre que há
privacidade e o tempo está agradável Srila Prabhupada toma sua massagem ao ar
livre, com suas costas para o sol matinal, não importa o local. Muitas vezes
Sua Divina Graça falou: "O sol matinal lhe dá energia e o sol da tarde lhe
tira." Hoje é um lindo dia ensolarado e Srila Prabhupada decidiu tomar sua
massagem em "seu lugar favorito", o jardim. Tendo eu colocado o
colchonete na grama com o óleo de sândalo e mostarda ao lado, Srila Prabhupada
veio e sentou-se de pernas cruzadas.
Hoje algo fora do
comum aconteceu. Enquanto massageava as costas de Srila Prabhupada um gatinho,
ainda filhote, passou por baixo da cerca. Talvez o gatinho quisesse associação
com um devoto puro. A coisinha peluda começou a lamber as costas de Srila
Prabhupada e carinhosamente esfregar seu pelo na Sua Divina Graça. Para minha
grande surpresa, Srila Prabhupada permitiu que isso continuasse durante alguns
minutos.
Finalmente, Srila
Prabhupada falou: "Agora chega, leve-o para fora.". Rapidamente,
peguei o gato e coloquei-o do outro lado da cerca. Por ser muito pequeno e
extremamente determinado a conseguir mais associação o gatinho imediatamente
voltou por baixo da cerca, e voltou.,.voltou... voltou.... Três vezes ele
entrou e três vezes eu o coloquei para fora.
Finalmente achei
uns blocos de cimento e coloquei-os ao longo da base da cerca. O gato não
conseguia mais entrar e nem conseguir mais um carinho de Sua Divina Graça.
Agora com seu caminho bloqueado, o gato ficou chorando fortemente do outro lado
da cerca enquanto durou a massagem de Srila Prabhupada. Miando, ele lamentava
sua desgraça. Aprendi algo com aquele gatinho: eu deveria ter esse mesmo forte
desejo de me associar com um devoto puro.
Vejam só como
mesmo um momento de associação com um devoto puro pode mudar a vida de até um
pequeno animal. O gato deve ter sido atraído pela natureza transcendental de
Srila Prabhupada. Ele queria se banhar no néctar de Prabhupada não importava
quais os obstáculos à sua frente. Rezo para que um dia eu possa ser tão
determinado quanto aquele gatinho e ter a associação de meu Guru Maharaja em
serviço devocional amoroso.
Primavera de 1973, Los Angeles, Califórnia
ISKCON, Nova
Dwarka
Hoje Srila
Prabhupada descreveu algumas das diferenças entre a civilização védica e a
civilização ocidental. "Meninos e meninas." "Agora um homem, ele
quer fazer algo. Ele vê uma mulher e diz: ‘Vou conseguir aquela mulher’. Ele
chega até ela e diz: ‘O que você está fazendo? Por que nós não saímos?’"
"Quando
éramos jovens," ele continua, "os mesmos desejos existiam. Os desejos
não mudaram nada. Nós também tínhamos desejos como esse. Você vê uma mulher,
você fica atraído. Mas a cultura existia. A cultura era tão rígida que você não
podia nem olhar para ela, o que dizer de falar com ela e fazer alguma proposta.
Era tudo igual, exceto a cultura. Agora, não há cultura. Você chega e diz o que
quiser. Nós tínhamos todos esses desejos, conversando como colegas de escola,
mas você nunca podia se aproximar de uma mulher. Isso não existia. Você nem
pensava sobre isso."
Srila Prabhupada
deixou Vrindaban Dhama e a cultura Védica para nos salvar da nossa assim
chamada civilização avançada. Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Massagem matinal,
1975
Por volta de 11 da
manhã Srila Prabhupada começa sua massagem matinal, que durava cerca de uma
hora e meia. Não existem regras fixas em relação à duração da massagem de Srila
Prabhupada. Às vezes durante a massagem Srila Prabhupada ficava bastante
ocupado. Seu secretário lia a correspondência e anotava as respostas. Também
acontecia de seu editor de sânscrito entrar com dúvidas a respeito do trabalho
de Srila Prabhupada daquela manhã.
Um dia, durante a
massagem, o editor de sânscrito entrou e saiu do quarto de Srila Prabhupada
várias vezes. A primeira vez que ele entrou prestou-lhe reverências
cuidadosamente. Nas próximas vezes que entrou ele se ajoelhou rapidamente,
tocando brevemente a cabeça ao chão, e, rapidamente, sentou-se e fez suas
perguntas. De novo saiu do quarto. Quando voltou, fez a mesma coisa. Srila
Prabhupada o corrigiu, dizendo: "O que é essa machadada? Preste suas
reverências. Essa machadada não é nada bom."
Srila Prabhupada
sempre cuidava de seus discípulos. Ele nos impedia de cometer ofensas devido ao
nosso descuido. Esse incidente aconteceu vinte e dois anos atrás, e nunca
entendi direito o que Srila Prabhupada quis dizer com a palavra
"machadada". Só sei que parte do significado era referente ao
movimento rápido que associamos a essa ferramenta.
Enquanto escrevo,
porém, vejo um outro sentido da palavra. Nosso serviço devocional é uma
trepadeira muito frágil. Quando rendemos serviço pessoal ao mestre espiritual,
nós podemos facilmente danificar nossa trepadeira devocional com nossos egos,
que nesse sentido são como machados. Consciência de Krishna significa ser
consciente de nossas atividades a todo instante, e nunca querer minimizar ao
oferecer respeito ao nosso Guru Maharaja.
Todas as glórias a
Srila Prabhupada, o jardineiro mais hábil que tão amavelmente cuida da nossa trepadeira
devocional. Jai Srila Prabhupada!
ISKCON, Nova Dwarka- Los Angeles
Durante os dois
anos que pessoalmente servi Sua Divina Graça, ele falou muitas vezes sobre
aposentar-se dos deveres administrativos para se concentrar na tradução das
escrituras para a humanidade como um todo. Minha primeira experiência foi
assim:
Eram umas nove da
manhã e Srila Prabhupada me chamou ao seu quarto e disse para eu chamar
Karandhara. Isso acontecia freqüentemente quando estávamos em Nova Dwarka. Srila
Prabhupada parecia ter grande fé nas habilidades de Karandhara. Lembro-me de
Srila Prabhupada elogiar Karandhara ao mostrar os degraus de concreto que
Karandhara tinha feito, "Karandhara pode fazer qualquer coisa." Se
estivéssemos em L.A., e surgisse qualquer tipo de problema, Srila Prabhupada
chamava Karandhara, tendo certeza que ele poderia trazer a solução.
Quando Karandhara
entrou, Srila Prabhupada o deixou chocado, dizendo: "Não quero mais me
envolver tanto na administração. Quero traduzir livros." Karandhara
respondeu com entusiasmo: "Sim, posso fazer todo seu trabalho de
secretaria daqui e você pode ficar aqui e traduzir. Nós cuidaremos de tudo
muito bem." Srila Prabhupada respondeu: "Sim! Faremos isso
imediatamente, não quero saber de nenhum negócio. Nada de negócios. Você cuida
de todos meus afazeres para mim."
Karandhara deixou
o quarto, pronto para gerenciar a ISKCON de seu escritório na Av. Watseka.
Pensei: "Isso é incrível. Prabhupada vai deixar o GBC cuidar da sociedade.
Nova Dwarka era perfeita. Tinha todos os recursos para Srila Prabhupada. Ele
poderia ficar aqui durante anos traduzindo o dia inteiro se ele quisesse. Srila
Prabhupada já tinha falado que seu jardim aqui era seu lugar favorito."
Eram agora dez da
manhã quando Srila Prabhupada tocou seu sino. Prestei-lhe minhas reverências ao
entrar no quarto, mas antes mesmo que levantasse a cabeça do chão ele falou:
"Chame Karandhara." Quando Karandhara entrou em seu quarto e
prestou-lhe reverências, Srila
Prabhupada viu a ponta de uma carta no bolso da kurta de Karandhara. Srila
Prabhupada arregalou os olhos e perguntou: "O que é isso?" "Oh! É uma carta para o senhor, Srila
Prabhupada.", respondeu Karandhara. "Abra-a", disse Srila
Prabhupada.
Karandhara abriu a
carta e a leu para Srila Prabhupada. Era uma típica carta de um discípulo mais
antigo, administrando algum templo em algum lugar do mundo. Srila Prabhupada
escutou atentamente e em seguida ditou a resposta.
A aposentadoria de
Srila Prabhupada tinha durado pouco mais de uma hora. Essa foi a primeira
aposentadoria que eu presenciei, mas não a última. Srila Prabhupada tinha
enorme prazer em traduzir o Srimad Bhagavatam para nós. Ele também tinha enorme
prazer em ensinar suas crianças, mostrando-as como seguir o caminho espiritual.
Sua paciência era sem fim. Diariamente ele nos levantava quando tropeçávamos,
nos estimulando a tentar andar de novo. Não importava o quanto ele sonhava em
se aposentar, ele não nos deixava até que pudéssemos andar a sós. Chegou a hora
de andarmos sós.
Jai Srila
Prabhupada!
Setembro de 1974,
Vrindavan, Índia
ISKCON- Krishna
Balarama Mandir
Há várias semanas
que Srila Prabhupada está doente. Tem sido um período muito difícil. Ele
praticamente não está comendo e precisa de ajuda para andar. Depois de muito
tempo, agora está melhorando, para o alívio de todos seus discípulos.
Alguns membros do
GBC têm se reunido. O enfoque de suas discussões é aliviar Srila Prabhupada de
todas suas responsabilidades administrativas. Eles acreditam que se pudessem
gerenciar eficientemente, então Srila Prabhupada ficaria mais aliviado. Eles
imaginam que sua saúde melhorará se ele não tiver mais que se preocupar com a
administração diária da ISKCON.
Eles solicitaram
uma reunião na presença de Srila Prabhupada. Começaram dizendo: "Srila
Prabhupada, nós decidimos que podemos cuidar de toda administração, e você pode
ficar livre para fazer seu trabalho de tradução. Você não precisará se
preocupar com a administração da sociedade. Nós temos a competência para fazer
isso." Srila Prabhupada ficou com muita raiva e disse: "Quando eu quiser que vocês
administrem, quando eu quiser parar de administrar, eu lhes digo. Não diga a
seu mestre espiritual quando ele deve abandonar a administração. Quem vocês
pensam que são, dizendo ao mestre espiritual que ele não precisa mais
administrar? Sou perfeitamente capaz de saber quando não quero mais
administrar. Quando eu decidir que não quero mais, então paro de administrar.
Isso é minha decisão. Não a de vocês." Encerrou-se a reunião!
Outubro de 1972,
Vrindaban, Índia
Radha Damodara
Temple
Essa tarde Srila
Prabhupada está falando em sua ante-sala. Ele tem feito isso regularmente desde
que chegou. Alguns dos moradores locais trazem oferendas de frutas e flores e
as colocam a seus pés de lótus. De repente, no meio da palestra, um macaco
entrou no quarto como um foguete em direção as bananas. No que ele corria para
fora, Visaka rapidamente joga seu chaddar em cima do macaco e tenta recuperar
as bananas. Ela conseguiu pegar a maioria das bananas, mas dentro de poucos
segundos o macaco já tinha desaparecido com uma bela banana em sua mão.
Srila Prabhupada
falou: "Vejam só como o macaco é inteligente. Isso mostra que,
relativamente, todas entidades vivas são inteligentes. Quanto tempo você acha
que teria levado para você fazer isso, entrar e sair correndo e conseguir as
bananas? Esse macaco é muito inteligente no que refere à sua alimentação. Ele
consegue fazer isso em poucos segundos. Praticamente ninguém o viu. Ele
simplesmente pegou as bananas e saiu. É assim no mundo material. Todos são
muito peritos em suas esferas de atividade. Então, nós temos quer ser devotos
espertos, não espertos como os macacos."
O incidente durou
apenas uns segundos. Mesmo estando Srila Prabhupada no meio de uma palestra ele
estava sempre atento a tudo que acontecia à sua volta. Srila Prabhupada estava
sempre ciente das atividades a seu redor. Srila Prabhupada era perito em fazer
mais de uma coisa de cada vez.
Sete de outubro de
1972, ISKCON, San Francisco
Berkeley
Já sou servo de
Srila Prabhupada há um mês. Estou começando a me sentir à vontade e sentir que
sei o que estou fazendo. Porém pouco sabia que isso me qualificava para o
seguinte retrocesso, assim que acreditava já estar sabendo das coisas, oh oh!
Essa noite Srila
Prabhupada pediu para eu preparar puris, batata frita (potato chips*) e leite
quente. Nós não estamos ficando no templo. Nós estamos na casa de um jovem
casal. Eles são amigos dos devotos. Os devotos locais passaram horas arrumando
a casa para prepará-la antes da chegada de Srila Prabhupada.
A cozinha não é
muito boa. Felizmente, tinha ghi no fogão, portanto dava para preparar uma
refeição. Srila Prabhupada tinha pedido batata frita (potato chips) e eu estava
ansioso para fazê-las, mas não tinha experiência. Fazer os puris era bem fácil,
mas demorado. Estava ficando tarde e eu não queria que Srila Prabhupada
esperasse.Descasquei uma batata e a fatiei o mais fino possível com o
descascador de batata, e coloquei-a para fritar no ghi bem quente. Elas ficaram
com uma aparência razoavelmente similar a batatinhas fritas (potato chips), mas
nada igual ao que eu já tinha visto.
Sentia-me muito
abençoado de poder servir diretamente o representante de Krsna. Srila
Prabhupada era minha deidade viva, com a misericórdia especial de poder lidar
com ele diretamente. Com carinho corri para Sua Divina Graça com o prato com as
batatas fritas, um puri quente e um copo de leite quente. Srila Prabhupada
apontou para a batata frita e firmemente perguntou: "O que é isso?" Confuso, respondi:
"Batata frita (potato chips), Srila Prabhupada." "Isso não é
batata frita!", ele exclamou, já irado. "Não era isso que eu
queria."
Vendo meu sofrimento,
ele disse: "Tudo bem, pode deixar." Senti-me péssimo. Essa foi a
primeira vez que tinha cometido um erro sério no meu serviço a meu Guru
Maharaja. Eu queria morrer. A oferenda tinha sido inaceitável. Voltei para
cozinha e preparei o próximo puri. De volta ao quarto de Srila Prabhupada
coloquei o puri em seu prato e prestei-lhe reverências. Quando sentei, ele
olhou para mim com um grande sorriso. Com ênfase disse: "Isso aqui está
muito bom. Tudo bem. Está bem bom." Respirei aliviado e respondi:
"Oh, que bom! Muito obrigado, Srila Prabhupada."
Eu estava nas
nuvens. Não sabia se ele realmente tinha gostado das batatas ou se estava
falando isso só para me fazer sentir melhor. De qualquer forma, era
maravilhoso. Senti-me ótimo ao ter alguém se preocupando tanto comigo. Ffiz
outro puri, levei para ele e o esperei terminar. Pegando seus pratos, fiquei
extático de ver que ele tinha comido todas as minhas assim chamadas batatas
fritas. Srila Prabhupada com misericórdia
aceitou meus esforços desastrados.
Meses depois, na
Índia, finalmente entendi que "potato chips" são o equivalente
britânico das "french fries" americanas. Tendo pouca experiência eu
desconhecia isso. Agora compreendo que Srila Prabhupada queria aquilo que
conheço como sendo "french fries".
Mais tarde, fiz as
batatas fritas de Srila Prabhupada de acordo com suas instruções, "finas e
croscantes**". Repare a ortografia. Não está errado. Srila
Prabhupada freqüentemente usava essas palavras divertidas. Eu preferia seu uso
da palavra, "croscante" invés de "crocante". Parece que
fica mais gostoso.
*Nota do
tradutor 1: esse passatempo envolve
uma distinção que é feita no inglês americano entre batata frita palito
(french fries) e em fatias (potato chips). Essa distinção não existe no inglês
britânico.
**Nota do
tradutor 2: aqui Srila Prabhupada falava "cripsy", invés de
"crispy".
Seis de outubro de
1972, ISKCON, Berkeley
Srila Prabhupada
chegou hoje e ficou na casa de um de seus bem querentes. Seus discípulos lhe
mostraram a casa. Srila Prabhupada sentou e perguntou: "Tem alguma
prasadam?" Não tinha nada disponível. Ele disse: "Então me traga um
pouco de fruta ealgo para lavar meus pés. Traga uma toalha e um pouco de água.
Isso é o procedimento normal. Você deve lavar os pés da pessoa que está
chegando." Srila Prabhupada não precisa de nada da nossa parte, mas por
sua misericórdia, ele nos ensina a receber convidados, o que dizer do mestre
espiritual.
Os devotos
correram para preparar tudo. Quando os seus discípulos começaram a lavar seus
pés, Srila Prabhupada falou: "Lave até meus joelhos. Esse tipo de banho
dos pés refresca todo corpo depois de uma viagem."
Novamente em
Vrindavan, num dia muito quente, Srila Prabhupada mencionou, outra vez, esse
fato depois de voltar de um compromisso. Voltando a seus aposentos, ele foi
diretamente ao banheiro e lavou seus pés e pernas com água fria. Ele falou:
"Fazendo isso, rejuvenescemos todo o corpo”.
Ele nos ensinou o
padrão antigo de etiqueta Védica, incluindo suas aplicações práticas. Ele nos
revigora com seu conhecimento. Jai Srila Prabhupada!
Quinze de setembro
até Vinte e oito de outubro de 1972
ISKCON, Juhu,
Bombaim
Srila Prabhupada
tinha o maior prazer em falar sobre Krishna a Seus associados, vinte e quatro
horas por dia. Ele adorava toda oportunidade que tinha de falar sobre a
filosofia de Consciência de Krishna. Em grande contraste, ele usava
pouquíssimas palavras quando se tratava de suas necessidades corpóreas. A
dicotomia era extática.
Diariamente Srila
Prabhupada tirava um rápido cochilo depois de seu almoço prasadam. Depois de
acordar, Sua Divina Graça passava pelo local onde eu ficava, a caminho do
banheiro. Muitas vezes eu descansava também. Tão logo ouvia o doce som de seus
passos, levantava-me e lhe prestava reverências. Srila Prabhupada passava por
mim, dizendo: "Dab", em voz grave. Antes que ele voltasse a seu
quarto, era meu dever ir para cozinha, abrir um coco verde, botar um canudo
dourado no buraco e colocar essa água doce em sua mesa. Isso era um ritual
diário. Toda vez que eu ouvia a palavra "dab" a mesma oportunidade
extática se apresentava.
Especialmente em
Vrindavan, Srila Prabhupada freqüentemente se gabava aos convidados como seu
servo conseguia preparar o almoço rápido. Ele dizia: "Srutakirti, consegue
preparar meu almoço todo, arroz, dahl, chapatis, e três ou quatro subjis, em
apenas 45 minutos." Então ele olhava para mim e dizia: "Não é?"
Balançando a cabeça eu disse: "Sim, Srila Prabhupada, e lhe dou uma
massagem enquanto está tudo cozinhando. Agora arregalando seus olhos, ele
disse”: "Veja só, 45 minutos e todo esse negócio de necessidades
corpóreas...acabadas. Isso é Consciência de Krishna. Nós minimizamos as
necessidades corpóreas ao máximo possível para assim ter mais tempo para
serviço devocional."
Outro exemplo, que
demonstrava a eficiência, com um mínimo de esforço de Srila Prabhupada,
acontecia na privacidade de seus aposentos. Srila Prabhupada me instruía sem
sequer usar uma palavra. Quando estávamos sentados em sua ante-sala ele olhava
para o ventilador de teto. Se estivessem ligados, significava que eu deveria
desligá-los. Caso contrário, se desligados, deveria ligá-los. Outras vezes, ele
olhava para as cortinas. Se as cortinas estivessem abertas, era para fechá-las.
Se estivessem fechadas, eu as abria. Srila Prabhupada disse: "O servo de
primeira classe, faz seu serviço sem ser solicitado. Ao servo de segunda
classe, você pede e ele faz e ao servo de terceira classe, você pede e ele faz
de má vontade, ou nem mesmo faz."
Eu rezo para ouvir
seus passos, ver seus olhares, ouvir suas palavras e ter a oportunidade de
servi-lo vida após vida. Srila Prabhupada é o Acarya.
Jai Srila
Prabhupada!
Junho de 1972, Los
Angeles, Califórnia
Nova Dwarka
Hoje, depois da
caminhada matinal um grupo, de cinco ou seis devotos, ficou nos pés da escada,
vendo Srila Prabhupada subi-la com sua bengala até seu quarto. Enquanto ele
andava, todos estavam alegremente cantando, "Jai Srila Prabhupada".
Ele virou e nos
olhou com um sorriso encantador. "Eu estava pensando: quando jovem, corria
escada acima. Agora o mesmo desejo ainda existe. Ainda quero correr escada
acima, mas devido a esse corpo agora não posso. Ainda quero fazer essas coisas,
como se eu fosse jovem. Quero ficar ativo, mas o corpo limita muito." Ele
continuou a subir a escada e nos prestamos nossas profundas reverências.
Uma luz se acendeu
em minha mente, e compreendi, momentaneamente, como Srila Prabhupada aceitou
voluntariamente tantas inconveniências para nos salvar dessa concepção de vida
corporal grosseira.
Testemunhei a
majestade da lila de Prabhupada enquanto o servia pessoalmente, mas também
presenciei muitos períodos dolorosos.
Meu coração partia
ao testemunhar o sofrimento de Sua Divina Graça, por aceitar voluntariamente as
reações pecaminosas de almas caídas como eu. O fato de Srila Prabhupada
experimentar esses desconfortos não diminuía sua grandeza, mas sim ampliava.
Essa é a misericórdia sem fim de um devoto puro. Quem pode ser tão magnânimo?
Ele é o nosso eterno bem querente, aceitando a insuportável responsabilidade de
nos salvar de nossa condição caída.
Durante os
próximos dias vou tentar descrever alguns passatempos de Srila Prabhupada que
são simultaneamente doces e às vezes tristes também, na esperança que eu possa
meditar em sua grandeza.Imploro o perdão de todos que ofendo ao compartilhar
minhas percepções. Se eu esperar até me tornar perfeito para então tentar
glorificar meu amado guru, receio que todas essas memórias possam se perder.
Reconheço que Sua Divina Graça era um nitya-siddha, e, portanto não era
susceptível a qualquer doença material, mas ainda assim ele nos abençoou com
sua misericordiosa associação andando conosco nesse lugar de misérias. Essa é
sua misericórdia sem causa.
Jai Srila
Prabhupada!
Dois a quatro de
abril de 1973
Saint Moritz-
Zurique, Suíça
Quando estávamos
em Bombaim, um discípulo antigo mostrou a Srila Prabhupada um atraente cartão
postal de Saint Moritz, repleto de flores silvestres e montanhas a perder de
vista. Era lindo. Em consideração, o devoto de Srila Prabhupada lhe disse que
seria bom descansar um pouco na longa viagem entre Bombaim e Nova Iorque. Srila
Prabhupada poderia descansar um pouco em Saint Moritz. Quem
já viajou entre, a Índia e os EUA, sabe que a viagem é extremamente cansativa.
Srila Prabhupada estava viajando muito, nunca passando mais do que seis a sete
dias em cada local. Portanto, a idéia de parar em Saint Moritz parecia
ser realmente ótima.
Porém o outro
motivo para desembarcar em
Saint Moritz era especulação com ouro. Alguns homens mais
antigos estavam pensando em fortalecer as reservas da ISKCON investindo em ouro
antes da desregulamentação de preços. Zurique era o local para investimentos em ouro. Porém Srila
Prabhupada cortou a idéia pela raiz.
Saint Moritz é uma
estação de esqui e nessa época do ano a neve cobre tudo até perder de vista. O
hotel onde ficamos tinha uma recepção central com um elevador. Ao sair do
elevador e entrar no quarto do hotel, havia um espaçoso apartamento de três
quartos com cozinha. A grande sala de estar tinha portas de vidro deslizantes
que davam na varanda, com uma maravilhosa vista das montanhas cobertas de neve.
Para muitos era uma vista de tirar o fôlego, mas não para Srila Prabhupada.
Srila Prabhupada
era muito meticuloso. Não importa onde nós estivéssemos, sua vida continuava
como se nada tivesse mudado. Sua programação diária permanecia a mesma. Essa
manhã não foi diferente. Srila Prabhupada vestiu seu casaco açafroado e se
preparou para sair na sua caminhada matinal, dizendo: "Nós vamos sair para
andar? Vamos ver o quanto está frio?"
Como estávamos no
andar térreo, Sua Divina Graça abriu as janelas deslizantes para sair, passando
pela varanda. De repente uma rajada de vento gélido entrou em todo apartamento.
Parecia uma tempestade. Srila Prabhupada arregalou seus olhos e disse:
"Ooohhhh, isso é frio demais!"
Sempre que eu via
essas suas reações brincalhonas, meu coração derretia de alegria. Srila Prabhupada
exibia a inocência de uma criança. Enquanto que a maioria dos devotos via sua
determinada e poderosa pregação, eu me sentia afortunado de ver a cara de Srila
Prabhupada iluminada com expressões íntimas e cativantes. Sua Divina Graça
sentiu o frio. Ele não gostou, então ele disse: "Vamos andar no corredor,
dentro do prédio."
Não era uma mera
rajada de vento gélido que iria impedir Srila Prabhupada de realizar sua
caminhada matinal. Então Sua Divina Graça, Pradyumna e eu fomos para o
corredor. Bom, isso criou uma série de problemas diferentes. Levando em
consideração que estávamos em 1973, o hotel era muito high tech. Tinha sido
criado para operar com um mínimo de desperdício de energia. O sistema era que
as luzes do corredor ficavam acesas somente durante um tempo fixo,
provavelmente suficiente para a pessoa ir do quarto até o elevador. Então,
enquanto andávamos, subindo e descendo o corredor, tínhamos que ficar apertando
os vários botões que tinham ao longo do corredor para que as luzes não se apagassem.
Caso contrário estaríamos andando no escuro.
Pradyumna decidiu
voltar ao apartamento. Srila Prabhupada e eu andávamos pelo corredor, para cima
e para baixo. Eu corria de um botão para o outro, apertando e cantando,
apertando e cantando. Isso continuou durante uma meia hora, quando Srila
Prabhupada falou: "Esse tempo frio abriu meu apetite. Você pode ir me
fazer um pouco de halavah."Respondi: "Tudo bem Srila Prabhupada, o
senhor quer que eu espere o senhor acabar de andar ou quer que eu vá
agora?" As luzes ficavam acesas uns trinta segundos, portanto eu estava
preocupado com o apertar dos botões. Srila Prabhupada respondeu rindo:
"Não, eu vou andar. Você vai fazer a halavah."
Nós sempre
adorávamos quando Srila Prabhupada tinha apetite. Era um grande prazer cozinhar
para ele. Quando entrei, falei para os outros: "Srila Prabhupada ainda
está andando no corredor. Alguém deveria ir apertar os botões, para manter as
luzes acesas para ele." Nós demos uma espiada pela porta e vimos Srila
Prabhupada cantando, andando e apertando os botões para manter as luzes acesas.
Foi muito engraçado. Jai Srila Prabhupada!
Quatro de abril de
1972, Zurique, Suíça
Depois de sair de
Saint Moritz nós passamos um dia num hotel exclusivo com vista para o Reine em Zurique. Srila Prabhupada
tinha um quarto e sua comitiva ficou no quarto ao lado. Os quartos não eram
interligados. Quando chegou a hora de fazer sua massagem eu tinha que ir até o
quarto dele, e lá colocar minha gumpsa, para não andar de gumpsa no corredor.
Quando terminei a massagem, esqueci meu saco de contas em seu quarto.
As contas de japa
não eram as mesmas na qual Srila Prabhupada tinha cantado durante minha
iniciação dois anos antes, infelizmente as tinha perdido em Nova Vrindaban. Eu
tinha pensado em pedir a Srila Prabhupada para cantar em minhas novas contas,
mas não queria admitir o meu descuido. Meu saco de contas era prasadam, dado
por Sua Divina Graça. Para meu enorme prazer quando voltei ao quarto de Srila
Prabhupada vi sua mão em meu saco de
contas. Durante a próxima meia-hora sentei-me e, alegremente o assisti contar
nas minhas contas. Mais uma vez, Srila Prabhupada satisfez meus desejos sem que
eu os solicitasse. Esperei até ele terminar e então levei minhas contas, recém
santificadas, de volta para meu quarto. Jubiloso, contei orgulhosamente aos
outros como eu tinha acabado de ser beneficiado por um milagre.
Do aeroporto de
Zurique nós fomos para San Moritz num trem de luxo. Srila Prabhupada, eu e um
outro jovem brahmacari chamado Jai Hari subimos a bordo. Os outros devotos
tinham reuniões de negócios para discutir investimentos. A viagem de trem pelos
Alpes era magnífica. Seguindo a base de montanhas cobertas de neve, o trem
estava constantemente fazendo curvas. A impressionante vista tinha cativado
toda minha atenção e de Jai Hari. Srila Prabhupada ficou sentado, cantando em
voz baixa, enquanto que nós ficamos mostrando detalhes da vista um para o
outro, tendo completamente esquecido nosso Mestre Espiritual sentado ao nosso lado.
Srila Prabhupada
quebrou nossa meditação, perguntando: "Como eles chamam esse lugar".
Feliz por ter a oportunidade de responder uma pergunta tão simples, eu
rapidamente disse: "San Moritz, Srila Prabhupada, Saint Moritz!" Ele
imediatamente respondeu: "Eles podem chamar de Saint Moritz, eu chamo de
Saint Infernal. Esse lugar é infernal. Vejam, não existe vida em lugar nenhum,
só galhos de árvores e neve. Não tem nada vivo por perto."
Srila Prabhupada
tinha efetivamente usado nossa ilusão como uma oportunidade para instruir dois
de seus discípulos novatos. Jai Hari e eu passamos cabisbaixo, o restante da
viagem, cantando em voz baixa e escutando a vibração transcendental do Maha
Mantra, da maneira que Srila Prabhupada queria. Estar com Srila Prabhupada era
uma posição muito afortunada. Se você seguisse seu exemplo você sabia que
estava bem situado.
Se você tinha
perguntas para fazer, a resposta que recebia era a verdade absoluta. Ele
freqüentemente tranqüilizava milhares de devotos, respondendo suas perguntas,
removendo seus medos e ocupando-os em serviço de Krsna. Srila Prabhupada, por
favor, me liberte do apego às montanhas de maya, para que eu possa ouvir suas
bondosas e gentis instruções.
Jai Srila
Prabhupada!
Essa manhã
enquanto cortava a grama, pude, pela graça de Sri Guru e Gauranga, me lembrar
de meu amado Srila Prabhupada. Sempre me sinto muito afortunado de poder
meditar em meu Guru
Maharaja , especialmente quando estou no meio de atividades
tão mundanas.
Vinte e seis de
fevereiro de 1975, ISKCON Miami
Nessa manhã Srila
Prabhupada fez sua caminhada nos jardins do templo de Coconut Grove. Enquanto
andava nos jardins, ele virou-se para o presidente do templo e perguntou:
"Por que o jardim dos outros está limpo? Aqui só tem folhas no chão."
O devoto
respondeu: "Bem, debaixo das folhas só tem terra. As folhas impedem a
terra de se levantar." Srila Prabhupada completou: "Tem gramados por
todos os lados. Porque, aqui você tem terra?"
Junho de 1975,
Honolulu, Hawai
ISKCON Nova
Navadvipa
Os jardins de Nova
Navadwip eram sempre muito bonitos, mas desta vez, quando Srila Prabhupada
chegou, não estavam com boa manutenção. Em sua volta pelos jardins Srila
Prabhupada perguntou: "Por que o jardim não está sendo cuidado?" Sukadeva,
o presidente do templo, respondeu: "Srila Prabhupada, não tem ninguém para
cuidar dele." Naquele momento tinha uns vinte devotos andando atrás de
Srila Prabhupada, "Como assim? Ninguém para fazer?"
Para fazer
progresso no caminho do serviço devocional deve-se criar condições que dão
prazer ao Mestre Espiritual, aí então é certo que receberemos a graça de Krsna.
Nós somos dasa dasa anu dasa.
Jai Srila
Prabhupada!
Dezoito de março
de 1973
ISKCON Mayapur Candrodaya Mandir
Está sendo
realizado aqui o primeiro festival internacional de devotos da ISKCON. O estilo
Bengala de kirtana está tendo uma enorme influência em muitos devotos. Srila
Prabhupada expressou um pouco de desprazer em relação ao canto de tantos
mantras diferentes. Ele disse: "Eles podem cantar seus ‘Nitai Gaura, Hari
Bols’, mas eu vou cantar Hare Krsna e voltar ao lar, voltar ao Supremo."
Alguns kirtans
realmente exageraram nos ‘Hari bols’. Se nós soubéssemos a tradução talvez
saberíamos o que fazer. Srila Prabhupada gostava de cantar o Maha mantra.
Vinte e seis de
abril de 1973, ISKCON, Nova Dwarka
Brahmananda
Maharaja e eu introduzimos o estilo Bengali de dançar durante os kirtans. Nós
aprendemos durante o festival de Mayapura. Muitos devotos adoraram. Srila
Prabhupada também sorria quando via os devotos dançando perante ele. Pradyumna
lhe perguntou se era bom dançar desta maneira, pois para alguns devotos era
estranha. Srila Prabhupada respondeu:
"Sim, claro que é!"
Srila Prabhupada
adorava ver seus discípulos cantando "Hare Krishna" e dançando em
êxtase.
Jai Srila
Prabhupada!
Aeroporto de
Bancoque
Srila Prabhupada
distribuía sua misericórdia sem distinção. Essa é a bondade do devoto puro. Num
vôo da Índia para o ocidente, nós tivemos uma parada de duas horas no aeroporto
de Bangkok. Nós tínhamos que esperar na área de trânsito.
Srila Prabhupada
falou para mim: "Pegue minhas coisas. Vou tomar um banho."Fui para o
local onde estavam as bagagens, abri a mala de Srila Prabhupada, peguei sua
lota, toalha e roupas limpas. Isso levou alguns minutos. Voltei para Sua Divina
Graça. Ele me perguntou: "Onde fica o banheiro?" Nós andamos juntos
ao banheiro. Infelizmente não tinha local apropriado para tomar banho.
Srila Prabhupada
nunca desistia. Quando ele queria fazer algo, não existia obstáculo que o
impedisse. Analisando a situação, ele virou para mim e disse: "Tudo bem,
vou tomar banho de pia." Ele colocou sua gumpsa e, com a lota em sua mão,
começou a jogar água repetidamente em seu corpo. Ele se ensaboou e voltou a
jogar água. Fiquei ao lado, pasmo, olhando enquanto ele se refrescava. Ele era
completamente transcendental a todas atividades à sua volta.
Observando de um
canto do banheiro estava o funcionário responsável pela limpeza. Ele parecia
incomodado, vendo o trabalho adicional que aquilo lhe daria. Ele não tinha a
menor idéia de como estava sendo abençoado por um Parahamsa. Ele estava tendo a
oportunidade de fazer o trabalho de um pujari pela misericórdia sem causa de Srila
Prabhupada.
Quando Srila
Prabhupada terminou lhe dei a toalha. Ele secou-se e vestiu seu dhoti e kurta
limpos. Tendo acabado, nós saímos juntos do banheiro. O funcionário veio em
minha direção. Era óbvio que ele estava reclamando, mas eu não tinha a menor
idéia do que ele estava dizendo. Enquanto isso Srila Prabhupada estava rindo.
Ao sair, falei: "Srila Prabhupada, acho que ele ficou um pouco
chateado." Srila Prabhupada respondeu: "Fazer o que?! Eu tinha que
tomar banho. Estava me sentindo muito cansado."
Viajar com Srila
Prabhupada era sempre uma aventura incrível. Ele nunca se sentiu obrigado a se
conformar às convenções sociais. Nos aviões ele usava o banheiro quando, a luz
de colocar o cinto de segurança, estava acesa. Ele comia sua prasadam quando
não podíamos abaixar nossas mesas de apoio. Se alguém lhe dissesse algo, ele as
ignorava. Eles então viravam para mim e eu levantava os ombros e dizia:
"Não posso impedi-lo." Invariavelmente eles iam embora derrotados,
sabendo que nada podem contra uma pessoa de Vaikuntha.
19 de fevereiro de
1975, Venezuela Airlines
Srila Prabhupada
influenciava todos à sua volta. Viajar com ele era uma experiência
esclarecedora. Era extático ver como Srila Prabhupada era capaz de levar os espíritos
de todos nos templos que visitava para o mundo transcendental. Porém, estar com
ele em aviões e aeroportos proporcionava uma oportunidade diferente, de ver
como ele mudava a vida daqueles que não conheciam nada a seu respeito. Devia
ser sua efulgência. Ela podia ser vista, até mesmo por um quadrúpede, como eu.
Uma vez uma aeromoça que estava passando ao lado falou: "Esse homem me
parece muito maravilhoso." Outros perguntavam o que poderiam fazer por
ele.
O que ocorreu no
vôo da Venezuela Airlines não foi o único, porém foi bem especial. Srila
Prabhupada, Parahamsa Swami, Nitai das, e eu estávamos viajando da Cidade do
México a Caracas.Não havia preparado prasadam para o vôo, mas logo antes da
decolagem uma senhora Vaisnava me deu um saquinho com arroz (puffed rice) que
ela tina preparado para a viagem.
Logo depois de
decolarmos, Srila Prabhupada falou:
"Bom, vamos aceitar prasadam." Perguntei: "O senhor quer o que
eles estão servindo no avião?" Ele imediatamente respondeu: "Não,
não! Nós temos nossa prasadam. Isso é bom."Falei, "Ok." Nem
sequer pedi um prato, abaixei a mesinha,
abri o pacote de alumínio, e coloquei o arroz inflado diante de meu mestre
espiritual. Ele começou a comê-los imediatamente. Ele comeu metade, apesar de
não ser uma porção grande. Sem nem olhar para mim disse: "Esta bem, agora
você pode pegar." Esse era o néctar pelo qual nós estávamos ansiosos.
Srila Prabhupada sempre cuidava de sua comitiva. Essa era uma de muitas de suas
qualidades que eu apreciava enormemente.
Srila Prabhupada
estava no assento ao lado da janela. Ele sempre sentava próximo à janela. Eu
estava no meio, sempre me sentava ao lado de Srila Prabhupada, exceto quando eu
sucumbia ao desejo de algum membro do GBC. Parahamsa estava no assento próximo
ao corredor. Peguei o arroz inflado de Sua Divina Graça dividi o alumínio ao
meio, metade para mim, metade para Parahamsa Swami.
Estávamos
alegremente comendo os restos de Srila Prabhupada quando uma jovem aeromoça que
passava ao lado olhou para nós e, de repente, estendeu seu braço por cima de
Parahamsa e meteu sua mão na minha maha. Ela pegou um punhado cheio e jogou-o
em sua boca. "Oh, isso é muito bom. O que é isso?" Tentando manter
minha compostura, respondi: "É arroz inflado. É feito de arroz."
Srila Prabhupada estava olhando para ela com um largo sorriso. Novamente ela
disse: "Ah, é muito bom." "Fico feliz que você tenha
gostado," respondi, ainda um pouco chocado com o que ela tinha feito.
"Vocês vão comer alguma outra coisa?", ela perguntou.
"Bem",
eu disse, "nós somos vegetarianos. A não ser que tenha alguma fruta, nós
não podemos comer nada." Ela respondeu com entusiasmo: "Eu vou para
a primeira classe pegar uma cesta de
frutas para vocês." Num instante ela voltou com frutas e facas. Novamente,
ela perguntou: "Tem algo mais que eu possa conseguir para vocês?"
Virando para Srila Prabhupada,
perguntei:"Prabhupada, o senhor gostaria de um pouco de
leite?" Ele disse: "Sim, leite quente." Eu disse, "Ok. Ele
vai querer um pouco de leite quente e nós também." Rapidamente, ela foi
para primeira classe e voltou com o leite quente."
Muitas vezes eu
ouvi Srila Prabhupada falar em suas palestras sobre a Superalma que reside nos
corações de todas entidades vivas. No entanto, eu nunca tinha sentido Sua
presença até esse dia. Estou convencido que só a Superalma dentro do coração da
aeromoça poderia inspirá-la a agir de tal forma, contrariando todo seu
treinamento profissional.
Às vezes devotos
me ofereciam dinheiro para conseguir um pouco dos restos de Srila Prabhupada.
(Nunca aceitei). Eles imploravam pela oportunidade de fazer qualquer serviço
pessoal. E aqui estava essa aeromoça conseguindo, audaciosamente, o que quase
ninguém conseguia, pela misericórdia de Krishna e Seu devoto puro.
Todas as glórias a
você, Srila Prabhupada, por distribuir sua misericórdia a todas entidades vivas
que entravam em contato com você.
Voando na TWA
(Transcendental World Airways)
Onde quer que
esteja o devoto puro, lá é Vaikuntha, e ele distribui sua misericórdia sem
causa para almas caídas quer queiram ou não. Srila Prabhupada sempre me fazia
sorrir quando viajava porque ele nunca mudava seus hábitos. Na presença de
pessoas materialistas essas atividades eram às vezes pouco convencionais.
Srila Prabhupada
gostava de olhar para fora, durante a decolagem e pouso, de seu assento ao lado
da janela. Ele parecia especialmente contente em olhar para fora durante o
pouso. Quando tínhamos um vôo longo, o secretário de Srila Prabhupada e eu
levantávamos de nossos assentos para permitir que Srila Prabhupada deitasse e
descansasse. Nessa ocasião em particular, o corpo transcendental de Srila
Prabhupada estava deitado ao longo dos assentos. Sua cabeça repousava
tranqüilamente no travesseiro, próximo à janela. Ele parecia inteiramente
relaxado, coisa que até hoje eu não sei fazer em um avião.
Seus pés passavam
por baixo do encosto de braço e continuavam uns 20-30 cm além do assento,
ocupando assim parte do espaço do corredor. Eles eram tão lindos, com ou sem as
meias açafroadas os cobrindo. Nesse dia eles estavam confortavelmente cobertos.
Enquanto ele descansava por cerca de uma hora, os passageiros andavam para cima
e para baixo no corredor, esbarrando seus kamala padas. Às vezes quando batiam
nele ele os movia ligeiramente, mas nunca os retirou de tudo. Ele os deixou lá
durante todo o tempo que descansou, abençoando todos que foram afortunados o
bastante de passar por eles.
A comitiva de
Srila Prabhupada observou o espetáculo da fileira seguinte, tentando imaginar o
que essas pessoas tinham feito para merecer uma oportunidade como essa. Talvez
Srila Prabhupada os abençoou com sua misericórdia sem causa a força, quer eles
queriam ou não.
Obrigado Srila
Prabhupada por me ajudar a ver de relance sua divindade descontraída. Por favor,
me abençoe à força repetidamente, como você tão bondosamente já fez tantas
vezes no passado.
Agosto de 1973,
Bhaktivedanta Manor
Estou com Srila
Prabhupada há um ano agora e tenho sido abençoado com a oportunidade de massageá-lo
todos dias. Creio que estou ficando muito eficiente e imagino que hoje será
mais uma massagem extática. Srila Prabhupada diz: "O Manor é maravilhoso e
quando tem sol não há lugar melhor."
Srila Prabhupada
está sentado na esteira de palha diretamente em cima do piso de madeira
corrida, perfeitamente encerada, e a seu lado estão duas garrafas. A garrafa
grande contém o óleo de mostarda e a pequena o óleo de sândalo. A luz do sol
brilhante entra através das várias janelas e a tez dourada de Srila Prabhupada
está efulgente e banhada de sol. Estou sentado atrás de Sua Divina Graça
esfregando sua cabeça com óleo de sândalo, devido a seu efeito refrescante.
Depois de massagear sua cabeça por cerca de quinze minutos, passei adiante e
comecei a massagear as costas de Srila Prabhupada. O óleo de mostarda é usado
em seu corpo, portanto peguei a garrafa e coloquei um pouco em minha mão.
Muitas vezes Srila
Prabhupada tinha me dito: "Você pode massagear minhas costas o mais forte
possível." Era para valer. Era incrível! Eu usava todo meu peso e força
para massagear suas costas e mantinha esse esforço durante meia hora, ou mais,
ele nunca disse:, "Não tão forte." Às vezes eu deliberadamente fazia
com mais força do que o normal, pensando que tinha como chegar a seu limite. Eu
não consegui. Srila Prabhupada ficava sentado, perfeitamente relaxado durante
essa "luta passiva", como ele chamava. Ele não precisa se apoiar para
receber minha força. Ele só ficava lá, sentado, como se nada estivesse
acontecendo.
Ele sempre gostava
de sua massagem, e hoje não foi uma exceção. Então levantei para mudar de posição. Mas quando
dei um passo para a direita, para massagear o peito de Srila Prabhupada,
derrubei a garrafa com o óleo de mostarda. Durante todo esse ano, Sua Divina Graça
tinha me avisado para não deixar a garrafa destampada. Infelizmente, às vezes
eu a deixava, às vezes não. Hoje eu tive que pagar o preço. Imediatamente ele
berrou: "Seu tolo, você vai ser inteligente quando chegar aos oitenta. Vá
pegar um copo e traga-o aqui." Sai correndo, reaparecendo com um katori de
aço inox. Srila Prabhupada falou: "Bem, bote sua mão no óleo e empurre-o
para dentro do copo." Nos dois ficamos sentados lá, até que todo o óleo do
chão estivesse no copo de metal. "Complete a massagem com esse óleo”.
Srila Prabhupada nunca desperdiçava nada. Falarei mais sobre isso em outro
passatempo.
Agora, parecia
estar tudo quieto demais enquanto continuava a massagem em Srila Prabhupada. Achei
que ele estava com raiva por causa da minha tolice, então comecei a pensar:
"Que posso falar para minimizar minha ofensa?" Pensei e pensei, e
finalmente conseguir criar coragem e deixei escapar: "Muito obrigado,
Srila Prabhupada, achei que ia levar muito mais tempo para ficar inteligente."
Srila Prabhupada começou a rir. "Sim", disse ele, "isso é uma
velha expressão usada na Índia quando alguém fazia alguma tolice. ‘Você vai ser
inteligente quando chegar aos oitenta.’"
Srila Prabhupada é
um devoto puro e Krishna tem a obrigação de manter a palavra de Seu devoto. Eu
não tinha a menor chance de me tornar Consciente de Krishna, mas se eu
conseguir viver até aos oitenta, finalmente me tornarei inteligente.
Inteligência mesmo é se tornar Consciente de Krishna, portanto rezo para poder
viver até aos oitenta anos de idade, e assim satisfazer as expectativas de meu
querido Srila Prabhupada.
Agosto de 1973,
Londres, Inglaterra
Bhaktivedanta
Manor
Hoje à tarde,
durante a massagem de Srila Prabhupada, Rebatinandana Swami entrou no quarto com
um problema que ele imaginou só poderia ser resolvido por seu mestre
espiritual. Ele disse: "Srila Prabhupada, Shyamasundara é o GBC e ele está
tomando todo tipo de decisão. Eu quero aceitar sua autoridade, mas sinto-me na
obrigação de lhe dizer que ele não está cantando suas voltas. Tenho certeza
absoluta disso. Ele não canta nenhuma volta. Além do mais, muitos devotos do
templo tem dificuldade em aceitar sua autoridade. Quero saber como devemos
proceder."
Srila Prabhupada
ficou em silêncio alguns instantes e então respondeu: "Shyamasundara está
muito ocupado. Quando Arjuna estava lutando a batalha de Kuruksetra, ele não
cantava suas dezesseis voltas. Quando você está lutando uma batalha, onde está
o tempo para cantar suas voltas? Talvez Shyamasundara esteja ocupado demais. De
qualquer forma, você deve entender desta maneira. Enquanto ele estiver no
comando, você deve seguí-lo e estimulá-lo a cantar..
Em Calcutá,
durante outra massagem à tarde, um devoto entrou no quarto e perguntou o que
deveria ser feito, porque Gargamuni Maharaja, o administrador do templo não
estava cantando suas voltas. Srila Prabhupada respondeu: "Ele não deveria
estar no cargo. Ele pode ser materialmente qualificado em muitas maneiras, mas
isso não é o suficiente. Na administração a pessoa tem que ter o aspecto
transcendental. A pessoa tem que seguir os princípios reguladores e cantar,
caso contrário é simplesmente inútil ter alguém com conhecimento
administrativo."
Srila Prabhupada
não o removeu do cargo naquela época. Ele é o acarya e é capaz de fazer os
ajustes de acordo como tempo, lugar e circunstância. Nós podemos ver em suas
cartas e ouvir em suas conversas. Às vezes as instruções numa carta eram
unicamente válidas para a pessoa em questão. Não era para ser aplicada como regra
geral. Para a verdade absoluta nós podemos ler seus livros. Ele freqüentemente
chamava-os de "as leis para os próximos 10000 anos". Estou começando
a entender que a presença pessoal de Srila Prabhupada neste planeta foi tão
poderosa, que foi capaz de carregar almas caídas como eu e nos manter em
serviço de Krishna, até mesmo quando não estávamos seguindo estritamente suas
regras. Desde que partiu, tem me ficado bastante claro que se eu quiser me
associar com ele e realizar serviço devocional, tenho que seguir suas
instruções estritamente. Isso pode parecer simples bom senso para a maioria dos
devotos, mas para mim é uma revelação.
Srila Prabhupada
vive eternamente em suas instruções e seus seguidores vivem com ele. Srila
Prabhupada, por favor, me ocupe em seu serviço.
Quinze de outubro
de 1972, Vrindavan, Índia
Templo de Radha
Damodara
Já há cinco
semanas que eu estou com Srila Prabhupada, cozinhando para ele e massageando
seu corpo transcendental diariamente. Nunca vou entender porque ele me abençoou
desta forma. Hoje, algo de novo aconteceu no meu serviço. Yamuna devi esta na
cozinha de Srila Prabhupada preparando seu almoço. Isso sempre foi um dos meus
deveres principais. Afinal, Sua Divina Graça passou dois dias em Dallas me
ensinando a usar sua panela. Logo aprendi, como foi afortunado. Levava muito
tempo para fazer qualquer coisa na Índia.
Depois de
massagear Srila Prabhupada, eu tomava banho e me vestia. Não sabia o que fazer,
já que não precisava preparar seu almoço. Comecei a andar por volta do templo.
Era muito diferente estar em
Vrindaban. Eu estava tentando apreciar minha bem aventurança
em estar no lar de Krishna e com seu devoto puro.
Finalmente voltei
para a cozinha de Srila Prabhupada. Entrei na cozinha e prestei-lhe
reverências. Nunca me ocorreu como estava sendo ofensivo em tomar tais
liberdades. Srila Prabhupada estava lá sentado, tomando sua prasadam. Era o
exato local onde ele tinha passado anos elaborando seus planos de conquistar o
mundo com Consciência de Krishna. Ele levantou sua cabeça com um lindo olhar e
perguntou: "Então, já tomou sua prasadam?" "Não,"
"acabei de tomar banho."respondi.
Srila Prabhupada respondeu com seu charme: "Oh, você não tomou
prasadam. Yamuna faça um prato de prasadam para ele."Falei: "Não,
tudo bem. Eu espero o senhor terminar." Ele disse: "Não. Sente-se e
tome prasadam."
Segui alegremente
suas ordens, malandro que eu era. Agora eu compreendo que foi um dos momentos
mais doces de minha vida. Cá estava eu tomando prasadam com Srila Prabhupada.
Só nós dois. Em
Vrindaban. No Templo de Radha Damodara. A misericórdia do
devoto puro não tem limite.
Nem estava
preparado para o que estava para vir. Pude compreender que nunca tinha
degustado prasadam antes. Também, pude verificar que nunca tinha cozinhado algo
que era digno de ser oferecido. Yamuna devi, é uma devota com poderes
transcendentais. Enviada pelo Senhor para que Srila Prabhupada pudesse comer
suntuosamente. Cada uma de suas preparações era incrível. Ela fazia chapatis
tão perfeitamente no fogão. Os subjis eram definitivamente do mundo espiritual.
Sentado com Srila Prabhupada, compreendi que ofensa eu estava lhe prestando ao
cozinhar para ele. Às vezes ele dizia que eu cozinhava "boa prasadam
americana." Agora eu entendi o que ele quis dizer com isso. A culinária de
Yamuna era transcendental.
Era como se eu
nunca tivesse comido antes. Ao terminar, Srila Prabhupada perguntou:
"Então, gostou?" Respondi entusiasticamente: "Sim, Srila
Prabhupada. Muito." Ele sorriu e disse, "Então, hoje ela preparou seu
almoço, amanhã você cozinha para ela. Esse é o costume védico. Hoje ela
realizou um pouco de serviço para você, agora amanhã você deve servi-la."
Eu disse: "Oh, sim Prabhupada."
Outras vezes Srila
Prabhupada tinha dito: "Devemos sempre estar dispostos a servir alguém,
não simplesmente sempre aceitar serviço. Você chama alguém de ‘prabhu’. Prabhu
significa mestre. Qual é objetivo de você aceitar serviço do seu mestre. Você é
o servo e o está chamando de prabhu, mas está aceitando todo esse serviço de
seu mestre. Então, eu estou lhe chamando de ‘prabhu’. Isso significa que eu
devo lhe render serviço. Essa atitude tem que estar presente, que eu sou servo
de todos, pois chamo todos de ‘prabhu’."
Nunca cozinhei
para Yamuna devi. Isso não teria sido um serviço. Teria sido uma austeridade
para ela ter que comer meu, "prasadam americano". Mataji, por favor,
perdoe-me por aceitar seu serviço. Srila Prabhupada, por favor, perdoe-me por
não seguir suas instruções. Rezo para me ser concedida a capacidade de servir
meu mestre espiritual com habilidade de uma alma rendida, como Yamuna devi
dasi
Outubro de 1972,
Vrindavan, Índia
Templo de Radha
Damodara
Desde sua chegada
no dia 15 de outubro, Srila Prabhupada tem dado aulas de "Néctar da
Devoção", todas as tardes no pátio próximo ao Bhajana Kutir de Srila Rupa
Goswami, durante o mês de Kartika. Srila Prabhupada falava muito em fazer isso
antes de chegarmos aqui. Ele estava bastante animado e disse que suas aulas
seriam em inglês, não em Hindi, para o benefício de seus discípulos. No avião a
caminho de Deli ele me disse: "Você pode ler do Néctar da Devoção e eu dou
os significados."Fiquei muito feliz com a oportunidade.
No primeiro dia de
aula, Pradyumna ficou com o serviço de ler o livro, que para mim não foi um
problema. Eu tinha que gravar a palestra e cuidar das necessidades pessoais de
Srila Prabhupada, como abaná-lo quando necessário. O pátio estava cheio de seus
discípulos e muitos Brijbasis. A maioria deles não compreendia o inglês, mas
isso não importava. Eles estavam felizes, por ter a associação de um homem
santo.
O dia ainda estava
claro durante a aula. Papagaios voltavam para seus galhos para passar a noite.
Os macacos estavam fazendo uma bagunça, como sempre. Era uma atmosfera
transcendental - exceto pelas moscas. Elas ficavam zumbindo por volta de Srila
Prabhupada enquanto ele falava. Era uma ótima oportunidade para eu fazer um
pouco de serviço. Peguei o abanador de camara e me posicionei ao lado de meu
guru. Eu rodava o abanador como um pujari fazendo arati em frente às Deidades e
me sentia muito orgulhoso de prestar um serviço como esses diante de meus
irmãos espirituais. Para cima e para baixo eu abanava, mal reparando que as
moscas continuavam a lhe incomodar. Teve um momento aonde ele chegou a levantar
a mão para afugentar as moscas. Não cheguei nem perto de resolver o problema.
Finalmente, deu
estrume de vaca. Meu Mestre Espiritual olhou para mim e berrou: "Traga
aqui alguém com alguma inteligência." Fiquei congelado, durante o que me
pareceu ser um ano.
Imediatamente um
jovem brahmacari, chamado Kunjabihari, pegou o abanador de minhas mãos suadas e
se posicionou ao lado de Srila Prabhupada. Muitos consideravam-no um devoto um
tanto excêntrico. Naquele momento eu não o teria escolhido para realizar esse
tipo de serviço.
Voltei ao meu
gravador. Minha mente estava girando junto com ele. Finalmente entendi o que
significava ser 1/10,000 de um fio de cabelo. Observei Kunjabihari. Parecia que
ele poderia apagar um incêndio florestal, tal era a intensidade com a qual ele
abanava. Não tinha mosca louca o suficiente para ficar nas redondezas enquanto
ele estava lá. Srila Prabhupada não parou de falar para seus discípulos durante
todo o episódio. Quando eu já estava começando a respirar novamente, Srila
Prabhupada olhou para Kunjabihari com um sorriso, e indicou com um movimento da
cabeça que aprovava o serviço devocional de seu discípulo.
Tudo que me lembro
foi de ter levantado no final da aula e caminhado sozinho em direção ao quarto
de Srila Prabhupada. Antes que eu pudesse entrar, um brahmacari se aproximou e
disse: "Srutakirti, você é muito afortunado de ser corrigido assim por
Srila Prabhupada." Com muito esforço eu sorri e disse: "Sim."
Essa foi a
primeira vez que Srila Prabhupada me corrigiu na frente de tantas pessoas. Era
difícil aceitar. Ele foi muito bondoso de ter cortado meu falso orgulho. Ele
tem me abençoado desta forma repetidamente ao longo dos anos. Ele tem que fazer
isso porque eu ainda não aprendi que sou, "o tolo número um." Ele
fica tentando me ensinar que serviço é para seu prazer, não para o meu.
Srila Prabhupada,
por favor, me dê outra chance lhe abanar. Não! Eu ainda estou muito cheio de
mim mesmo. Por favor, abençoe-me com o desejo de abanar seu discípulo,
Kunjabihari dasa. Ele o satisfez com seu serviço. Essa é a maneira de avançar
em Consciência de Krishna.
Mayapur, Índia
Mayapur Candrodaya
Mandir
Durante uma
caminhada matinal em Mayapur, um devoto perguntou a Srila Prabhupada: "O
mestre espiritual sabe de tudo?" Srila Prabhupada respondeu: "O
mestre espiritual sabe tudo que Krishna quer que ele saiba. Só Krishna sabe
tudo."
Para mim, parecia
que Srila Prabhupada sabia tudo sobre mim. Nas poucas ocasiões onde eu testei
minha inteligência contra a de Srila Prabhupada eu fui rapidamente derrotado. A
seguinte história é o primeiro exemplo.
Recebi minha
iniciação Brahmínica de Srila Prabhupada no Templo de Nova Dwarka, em agosto de
1971. Kirtananda Maharaja, eu, e alguns outros devotos dirigimos de Nova
Vrindaban até Los Angeles numa van fechada em apenas quatro dias. A viagem foi
infernal, mas valeu cada minuto.
O processo de
iniciação Brahmínica foi extático. Entrei em seu quarto e prestei-lhe
reverências. Então, enquanto ele segurava o cordão Brahmínico em suas mãos ele
sussurrou o Gayatri mantra em meus ouvidos. Tudo aconteceu muito rapidamente.
Quando sai de seu quarto me foi dado um papel, onde estava escrito o mantra.
Depois de ficar alguns dias, nós encaramos a longa viagem de volta a Nova
Vrindaban. Porém, não me pareceu tão ruim.
Logo ocorreu uma
tragédia. Certa manhã, por volta das 3:00, eu estava me banhando num pequeno
lago lamacento na total escuridão. Eu estava com pressa, pois tinha que
preparar os pratos das Deidades para oferenda de Mangala. Ao jogar o balde de
água sobre minha cabeça, o meu cordão acidentalmente deve ter sido levado pela
água. Horas depois, quando descobri, eu chorava. O cordão que Srila Prabhupada
tinha me dado estava perdido para sempre. Era um péssimo sinal e eu temia ter
perdido meu elo com meu mestre espiritual.
Outubro de
1972, Vrindavan, Índia
Templo de Radha
Damodara
Agora, um ano após
o incidente, eu estava como o servo pessoal de Srila Prabhupada. Era meu dever
colocar um novo cordão Brahmínico em sua mesa todo mês. Eu fazia isso sempre no
dia de lua cheia ou no Ekadasi. Srila Prabhupada tomava banho depois de receber
sua massagem matinal. Enquanto ele se banhava eu punha em sua cama roupas
limpas. Então, eu ia para sua ante-sala, abria seu espelho, colocava a bola de
tilak ao lado e sua minúscula lota com água ao lado desses itens. Depois de se
vestir ele se sentava em sua mesa e colocava sua tilak e, então, cantava o
Gayatri antes de almoçar.
Hoje era um dia
especial, porque Srila Prabhupada iria cantar em seu novo cordão, enquanto
segurava o seu cordão atual. Como a perda de meu cordão de iniciação Brahmínica
era um peso em meu coração e estava ansioso para reparar a situação. Esse era
meu primeiro mês no serviço pessoal de Srila Prabhupada. Portanto, estava
ansioso para conseguir o cordão prasadam de Sua Divina Graça e, assim,
restabelecer meu elo Brahmínico transcendental.
Depois de ter
cantado o Gayatri, ele cruzou a varanda a caminho da cozinha, onde Yamuna devi
estava cozinhando. Entrei em sua sala e peguei o cordão descartado, só para
descobrir que ele tinha arrebentado cada um dos fios. Não podia acreditar. Nos
dois anos que se seguiram, ele nunca mais fez isso. Sai de sua sala carregando
o cordão e me sentei na varanda, dei um nó em cada um dos seis fios,
determinado a restabelecer meu elo novamente. Para mim não importava que tinha
partido os fios. Eram, de qualquer forma, SEUS fios. Fiquei lá, sentado,
satisfeito comigo mesmo. Srila Prabhupada passou por mim, tendo almoçado. Eu
prestei-lhe reverências. Ele sorriu e disse: "O cordão brahmínico, você já
o jogou fora?" Respondi: "Ainda não, Srila Prabhupada." Ele
falou: "Você deve enterrá-lo debaixo da planta de Tulasi, nos jardins do
templo. Coloque-o debaixo das raízes." Tudo que pude dizer foi: "Tudo
bem."
Eu não podia
acreditar. Tive a oportunidade de presenciar os poderes místicos de Srila
Prabhupada em outras ocasiões também. Se você queria algo, ele fazia você
pedir. Ele parecia ter prazer em expor meus desejos. Eu também gostava muito.
Poderia ter-lhe dito que tinha perdido meu cordão, mas estava envergonhado
demais. Eu não gostava de pedir nada a Srila Prabhupada e tentava até mesmo não
lhe fazer muitas perguntas, vendo que tinham tantos que faziam perguntas
regularmente. Eu tentava imaginar o que Srila Prabhupada queria, não o que eu
queria. Porém, às vezes meu desejo me dominava.
Srila Prabhupada,
por favor, perdoe-me por não seguir suas instruções. De fato, nunca enterrei
seu cordão como você me solicitou. Muito obrigado Srila Prabhupada, por me
tolerar.
Dezembro de 1972,
ISKCON Bombaim
Enquanto os aposentos
de Srila Prabhupada não ficaram prontos em Juhu, ele se hospedou no apartamento
de um membro vitalício. Seu nome era Kartikeya Mahadevia. As acomodações eram
boas e Srila Prabhupada parecia confortável lá. Toda manhã Srila Prabhupada,
Shyamasundara dasa, e eu pegávamos o carro de Kartikeya, um Ambassador, e íamos
para um lugar à beira mar, para caminhar. A calçada era larga e tinha poucas
pessoas.
Certo dia,
enquanto andávamos, nós passamos por um homem deitado na beira da calçada. Isso
era um tanto comum nas ruas de Bombaim. Na volta nós passamos por ele
novamente. Srila Prabhupada virou para nós e disse: "Está vendo aquele
homem ali? Ele está morto." Srila Prabhupada continuou a andar sem fazer
mais comentários.
Uma outra vez, já
de volta no carro, Shyamasundara não conseguia enfiar a chave na ignição. Ele
tentou durante vários minutos. Finalmente ele disse: "Srila Prabhupada,
algo está errado. Isso não vai funcionar. Vou pegar um táxi." Ele saiu
correndo, deixando Srila Prabhupada e eu sentados no banco de trás do carro.
Passou-se alguns minutos e dois senhores Indianos abriram as portas do carro e
entraram. Fiquei assustado. Srila Prabhupada começou a falar com eles em Hindi
e parecia muito calmo. Ele sorria enquanto conversava com eles. De repente, um
deles colocou sua chave na ignição, imediatamente ligando o motor. Começaram
então a dirigir.
Finalmente entendi
que nós estávamos sentados no carro errado. Isso não é tão difícil de
acreditar. Após vinte e cinco anos todos Ambassadors ainda se parecem iguais.
Os senhores insistiram em levar Srila Prabhupada de volta a seu
apartamento. Srila Prabhupada conversou com eles durante todo o trecho. Ele
disse: "Desculpe-nos." Ele disseram, "Não tem problema. Nós o
levaremos para onde o senhor estiver hospedado." Eles nos levaram de volta
a cidade. Quando chegamos, Srila Prabhupada disse: "Vocês devem subir e
comer prasadam." Eles responderam: "Não, nós temos que trabalhar.
Temos reuniões de negócios. Muito obrigado, Swamiji."
Depois de sair do
carro, Srila Prabhupada me disse: "Essa é a diferença entre a Índia e a
América. Na América eles teriam dito, ‘Hei, o que você está fazendo aí? Saia,
imediatamente, do meu carro’ Possivelmente teriam batido na gente. Na Índia,
ainda temos um pouco de cultura. Na Índia, eles vêem um sadhu e o respeitam.
Mas em seu país eles o expulsam. Eles dizem:"Saia do meu carro.’"
É interessante
notar que mesmo numa situação dessas, Srila Prabhupada tentou fazer com que
eles comessem um pouco de prasadam. Isso era algo que eu via acontecer inúmeras
vezes. Srila Prabhupada queria que todos que entrassem em contato com ele
recebessem prasadam.
Todas as glórias a
Srila Prabhupada!
Verão de 1973,
Londres
ISKCON-
Bhaktivedanta Manor
No Uvaca anterior
Srila Prabhupada mencionou que na comunidade Indiana ainda restava um pouco de
cultura. Isso podia ser visto em referência aos Indianos ao redor do mundo.
Freqüentemente Srila Prabhupada e seus discípulos eram convidados para
banquetes na casa de membros vitalícios. Seus discípulos estavam sempre muito
ansiosos para participar de tais eventos por poderem se associar com Srila
Prabhupada e comer prasadam bem opulenta. Eu não me lembro de nenhuma ocasião
onde Srila Prabhupada recusou um convite. Às vezes ele dava uma breve palestra
antes de servirem a prasada. Um desses eventos ocorreu enquanto Srila
Prabhupada estava ficando na Manor. Dezenas de devotos foram à casa de um
senhor Indiano. A prasadam foi opulenta.
Srila Prabhupada
descrevia prasadam de diversas maneiras. Ele disse: "O devoto deve comer
prasadam suntuosa. Simples, porém suntuosa. Suntuosa significa muito saborosa.
Se a prasadam é saborosa você consegue continuar comendo mesmo sem estar com
fome e se não for saborosa então você imediatamente perde o apetite. Prasadam
deve ser muito boa para o devoto, aí então tudo mais vai estar bem." Ele
disse: "Prasadam opulenta significa ghi e açúcar."
No banquete havia
puris, halavah, arroz doce, e muitas outras preparações. Eu me lembro de
observar Srila Prabhupada comendo. Era sempre algo especial. Normalmente, ele
comia prasadam sozinho em seu quarto. Não sou capaz de descrever a maneira
encantadora com a qual ele movia seus dedos, mãos e boca enquanto comia
prasadam, mas até eu era capaz de ver que ele estava respeitando Krishna
prasadam. Todos nós comemos tudo que queríamos.
Quando voltamos ao
Manor, Srila Prabhupada tocou seu sino. Corri para seu quarto e prestei-lhe
reverências. "Então, todos gostaram da prasadam? Todos gostaram do
banquete?", perguntou ele com um sorriso. Eu disse: "Bem, na verdade,
Srila Prabhupada, alguns dos devotos, não estão se sentindo muito bem. Eles
dizem que tudo foi frito no óleo, e não no ghi." Srila Prabhupada
respondeu: "Bem, o que você quer? Eu estava observando eles e eu vi,
Pradyumna, ele comeu tantos puris, e um outro devoto comeu muita verdura."
Fiquei pasmo. Eu
tinha observado Srila Prabhupada comendo, mas não tinha notado que ele nos
estava observando tanto. Ele conseguia fazer tantas coisas ao mesmo tempo sem
parecer que estava fazendo nada. Porém, eu tinha uma observação própria para
fazer: "Sim, Srila Prabhupada,"concordei, "mas eu também não me
sinto muito bem, e eu não comi muito." Ele disse: "Sim, eu sei. Você
não comeu muito, mas eu me lembro que você comeu quatro puris." Não
acreditando no que tinha se passado, eu me retirei, tentando entender como ele
sabia disso tudo. Ele sabia mais sobre o que eu tinha comido do que eu mesmo.
Era assombroso para mim como ele estava ciente de tudo a sua volta num evento tão
comum.
Obrigado, Srila
Prabhupada por prestar tanta atenção a essa pessoa tão inútil. Rezo para nunca
esquecer o tempo que você tão pacientemente passou me instruindo em diversas
situações. Você tinha um serviço tão monumental para realizar, mas eu fico mais
impressionado com todas aquelas maravilhosas coisas que você fez por mim e
ainda faz todo dia. Por favor, permita-me lembrar sua bondade vida após vida.
Separação de você é algo amargamente doce. É um gosto pelo qual eu nunca me
satisfaço.
Verão de 1973,
Londres
ISKCON-
Bhaktivedanta Manor
Ficar com um
devoto puro do Senhor durante dois anos foi à oportunidade mais maravilhosa de
aprender a agir em Consciência de Krishna. Para uma pessoa como eu, também foi
uma oportunidade de cometer inúmeras ofensas a uma grande alma. Tem muitas
atividades gravadas em minha mente que me trazem alegria, e outras que me
trazem tristeza.
Um devoto indiano
no Manor tinha um filho de doze anos de idade. Esse menino queria cozinhar um
almoço para Srila Prabhupada. Sua Divina Graça aceitou a proposta. Eu, tendo a
mentalidade de um menino de doze anos de idade e nenhuma atitude de serviço,
pensei que isso era uma chance para eu descansar um pouco na parte da manhã.
Não supervisionei nenhuma das atividades do menino e não tinha a menor idéia se
ele realmente era qualificado para cozinhar um almoço para Srila Prabhupada.
Dei uma massagem em
Srila Prabhupada e voltei para meu quarto.
O rapaz trouxe o
almoço para Srila Prabhupada. O dahl estava queimado. Os chapatis estavam
duros, pois não tinham se estufados e arroz cru. Srila Prabhupada provou tudo.
O rapaz voltou para cozinha para preparar outro chapati. Naquele instante eu
entrei no quarto de Srila Prabhupada. Ele disse: "Essa prasadam, você não
ajudou?" Respondi, "Não, Srila Prabhupada. Pensei que ele iria
preparar tudo." Ele disse: "Sim, mas você deveria ter ficado com ele,
para ter certeza que tudo ia sair direito. Isso é muito ruim. Como posso comer
isso?" Naquele instante o menino entrou no quarto com outro chapati. Srila
Prabhupada lhe disse: "Tudo está muito bom. Você fez muito bem." O
rapaz estava muito feliz. O menino tinha realizado seu serviço devocional no
limite de sua capacidade e assim agradado seu mestre espiritual. Eu, mal
preciso citar, tinha cometido uma grande ofensa com minha preguiça. Srila
Prabhupada nem berrou. Era duro para mim quando ele berrava, mas quando ele
estava aborrecido comigo e ficava quieto era pior.
Eu quero falar
deste incidente para mostrar um outro aspecto da grandeza de Srila Prabhupada.
Ele poderia escolher entre um sem número de assistentes espiritualmente e
materialmente qualificados para facilitar sua vida, mas ele aceitava o meu
serviço. Ele nunca pediu para eu deixar sua companhia. Ele graciosamente aceitava
minha incompetência. Ele sempre me fazia sentir apreciado, apesar de minhas
falhas. Eu já vi Srila Prabhupada perdoar seus discípulos de muitas ofensas.
Essa certamente não foi a pior coisa que eu fiz em relaçãoa ao meu mestre
espiritual, mas diz respeito ao seu serviço direto, portanto me traz muita
tristeza.
Srila Prabhupada,
não me mande embora. Não existe lugar seguro nesse mundo material senão e
somente aos seus dourados pés de lótus. Por favor, me dê o desejo de servir o
senhor e seu movimento durante todas minhas vidas. Desejando ser seu servo,
Srutakirti dasa.
Outubro de 1973,
Bombaim
Praia de Juhu
Para ser honesto,
tenho que dividir minha associação com Srila Prabhupada em três categorias
diferentes. A primeira seria maravilhosa. A história anterior, apesar de minhas
inabilidades em servi-lo, é maravilhosa, pois
fui capaz de testemunhar a misericórdia e gentileza de Srila Prabhupada.
A segunda seria mais maravilhosa. Isso inclui poder massageá-lo e cozinhar para
ele diariamente. Massageá-lo era especialmente doce para mim. Mas, melhor que
isso, foram os momentos muito especiais, que só podem ser descritos como sendo
os mais maravilhosos. Hoje preciso contar uma história dessas.
São cerca de 10 da
noite e Srila Prabhupada está pronto para sua massagem noturna. Aqui em seu
apartamento em Juhu ele tem um quarto separado. É especialmente bom aqui por
causa dos mosquitos. Sim, isso mesmo, por causa dos mosquitos; porque assim eu
tenho que entrar embaixo da tela que fica sobre sua cama, junto com Srila
Prabhupada. Fica bastante íntimo para mim. Srila Prabhupada deitado e eu
sentado próximo a seus pés. Era como se eu estivesse acampando com meu mestre
espiritual, como dois jovens na floresta. Hoje, Srila Prabhupada me ajudou
nessa fantasia.
Enquanto eu
massageava seu corpo gentilmente, ele disse: "Uma das minhas coisas
favoritas, quando era jovem, eram meus sapatos. Eles eram importados da
Inglaterra. Eles tinham um couro macio por cima e solas de couro duras. Naquela
época, eles custavam seis rúpias. Era uma fortuna. Na Índia, 70 anos atrás,
seis rúpias eram muito dinheiro. Eu gostava muito de meus sapatos e me lembro
que eu os usava para ir para escola."
Ele pausou alguns
minutos. Eu estava sendo carregado pela onda de bem-aventurança de Srila
Prabhupada. Tentava imaginar ele andando com seus sapatos. Ainda massageando
sua forma transcendental, sorri e disse: "Prabhupada, ao andar para
escola, você ficava olhando para seus sapatos?" Ele começou a rir e disse:
"Sim, eu ficava olhando para meus sapatos. Gostava tanto deles, aqueles
sapatos."
Ele falou de
outras memórias de sua infância naquela noite. Algumas eu já mencionei, outras
eu vou mencionar depois. Esse foi uma noite, "ainda mais maravilhosa"
para mim. Eu poderia ficar para sempre lá, massageando e ouvindo-o contar
aquelas histórias. Era como ouvir o Livro de Krishna pela primeira vez. Sua
memória era incrível. Quando ele falava de sua infância parecia que ele estava
lá. Agora, eu compreendo que ele não estava descrevendo esses passatempos
unicamente para meu prazer. Ele os contava para que eu pudesse descrevê-los a
todos seus seguidores. Espero poder transmiti-los com pelo menos uma semelhança
do néctar que eu sentia enquanto ele me contava esses passatempos sublimes.
Obrigado Srila
Prabhupada, por compartilhar suas memórias comigo. Eu não tinha qualificação
alguma para ouvi-las de qualquer fonte, e, de alguma forma ou outra, pude
ouvi-las diretamente de sua Divindade. Também não tenho qualquer qualificação
para descrevê-las, mas faço isso porque você contou-as para mim e é meu
extático dever propagar suas glórias aos três mundos. Eu nunca vou entender
isso.
Março de 1973,
ISKCON Mayapur
Essa foi minha
primeira viagem para Mayapur com Srila Prabhupada. Foi antes de ser construída
a casa de hóspedes. Onde ele ficava era muito austero. Basicamente, era uma
goshala, uma cabana de palha. Tinha sido preparado para sua estadia. Srila
Prabhupada ficava num quarto e nós ficamos no outro lado da divisória.
Eu nunca tinha
visto tantos mosquitos na minha vida. Eram tantos que, até que eu colocasse a
tela por cima de sua cama, já tinham mosquitos dentro da tela. Certa noite,
depois que nós dois tínhamos entrado debaixo da tela, eu estava massageando sua
perna. Eu disse: "Tem tantos mosquitos. Devo matá-los, Srila
Prabhupada?" Ele disse: "Sim! Eles estão atacando. De acordo com os
Sastras, se você está sendo atacado, você tem o direito de se defender. E, eles
estão atacando." Então, eu massageava e observava. Quando eu via um, eu
levantava e batia minhas mãos. Às vezes eu gentilmente dava uma tapa no corpo
de Srila Prabhupada, quando via um pousando em suas costas ou cabeça. Fora o
serviço mais estranho que eu já tinha realizado, mas eu tive imenso prazer em fazê-lo. De guerreiro
eu não tinha nada, mas até eu dava conta desse inimigo. Finalmente eu tinha
recibo um serviço no qual eu era bom, matar insetos. Srila Prabhupada foi muito
gentil.
Ele também tinha a
melhor descrição desses incômodos insetos. Uma manhã ele tocou seu sino muito
cedo. Entrei em seu quarto andando bem devagar, meio que dormindo ainda. Ele
olhou para mim com um toque de raiva e disse: "Um mosquito na noite
passada estava cortando minha testa. Ele me perturbou tanto. Ele dificultou meu
trabalho de tradução." Era incrível. Não importava o que estava
acontecendo, Srila Prabhupada sempre ligava tudo a Krishna e seu serviço. Nunca
era uma questão de inconveniência corporal. Ele só reclama de algo interferindo
em seu serviço. É claro que, durante os dois anos que eu passei com ele, é tudo
que vi, Srila Prabhupada ocupado em serviço a seu guru maharaja e Srila
Prabhupada em plena bem aventurança. Isso ocorria simultaneamente.
Era bastante frio
de noite, mas Srila Prabhupada não reclamava disso. Mas ele reclamava das
conversas desnecessárias que ocorriam entre seus discípulos. Como estávamos
todos ficando no mesmo quarto, toda conversa que se passava poderia ser ouvida
por ele. Ele disse: "Diga a eles para ficarem quietos. Toda essa conversa
não é bom. Eles estão só fofocando. Diga a eles para parar."
Isso não era fácil
para mim, pois normalmente os devotos eram meus irmãos espirituais mais
antigos. Eu dizia a eles que Srila Prabhupada tinha pedido silêncio. A mesma
situação ocorreu aqui meses depois quando nós ficamos na casa de hóspede.
Mayapura era um lugar tão silencioso em 1972-73 que qualquer conversa podia ser
ouvida por Srila Prabhupada muito bem. Quando Srila Prabhupada estava no
templo, muitos de seus devotos se juntavam. Era uma oportunidade perfeita para
trocar histórias sobre essa ou aquela pessoa, etc., etc. Srila Prabhupada
disse: "Por que tudo tem que se deteriorar a esse tipo de conversa fiada,
discussão inútil? Isso desperdiça tempo, destrói Consciência de Krishna."
Eu sempre
suavizava o tom antes de transmitir o recado para meus irmãos espirituais.
Simplesmente não tinha coragem de falar para eles o que ele me tinha falado.
Nunca o vi mencionar isso a ninguém quando iam a seu quarto, mas é certo que de
mim ele não escondeu.
Essa era uma
qualidade de Srila Prabhupada. Ele tomava muito cuidado de não desanimar
ninguém através da crítica. Se alguém tivesse a capacidade de agüentar, então
ele criticava. Caso contrário, ele era o maior diplomata transcendental que já
existiu. Seu único objetivo era transmitir amor a Krishna ao maior número de
pessoas possível e, se você tivesse a oportunidade de se associar com ele
diretamente, eram grandes as possibilidades de você desenvolver grande apego a
ele, não importa o quanto você lutasse contra isso.
Vinte e cinco a
trinta e um de janeiro de 1973, ISKCON, Calcutá
Sem dúvida essa
era a cidade natal de Srila Prabhupada. Permeava aqui, uma atmosfera relaxada.
O templo ficava no segundo andar. A sala do templo era de tamanho modesto, e o
quarto de Srila Prabhupada ficava no fim do prédio. A melhor parte era sem
dúvida a grande varanda de mármore que percorria todo prédio. De lá, via-se um
pequeno lago do outro lado da rua.
Parecia não haver
fim ao fluxo de visitas a seu quarto. Era diferente de outros templos, onde
havia muito mais controle. Eu me lembro de quando ele descansava a tarde. Eu me
deitava na frente das portas, para que ninguém pudesse entrar. Era um dos meus
serviços favoritos, tendo a oportunidade de servi-lo como seu cão de guarda.
Isso mostra o pouco controle que havia no que diz respeito à visitas. Srila
Prabhupada sabia que eram pessoas de sua cidade natal e ele era especialmente
gracioso com essas visitas. Sempre tinha algumas caixas de doces de leite em
seu quarto que eram comprados nas lojas de doce locais. Os sandesh variados
eram os mais saborosos do mundo. Srila Prabhupada sempre enfatizava:
"Todos visitantes devem receber prasadam."
Um dia reparei que
uma das caixas de doces estava coberta de formigas. Pensei que, se mostrasse
isso a Srila Prabhupada, ele me mandaria jogá-los fora. Aí então eu poderia
tirar as formigas e ficar com todos para mim. Cheio de luxúria, entrei no seu
quarto e prestei-lhe reverências e lhe contei o dilema. Ele sorriu, sem dúvida
lendo minha mente, e disse: "Tudo bem, elas não comem muito." Então
ele disse: "Pegue um thali (um prato com uma borda de 2 cm .) e encha-o de água.
Então coloque um pote de cabeça para baixo e os doces em cima do pote. Isso
cria um fosso, assim as formigas não conseguem pegar os doces."
Uma das
características transcendentais de Srila Prabhupada era que ele nunca, mas
nunca, desperdiçava nada. Essa qualidade pode ser vista em muito de seus
passatempos.
Certa tarde,
enquanto eu deitava fora de seu quarto, eu o ouvi gemendo. Eu não sabia o que
fazer. Olhei algumas vezes e o vi se mexendo na cama. Ele não me chamou, porém
eu não estava agüentando mais. Finalmente, entrei correndo em seu quarto e
perguntei: "Srila Prabhupada, qual é o problema?" Ele disse:
"Minha barriga, muita dor. Deve ter sido algo que comi. Muita dor."
Ele não pediu ajuda. Fiquei no quarto, massageando levemente sua barriga.
Mais tarde ele
disse: "Deve ter sido aquele katchori de coco que minha irmã me fez de
almoço. Ele não estava cozido, está muito difícil digerir o coco. Está me
causando muito dor." Durante toda noite os devotos se revezaram,
massageando sua barriga e corpo. A dor continuou até o dia seguinte. Cada vez
que respirava, ele soltava um suspiro. Na manhã seguinte veio o kaviraja. Ele
confirmou o que Srila Prabhupada tinha dito. Quando entrei em seu quarto as
quatro da manhã ele me disse: "Essa katchori foi um caos. Passei a noite
toda sem conseguir descansar. Criou um caos na minha vida."
Srila Prabhupada,
por favor, perdoe-me. Por ter voluntariamente aceito minhas reações pecaminosas
você teve que passar por tanto sofrimento.Tenho observado você lidar com isso
em silêncio, nunca reclamando. Estou eternamente em seu débito.
7-8 de julho de
1973, Festival de Rathayatra em Londres
A segunda metade
da história anterior, sobre o katchori, aconteceu em Calcutá, durante a
primeira semana de julho. Isso é significante porque logo em seguida Srila Prabhupada
esteve decidindo para onde ele iria viajar. Isso era sempre uma aventura
emocionante. Nessa ocasião um devoto mais antigo estava sugerindo que Srila
Prabhupada deveria ir para o Havaí ou Los Angeles para descansar. Porém, um
devoto de Londres o havia convidado para participar do festival de Ratha Yatra.
Srila Prabhupada
era perito em ocupar seus devotos de tal forma que eles pudessem desenvolver
seu amor e apego por ele. Esse processo de decidir para onde ele viajaria
acontecia sempre, não importava onde Srila Prabhupada estivesse ficando. Ele
deixava seus discípulos sugerirem lugares para onde ele deveria ir e as razões
para isso. Havaí era muito sugerido por causa do clima ameno e boas frutas. Ele
ouvia todas as opiniões de seus discípulos e então fazia o que ele achava
melhor. Achava muito divertido, depois que entendi o processo.
Às vezes, ele
visitava todas as cidades do mundo sem nem sair de sua sala. A coisa mais
importante para seu secretário saber era que, a não ser que ele falasse,
"mande um telegrama" ou "peça-os para nos mandar os
bilhetes", era apenas uma sugestão de Srila Prabhupada. Isso mantinha seus
discípulos ao redor do mundo, ocupados pintando seus templos de azul e branco,
que eram consideradas as cores favoritas de Srila Prabhupada. Não tenho
certeza, mas às vezes acredito que Srila Prabhupada achava que todos os templos
fora da Índia tinham o aroma de tinta fresca.
Nessa ocasião ele
me perguntou: "Srutakirti, o que você acha? Devo ir para Londres
participar do festival de Ratha Yatra ou para o Havaí para descansar?" Eu
já estava com Srila Prabhupada há quase um ano e sabia que faria como ele bem
quisesse. Porém, fiquei encantado dele ter pedido minha opinião. Aquele
reconhecimento era suficiente para durar toda minha vida. Rapidamente respondi:
"Srila Prabhupada, se você fosse ao festival de Ratha Yatra em Londres,
muitas pessoas seriam beneficiadas por sua associação." Ele sorriu
largamente e disse: "Sim, eu acredito que sua observação está
correta." Depois de ouvir a opinião de todos, Srila Prabhupada disse:
"Muito obrigado por seus conselhos. Eu vou para Londres para o festival de
Ratha Yatra."
Foi um festival
incrível. Minha perspectiva era limitada, porque fiquei ao lado de Srila
Prabhupada, mas foi cheia de aventura. Srila Prabhupada estava muito
entusiasmado. Seu Vyasasana estava disponível no carro de Ratha, porém ele
decidiu andar junto com os devotos. Srila Prabhupada estava andando na frente
do carro, batendo palmas ao ritmo do kirtan. Ele levantava suas mãos,
convidando todos a dançarem. Ele parecia ser o supremo maestro. Ao levantar
suas mãos, todos saltavam em
êxtase. Não era
necessária qualquer purificação. Se você estava perto dele, você estava
em êxtase - exceto pelos "bobbies" (policiais). Eles estavam
procurando o responsável. Eles queriam que todos se acalmassem. Eles eram
inteligentes o suficiente para entender que se eles pudessem controlar Srila
Prabhupada, eles poderiam controlar a multidão "indisciplinada".
De alguma forma ou
outra eles pensaram que eu era o "assistente" de Sua Divina Graça. Um
dos bobbies disse: "Você terá que dizer ao seu chefe que ele tem que
sentar. Ele está causando muito distúrbio. Todos estão ficando loucos e nós não
conseguimos controlá-los." Eu disse: "Tudo bem" e não fiz nada.
Era bastante óbvio que Srila Prabhupada estava comandando a festa. Eu não fazia
a menor idéia de quem estava presente, mas Srila Prabhupada estava claramente em êxtase. Eles se
aproximaram novamente dizendo, com mais firmeza: "Você tem que falar com
ele. Ele tem que sentar." Novamente, concordei. Com medo de alguma
represália, dei um tapinha nas suas costas e disse: "Prabhupada, os
policiais querem que você se sente. Eles dizem que você está criando um tumulto
no festival." Srila Prabhupada olhou para mim durante um breve instante.
Ele rapidamente virou a cara, com seus braços ainda erguidos. Sorrindo
majestosamente, ele continuou a andar com passos saltitantes. Ele andou o tempo
todo. Os bobbies desistiram de seu ataque. Eles não eram páreo para um devoto
puro e o Senhor do Universo.
Srila Prabhupada,
quando eu disse que muitas pessoas seriam beneficiadas por sua associação, não sabia quais eram seus planos. Você era um
oceano de misericórdia, que estava sendo distribuída livremente a todos
presentes. Por favor, perdoe-me por ter dado um tapinha nas suas costas naquele
dia. Devido a minha burrice eu tentei distrai-lo de sua missão. Obrigado por
ignorar minhas ilimitadas deficiências.
Dezesseis a
dezoito de março de 1973, ISKCON Mayapur
Durante o período
em que ficava num pequeno prédio na frente do terreno de Mayapur, Srila
Prabhupada às vezes saía para observar seus discípulos comendo prasadam. Nessa
época, o local onde eles comiam ficava logo atrás dos aposentos de Srila
Prabhupada. Nessas condições precárias ele considerava seus discípulos
pioneiros, enfrentando grandes austeridades para ajudá-lo em sua missão. Na
maioria dos lugares na Índia as condições eram, quando muito, razoáveis. Srila
Prabhupada ansiava para logo construir instalações para os hóspedes, para que
seus discípulos tivessem um lugar adequado para ficarem.
Os devotos usavam
um pequeno fogão a kerosene para cozinhar os puris. Não tinha uma cozinha fixa.
Eles estavam cozinhando ao ar livre, próximo de onde comiam. Enquanto os
devotos comiam, a comida continuava a ser feita e, assim, eles recebiam puris
quentes continuamente. Nessa época do ano, recolhia-se a seiva das tamareiras,
que era então fervida até se tornar um gaur incrivelmente gostoso. Certo dia
Srila Prabhupada saiu de seu quarto para utilizar o rudimentar banheiro. Como
mencionei antes, ele sempre tinha prazer em ver seus discípulos honrando
prasadam. O processo era maravilhoso. Ele saía e, é claro, todos prestavam
reverências. Ele dizia: "Vão, continuem comendo sua prasadam." O
intercâmbio entre Srila Prabhupada e seus discípulos era muito doce. Ele olhou
para baixo e viu a combinação de puris quentes com gaur de tâmara e disse:
"Oh, uma combinação muito boa."
Mais tarde, em seu
quarto, ele disse para mim: "Isso não é uma boa prática, os devotos
comendo puris feitos na hora, quente daquele jeito. Esse não é nosso sistema.
Você simplesmente come prasadam. Somos tão elevados, nobres? Os devotos têm que
comer puris quentes, um atrás do outro? Isso não é bom. Isso deve parar."
Mais tarde aquele dia eu transmiti a mensagem para um dos administradores do
templo para que os desejos de Srila Prabhupada fossem cumpridos.
Setembro de 1973,
ISKCON Bombaim—Praia de Juhu
Hoje de manhã,
quando chegamos, Srila Prabhupada me informou que ele comeria de almoço maha da
Deidade. Fiquei satisfeito com esse arranjo porque facilitaria as coisas, já
que ainda não tinha achado ninguém que pudesse preparar seu almoço. Quando a
maha chegou do templo comecei a esquentá-la. Enquanto eu estava na cozinha, um
devoto entrou e disse que Srila Prabhupada queria sua prasadam agora. Eu disse:
"Estou esquentando-a e já vou levá-la." Ele voltou num instante e
disse: "Srila Prabhupada está com raiva. Ele a quer agora." Entrei no
quarto tremendo e prestei-lhe reverências. Ela começou a berrar antes mesmo de
eu me levantar. "Por que você está esquentando a prasadam. Maha prasadam
não é para ser esquentada. Eu a quero agora. Eu não a queria esquentada. Eu só
queria a prasadam. Traga-a agora."
Estar com Srila
Prabhupada nunca era tedioso. Muitas vezes devotos me falavam que devia ser
difícil ser o servo pessoal de Srila Prabhupada. De fato era. Eu acho que devia
ser muito mais difícil para Srila Prabhupada me ter como seu servo pessoal.
Ainda não faço idéia quanta tolice ele teve que suportar devido a meus maus
hábitos. Ele tinha muita paciência e tolerância. Tinha muito a aprender com
ele. Freqüentemente ele dizia: "Consciência de Krishna é bom senso."
Srila Prabhupada por favor me abençoe com bom senso para que eu possa começar a
servi-lo de acordo com seus desejos.
Maio de 1973, Los
Angeles, Ca.,
ISKCON, Nova
Dwarka
Eram cinco da
tarde. Eu estava deitado na minha rede, nos aposentos dos servos, quase
dormindo, quando eu ouvi o sino tocar. Andei em direção à sala de Srila
Prabhupada e tentei me recompor. Compreendi que ainda estava afetado pelo modo
da ignorância. Entrei na sala de Srila Prabhupada e prestei-lhe reverências,
sentei-me, na esperança que ele não reparasse meu estado. Eu estava pior do que
imaginava. Ele estava mais consciente da minha ilusão do que eu. Essa
declaração pode parecer elementar, mas eu sempre pensava que Srila Prabhupada
tinha coisas mais importantes com qual se preocupar do que minha Consciência de
Krishna.
Ele olhou para mim
com um olhar preocupado e disse: "Então, por que você não está
cantando." Puxa! Como ele me pegou de surpresa. Srila Prabhupada era
perito em confrontar as pessoas quando você menos esperava. Eu não sabia o que
dizer. Então, disse algo idiota, mas honesto. "Srila Prabhupada, eu estou
tendo uma certa dificuldade. É difícil para eu ficar em meu quarto o dia
inteiro lendo e cantando." Sua resposta foi incrível. Ele disse: "Eu
também estou sentado aqui o dia todo. Eu só saio uma vez por dia para andar. O
resto do dia, eu só fico aqui sentado, sem problemas." Srila Prabhupada
disse isso com uma cara séria. Respondi rapidamente: "Não sou como você
Srila Prabhupada. Você é como Haridasa Thakur. Eu não sou muito transcendental.
Tenho que me manter ocupado. Talvez eu possa datilografar para você?"
Ainda me olhando muito seriamente, ele disse: "O que vamos fazer?" Eu
disse: "Srila Prabhupada, não sei." Ele então disse: "Chame
Karandhara."
Como já mencionei
em outras histórias, Srila Prabhupada falava essas palavras freqüentemente
quando estava em Los
Angeles porque Karandhara resolvia tudo, ele era muito sério.
Nós entramos juntos no quarto de Srila Prabhupada e prestamos reverências.
Srila Prabhupada falou para Karandhara: "Srutakirti esta tendo
dificuldades. Ele não está cantado. Ele precisa fazer algo para se manter
ocupado. O que vamos fazer?" Karandhara, muito sério como sempre, disse:
"Nós temos que encontrar alguma tarefa, de alguma forma."
Srila Prabhupada
disse: "Sim! Tenho uma idéia. Estou traduzindo o ‘Srimad Bhagavatam’ aqui
nesse quarto. Então, começarei a traduzir o ‘Caitanya-Caritamrta’ na outra
sala. Nesse quarto terei meu Dictaphone e traduzirei ‘Srimad Bhagavatam’ e na
outra sala você coloca outro Dictaphone para que eu possa começar a traduzir o
‘Caitanya-Caritamrta’." Olhando para mim ele disse: "Então você pode
datilografar. Você pode preparar tudo para a edição. Desta forma você ficará
ocupado e eu manterei Pradyumna ocupado com a edição. Está bom assim?" Eu
respondi entusiasticamente, "Sim, Srila Prabhupada. Obrigado."
Karandhara e eu preparamos a outra sala para que Srila Prabhupada pudesse
começar a trabalhar no ‘Sri Caintanya-Caritamrta’.
Cedo na manhã
seguinte, quando Srila Prabhupada foi ao banheiro se preparar para sua
caminhada matinal, entrei na sala e tirei a fita da máquina. Ele tinha
traduzido um pouco. Naquele dia cantei entusiasticamente minhas voltas, sabendo
que meu Mestre Espiritual me amava mais do que poderia imaginar. Mais tarde
naquele dia eu transcrevi a fita. Não tinha muito, mas ele continuava fazendo o
Srimad Bhagavatam no outro quarto, portanto era compreensível.
No dia seguinte,
quando entrei na sala para pegar a fita, vi que ela não tinha sido usada. Ele
não fez mais nenhuma tradução do ‘Sri Caintanya Caritamrta’ durante o restante
de nossa estadia em Los
Angeles , mas, para mim, isso não fazia diferença. Sua
preocupação comigo tinha acendido uma pequena luz dentro de mim.
Seis meses mais
tarde, na sala em Los
Angeles onde ele fez sua primeira hora de tradução do ‘Sri
Caitanya Caritamrta’, ele me disse: "Você deveria se tornar perito no
‘Caintanya-Caritamrta’ e dar palestras a seu respeito."Balancei a cabeça e
sorri, não sabendo como isso jamais poderia acontecer. Srila Prabhupada, sei
que por sua misericórdia sem causa, tudo é possível. Se eu pudesse desenvolver
uma fração do amor por você que você mostrou ter por mim, minha vida seria um
sucesso. Rezo para que em alguma vida distante eu possa compreender meu
relacionamento com você.
Srila Prabhupada
falando sobre cantar japa
Era fácil
compreender que Srila Prabhupada gostava de cantar japa. Ele sempre enfatizou
para nós a importância de cantar dezesseis voltas. Ele me contou que na sua
época de casado ele utilizava um método simples para completar suas dezesseis
voltas. Ele disse:, "Quando eu morava em casa, eu cantava quatro voltas
antes de cada refeição e quatro voltas antes de dormir. Dessa forma as
dezesseis voltas eram cantadas sem dificuldade." Ele sorriu e disse:
"Se você não aceitar prasadam antes de cantar suas quatro voltas, então é
certo que você as cantará."
Às vezes os
devotos perguntavam a Srila Prabhupada sobre seguir certas regras em relação a
Ekadasi ou Catur, mas Srila Prabhupada respondia: "Meus discípulos, eles
não conseguem nem cantar suas dezesseis voltas e seguir os princípios. O que
adianta essas outras regras e princípios? Primeiro façam essas coisas. Façam
essas coisas tão simples que eu lhes peço. Não se preocupem com esses outros
rituais. Primeiro cantem suas dezesseis voltas e sigam os princípios."
Certo dia um
brahmacari entrou no quarto de Srila Prabhupada e disse que havia caído com uma
mulher. Ele falou para Srila Prabhupada que talvez fosse melhor ele se casar.
Srila Prabhupada respondeu: "Casar. Por que você acha que casar vai
resolver seus problemas? É melhor você cantar. Apenas cante Hare Krishna. Cante
suas dezesseis voltas." Muitas vezes devotos entravam no quarto de Srila
Prabhupada com um problema, na esperança que ele pudesse resolvê-lo com um
arranjo específico. Mas a solução era sempre a mesma. "Cante Hare Krishna . Cante suas
dezesseis voltas." Ele desenvolveu a frase: "Just do it (só
faça)", muito antes da Nike.
Certa vez ele
disse a um discípulo: "Se tiver algum problema, cante em voz alta. Se
tiver alguma agitação, cante em voz alta." Certa vez lhe disseram que um
devoto antigo não estava participando do Mangal Arati ou cantando suas voltas,
pelo menos não com os outros devotos. Srila Prabhupada disse: "Faça como
exemplo aos outros devotos. Você é muito avançado. Você não precisa ir ao
Mangal Arati, mas você deve estabelecer o exemplo para aqueles que
precisam."
Obrigado, Srila
Prabhupada, por ser o Acarya. Você sempre ensinava através do exemplo. Você
cantava voltas. Você cantava o Gayatri mantra três vezes ao dia, acordava cedo,
e aplicava tilak em seu corpo transcendental. Você nunca pediu para um
discípulo fazer algo que você não estava fazendo. Você sempre praticava o que
você ensinava. Você mostrou na prática como um devoto puro se comportava. Eu
estou em ilusão desde de tempos imemoriais, mas eu rezo para que nunca me iluda
a ponto de achar que esse processo de serviço devocional é só para o neófito.
Setembro de 1972,
Los Angeles, Califórnia
ISKCON, Nova
Dwarka
Srila Prabhupada
tinha grande prazer em ouvir seus discípulos cantarem o Maha Mantra, mas às
vezes ele queria que eles cantassem em outro lugar. A sala do templo em Nova Dwarka , 1972, é
agora um museu. Ficava ao lado do quarto de Srila Prabhupada. Era por volta das
duas da tarde. Tinha um devoto no templo cantando suas voltas, em voz muito
alta. Srila Prabhupada estava descansando, como também estavam Sri Sri Rukmini
Dwarkadisa. Srila Prabhupada nem tocou seu sino para me chamar. Ele abriu a
porta de seu quarto e berrou do segundo andar: "Diga àquele devoto que as
Deidades estão descansando e que ele deve se calar. Diga a eles para calarem a
boca." Srila Prabhupada era muito humilde. Ele poderia ter dito que ele
estava descansando e não queria ser incomodado, mas não era dessa forma que
apresentava as coisas.
Junho de 1973-
Mayapur Índia,
ISKCON- Mayapur Candrodaya Mandir
Srila Prabhupada e
sua comitiva tinham quartos na metade do segundo andar da casa de hóspedes. O
resto do segundo andar ficava disponível para outros devotos visitantes. Tem
uma linda varanda que contorna todo o prédio. Às vezes Srila Prabhupada andava
pela varanda cantando japa. Os devotos ficavam do outro lado da varanda, na
esperança de conseguir ver Sua Divina Graça. Certa manhã, um devoto mais antigo
estava andando de um lado para o outro na varanda de mármore, cantando japa.
Meus instintos me diziam que ele estava cantando alto demais e que Srila
Prabhupada poderia se incomodar. Eu já tinha um pouco de experiência no
assunto. Srila Prabhupada apreciava muito sua êxtase silenciosa. Eu disse:
"Prabhu, talvez fosse melhor você cantar um pouco mais baixo. Srila Prabhupada
pode não gostar." Ele olhou para mim como se eu fosse louco. Acredito que
ele imaginava que Srila Prabhupada ficaria contente com sua devoção. Ele me
deixou para trás e continuou a cantar do seu jeito.
Após poucos
minutos, o sino tocou. Eu já sabia que estava para acontecer e, confesso,
estava em êxtase. Corri
para o quarto de Srila Prabhupada e prestei-lhe reverências. Srila Prabhupada
disse, com raiva: "Quem está cantando lá fora? Se eles querem cantar em
voz alta, diga a eles para cantarem na sala do templo, diante das
Deidades." Alegremente expus o culpado e corri para fora. Dessa vez eu
estava com um ar presunçoso. Afinal, eu estava armado com o ‘Cakra de Srila
Prabhupada’. Nem precisa ser dito que, após receber a mensagem de Srila Prabhupada,
ele foi embora com uma nova atitude.
Srila Prabhupada,
você me disse: "O servo de primeira classe faz o que seu mestre deseja, e
faz sem ser mandado." Eram várias as vezes onde eu, por experiência, sabia
o que você queria que eu fizesse, mas não fazia devido a fraqueza de caráter.
Eu sempre tentava ficar quieto. Você disse: "Em relação a sua própria
pessoa, o devoto é humilde e dócil, mas para Krishna e Seu devoto puro, ele
fica que nem um leão." Obrigado por sempre nos mostrar essas qualidades.
Dezembro de 1973;
Los Angeles, CA; E.U.A.
ISKCON Nova Dwarka
Quando Srila
Prabhupada estava em Deli ele ganhou um vaso de prata de um membro vitalício.
Originalmente ia ser presenteado a Indira Ghandi e, assim, o vaso tinha o nome
dela gravado. Srila Prabhupada ficou muito satisfeito com o presente e pediu
que eu o colocasse na bagagem para Los Angeles. Quando chegamos, ele apontou
para sua mesa e disse: "Eu vou mantê-lo aqui." Mostrei o vaso para os
devotos encarregados da limpeza do quarto de Srila Prabhupada, enquanto ele
tinha sua caminhada matinal. Eu disse: "Srila Prabhupada gosta muito deste
vaso. Vocês deveriam colocar umas belas flores nele."
Diariamente era
colocado um lindo arranjo no vaso. Era de bom tamanho e comportava muitas
flores. Um dia nós voltamos da caminhada matinal mais cedo que o normal. Tão
logo Srila Prabhupada entrou em seu quarto ele viu que o vaso não estava em sua
mesa. Ele olhou para mim e disse: "Onde está o vaso?" Respondi:
"Bem, provavelmente eles o levaram para cozinha para colocar flores novas
nele." Agora, ele já estava um pouco irado, e estava ficando mais e mais
rapidamente. "Por que?", ele perguntou: "As flores estavam boas.
Por que eles trocam essas flores todos os dias? Por que eles desperdiçam tanto?
Quem está fazendo isso? Diga a eles para só trocarem as flores quando estiverem
ficando ruins. Você não deve nunca tirar uma flor deste quarto até que ela
murche. Não é necessário. É puro desperdício. Onde está o vaso? Traga-o
imediatamente!"
Sai correndo do
seu quarto. Na verdade, eu estava ansioso para sair. Não era nada bom para eu
ficar perto de Srila Prabhupada quando ele estava berrando, mesmo quando eu não
era o objeto de sua ira. Felizmente o vaso estava na cozinha do templo. Eu
disse aos devotos: "É melhor vocês pararem de trocar as flores todos
os dias. Srila Prabhupada falou que isso
era muito ruim. Também não retire o vaso de seu quarto." Cheguei em seu
quarto com um belo arranjo novo, mas isso não o alegrou. Coloquei o vaso em sua
mesa e prestei-lhe reverências, querendo ficar com minha cabeça no chão.
"Só troque quando for preciso," ele berrou, "Eles não deveriam
gastar tanto com flores. Ele não deveriam gastar tanto dinheiro, todo dia –
trocando. Esse é o hábito americano, só gastar." Ele deu o seguinte
exemplo, era um usado freqüentemente, devido ao condicionamento de seus
discípulos: "No seu país, se você tem uma roupa grande demais, ao invés de dobrar, vocês cortam e jogam fora.
Esse é o seu processo aqui na América. Na Índia, se tem alguma sobra, eles
dobram e costuram por cima. Tudo que dá errado aqui, vocês resolvem com
dinheiro. Dessa forma tudo parece muito bom. Quando vocês cometem um erro,
porque vocês têm dinheiro, vocês o encobrem rapidamente. Não é que vocês sabem
fazer as coisas direito, mas porque vocês têm dinheiro fica tudo parecendo
muito bom. Com dinheiro vocês podem cobrir todas suas deficiências."
Srila Prabhupada
disse: "Krishna deu a vocês rapazes e meninas americanos muitos
recursos." O que não me era óbvio na época é que a razão pela qual
tínhamos tanto era devido a sua potência, e não aos nossos esforços. Srila
Prabhupada via Krishna em tudo, o tempo todo. Portanto ele nos corrigia quando
não éramos econômicos. Ele era muito tolerante de nossa imaturidade espiritual
e material.
Srila Prabhupada,
por favor, perdoe-me pelos meus hábitos de desperdiçar. Sobretudo, perdoe-me
por desperdiçar tanto tempo no serviço da energia ilusória. Às vezes, durante
suas palestras, você olhava para seu relógio e dizia que era impossível
recuperar aquele momento que se passou, não importa quanto dinheiro você tenha.
Eu tolamente pensava: "Por que isso é tão ruim? Nós somos eternos. Qual é
a perda?" Agora, sentado aqui com um vazio em meu coração causado por sua
ausência, começo a entender como era valioso cada segundo de sua presença.
Dinheiro nenhum no mundo pode traze-lo de volta para essa alma desventurada.
Novamente eu sinto o sabor amargo e doce da separação de Sua Divina Graça.
O Domínio do
Idioma Inglês de Srila Prabhupada
Muitas vezes Srila
Prabhupada adaptava o idioma inglês para satisfazer suas necessidades,
freqüentemente com resultados cômicos. Já mencionei alguns. Quando ele estava
no Havaí em sua caminhada matinal, ele olhava para o oceano e brevemente
observava os surfistas. Ele sempre os chamava de "sofristas"
("sufferes").
Nos EUA, quando
falava sobre democracia, ele a chamava de "demon crazy" (loucura de
demônio). Quando eu estava com Srila Prabhupada no início, ele tocava o sino,
eu entrava e ele perguntava: "Onde está punditji?" Isso era sua
maneira carinhosa de se referir ao seu editor de sânscrito. Depois de vários
meses de freqüentes ausências, ele me chamava e perguntava: "Onde esta
banditji?"
Em Deli,
Brahmananda dasa e eu estávamos sentados no quarto de Srila Prabhupada. Comecei
a secar o chão próximo de seu pote cerâmico de água, que estava vazando,
criando uma poça. Brahmananda disse: "Srila Prabhupada, a água esta
vazando do pote." Srila Prabhupada respondeu: "Sim, acredito que
chamam isso de "percolating" (filtrar). Não é isso,
Brahmananda?" Ele disse: "Não sei com certeza, Srila
Prabhupada." Eu achei que sua
descrição estava quase certa, mas ainda assim um pouco errada. Brahmananda, que
tinha um mestrado em Inglês, procurou a palavra no dicionário e descobriu que a
descrição de Srila Prabhupada foi perfeitamente correta.
Ouvi um dos meus
termos favoritos durante uma massagem noturna em Nova Dwarka. Ele
estava deitado de costas e eu ajoelhado no chão, massageando suas pernas. Certo
momento durante a massagem, ele olhou para mim com um sorriso, apontou para seu
pé, e disse: "Faça meus dedos*." Fiquei um pouco confuso, sem fazer
nada durante alguns instantes. Ele apontou para seus pés novamente e disse, com
um sorriso ainda maior: "Meus dedos, massageie meus dedos."
Finalmente entendi ao que ele estava se referindo e disse: "Oh! Seus dedos
do pé. Você quer que eu massageie os dedos de seu pé." Ainda sorrindo
largamente, ele disse: "Sim! Meus dedos. Faça meus dedos." Essa mesma
conversa aconteceu mais três vezes depois disso. Toda vez que acontecia, eu
levava alguns instantes para entender. Era incrivelmente doce.
Às vezes, durante
a massagem noturna, Srila Prabhupada entrava em samadhi. Isso era um
pouco assustador para mim, pois ele me tinha dado uma instrução, "Continue
massageando até eu ficar cansado. Não até você ficar cansado." Ele me
disse isso durante as massagens matinais. Comecei a passar de uma parte de seu
corpo para outra, sem ele me solicitar. Ele deixou eu fazer isso durante alguns
dias antes de corrigir minha preguiça. De qualquer forma, à noite era possível
massageá-lo durante horas sem ele dizer nada. Ele fechava os olhos. Depois de
um certo tempo eu começava a massagear com mais força, na esperança que ele
lembrasse que eu estava lá. Em outras ocasiões ele me perguntava: "Você
está cansado?" Eu sempre dizia: "Oh, não Prabhupada." Algumas
vezes até cochilei enquanto massageava-o.
Às vezes Srila
Prabhupada fechava os olhos quando eu estava massageando seus pés. Quando isso
acontecia, eu colocava minha cabeça na sola daqueles lindos pés de lótus. Eu
era sempre muito ganancioso. Para mim, não era suficiente massagear seus pés de
lótus todos os dias. Queria mais. A massagem terminava com Srila Prabhupada
dizendo docemente: "Está bom. Isso basta." Agora vinha mais néctar.
Eu tinha a oportunidade de vê-lo sentar,
pegar a colcha e, ao mesmo tempo, em um único movimento, colocar sua
cabeça no travesseiro e puxar a colcha por cima de sua cabeça. Não tenho como
descrever isso da maneira que merece, mas era a coisa mais incrível de se ver.
Outras vezes ele diria "Odeio descansar, é um completo desperdício de
tempo. Gostaria de nunca ter que descansar. Estou simplesmente desperdiçando
meu tempo."
Srila Prabhupada,
perdoe-me por meu comportamento ofensivo ao pensar que tinha algo que você não
sabia ou não entendia. Finalmente entendi que você estava me ensinando com suas
carinhosas aulas. Se você diz que seus dedos do pé são dedos, então são dedos.
Obrigado por me deixar massagear seus 20 "dedos".
*Nota do
tradutor: Em inglês, os dedos do pé são chamados de "toes", e os
da mão, "fingers".
Janeiro de 1973;
Bombaim, Índia
Durante seis
semanas, Srila Prabhupada ficou no apartamento de Kartikeya Mahadevia. Do
térreo saía um pequeno elevador, no qual cabiam apenas duas pessoas, e era
usado para chegar aos aposentos de Srila Prabhupada. Certa manhã, Srila
Prabhupada, Tamal Krishna Goswami, e eu estávamos a caminho do elevador para
caminhada matinal. Como servo de Srila Prabhupada, o esperado era eu entrar no
elevador com ele, mas Tamal Krishna Goswami entrou primeiro, portanto não havia
lugar para mim. Quando as portas se fecharam,
desci os dois andares de escada correndo. Cheguei no exato instante que
o elevador estava chegando, podendo assim abrir a porta e ajudar Srila
Prabhupada a sair. Já saindo do prédio, Tamal Krishna Maharaja olhou para mim e
começou a rir. Ele disse: "Srila Prabhupada, Srutakirti é realmente
perito." Srila Prabhupada respondeu com um sorriso: "Sim,
"kirti’ significa perito." Ele continuou em direção ao carro sem
falar mais a respeito.
A vida como servo
de Srila Prabhupada era cheia de aventura e suspense. Tudo que acontecia
parecia ser carregado de uma certa energia. Todo mês eu tinha a oportunidade de
raspar sua cabeça com um aparelho elétrico. Srila Prabhupada não ficava parado
durante o processo. Ele ficava se mexendo para um lado e para outro e isso me
deixava ainda mais preocupado. Ele muito bondosamente me ajudou a ficar ‘Consciente
de Prabhupada’. Na primeira vez que o fiz, depois da primeira passada, ele me
disse: "Desligue-o entre às passadas, assim não ficará quente." Isso
não era muito difícil. A parte mais difícil foi
raspar em volta de suas orelhas. Parecia que toda vez que chegava perto
de suas lindas orelhas, ele me dizia: "Cuidado com minhas orelhas."
Eu tinha muito cuidado. Pela graça de Krishna nunca houve um acidente durante
esse serviço. Ainda mais, eu tinha a oportunidade de levar devotos ao êxtase ao
distribuir os cabelos de Srila Prabhupada.
As coisas mais
simples eram fonte de ansiedade, especialmente na Índia. Em Mayapura, no ano de
1973, eu colocava um mergulho elétrico num balde de bronze para aquecer a água
do seu banho. Naturalmente, nem sempre funcionava. O mergulho queimava ou
faltava energia. Srila Prabhupada ficava pronto para o banho e não tinha água
quente. Ele berrava: "Por que não tem água quente para meu banho?" Em
Vrindaban, no templo de Radha Damodara, quando ficava no segundo andar, ele
disse: "Deixe um balde de água no telhado e o sol o aquecerá bastante para
o banho." Isso normalmente funcionava, exceto quando os macacos resolviam
beber do balde e depois derrubá-lo.
Também tinham
inúmeras manhãs quando Srila Prabhupada passava por mim a caminho de seu
banheiro e perguntava: "O datong está lá?" Quando ele falava isso eu
já sabia que significava que tinha esquecido de colocar o galho em seu banheiro
para ele escovar seus dentes. Durante o tempo que fiquei com Srila Prabhupada,
ele usava um galho para escovar seus dentes, não uma escova. Os melhores eram
os da árvore neem. Isso era fácil de conseguir na Índia. Em qualquer loja você
podia comprá-los aos montes. Porém, em Nova Iorque , não era fácil conseguir qualquer
tipo de galho. De alguma forma, eu conseguia pegar alguma coisa. A qualidade
mais importante era que ficasse cerdoso quando você o mastigava na ponta. Seu
servo pessoal era responsável por garantir que, onde quer que estivesse no
mundo, Srila Prabhupada teria condições de seguir sua rotina. Era incrível. Ele
viajava tanto, mas mantinha seu ritmo, como se o termo ‘jet lag’ fosse apenas
imaginação. Eu era, na melhor das hipóteses, medíocre no meu serviço. Obrigado,
Srila Prabhupada, por me tolerar enquanto eu fazia meu serviço atrapalhado.
Novembro de 1973;
Bombaim, Índia;
ISKCON, Juhu
Essa noite, Srila
Prabhupada me chamou para seu quarto. Quando entrei, ele disse: "Hoje você
pode me trazer arroz inflado e amendoins. Me satisfará, mas não é pesado. O que
eu comi ontem à noite me fez ter dificuldade em acordar para fazer meu trabalho
de tradução. Com arroz inflado não terei indigestão."Sai de seu quarto e
fui preparar o arroz inflado e amendoim. Ele me pediu para servi-los
acompanhado de pepino fatiado e gengibre. Primeiramente fiz um chaunce, depois
o arroz inflado e, amendoins foram colocados no wok e torrados. Levei-os para
seu quarto, junto com leite quente, adoçado com açúcar. Logo em seguida ele me
chamou e me disse que estava na hora da massagem.
Ele se sentava ou
se deitava de costas para sua massagem noturna e, no seu apartamento em Juhu,
eu sentava em sua cama por causa da tela de mosquitos. O quarto era muito
tranqüilo. Enquanto massageava suas pernas ele disse: "Minha mãe, fazia
arroz inflado de primeira. Ela tinha um wok especial. Um wok muito grosso, que
ficava bem quente. Você bota areia no wok e o esquenta muito. Então joga o
arroz e mistura. Ele estourava na areia quente. Aí então você tira toda areia
com uma peneira. Ao peneirar, tinha que limpá-lo bem, para ter certeza que
tinha tirado toda areia."
Ele pausou alguns
instantes e depois continuou: "Ela nos dava isso freqüentemente. Esse
arroz inflado era muito bom. Ela era uma cozinheira de primeira. Tudo que ela
fazia, ela fazia bem. Era natural. Minha irmã também, ela cozinhava muito bem,
de ver minha mãe. Na sociedade védica era o dever da mulher. O dia inteiro as
mulheres estavam ocupadas na cozinha. Os maridos e crianças comiam prasadam
gostosa e todos eram felizes. A mulher passava seu dia preparando e secando
comidas. Guardando e preparando todo tipo de comida, reduzindo o leite e
preparando ghi. Desta forma eram todas muito peritas. Na cultura védica, sempre
que havia uma reunião, todas as mulheres se juntavam. Todo banquete que tinha,
todos traziam algo. Dessa forma eles podiam ter grandes festivais."
Ainda absorto em
seus passatempos infantis, ele continuou: "Quando eu era jovem, não havia
escassez de comida. Nós sempre tínhamos muita comida. Na estação da manga, nós
tínhamos uma cesta cheia de mangas em casa. Quando éramos crianças, nós corríamos pela
casa, brincando. Nós pegávamos ao correr pela casa. O dia inteiro nós comíamos
manga. Não tínhamos que pedir: ‘Oh, posso pegar uma manga?’ Bastante comida.
Então a vida era simples. Meu pai não falava muito, sempre providenciava
bastante comida. Não havia dificuldade."
Misericórdia
Pessoal
Como servo pessoal
de Srila Prabhupada, raramente tinha alguma dúvida em relação a uma instrução
sua. De fato, só me lembro disso ter acontecido uma única vez. Srila Prabhupada
recebeu uma carta de um devoto pedindo autorização para divorciar-se de sua
esposa e se casar com outra. Estando presente quando Srila Prabhupada respondeu
a carta, fiquei chocado quando ele deu a permissão. Isso me incomodou o dia
inteiro. Entendia que em nossa filosofia o divórcio não era permitido. Muitas
vezes eu o tinha ouvido falar contra o divórcio. Eu sabia que ainda ocorria,
mas nunca imaginei que Srila Prabhupada o autorizaria. Eu ficava pensando:
"Não é isso que Srila Prabhupada faria."
Eu não conseguia
mais me conter. Era a hora da massagem noturna. Eu já estava massageando-o
durante meia hora, quando deixei escapar, "Prabhupada, eu quero lhe
perguntar algo. Esse devoto que perguntou a respeito do divórcio..." Ele
interrompeu: "Oh sim, eu disse que ele poderia ir em frente."
Continuei: "Sim, eu sei. Eu estava só pensando. Você sempre diz que
divórcio é contra os princípios Védicos. Que nunca pode haver divórcio."
Ele disse: "Sim, mas nessa sociedade essas coisas são permitidas. Portanto
nós podemos permiti-las."
Eu ainda não
estava satisfeito. Srila Prabhupada parecia estar indiferente em relação ao
assunto. Era uma qualidade que eu não tinha observado nele antes em relação a
isso. Eu disse: "Sim, mas nessa sociedade eles aceitam o consumo de carne
e intoxicação. Todas essas coisas são aceitas. Por que essas coisas não são
aceitas?" Meu mais misericordioso mestre espiritual respondeu, com
compaixão em sua voz: "Bem, na verdade, dando ou não permissão a ele, ele
iria se divorciar. Se eu digo, ‘Sim, você pode’, porque ele vai seguir em
frente de qualquer forma, então a ofensa não é tão grande." Eu estava
aliviado. Eu achava que essa era a razão, mas precisava de sua confirmação da
grandeza que era sua compaixão por todos nós.
Fevereiro de 1973;
Jakarta, Indonésia
Enquanto estava
hospedado na casa de um membro vitalício, hóspedes vieram visitar Srila
Prabhupada. Lá, um deles disse: "Swamiji, nós queremos que você nos peça
para construir um templo. Nós queremos construir um templo, mas queremos suas
benções. Nós queremos que você nos peça para fazê-lo." Srila Prabhupada
começou a rir e disse: "Não , não. Se você quiser construir um templo,
isso é bom. Construa um templo. Nós cuidaremos dele para vocês." O senhor
disse: "Swamiji, nós queremos que você nos dê suas benções, pedir que
construamos o templo. Nós queremos essa benção." Ainda sorrindo e rindo,
Srila Prabhupada disse: "Não, não. Se eu pedir para vocês fazerem isso e
vocês não fizerem, então será uma ofensa. Se você não obedecer, será sua queda.
Isso é muito ruim. Se vocês fizerem por conta própria, isso é muito bom, mas
caso contrário, não tem problema porque eu não falei para fazerem."
Srila Prabhupada,
você nos mostrou o que significa ser um líder e como dar instruções sem falso
ego. Eu achava incrível a maneira como você me chamava em seu quarto e, depois
de eu ter prestado minhas reverências, dizia com um olhar inocente, mas sério:
"Você pode me dar massagem agora?" Sem acreditar, eu só podia
responder: "Prabhupada, é por isso que estou aqui. Esperando a
oportunidade de servi-lo." Você tornava muito fácil o desejo de servi-lo.
Por favor, permita que minhas memórias de estar com você entrem em minha cabeça
dura. Você me mimou. Sou tão arrogante. Apesar de estar cheio de defeitos,
comparo todos a você, e assim não sou capaz de servi-los. Preciso sentar aqui e
distribuir suas glórias, para não me secar e ser levado pelo vento. Seu servo
inútil, Srutakirti dasa.
Junho de 1975;
Honolulu, Havaí;
Nova Navadvipa
Hoje de manhã,
Srila Prabhupada fez algo muito fora do normal. Ele me chamou a seu quarto por
volta de 1:30 da manhã. Normalmente, Srila Prabhupada se esforçava para
garantir que eu não era incomodado enquanto descansava. Em alguns lugares, como
o Krsna Balarama Mandir, ele tinha que passar pelos aposentos do servo a
caminho do banheiro. Eu sempre acordava ao ouvir seus passos se aproximando e
instintivamente prestava reverências. Ele se incomodava e dizia: "Não,
não. Continue descansando."
Entrei em seu
quarto, meio que dormindo ainda e prestei-lhe reverências. Levantei a cabeça
para ver Srila Prabhupada com um lindo sorriso inocente. Também vi uma enorme
pilha de fita do gravador em sua mesa. Ele estava traduzindo e de alguma forma
ou outra a máquina tinha dado defeito. Eu não sei o que aconteceu, mas tinha
fita para tudo quanto é lado. Ele não deu qualquer explicação. Com um sorriso
transcendental ele disse: "Veja o que a máquina fez. Será que você pode
dar um jeito?" Passei a próxima meia hora enrolando a fita e então a
coloquei no Uher Dictaphone. Após completar esse tedioso serviço
transcendental, ele falou carinhosamente: "Ok, vá descansar."
Nova Navadvipa era
o palco para um passatempo bastante incomum. Quando nós chegamos, Srila
Prabhupada foi usar o banheiro. A descarga não funcionou direito. Um devoto lá,
com experiência de bombeiro, conseguiu consertá-la. Ele explicou a Srila
Prabhupada que o problema era devido ao fato do banheiro não ser usado há muito
tempo, e, assim, a descarga não funcionou bem. Srila Prabhupada disse:
"Então agora está funcionando?" O brahmacari respondeu: "Oh, sim
Prabhupada. Está funcionando perfeitamente." Srila Prabhupada não parecia
estar convencido. Ele disse: "Então, como você sabe que está
funcionando?" O devoto respondeu: "Eu dei descarga e a água
desceu." Srila Prabhupada ainda não estava satisfeito. Ele disse: "Vá
para cozinha e pegue um pouco de massa de chapati. Faça umas bolas e coloque-as
na privada e se elas descerem, então saberemos que está funcionando." O
jovem brahmacari cumpriu as ordens de Srila Prabhupada e ficamos todos alegres
ao saber que tudo estava funcionando bem.
Srila Prabhupada,
estar com você era sempre emocionante. Você me mostrou que não se deve aceitar
as palavras dos outros. Muitas vezes você dizia: "Vendo é que se
crê."Rezo para algum dia poder prestar algum serviço útil para você.
Abril de 1973,
Zurique, Suíça
Durante nossa
estadia de dois dias aqui, na terra famosa por seus relógios, Shyamasundara deu
de presente a Srila Prabhupada a última palavra em tecnologia para relógios de
pulso, um dos primeiros relógios digitais. Parecia muito moderno. Sua face
redonda era inteiramente preta, exceto durante os pouco segundos quando você
apertava um botão do lado. Aí então, apareciam os números digitais vermelhos
mostrando a hora exata. Era uma inovação e tanto. Srila Prabhupada, pouco
impressionado, colocou o relógio. Seu secretário mostrou-lhe como usá-lo. Ele
explicou que para ver a hora era preciso apertar o botão com sua mão direita.
Não levou muito tempo para Srila Prabhupada dar sua avaliação desta mais
recente peça tecnológica. Ele disse: "Então, agora precisamos de duas mãos
para ver a hora, ao invés de uma."
Agosto de 1974;
Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama
Mandir
No dia 24 de julho
voltei a ser servo de Srila Prabhupada, depois de passar sete meses longe.
Enquanto estava longe, me casei e aumentei minhas posses. Levei umas das minhas
novas aquisições para Índia. Era um aparelho elétrico de barbear . Durante uma
de suas aulas matinais de Srimad Bhagavatam, Srila Prabhupada começou a falar
sobre ‘ugra karma’. Ele disse: "Podemos fazer a barba com uma simples
lâmina. Não tem o menor problema, mas agora fica complicado. Agora precisamos
usar eletricidade. É barulhento e quando quebra você não pode mais fazer a
barba. Ao tentar resolver um pequeno problema, tantos outros são criados."
Ele nunca me disse nada diretamente, mas eu sei que ele estava se referindo ao
fato que eu estava usando meu aparelho elétrico apenas um hora antes disso, e
isso o estava incomodando.
Novembro de 1974;
Bombaim, ISKCON Juhu
Quatro meses se
passaram e eu aprendi muito pouco. Srila Prabhupada tocou seu sino. Vim
correndo da cozinha, onde estava ocupado fazendo suco de legumes frescos para
mim com um extrator de suco que Pallika devi tinha me dado de presente. Ele
disse irado: "Que barulheira é essa?" Nervoso, respondi: "É um
extrator de suco, Srila Prabhupada. Comecei a beber sucos frescos porque tenho
dificuldade em ficar saudável na Índia e pensei que beber sucos frescos
ajudariam." Ele não pareceu muito compreensivo. Ele disse: "Tanto
barulho. Como posso me concentrar? Por que é preciso criar tanto
distúrbio?" Concordei que era tolice e que não o usaria mais. Passou-se uma hora e Srila
Prabhupada novamente tocou seu sino. Fui para seu quarto, com os pensamentos já
longe daquele incidente. Ele olhou para mim com compaixão e disse: "Então,
se esses sucos frescos são bom para sua saúde, não há problema em continuar. O
importante é você ficar saudável para continuar seu serviço. Não me
incomodo."
Novamente, eu
fiquei extático ao saber o quanto ele se preocupava comigo. Agora, eu me sentia
envergonhado. É conhecimento comum que na Índia você deve cozinhar seus legumes
e tirar a casca das frutas antes de comê-las, assim evitando todo tipo de
organismos. Srila Prabhupada, você tolerou minhas tolices. Mais que isso, você
me manteve por perto apesar de eu criar tantos distúrbios com meus aparelhos. Por
favor, perdoe-me por minha tolice.
Dezembro de 1972;
Ahmadabad, Índia
Hoje, durante a
palestra de Srila Prabhupada, estava me sentindo muito fraco e febril. Minha
cabeça estava caída e eu estava apagando. Srila Prabhupada parou a palestra e
me disse: "Acorde! Se você precisa dormir, então vá dormir." Fiz o
possível para ficar com minhas costas retas e cabeça erguida durante o restante
da palestra. Não me lembro de jamais estar tão doente. Mais tarde falei para Srila
Prabhupada: "Não sei o que está acontecendo. Nunca fico doente. Não fico
doente há anos." Srila Prabhupada olhou para mim surpreso e disse: "É
mesmo, isso é muito incrível. Ficar doente e ter dificuldades são condições
normais da vida. Você é muito afortunado."
Duas semanas mais
tarde, estávamos fazendo uma caminhada matinal em Bombaim, com o sol brilhando
forte. Shyamasundara prabhu olhou para meus olhos e começou a rir. Ele disse:
"Rapaz, seus olhos estão amarelos. Você está com icterícia." Finalmente
pude compreender minha fraqueza durante as últimas duas semanas. Agora,
devidamente diagnosticado, eu me sentia pior. Arrastei-me para o quarto de
Srila Prabhupada e prestei-lhe reverências. Eu disse alarmado: "Srila
Prabhupada, estou com icterícia." Ele me olhou com surpresa e disse:
"Ah é, qual são os sintomas?" Com um tom de preocupação eu disse:
"Minha urina esta escura, não tenho apetite e me sinto fraco." Ele
olhou para mim com um leve sorriso e disse: "Hmm, talvez eu também esteja com
icterícia." Eu continuei: "Tamal Krishna Maharaja e os outros devotos
sugeriram que talvez fosse melhor eu não cozinhar para você porque icterícia é
altamente contagioso. Até mesmo tocar em sua comida pode ser perigoso."
Srila Prabhupada falou com pouca emoção: "Não. Tudo bem. Você pode
continuar a cozinhar. Não tem que se preocupar com nada." Graças as
benções de Srila Prabhupada eu pude continuar com meu serviço, sem interromper
as caminhadas matinais, massagens e preparo de suas refeições, enquanto fiquei
doente.
Novembro de 1973;
Índia; ISKCON, Nova Deli
Já se passou um
ano desde que fiquei doente de icterícia. Agora era a vez do secretário de
Srila Prabhupada, Brahmananda Maharaja, ficar doente. Era uma notícia
relevante, então eu contei a Srila Prabhupada. Entrei em seu quarto, prestei
reverências, e falei inocentemente: "Srila Prabhupada, Brahmananda está
com icterícia." Srila Prabhupada olhou para mim surpreso e disse:
"Oh, quais são os sintomas?" Não me lembrando de ter tido essa
conversa antes eu lhe repeti a lista de sintomas. Você já adivinhou. Srila
Prabhupada falou: "Hmm, talvez eu também esteja com icterícia."
Finalmente, depois
que Srila Prabhupada repetiu a mesma
declaração pude entender. Só me levou um ano. Srila Prabhupada era incrível.
Ele lembrava de tudo que acontecia com seus discípulos, utilizando isso no
momento perfeito. Eu era tão tapado que a piada nem registrou. A potência de
yoga maya era muito forte em minha volta. Eu não tinha a menor idéia de com
quem estava. Isso era bom, caso contrário
não poderia ter realizado meu serviço devido a sentimentos de medo e
reverência. Eu especulei que Srila Prabhupada estava me dizendo que ele tinha
todos esses sintomas de doença que eu descrevi, mas sendo transcendental, ele
continuava com seu serviço apesar de tantas dificuldades e dores.
Srila Prabhupada
não estava com icterícia, mas ele sofria de certos sintomas. Ele nos mostrou
que quando ficamos mais velhos, como estou agora começando a sentir, o corpo
fica dolorido, e o nível de energia diminui. Srila Prabhupada explicou que não
tinha nada de especial em nos sentirmos fracos, doentes ou doloridos. Pelo
contrário, é incrível quando não estamos doentes. Ele nos mostrou como
não devemos ser afetados pelas limitações do corpo.
Quando ficou de
quarentena por não ter tomado uma injeção contra febre amarela, Srila
Prabhupada disse: "O que eles acham? Eu ficar com febre amarela? Qualquer
um que seja cem por cento, ocupado no serviço de Krishna, não tem a
possibilidade de contaminação material. Ele não pode ser infeccionado por
qualquer doença." Rezo para ser infeccionado com amor por você, Srila
Prabhupada, para que possa ficar cem por cento ocupado em seu serviço. Por
favor, me dê uma breve visão de sua posição transcendental.
25 de março de
1973, Air Índia
As ações de Srila
Prabhupada eram sempre uma surpresa. Com oito meses como seu servo pessoal,
achei que já tinha uma boa compreensão de como agir e o que dizer em resposta a
suas perguntas para não me trazer problemas. Eu considerava nosso
relacionamento estritamente do tipo mestre espiritual-servo. Ao longo do tempo
pude ver que Srila Prabhupada queria que respondesse naturalmente e
honestamente quando ele me perguntava algo. Ele era muito carinhoso. Ele nunca
me julgava.
Quando entrei no
avião junto com Srila Prabhupada, estavam tocando música clássica Indiana. Nós
andamos até nossos assentos. Srila Prabhupada sentou próximo à janela, como
sempre, e eu, a seu lado. A música continuou a tocar. Ele olhou para mim com um
sorriso e disse: "Você gosta desta música?" Virei para ele com um
olhar vazio, pensando: "Como posso dizer a ele que eu gosto da música?
Sim, parece ser boa, mas não tem o cantar dos santos nomes do Senhor. São só
instrumentos tocando. Isso não pode ser Consciente de Krishna."
Especulando loucamente, perdi a oportunidade de ter um momento íntimo com meu
carinhoso mestre espiritual, que, por sua misericórdia, respondeu para mim:
"Essa música é muito boa." Aliviado eu entrei em uníssono: "Sim,
Srila Prabhupada, é muito boa." Eu me senti um covarde, incapaz de
responder honestamente. Fiquei tão preocupado com minha resposta que esqueci
que Srila Prabhupada é uma pessoa com gostos e preferências. Ele estava
escutando a música e se lembrando de Krishna. Eu ouvia a música e tentava bolar
uma maneira de responder-lhe de uma forma Consciente de Krishna.
Abril de 1973; Los
Angeles, CA; Nova Dwarka
Já criei algumas
amizades aqui no templo e decidir atender o Mangal Aratik para vê-los. Enquanto
eu estava lá, Pradyumna entrou no templo e disse: "Srila Prabhupada está
tocando seu sino. Ele quer vê-lo imediatamente." Naquele instante saí da
sala do templo e corri para seu quarto, prestando-lhe reverências. Levantando a
cabeça, eu disse: "Você queria me ver Srila Prabhupada?" Ele olhou para
mim irado e disse: "Você não tem nada para fazer indo para o Mangal
Aratik. O seu serviço é ficar comigo vinte e quatro horas por dia. Se eu
precisar de você, você tem que estar disponível." Pedi desculpas e disse
que nunca repetiria o erro.
É engraçado, mesmo
antes de ir, eu já sabia que não era a coisa certa. Eu estava inquieto e
imaginei que ninguém poderia achar defeito em eu ir ao Mangal Aratik. Calculei
que Srila Prabhupada nunca me chamaria tão cedo de manhã. É claro, eu deveria
saber que ele sempre sabia o que eu estava fazendo, e, assim, se eu fosse, ele
certamente me chamaria. Eu era a única pessoa na ISKCON que tinha uma razão
para não ir ao Mangal Aratik e, no meu caso, ir era um sinal que eu estava em
maya.
Junho de 1973;
Londres, Bhaktivedanta Manor
É uma tarde linda.
O sol está entrando na sala de Srila Prabhupada através das janelas inglesas,
com suas divisórias de chumbo. Ele está andando em seu quarto, cantando japa.
Ele para na frente da janela, olhando para os jardins. Ele pergunta:
"Então, qual o animal mais bonito?" Pensei durante alguns segundos e
com pouca convicção, respondi: "A vaca?!" "Não," ele disse
rapidamente: "O cavalo. O cavalo tem uma forma muito linda. Sua estrutura
muscular é muito bonita." Mais uma vez, eu tinha pisado na bola. Pensei
que o animal favorito de Krishna é a vaca. Tinha que ser a vaca. Tão logo eu
ouvi a resposta de Srila Prabhupada, é claro que fazia perfeito sentido.
Srila Prabhupada,
eu imploro que você novamente me diga que meu único dever é ficar com você
vinte e quatro horas por dia. Seu servo inquieto, Srutakirti dasa.
Maio de 1972; Los
Angeles, Ca. EUA.;
Nova Dwarka
Kirtananda
Maharaja e eu estávamos em
Nova Dwarka já fazia uma semana, quando recebi minha
iniciação Brahmínica de Srila Prabhupada. Apesar de ainda não ser o servo
pessoal de Srila Prabhupada, vendo agora, posso entender que estava me
inclinando nessa direção. Durante toda semana, sempre que via Nanda Kumar
Prabhu, que era então o servo pessoal de Srila Prabhupada, eu ficava
contemplando sua boa fortuna e não conseguia tirar meus olhos dele. Ele me
olhava com um tipo de sorriso. Ele me devia achar muito estranho.
Certa manhã,
durante sua palestra, Srila Prabhupada notou que seu servo não estava ao lado de
seu Vyasasana e perguntou: "Onde está Nanda Kumar?" Alguém respondeu:
"Ele está na cozinha." Sua Divina Graça continuou com sua aula de
Bhagavatam. Depois da palestra, Kirtananda Maharaja e eu estávamos no quarto de
Sua Divina Graça. O clima era tenso. Srila Prabhupada estava visivelmente
insatisfeito. Ele sabia que tinha algo de errado. Quando Nanda Kumar trouxe seu
desjejum prasadam, Srila Prabhupada perguntou irado: "Onde você estava
durante minha palestra?" Seu servo respondeu: "Estava preparando seu desjejum."
Srila Prabhupada falou mais alto: "Por que? Qualquer um pode preparar o
desjejum. Você deveria estar presente na palestra." Nanda Kumar deu uma
outra razão. Srila Prabhupada não aceitou e disse: "Você tem que estar lá.
Não há razão para não estar presente."
Eu estava sentado
lá, tremendo. Era minha primeira experiência vendo e ouvindo meu mestre
espiritual de mau humor. Era difícil ficar vendo seu servo tentar se defender.
Pensei: "Ele está retrucando Srila Prabhupada. Isso não pode ser uma boa coisa."
Foi uma boa lição para mim. Decidi que nunca faria o mesmo se Srila Prabhupada
estivesse me corrigindo. Quando Srila Prabhupada seguiu em viagem, Nanda Kumara
ficou e se casou. Srila Prabhupada tentou mantê-lo com seu servo e disse que
ele era perito.
Em setembro de
1973, eu era o servo de Srila Prabhupada em Nova Dwarka. Ele
me pediu para preparar suas refeições no meu quarto, e não na cozinha do
templo, porque lá tinham mulheres demais. Dezesseis meses depois, a história se
repetiu – Srila Prabhupada deixou Nova Dwarka e fiquei para trás para me casar
com uma moça que tinha encontrado na cozinha do templo. Srila Prabhupada
conhecia todas as limitações de seus discípulos e misericordiosamente os
estimulava para ultrapassá-las. Quando não conseguíamos, ele carinhosamente
continuava a aceitar nosso serviço a altura de nossas capacidades. Várias vezes
ele nos disse que nossa idade era a causa de nossa agitação.
Novembro de 1974;
Bombaim, ISKCON Juhu
Quando Srila
Prabhupada saiu de seu apartamento em Juhu para sua caminhada matinal, todos
devotos presentes cantaram: "Jai, Srila Prabhupada!" e prestaram-lhe
reverências. Todos, exceto um brahmacari que ficou em pé de mãos postas. Com
sua bengala em mão, Srila Prabhupada começou sua caminhada. Olhando para frente
ele disse: "Isso é o começo de seu declínio." Muitas vezes ele dizia
que esse processo é um "fio da navalha". Nesse instante ele explicou
como era afiada essa navalha. O devoto não estava consciente de suas ações. Nós
não podemos ser Conscientes de Krishna se não somos conscientes. Srila
Prabhupada, eu imploro por sua misericórdia para que sempre possa ser
consciente de você e seu serviço ao Supremo Senhor.
Maio de 1973: Los
Angeles, Ca., E.U.A.;
ISKCON, Nova
Dwarka
Srila Prabhupada
queria que seu almoço fosse preparado em meu quarto, que ficava ao lado dos
seus aposentos. Eu estava satisfeito da maneira com a qual fiz os arranjos
necessários. O quarto de 2m x 3m tinha o que eu precisava, apesar de ser o
local onde eu passava meus dias e noites. Karandhara providenciou uma
geladeira. Tinha um pequeno fogão a gás de duas bocas no chão. Eu fiz uma
estante com uma tábua e dois tijolos de cimento. Não tinha água corrente, então
eu mantinha um estoque num balde de plástico. Srila Prabhupada freqüentemente
me pedia para manter as coisas simples, mas eficientes. Estava tudo bem
montado.
Depois de Srila
Prabhupada acabar seu desjejum, eu trouxe seu prato de prata para meu quarto e
transferi os restos para uma bandeja. Coloquei a casca de laranja, etc., na
minha lata de lixo, e alegremente distribui a maha para os devotos que estavam
ansiosamente esperando pela ‘misericórdia’.
Srila Prabhupada
freqüentemente andava de um lado para o outro, cantando japa, depois do
desjejum. Ele entrava e saia de seus aposentos, subia e descia o corredor, e,
às vezes, parava rapidamente em frente a meu quarto, me observando preparar seu
almoço. Hoje ele olhou para dentro e entrou no meu quarto.
Vendo a pequena
lata de lixo, ele berrou: "O que é isso? Você é tão tolo." Pego de
surpresa por sua bronca, eu disse: "É de seu desjejum." Não foi uma
boa resposta. Srila Prabhupada estava apenas começando. "Você é um suposto
devoto." Ele berrava: "Você não tem cérebro algum. Nenhuma
inteligência. Você é nada mais que um mlechha. Você está com tudo tão arrumado
e está preparando comida para as Deidades no meio desse lixo de alimentos
comidos. Como você pode fazer algo tão tolo. Você é tão mlechha."
Não sabia o que
dizer e pensava: "Esses são os restos de Prabhupada. Isso não é
lixo." Não disse nada. Já tinha aprendido minha lição meses antes, ao ver
ele corrigir Nanda Kumar prabhu. Finalmente concordei, dizendo: "Sim,
Srila Prabhupada, sou um tolo." Ele não se satisfez com minha confissão vazia.
Ainda muito irado, ele continuou: "Eles fazem isso na cozinha do templo?
Eles têm uma lata de lixo assim?" Eu disse: "Bem, eles tem uma lata
de lixo na cozinha." Ele rapidamente respondeu: "Mas, eles botam lixo
já comido nele?" Com minhas energias esgotadas, eu disse: "Não, Srila
Prabhupada." Srila Prabhupada parecia não se cansar. Ele disse: "Por
que você faz uma coisa dessas? Você é tão mlechha. Você não tem
inteligência." Parecia não acabar nunca. Finalmente, ele foi embora com
suas mão em seu saco de contas, cantando japa.
Esvaziei a lata de
lixo, ainda considerando seus restos como sendo sagrados. É irônico porque o
primeiro pedaço de maha bhagavata prasadam que me foi dado por Nanda Kumar
prabhu em Nova Dwarka
era uma casca de laranja. Eu me senti muito afortunado e comi-a toda. Quando eu
dava restos de cascas a outros devotos, eles beliscavam a parte branca e
jogavam fora o resto. Eu fiquei trêmulo, mas entendi que Srila Prabhupada
queria me dar uma lição. Parecia que sempre que eu ficava todo satisfeito com meu
serviço, achando que estava fazendo um bom trabalho, Srila Prabhupada deixava
eu saber que estava longe do padrão brahmínico vaishnava. Mais tarde ele me
disse que eu preparei um almoço muito bom. Ele nunca me deixava pensar que
mantinha algum rancor. Sempre que me corrigia ele em seguida me dizia algo
muito amável ou me contava um de seus passatempos de sua vida antes da ISKCON.
Era uma bela compensação. Srila Prabhupada sabia que eu era muito sensível a
críticas e compassivamente as evitava ao máximo. Vendo agora, eu vejo esses
momentos como sendo os mais extáticos, porque são dos quais me lembro mais
vividamente, e isso é puro néctar. Tinham muitas oportunidades para Srila
Prabhupada me corrigir, se eu tivesse tido a capacidade para apreciar a crítica
construtiva. Eu então teria muitos outros momentos para saborear. Por favor,
perdoe-me, Srila Prabhupada, por ser um malandro tão cheio de mim mesmo.Estou
eternamente em seu débito por saber exatamente como lidar com um mlechha como
eu.
Dezenove de julho
de 1971; Brooklyn, NY, E.U.A.;
ISKCON, Nova
Iorque
Eu me mudei para o
templo de Pittsburgh em abril de 1971. Em julho, Kirtananda Maharaja levou
alguns de nós para receber primeira iniciação no templo de Brooklyn. Estávamos
todos, é óbvio, muito excitados. Quando entramos na sala do templo, por ser o
servo de Maharaja, pude ficar bem próximo ao Vyasasana de Srila Prabhupada
durante a aula. Dia dezenove de julho de 1971 foi o primeiro dia que vi meu
eterno mestre espiritual. Foi um momento que nunca esquecerei. Sua efulgência
era extraordinária. Meus olhos estavam grudados nele, observando cada
movimento. O kirtan foi extático. Ao se encerrar, a temperatura na sala do
templo estava a pelo menos 37ºC.
Centenas de
devotos lotavam a sala do templo, todos tentando ao máximo se aproximar de
Srila Prabhupada. De repente todos se ajoelharam para prestar-lhe reverências.
Isso fez com que houvesse ainda menos espaço. Comecei a me levantar antes do
devoto que estava atrás de mim e, acidentalmente, coloquei meu traseiro em sua
cabeça. Isso o assustou e fez com que ele levantasse rapidamente,
conseqüentemente me empurrando para frente com muita força, me fazendo parar
logo ao lado do Vyasasana de Srila Prabhupada. Minhas mãos e cabeça pararam imediatamente
a sua direita. Ele olhou para mim surpreso e disse: "Qual é o
problema?" Eu me encolhi para trás, incapaz de imitir uma resposta.
Srila Prabhupada,
tantas vezes eu ouvi você dizer as palavras: "Qual é o problema?" Era
uma pergunta que você sabia que não conseguíamos responder porque você tinha
misericordiosamente removido todos os problemas desse processo. Você dava todas
as respostas dizendo: "Esse processo é tão simples. Só cante Hare Krishna
e seja feliz." Dezenas de vezes eu ouvi você falar: "Se você cantar
suas dezesseis voltas e seguir os quatro princípios relativos, então no final
de sua vida você ira de volta ao lar, de volta ao Supremo."
Todas as glórias a
Srila Prabhupada!
Junho de 1973;
Mayapur, Índia;
Mayapur Candrodaya
Mandir
Outro dia Srila
Prabhupada criticou seu editor de sânscrito, Pradyumna prabhu, por dormir
durante o programa matinal. Pradyumna, meu devoto favorito da comitiva de Srila
Prabhupada, levou à crítica muito a sério. Ele decidiu reduzir na sua
alimentação, comendo apenas leite quente, frutas e amêndoas. Pradyumna disse
que, “amêndoas são comida para o cérebro". Ele tinha muito cérebro, como
também uma memória fotográfica.
Como já mencionei
na Uvaca anterior, quando ficávamos em Mayapur, Srila Prabhupada andava pela
varanda enquanto seus discípulos estavam aceitando prasadam, para ver o que
eles estavam comendo. Ele gostava de ver suas crianças aceitando Krishna
prasadam até o limite de suas vontades. Eu me sentia muito bem cuidado por meu
pai espiritual. Ele parecia ficar satisfeito com nosso apego por Krishna
prasadam. Ele não ficou satisfeito ao ver que Pradyumna não estava conosco.
Ele entrou em seu
quarto e disse: "Por que você não está aceitando prasadam com os
outros?" Pradyumna respondeu, suavemente: "Não estou com muita fome,
Srila Prabhupada." A resposta não foi suficiente. Srila Prabhupada disse:
"O que você quer dizer? Você deveria estar aceitando prasadam."
Pradyumna, sabendo que seu mestre espiritual não estava satisfeito, disse:
"Bem, Prabhupada, se eu aceitar prasadam, então eu durmo." Srila
Prabhupada respondeu: "O que pode ser feito? Você tem que aceitar
prasadam, mesmo se você tenha que dormir dez horas por dia. Como você pode
viver se não aceitar prasadam?" Ele parou um pouco e disse: "Então,
aceite prasadam e durma. Você não pode deixar de aceitar prasadam, mesmo se
você durma o dia inteiro...Você tem que aceitar prasadam. Caso contrário, como
viverá?" Pradyumna prabhu saiu do quarto, prestou reverências e foi
aceitar prasadam conosco. Eu estava feliz por ter sua associação novamente.
Srila Prabhupada
sempre estimulava seus devotos a minimizarem o consumo de comida e sono para
avançarem em Consciência de Krishna, mas ele também nos dizia para usar nosso
bom senso. Muitas vezes ele disse: "Você deve comer o tanto que consiga
digerir." Ele também disse: "Pegue o tanto de prasadam que você
quiser, mas coma tudo que pegar. Nem um grão de arroz deve ser
desperdiçado." Ele era muito estrito com respeito a comparecer ao programa
matinal. Se mais sono era necessário, deveria ser em outros horários, como uma
cochilada após o almoço ou ir para cama mais cedo de noite.
Srila Prabhupada
geralmente comia o desjejum logo após sua palestra matinal e seu almoço era por
volta de 1:00 da tarde. Ele tomava leite quente antes de dormir a noite e, se
ele estivesse com mais apetite, eu fazia algumas preparações, como puris,
verduras e arroz inflado. Quando ele estava com um bom apetite ele tinha tanto
prazer em comer como nós tínhamos em servi-lo. Portanto ,
meus dias mais prazerosos eram aqueles onde ele ficava comendo seu almoço e eu
tinha que repetidamente correr até a cozinha e voltar com um chapati quente,
colocando-o em seu prato enquanto ainda estava inflado com o vapor dentro. Indo
e voltando cinco ou seis vezes dentro de um espaço de 10 minutos, prestando
reverências cada vez que eu chegava próximo a seu corpo efulgente. Sentado com
seu joelho direito para cima, ele graciosamente misturava o subji com seu
chapati e saboreava a prasadam.
Srila Prabhupada,
por favor, me dê sua misericórdia. Eu alegremente deixaria de comer e dormir
por completo para poder enrolar e preparar chapatis para você novamente. Não há
nada nos três mundos que se compare a poder ver sua inocência infantil ao
sentar e honrar prasadam. Não acredito que seja possível alguém vê-lo comendo e
não desenvolver um profundo amor por você, exceto um demônio como eu. Posso
nunca saborear o néctar de amor a Deus, mas rezo por sua misericórdia à minha
alma para poder cozinhar chapatis para você novamente.
Srila Prabhupada
lembra sua juventude
Às vezes Srila
Prabhupada falava calorosamente sobre seu pai. Era sempre com grande carinho.
Ele disse: "Meu pai insistia em que eu tivesse tudo que queria. Mesmo no
meio da noite, se eu quisesse puris ele dizia a minha mãe: ‘Faça puris para
ele, se ele quer puris.’ Às vezes minha mãe resistia, mas meu pai a obrigava.
Era assim. Eu não sei. Talvez meu pai soubesse. Ele estava sempre fazendo esse
tipo de coisa. Aí então minha mãe tinha que ceder a suas vontades."
Certa vez, durante
um vôo, Srila Prabhupada estava aceitando prasadam que consistia de puris e
subji. Enquanto comia, ele começou a rir e me disse: "Quando era jovem,
nunca comia chapatis. Eu era muito mimado. Eles não serviam para mim. Eu tinha
que ter puris. Sempre que minha mãe cozinhava para mim eu tinha que ter puris.
Mesmo mais tarde, como empresário." Ele parou de falar um minuto, mas foi
só para rir mais. Ele estava muito alegre, e se divertia em me contar como era
malandro. Srila Prabhupada continuou: "Às vezes eu ficava muito sem graça
ao ir a casa das pessoas. Eles me convidavam para jantar e me davam
chapatis."
Srila Prabhupada
arregalou seus olhos e explicou seu dilema: "Eu não podia comê-los. Ao
mesmo tempo, não podia recusá-los. Não sabia o que fazer. O poderia dizer:
‘Desculpe, eu não como chapatis.’ Eles iriam pensar: ‘Oh! Você é superior a
mim? Você não come chapatis? Para você tem que ser puris?’ Então, ficava muito
difícil. Às vezes eu ia embora e não os comia. Era muito difícil para mim
falar, ‘Oh! Eu não quero chapatis.’ Eles ficavam muito ofendidos, mas eu não conseguia
comê-los. Eu simplesmente não gostava."
Srila Prabhupada
não parava de sorrir, enquanto descrevia suas travessuras. Ele continuou:
"Naquela época eu tinha um empregado. Ele ficava tentando me convencer a
comer chapatis. Certa vez, ele insistiu: "Eu quero que você os
experimente. Quero que você me deixe fazer chapatis. Tenho certeza que você vai
gostar.’ Finalmente eu disse: ‘Tá bom, eu os experimento.’ Ele fez chapatis de
primeira classe. Desde então eu tenho gostado de chapatis. Foi uma mudança muita
abrupta em minha vida. Até então eu nunca aceitava chapatis."
É difícil para eu
colocar em palavras como era maravilhoso ver Srila Prabhupada se expressar, ao
contar essa história. Ele encenava as emoções de cada um dos envolvidos, ao
alegremente desenvolver a trama. Ele arregalava seus olhos ao máximo para
demonstrar a surpresa dos outros com sua ‘superioridade’. Sempre que ele falava
de sua juventude, não me parecia ser algo muito distante. Ele tinha grande
prazer em falar desta época com seus discípulos.
Obrigado, Srila
Prabhupada, por permitir que eu entrasse em seus passatempos de infância. É
apenas por sua misericórdia sem causa que podemos testemunhar suas atividades
gloriosas. Eu sei disso porque precisei tanto de você, e você carinhosamente me
deu tudo que precisava. Estou eternamente em seu débito.
Dezembro de 1973;
LA., Ca.
ISKCON Nova Dwarka
Os dias têm sido
extremamente frios, considerando que estamos em Los Angeles , com
temperaturas de até 4ºC. Isso me da a oportunidade de fazer um pouco
mais de serviço para Srila Prabhupada. Não importa a temperatura, Srila
Prabhupada sempre faz sua caminhada matinal. Quando está frio assim, Srila
Prabhupada usa uma roupa térmica, o que equivale a uma meia calça de lã e meias
especiais. Srila Prabhupada gostava que eu lhe ajudasse a colocá-las.
Primeiro, eu pego
a roupa térmica, açafroada, é claro. Com Srila Prabhupada sentado em sua cama,
já vestido em seu dhoti e kurta, coloco-a em seus pés de lótus, um de cada vez,
levantado-a até seus joelhos. Enquanto continua sentado, eu coloco as meias,
também açafroadas, naqueles lindos e macios pés de lótus. Srila Prabhupada
então fica em pé e puxa a roupa térmica até sua cintura, mantendo o dhoti em
seu lugar. Depois colocava seu suéter açafroada sem minha ajuda, ia para sua
mesinha, colocava tilak, e cantava o Gayatri.
Se tivesse mais
alguém no quarto, naturalmente eles também cantavam o Gayatri. Normalmente,
isso não era uma boa idéia, porque Srila Prabhupada sempre terminava antes de
seus discípulos. O dilema deles era de decidir entre ficar em suas posições
brahmínicas e assim não acompanharem seu Guru Maharaja saindo do quarto ou
levantar rapidamente, tentando manter Sua Divina Graça à vista. Eu adorava
assistir essa cena hilária. Apesar de sempre acontecer, eu nunca me convenci de
alertar meus irmãos espirituais. Malandro que era, eu especulava que Srila
Prabhupada gostava de ver seus olhares desesperados tanto quanto eu.
Depois de cantar
Gayatri, Srila Prabhupada se levantava e eu ajudava-o a colocar seu casaco
açafroado com capuz. Penas de pavão ficavam penduradas como borlas em volta de
seu pescoço. Esse seu casaco favorito foi feito por Jayasri devi, do tempo de
Honolulu em 1970 e viajou pelo mundo com Srila Prabhupada durante vários anos.
Não posso imaginar nenhuma outra pessoa usando um casaco desses, salva e exceto
Sua Divina Graça. Ele ficava glorioso nele.
Certa vez, quando
fomos para Austrália, cometi o engano de não o levar conosco. Não imaginei que
poderia estar suficientemente frio. Srila Prabhupada disse: "Por que você
não trouxe meu casaco?" Fiquei parado, sem nada dizer. Ele ficou tão
chateado comigo, que nem berrou. Seu secretário teve que providenciar para que
enviassem o casaco.
Depois de abotoar
o casaco Srila Prabhupada,dirigia-se à porta da frente. Geralmente, eu já
estaria com seus sapatos e bengala a espera. Ele pegava a bengala, no mesmo
tempo que me oferecia o seu pé direito, no qual eu colocava seu sapato de lona
com a ajuda de uma calçadeira que rodou o mundo comigo. Então, dando um passo,
eu colocava seu outro sapato antes que seu pé tocasse o chão, num único
movimento contínuo. Sua economia de movimentos era incrível. Uma vez ou outra
deixava um ávido devoto realizar esse serviço especialmente sagrado, mas depois
de ver o incômodo que causaram a Srila Prabhupada com sua falta de jeito devido
a admiração reverente, eu decidi não mais relegar o serviço.
As Gopis rezam
para serem a flauta do Senhor Krishna, sempre em contato com seus lábios de
lótus. Eu rezo para ser a calçadeira de Srila Prabhupada.
Essa breve
meditação foi inspirada por meu gerente de produção do livro, Vidyananda
prabhu. Ele ansiosamente espera para ouvir os detalhes de como servi Srila
Prabhupada. Ele diariamente medita em servir pessoalmente seu amado mestre
espiritual, Sua Divina Graça, Srila Prabhupada.
Srila Prabhupada Uvaca 79
Novembro de 1974;
Bombaim, Índia;
ISKCON Juhu
Nesse tour da
Índia com Srila Prabhupada, Paramahamsa Swami era seu secretário e Nitai dasa
era seu editor de sânscrito. Nos entendemos muito bem. Éramos todos daquela
segunda leva de devotos que foram morar nos templos por volta de 1971. Enquanto
ficamos em Juhu, Palika devi prepou o almoço de Srila Prabhupada. Depois de
acabar a massagem de Sua Divina Graça, Paramahamsa, Nitai e eu íamos para a
praia, que fica a cerca de um quarteirão de lá, para nadar e tomar sol.
Voltávamos antes de Srila Prabhupada acordar de sua cochilada, caso ele
precisasse de nós.
Dentro de poucos
dias, meus dois irmãos espirituais pararam de ir para tentar completar seus
serviços, mas eu continuei a ir. Certo dia, quando voltei, Paramahamsa Swami
chegou para mim e disse: "Srila Prabhupada está muito chateado de você ir
a praia sozinho. Ele quer conversar com você. Ele está muito chateado." Eu
esperei Srila Prabhupada terminar seu almoço. Quando ele voltou para seu
quarto, entrei e prestei reverências. Quando levantei a cabeça vi que estava
com um olhar contente. Não parecia nem um pouco chateado comigo.
Confuso, deixei
escapar: "Srila Prabhupada, você gostaria que eu não fosse para praia
depois de lhe dar a massagem?" Com tom indiferente, ele respondeu:
"Não. Tudo bem. Você está indo sozinho?" Eu disse: "Sim,"
mas expliquei, "No começo nós três íamos nadar, mas agora sou o
único." Ele disse: "Tudo bem. É bom ir para praia um pouco, tomar sol
e entrar na água. Você pode ir." Aliviado eu disse: "Obrigado, Srila
Prabhupada." Prestei-lhe reverências e fui embora. Imediatamente fui para
onde estava Paramahamsa Swami, orgulhosamente lhe contar da minha conversa com
meu amado Mestre Espiritual. Sacudindo a cabeça, ele confirmou sua história
original.
Esse tipo de
situação não era incomum. Tenho certeza que Srila Prabhupada reclamou do fato
de ir à praia sozinho. O que era comovente era sua tolerância quando me
apresentei diante dele com minha pergunta. Ele pode sentir meu apego e então
deixar que eu decidisse. Alegremente deixei de ir porque ele não me obrigou a
tanto.
Srila Prabhupada,
você é muito perito. Você sempre disse: "Vocês estão voluntariamente
prestando serviço. Eu não posso obrigá-los a fazer nada." Você sempre me
tratou com muito respeito, geralmente me causando grande embaraço. Devido a sua
humildade eu ficava tomado pelo desejo de fazer tudo que você me pedia.
Misericordiosamente, seu único desejo era que eu, "cantasse Hare Krishna e
fosse feliz". Sempre que me lembro de você, essa instrução é muito fácil
de seguir.
Srila Prabhupada Uvaca 80
Maio de 1972; Los
Angeles, CA., EUA.;
ISKCON Nova Dwarka
Eu fui para Nova
Dwarka com Kirtananda Maharaja para receber minha iniciação brahmínica, ficando
lá uma semana. Ao entardecer, Srila Prabhupada foi para seu jardim com alguns
afortunados discípulos, ouvir os passatempos extáticos do Senhor Krishna, lidos
do Livro de Krishna. Pela graça de Krishna, de alguma forma eu fui escolhido
para ler. Eu passava o dia todo em antecipação dessa bem aventurada atividade.
Srila Prabhupada sentava em seu asana, debaixo do arco da trepadeira,
normalmente com sua mão no seu saco de contas. Às vezes podia-se ouvi-lo
cantando muito suavemente, "Hare Krishna" em suas contas. Ele sempre
escutava o Livro de Krishna com atenção, às vezes sorrindo ao ouvir as
encantadoras atividades de Krishna e Seu irmão Balarama.
Certo dia,
enquanto lia a história, ‘A Salvação do Gorila Dvivida’, Srila Prabhupada
estava sorrindo largamente ao ouvir sobre as travessuras de Dvivida. Ele
começou a rir um pouco a ouvir essa passagem, "Ele sempre ia para o
eremitério de grandes santos e sábios criar confusão, destruindo seus belos
jardins e canteiros." Imaginei que ia melhorar, como de fato, melhorou. Eu
continuei: "Ele não só criava este tipo de distúrbio, mas às vezes urinava
e defecava nas sagradas arenas de sacrifício." Srila Prabhupada estava
rindo tanto que eu tive que parar a leitura. Todos nós experimentamos uma
enorme bem aventurança ao ver sua reação. Ele extáticamente batia na sua perna
com sua mão.
Ficou claro para
mim que Srila Prabhupada gostava de ouvir histórias onde Krishna e Balarama
matavam demônios. No dia seguinte, ao entrarmos no seu jardim, imediatamente
sentei na grama e comecei a procurar uma história envolvendo um demônio. Depois
de folhear durante alguns segundos, Srila Prabhupada me interrompeu e disse:
"Vá. Leia de qualquer ponto. Krishna é como um doce. Não importa onde você
morda, o gosto é bom."Alegremente fui até o início da história seguinte e
comecei a ler.
Ficando próximo de
Kirtananda Maharaja, pude ir com Srila Prabhupada nas caminhadas matinais.
Todos dias nós esperávamos no corredor até Srila Prabhupada descer a escada.
Pelo fato de estar lendo o Livro de Krishna todos os dias, Srila Prabhupada
carinhosamente me reparou. Certa manhã, ao descer a escada, ele me olhou direto
nos olhos e disse: "Oh! Veja só esse simpático jovem brahmacari. Qual é
seu nome?" Surpreso e tomado por reverência não pude responder, enquanto
ele continuava a descer a escada. Finalmente Kirtananda Swami disse: "Seu
nome é Srutakirti, Prabhupada." Srila Prabhupada respondeu com um sorriso:
"Oh! Suta Goswami." Srila Prabhupada continuou, saindo pela porta.
Finalmente tinha uma razão para viver, pois meu amado guru deva tinha me
identificado como um contador da lila de Krishna, como Suta Goswami. Tomado
pela olhar gracioso de Sua Divina Graça, pude entender que ele apreciava minha
maneira de ler o Livro de Krishna.
Depois de me
tornar seu servo pessoal, pude ver como
você aprecia todo serviço feito por seus discípulos. Qualquer pequeno serviço
feito era aceito com carinho especial por você. Você tem prazer em ver as sementes
de serviço devocional que você plantou nascendo e ficando fortes. Você adorava
ver seus alunos avançando em Consciência de Krishna. Muitas vezes você disse:
"Eu transformei hippies em pessoas felizes ("happies*")".
Ao me lembrar de
seus pés de lótus, eu me sinto muito feliz. Servi-los é meu único abrigo.
Obrigado por ter me dado essa oportunidade eterna.
* Nota do
tradutor: "Hippies into happies" – trocadilho de Srila Prabhupada.
Happy significa feliz. "Happies" é sua adaptação do adjetivo em
plural, que não existe em inglês.
Srila Prabhupada Uvaca 81
ISKCON, Qualquer
lugar
Duas horas na vida
do servo pessoal de Sua Divina Graça
Normalmente,
quando não estávamos na Índia, o processo de preparar o almoço de Srila
Prabhupada era o seguinte. Cerca de uma hora e meia, antes da massagem, eu
fazia um pouco de massa de chapati. Então eu cortava vários tipos de legumes e
colocava-os no andar do meio da famosa panela de três andares de Srila
Prabhupada. No de baixo eu colocava couve-flor e batata, ou outra combinação de
legumes com água, para fazer legumes molhados. No nível superior eu usava um
tiffan. Eu botava dahl com água na parte inferior do tiffan e arroz com água na
parte superior. Eram colocadas mais verduras no nível superior em volta desta
tiffan. Agora, a famosa panela de três andares de Srila Prabhupada era colocada
no fogo médio. Então eu deixava a cozinha e ia dar a massagem em Srila Prabhupada.
A massagem durava
de uma a duas horas. O segredo em cozinhar ao mesmo tempo em que fazia a
massagem era não deixar a panela sem água em baixo. Srila Prabhupada
tinha me mostrado a usar a panela com dahl no nível inferior. Algumas vezes o
dahl começava a queimar no meio da massagem. Isso era uma grande fonte de
ansiedade para mim. Nunca queria largar Srila Prabhupada no meio da massagem,
mas às vezes dava para cheirar o dahl queimando. Srila Prabhupada dizia:
"Que cheiro é esse?" Ele sabia que era seu almoço. Isso é uma outra
história, para outro dia. De qualquer forma, depois de oito meses e alguns almoços
queimados, eu tive a idéia de cozinhar um subji molhado no nível inferior,
fazendo o dahl e o arroz no vapor nos níveis superiores. Isso eliminava a
ansiedade de queimar a comida, porque as verduras molhadas não engrossavam como
o dahl.
Depois de completar
a massagem, Srila Prabhupada pegava um pouco de óleo de mostarda em suas mãos e
passava nos portões de seu corpo. Então ia para o banheiro tomar seu banho.
Isso me dava uns 20 minutos para fazer o seguinte. Primeiro, eu colocava seu
dhoti, kurta e copin (cueca) cuidadosamente em sua cama. Eu abotoava os
primeiros dois botões de sua kurta, para que Srila Prabhupada tivesse só mais
dois botões para fechar. Depois corria para sua sala e preparava sua mesa onde
ele colocava sua tilak. Isso envolvia abrir seu espelho. Era redondo como um
estojo de pó de maquiagem, com um pedaço de marfim talhado na tampa. Em seguida
eu verificava que sua pequena lota (do tamanho de uma bola de golfe) estava com
água. Tinha uma pequena colher de prata ao lado da lota. Finalmente, eu
colocava a bola de tilak no centro de sua mesa.
Depois de ter
feito isso tudo, corria de volta para meus aposentos para completar o almoço.
Primeiro eu tirava a panela do fogão e botava um pequeno wok no fogo. Na falta,
a tampa da panela era usada como substituto. Nele eu preparava um grande
chaunce. Um pouco era colocado nas verduras molhadas. Um pouco colocado no
dahl, no parte de cima do tiffan, no nível superior da panela. Então legumes
diversos eram colocados no restante do chaunce no wok. Se tivesse melão azedo,
eu o grelhava no ghi com turmeric. Um outro chaunce era feito para cozinhar o
restante dos legumes cortados. Eu colocava todas as preparações no prato de
Srila Prabhupada, junto com um katori com iogurte natural e um outro com doces
feitos de leite. Com o prato de Srila Prabhupada quase pronto, era a hora de
enrolar e cozinhar os chapatis.
Com sorte, tudo
isso acontecia na mesma hora em que Sua Divina Graça estava acabando de cantar o
Gayatri. Ele não se incomodava de esperar alguns minutos, mas eu ficava com
medo de deixá-lo esperando mais do que isso. Eu colocava seus pratos no seu
choki, prestava reverências, e corria de volta para fazer outro chapati. Depois
de acabar de comer o almoço com os chapatis, ele abria o pequeno tiffan com o
arroz dentro. Srila Prabhupada comia entre três a seis chapatis por refeição.
Normalmente eram três ou quatro chapatis. Ele comia o resto de seu almoço com o
arroz quente.
Por favor,
perdoe-me por essa história. Eu comecei a escrever uma outra história, mas me
perdi com as memórias de preparar o almoço de Srila Prabhupada. Era fantástico
ficar ocupado cozinhando para você, Srila Prabhupada. Rezo para me tornar um
cozinheiro perito, com minha irmã espiritual, Yamuna devi, para que eu possa
lhe preparar suntuosas comidas, vida
após vida.
Srila Prabhupada Uvaca 82
Maio de 1973; Los
Angeles, CA., EUA;
Nova Dwarka
Srila Prabhupada
tocou seu sino de manhã. Quando entrei em seu quarto e prestei reverências,
Srila Prabhupada olhou para mim e disse em voz baixa: "Não estou me
sentindo bem hoje. Então, para meu almoço, por favor, prepare khichari e molho de cuddy. Você pode
fazer o khichari com duas partes de arroz, uma parte de dahl e um pouco de
turmeric e ghi. Será leve e fácil de digerir." Eu disse: "Tudo bem,
Srila Prabhupada." Um ajuste na dieta era a única maneira de eu saber que
Srila Prabhupada estava doente, pois ele normalmente não dava muitas
informações sobre seu estado de saúde. Às vezes ele pedia khichari quando
estava resfriado.
Voltei para meus
aposentos e preparei sua panela. Coloquei o khichari no nível superior e água
no nível inferior. Essa refeição era muito mais simples daquela que fazia
normalmente, descrito na história anterior. Eu me senti aliviado de não correr
o risco de queimar nada durante a massagem, mas triste de saber que Srila
Prabhupada não estava se sentindo bem. Normalmente eu ficava ‘consciente da
panela’ durante a massagem, devido a minha marcante memória de ter queimado
dois almoços de Srila Prabhupada no espaço de dois anos. Duas vezes era demais.
Voltei a seu
quarto depois de montar a panela e Srila Prabhupada sentou-se na esteira para
sua massagem. Às vezes quando estava resfriado ele me pedia para usar óleo de
mostarda em todo seu corpo. Normalmente ele pedia para eu usar óleo de sândalo
na sua cabeça, que tinha um efeito refrescante, mas hoje ele pediu que usasse
só óleo de mostarda. Depois de quinze minutos de massagem, ele disse:
"Bem, decidi que não vou almoçar." Eu disse:"Tudo bem , Srila
Prabhupada." Lamentando que ele deveria estar se sentindo bem mal,
continuei a massagem.
Passou-se mais
meia hora de massagem e Srila Prabhupada disse: "Na verdade, acho vou ter
um almoço normal." Eu disse: "Sim, Srila Prabhupada,"
momentaneamente feliz ao saber que a saúde de Srila Prabhupada estava se
melhorando. De repente, fui tomado por uma tremenda ansiedade ao me lembrar que
não tinha nada preparado, exceto o khichari. Oh não! Iria levar muito tempo
para preparar seu almoço. Fiquei com muito medo de expor minhas preocupações,
mas finalmente disse: "Prabhupada, eu não preparei nada. Pode levar um
certo tempo." Ele disse: "O tempo quer for necessário, será
necessário. Só faça-o."
Quando Srila
Prabhupada foi tomar seu banho, corri para meu quarto e preparei seu almoço da
forma melhor e mais rápida possível. Provavelmente eu estava ansioso
desnecessariamente, mas é assim que minha mente fraca funciona. Eu tinha
orgulho em estar sempre com meu serviço adiantado, para assim eliminar
problemas potenciais. Srila Prabhupada graciosamente esperou eu terminar sem
reclamar. Parecia que ele me fazia passar por testes como esse para me ensinar
a ser mais flexível. Meu serviço era fazer aquilo que ele queria, não o que eu
queria. Uma vez, enquanto massageava-o, ele disse: "Massageie até eu
ficar cansado, não você."
Srila Prabhupada,
obrigado por dar à oportunidade de me concentrar no seu bem estar enquanto
realizava minhas responsabilidades como seu servo. Devido a minha natureza
caída eu me esqueço que serviço devocional significa satisfazê-lo, e, desta
forma, Krishna estará satisfeito. Por favor, continue a me guiar em seu serviço
pessoal, me ensinando a ter amor incondicional.
Srila Prabhupada Uvaca 83
Onze de abril de
1975: Hyderabad, Índia
Lembro-me de
poucas ocasiões quando era muito difícil estar no mesmo quarto que Srila
Prabhupada. Obviamente, é fácil imaginar que todos almejem ficar com Srila
Prabhupada vinte e quatro horas por dia,
mas temos que lembrar que a presença de outros no mesmo ambiente podia trazer
mudanças.
Hoje, Devananda
Maharaja veio visitar Srila Prabhupada. Ele recebeu iniciação de Srila
Prabhupada e também foi sannyasi. Ele foi seu servo pessoal durante algum tempo
por volta de 1970. Atualmente, ele não era um membro da ISKCON. Ele pediu para
ver Srila Prabhupada e pode ter o darsana. Quando ele chegou, Srila Prabhupada
estava sentado atrás de sua mesa. Brahmananda Maharaja e eu também estávamos
presentes. Devananda entrou no quarto usando uma túnica de seda de cor laranja
forte. Quando ele entrou, não prestou reverências. Seus longos cabelos e barba
estavam mal cuidados. Ele estava um sorriso muito estranho. Ele começou a falar
com Srila Prabhupada de uma maneira tão estranha, que não pude entender o que
ele estava dizendo. Enquanto falava, ele mexia suas mãos como se estivesse
fazendo algum tipo de mudra. Era estranho demais para ficar vendo. Parecia
provável que era excesso de intoxicação.
Srila Prabhupada
tolerou essa tolice durante alguns minutos. Não houve conversa alguma, uma vez
que Devananda estava incoerente. Finalmente seu todo misericordioso mestre
espiritual, Srila Prabhupada, disse: "Se você quiser voltar, faça como
ele." Ele apontou para Brahmananda Maharaja e continuou: "Faça a
barba, corte o cabelo, coloque um dhoti, e aí estará tudo bem. Você pode
voltar."
Devananda começou
a girar seus braços de novo e disse: "Não. Não é por isso que estou
aqui." Ele continuou a mexer seu corpo e falar besteira. Srila Prabhupada
já tinha visto o suficiente. Ele berrou: "Saia já!" Ao mesmo tempo
começou a tremer de raiva. Brahmananda Maharaja pegou-o e o levou para fora do
quarto a força. Srila Prabhupada estava furioso. Eu me senti como se tivesse
sido atingido por um raio, apesar da raiva de Srila Prabhupada não estar sendo
dirigida a mim. Era assustador só de estar próximo. Se eu pudesse desaparecer,
agora era o momento ideal. É difícil descrever a potência espiritual gerada
pela ira de Srila Prabhupada. Seu compromisso total com seus discípulos foi
claramente demonstrado nesse episódio.
Foi umas das experiências
mais difíceis que tive durante todo meu tempo com Srila Prabhupada. Era
incrível como Srila Prabhupada tolerou seu estranho comportamento e mesmo assim
o convidou de volta como seu discípulo, apesar dos claros sinais que Devananda
tinha se afastado muito do caminho de Consciência de Krishna e tinha cruzado a
fronteira do normal, a beira da loucura total. Quando Sua Divina Graça viu que
ele não tinha interesse algum em aceitar suas instruções, ele
misericordiosamente o mandou embora antes que pudesse cometer mais ofensas.
Srila Prabhupada,
eu imploro que você me proteja de mim mesmo. Não quero nunca fazer algo que o
deixe tão irado. O maior perigo é perder o abrigo de seus pés de lótus. Aqui
estava meu irmão espiritual mais velho, imerso na ilusão, rolando no modo da
ignorância, se afogando no lamaçal do falso ego. Por sua misericórdia, você o
tinha elevado a um posto alto, por sua graça ele tinha atingido um nível de
serviço como um sannyasi. Mesmo quando você estava conosco alguns de seus
discípulos caíram na ilusão, pensando que tinham que buscar a perfeição em
outro lugar. O resultado desse desvio era desastroso.
Perfeição para mim
significa ficar sentado nos aposento do servo, esperando você tocar o sino.
Rezo para poder responder a seu chamado, correndo para seu quarto,
prestando-lhe reverências e vendo seu pés de lótus aparecendo por baixo da
mesa.
PS É com grande
pesar que ficamos sabendo que Devananda morreu de inanição auto-imposta numa
caverna no sul da Índia.
Srila Prabhupada Uvaca 84
13 de abril de 1973; Los Angeles, CA, EUA.;
ISKCON Nova Dwarka
Certos serviços
eram especialmente extáticos. Andar atrás de Sua Divina Graça ao sair de aviões
e entrar na área de desembarque era definitivamente uma das experiências mais
incríveis. Haviam-se passado oito meses desde que Srila Prabhupada estava nos
EUA. Era fantástica a maneira pela qual Srila Prabhupada se preparava para o
desembarque. Como já mencionei antes, quando o aviso de ‘colocar cintos de
segurança’ acendiam, ele normalmente se levantava, ia para o banheiro e
aplicava a tilak. Eu o acompanhava, esperando-o do lado de fora. A ida e volta
para o assento era às vezes um tanto emocionante, com o avião balançando e
tremendo devido a turbulência ou a sua aproximação para pouso. Se alguém tentava
detê-lo, ele o ignorava por completo, como se não tivesse nem ouvido. Ao voltar
para seu assento, ele pendurava seu saco de contas em volta do pescoço com
muito cuidado. Quando o avião aterrissava, ele colocava uma guirlanda de
flores. Se tivessem outros juntos, ele dava uma para cada membro da comitiva.
Ao sair do avião e
entrar no corredor, já se podia ouvir os devotos cantando. Ficava cada vez mais
alto ao entrarmos na área de desembarque. O sorriso de Srila Prabhupada também
aumentava na medida que ele se aproximava de seus queridos discípulos. Hoje
tinham centenas de devotos no aeroporto no momento que Srila Prabhupada entrou
no terminal de desembarque. Eles estavam desligados de todos e de tudo à suas
voltas, exceto do seu glorioso mestre espiritual. Não tenho qualificação alguma
para descrever as emoções de meus irmãos e irmãs espirituais, por nunca ser
afortunado o suficiente para amar tanto a Srila Prabhupada. Era óbvio para
todos presentes no aeroporto que os devotos estavam em êxtase transcendental. A
reciprocidade de amor entre Srila Prabhupada e seus discípulos era claramente
vista na lila de aeroporto. Durante vários minutos parecia que os pés dos
devotos não tocavam o chão. Rios de lágrimas extáticas corriam livremente de
todos lá, exceto de uma alma caída, eu.
Ao chegarmos no
quarto de Srila Prabhupada por volta de meio-dia, imediatamente fiz os preparos
para sua massagem. Durante a massagem minha mente estava muito aflita. Eu não
conseguia me livrar da dor ao realizar que todos amavam tanto seu guru, exceto
eu. Eu era um farsante, um impostor. Finalmente criei coragem para falar,
enquanto massageava as costas de Srila Prabhupada. Dessa forma eu não tinha que
falar cara a cara. "Srila Prabhupada, todos seus discípulos amam-no muito.
Isso me faz sentir mal. Eu não tenho esse profundo amor. Quando estou com você
no aeroporto eu vejo todos dançando, cantando e chorando. Tenho tanta
associação com você, porém não sinto esse amor inebriante como eles."
Eu torcia para que
ele falasse algo para aliviar minha mente. Ele ficou silencioso. Atormentado,
acabei a massagem e voltei para meus aposentos para acabar de preparar seu
almoço. Depois que ele cantou o Gayatri,
me chamou. Entrei, prestei reverências e olhei para cima já preocupado,
pois ele estava com uma cara muito séria. Ele perguntou: "Bem, você gosta
de me servir?" Respondi: "Oh, sim, Prabhupada. Gosto muito de
servi-lo." Ele continuou: "Então, isso é amor. Todo mundo pode fazer
tantas coisas...cantar, dançar, pular para cima e para baixo. Mas você está
realmente fazendo algo. Isso não é amor?" Eu disse: "É, acho que sim,
Srila Prabhupada." Ele disse: "Então, apenas faça seu serviço. É tudo
que é necessário. Isso é o que significa amor. Prestar serviço."
Srila Prabhupada,
você tem tanta compaixão com essa alma caída. Você me deu tanto força ao longo
dos anos, apesar de eu ser incapaz de lhe dar residência em meu coração. Vejo
agora, como via então, como muitos de seus discípulos amam lhe tanto, mas eu
não tenho amor algum por você. Apesar desta minha falta de amor, você me
permite realizar o íntimo serviço de descrever sua incrível misericórdia a esse
desgraçado ingrato que sou. É irônico que de todos seus discípulos você
escolheu logo eu, o mais seco, para descrever seu lila suculento. De fato, é
apenas outra amostra de sua misericórdia sem causa. Obrigado por suas gentis
palavras. Rezo para algum dia me qualificar para saborear uma gota do oceano de
amor a Deus e assim poder cantar e dançar como seus dedicados discípulos.
Srila Prabhupada Uvaca 85
Julho de 1973:
Calcutá, Índia;
ISKCON Calcutá
Fiquei conhecendo
Bhavatarina, a irmã de Srila Prabhupada, durante essa visita ao templo de
Calcutá. Desde então ela era sempre conhecida como ‘Pishima’ que, eu acho,
significa irmã. Tinha uma aparência e tanto. Ela era alguns centímetros mais
baixa e vários quilos mais gorda, mas sua cara era como de um versão feminina
de Srila Prabhupada. Sempre que vinha para o templo ela trazia doces e dava-os
para seu irmão mais velho, Srila Prabhupada, e depois os distribuía a todos
devotos no templo. Ela adorava se associar com Srila Prabhupada e passava o
máximo de tempo possível com ele.
É impossível eu
descrever as conversas que os dois tinham,
pois não compreendia o Bengali, mas às vezes Sua Divina Graça descrevia
alguns detalhes. Para mim era claro que ela tinha muito amor por seu irmão, não
apenas na plataforma material. Ela podia compreender sua mais elevada posição
espiritual também. Ela freqüentemente cozinhava para ele. Isso gerava muita
ansiedade entre seus discípulos porque ela sempre usava óleo de mostarda, que
Srila Prabhupada disse, "...ser difícil de digerir." Certa vez,
quando a questionaram a esse respeito, ela disse: "Ele pode digerir
pregos, se quiser."
Certo dia enquanto
massageava Srila Prabhupada antes do almoço, ele me perguntou: "Você
conhece alguém que é gordo, sem comer?" Eu disse: "Não, Srila
Prabhupada. Não conheço ninguém. Você
está se referindo a sua irmã?" Ele começou a rir e disse: "Sim! Ele
fica me dizendo que come só um pouco, mas fica engordando. Você não conhece
ninguém que fica engordando sem comer, conhece?" Rindo, eu disse:
"Não , Srila Prabhupada. Eu acho que não é possível engordar sem
comer." Agora nós dois estávamos
rindo e ele disse: "Sim! Eu também acho que não. Acho que sua
conclusão está correta. Ela tem comido muito. Ela me diz que não está comendo,
mas eu sei que está."
Ele continuou:
"Ela reclama que está mal de saúde, que ela não se sente bem. Eu disse à
ela:‘Você é tão gorda. Como você pode ficar saudável?’ Ela disse: ‘Eu não sei
porque. Eu quase não como. Eu não sei como sou tão gorda.’" Eu continuei a
massagear Srila Prabhupada, observando como ele estava a vontade por estar
próximo de sua família em sua cidade natal. Eu me sentia um felizardo por poder
me associar com Srila Prabhupada nesses momentos tão íntimos. Eu pude entender
sua preocupação com sua irmã, pois ele nos tinha dito que doença vem de
ansiedade, falta de higiene e excesso de comida.
Nesse mesmo dia à
tarde, Srila Prabhupada estava dando um darsana a seus discípulos. Pishima
também estava presente no quarto. Ela não se incomodava de não entender a
conversa. Ela gostava de estar com ele o tanto possível por amar
incondicionalmente seu querido irmão mais velho. Como ela era afortunada e elevada
para ter esse amor e apego natural por Srila Prabhupada! De repente Srila
Prabhupada disse com um sorriso: "Olhe para ela sentada ali. Olhe para ela
– veja como ela é gorda." Todos começaram a rir, inclusive Srila
Prabhupada e Pishima. Ele continuou a brincar com ela como um menino malcriado,
"Ela é tão gorda. Olhe para ela, como ela é gorda. Ela diz que não come,
mas mesmo assim engorda." Todos riam sem parar. Pishima estava gostando de
ver todos rindo, não sabendo que graças a seu irmão mais velho, todos estavam
rindo dela. Srila Prabhupada estava se divertindo com sua piada e saboreando a
participação de seus discípulos na piada. Foi um momento raro e incrível para
todos lá.
Srila Prabhupada,
vendo-o nessa lila tão feliz, tão a vontade foi puro néctar. Espero que algum
dia, numa vida distante futura, você me abençoe tanto que eu possa servi-lo ao
trazer um sorriso à sua face, rindo de minhas situações embaraçosas. Nessa
condição caída, a única emoção que pude gerar em você foi preocupação compassiva
ou irritação devido a minhas inabilidades desajeitadas em seguir suas
instruções corretamente ou com a devida atenção.
Srila Prabhupada Uvaca 86
Setembro de 1974;
Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama
Mandir
Srila Prabhupada
ficou em Vrindaban por seis semanas. Durante esse período ele estava muito
doente. Nos templos ao redor do mundo, estavam sendo realizados kirtans
contínuos, vinte e quatro horas por dia, se possível. Sua irmã, Pishima, estava
lá, ficando a maior parte do tempo no templo. Ela estava preocupada e queria
ver seu irmão sempre que possível.
Uma das minhas
tarefas era minimizar isso o máximo possível. Não era um serviço fácil ou
agradável. Não era mera coincidência que Pishima (que agora sei significa tia),
tinha uma poderosa determinação como a de Srila Prabhupada. Ela nunca me dava
ouvidos. De fato, ela ficava muito chateada e com raiva de mim. Ela tinha a
mania de estar sempre por perto e, quando não tinha ninguém vendo, ela entrava
em seu quarto.
Ele me chamou em
seu quarto, depois de uma visita dessas. Ele disse: "Eu sou um sannyasi.
Não é bom ela ficar no quarto quando não há mais ninguém por perto. Mesmo sendo
minha irmã. Sendo minha irmã, ela não consegue entender. Eu não posso ficar com
uma mulher no quarto comigo, mesmo sendo minha irmã."
Entrei certa tarde
nos aposentos dos servos, também meu quarto, e a vi dormindo em minha cama. Dei
um giro de 180 graus e corri para o quarto de Srila Prabhupada, onde ele estava
sentado a sua mesa. Prestei-lhe reverências com um olhar de ansiedade e disse:
"Prabhupada, sua irmã está dormindo em minha cama. Não sei o que
fazer." Ele disse: "Ela não pode. Você diga a ela! Ela tem que saber
que não pode fazer essas coisas. Isso não é bom. Vai dar o que falar."
[Aqui Srila Prabhupada está se referindo aos sannyasis locais, goswamis de
casta, e seus irmãos espirituais que podiam estar procurando uma razão para
criticar nosso querido Gurudeva. Srila Prabhupada sempre disse que aqui em
Vrindaban tinha que ser de primeira classe, caso contrário não seríamos levados
a sério. Com sempre, sendo o acarya, ele tinha que dar o exemplo.] Ele
continuou: "Não é bom que ela esteja passando tanto tempo assim." Eu
respondi ansiosamente: "Prabhupada,
não posso falar nada para ela. Ela não me escuta. Ela só liga para
aquilo que você diz."
Ele conversou com
ela naquele dia durante um bom tempo. Não sei sobre o que eles conversaram, mas
só sei que no dia seguinte, quando entrei no quarto, lá estava ela, no meu
quarto, dormindo profundamente. Desisti, fui embora e achei um canto do outro
lado do quarto de Srila Prabhupada. Ela sabia que seu irmão era transcendental
e não se importava o que os outros poderiam pensar do fato dela ser uma mulher.
Ela era sua irmã. Sua determinação de ficar próxima a seu querido irmão, um devoto
puro, era maior que minha habilidade de impedi-la. Ela fazia qualquer coisa
para conseguir associação com Srila Prabhupada. Mais tarde eu mencionei a
reincidência do problema para ele, e ele me disse compassivamente: "Ela é
minha irmã. Ela quer ficar por perto." Satsvarupa Maharaja me disse mais
tarde, em 1977, que Srila Prabhupada pediu perdão por suas ofensas. Ele disse”:
"Às vezes você quis me ver e meus discípulos não a deixaram entrar."
Eu imploro o
perdão de Bhavatarini, a quem cometi tantas ofensas ao tentar fazer o que
achava que era meu serviço. Imploro para que, no futuro, meu amor por Srila
Prabhupada se desenvolva ao ponto exibido por sua irmã. Devido a essa
determinação ela pode ser a irmã caçula de Srila Prabhupada e ajudá-lo durante
toda sua vida. Rezo para ter os mesmos desejos que Bhavatarini tem de servir os
pés de lótus de Srila Prabhupada, vida após vida.
Srila Prabhupada Uvaca 87
Março de 1975;
Mayapura, Índia;
Mayapur Candrodaya
Mandir
Muitas aventuras
cheias de alegria ocorriam diariamente enquanto viajava com Srila Prabhupada.
Muito néctar correu das atividades reguladas do serviço pessoal ao nosso
glorioso Gurudeva. Quem poderia imaginar algo superior a cozinhar, massagear, e
cuidar de Sua Divina Graça? Mas a jóia da coroa da intimidade era de estar
presente quando Sua Divina Graça exibia sintomas de êxtase. Era o tesouro mais
raro. Esses excepcionais eventos, invariavelmente, ocorriam quando Srila
Prabhupada estava em seu
Vyasasana na sala do templo, dando uma palestra. O mais
famoso aconteceu aqui, durante o festival de Mayapura.
Centenas de
devotos lotavam a sala do templo e Srila Prabhupada estava falando. De repente
ele parou e ficou em total silêncio com seus olhos fechados. Todos pararam, não
querendo incomodá-lo. Dava para ouvir uma agulha caindo, com todos até
respirando com cuidado para não fazer barulho. Isso continuou durante vários
minutos. Centenas de devotos estavam tomados pelo êxtase de Srila Prabhupada,
todos sendo transportados por ele. Nossas mentes estavam tomadas por bem
aventurada antecipação. Srila Prabhupada carregou todos nós para outro reino.
De repente um
sannyasi líder de kirtana, sentado próximo ao Vyasasana, começou a cantar em
voz alta, "Namo om visnu-padaya..." Eu me senti enxotado do reino celestial.
Gradualmente, os devotos relutantes começaram a acompanhá-lo. Logo, Srila
Prabhupada retomou sua consciência externa e juntou-se a seus discípulos no
kirtan.
Após o kirtan
houve muita discussão entre os devotos. Muitos criticavam o sannyasi, dizendo:
"Como você pode fazer aquilo? Srila Prabhupada estava em êxtase. Você viu que
mais ninguém estava cantando." Ele respondeu: "Oh, achei melhor
cantar. Parecia ser a coisa certa de se fazer." Brahmananda Maharaja era o
secretário de Srila Prabhupada naquela época. Ele estava tentando mediar o
assunto, mas não foi possível chegar a uma conclusão. Então, concordaram em
levar o assunto a Srila Prabhupada.
Nós entramos no
quarto de Srila Prabhupada à tarde. Brahmananda Maharaja disse: "Srila
Prabhupada, você se lembre que durante a palestra você parou de falar e entrou
em êxtase?" Antes que pudesse continuar, Srila Prabhupada respondeu com a
voz muito doce, como se estivesse um pouco sem graça: "Não faço muito
isso." Compreendendo a humildade de Srila Prabhupada, Brahmananda
continuou: "Não, Prabhupada, mas quando acontece, o que devemos fazer?
Devemos apenas ficar lá sentados, Srila Prabhupada? Ou devemos cantar
japa?" Srila Prabhupada respondeu: "Sim, só cante. Cante Hare Krishna.
Por que vocês estão dando tanta
importância assim? Fazer o que? Só cante Hare Krishna. Isso está bom."
Como sempre, não
tenho como descrever corretamente como Srila Prabhupada falou. Quando ele
disse: "Eu não faço muito isso”, foi o tom de voz mais inocente que jamais
ouvi em minha vida. A gentil graça e humildade que ele demonstrou foram
incríveis. Ele estava pedindo desculpas por exibir os sintomas de um devoto
puro. Pareceu-me que Srila Prabhupada se sentiu sem graça por nos expor seu
êxtase.
Um dos aspectos
mais maravilhosos de Sua Divina Graça era que ele sempre nos fazia sentir que,
apenas por seguir o processo de Consciência de Krishna, você poderia avançar ao
estágio máximo de perfeição, sem dificuldade. Parece-me que ele não queria nos
desestimular ao nos mostrar como ele era especial, e assim nos deixar pensar
que Consciência de Krishna é muito difícil para neófitos. Ele nos deu
esperança. Ele nos fez sentir que Consciência de Krishna é para todos. Ele
sempre falava de si mesmo no plural: "Nós somos servos de Krishna."
Srila Prabhupada nos incluía. Como ele nos transportou naquele dia especial,
ele continua nos levando, ‘De volta para o lar, de volta para o Supremo.’
Srila Prabhupada,
obrigado por nos dar essa breve visão de seu êxtase particular. Eu teria
saboreado a oportunidade de ter ficado horas aos seus pés de lótus naquela sala
do templo. Posso apenas imaginar onde você estava. Tenho muito orgulho de saber
que você é a personalidade mais elevada nesses três mundos. E mesmo assim você
fala timidamente a respeito de seu êxtase. Eu lhe imploro pela oportunidade de
ouvir sua doce voz sempre.
Srila Prabhupada Uvaca 88
Calcutá, Índia;
ISKCON Calcutá
Na história
anterior, mencionei a maneira gentil que Srila Prabhupada tinha de nos
estimular, fazendo o processo de Consciência de Krishna parecer fácil. Ele
falava de uma maneira muito humilde. Ele nos mostrou que se ele pudesse ser
Consciente de Krishna, nós também poderíamos.
Certa vez um
sannyasi falou para Srila Prabhupada que estava tendo dificuldade devido ao seu
apego à esposa. Srila Prabhupada disse: "Até mesmo ontem à noite, sonhei
com minha mulher. O apego é muito forte, que mesmo depois de tantos anos de
separação, ainda tive um sonho com ela ontem à noite. Portanto, existe a regra.
Você não pode nunca ver sua mulher após receber sannyasa. Você nunca pode
vê-la, porque só de vê-la todo tipo de pensamento surgirá em sua mente."
Mais tarde em
Calcutá ele falou em tom de brincadeira sobre o apego entre homens e mulheres.
Ele disse: "Mulheres são comparadas ao fogo e homens, à manteiga. Portanto
nossos sannyasis deviam ter um carimbo em suas testas: ‘Mantenha em local
fresco’. Como nos pacotes de manteiga, tem isso escrito. Então, nossos
sannyasis, eles também deveriam ter isso carimbado em suas testas. Isso os manterá
longe de perigo."
Nosso Guru-Deva
nos ocupa em serviço de Krishna, conhecendo nossa condição degradada da qual
ele heroicamente nos salvou, nos levando, ‘De volta para o Supremo’.
Maio de 1971;
L.A., CA.; ISKCON Nova Dwarka
Hoje de manhã
Srila Prabhupada andou na praia. No grupo estavam Kirtananda Swami, Kuladri, eu
e um jovem bhakta de uns dezessete anos de idade. Durante a caminhada o bhakta
viu um caranguejo grande correndo pela praia. Ele parou para vê-lo enquanto nós
continuamos andando com Srila Prabhupada. Observador como sempre, Srila
Prabhupada disse: "Esse menino está apegado demais às coisas materiais.
Esse pequeno desleixe vai virar uma bola de neve. As coisas acontecem,
pequenas, depois grandes." A cainhada continuou, com o bhakta se juntando
ao grupo após um minuto. Ninguém tocou no assunto com o bhakta. Quando voltamos
a Nova Vrindaban uma semana depois, o rapaz saiu do templo e nunca mais foi
visto, como Srila Prabhupada tinha previsto.
Srila Prabhupada,
por favor, carimbe em minha testa essas palavras: ‘Mantenha-se aos pés de lótus
de Jagat Guru.’ Sem você para seguir, eu ando como os caranguejos.
Seu servo,
Srutakirti dasa
Srila
Prabhupada Uvaca 89
7 de setembro de
1972; Moundsville, WV, EUA;
Nova Vrindaban
Um dia antes de me
tornar servo pessoal de Srila Prabhupada
Srila Prabhupada
está aqui em Nova
Vrindavan há uma semana, e tudo que vi é o interior da
cozinha de Bahulaban.Estou extremamente invejoso de meus irmãos e irmãs
espirituais que tem subido o morro para ver e ouvir Srila Prabhupada falar
todos os dias. Tenho cozinhado para centenas de devotos das 3:30 da manhã até 9
da noite. Todos vieram ver Srila Prabhupada durante o festival anual de
Janmastami. Não tenho tido tempo de cantar minhas voltas e estou aflito. Eu tinha
me acostumado a ter a associação de Srila Prabhupada durante minha visita a Los
Angeles, lendo o Livro de Krishna em seu jardim, mas agora estou sentindo cada
vez mais pena de mim mesmo.
Era entre oito e
nove da noite e eu estava lamentando minha situação, quando Kirtananda Maharaja
entrou na cozinha com um enorme sorriso e disse: "Adivinha só? Você vai
ser o servo pessoal de Srila Prabhupada. Você partirá amanhã com ele e irá para
Pittsburgh." Fiquei pasmo, estático e muito nervoso. Tudo aconteceu tão de
repente, que não tive tempo de entrar na mental. Eu estava estaticamente
exausto.
Por volta das seis
da manhã, Kirtananda Swami me trouxe para Madhuban, uma pequena casa de um
andar na fazenda, onde Srila Prabhupada estava ficando. Eu ainda estava em estado
de choque, incapaz de ficar nervoso, quando entramos na pequena sala de estar e
prestamos reverências. K. Swami disse: "Esse é Srutakirti, Srila
Prabhupada. Ele cozinha muito bem." Srila Prabhupada sorriu e disse:
"Isso é muito bom." K. Swami continuou: "Mas ele não sabe dar
massagem." Srila Prabhupada disse: "Tudo bem, qualquer um pode dar
massagem. É muito fácil."
Srila Prabhupada
então pegou uma lota no chão, próximo a sua mesa, e disse: "Ok. Venha
comigo." Ele saiu pela porta dos fundos da casa e andou até o final da
calçada. Ele parou um pouco, virou-se para mim e disse: "Tudo bem, me
espera aqui." Srila Prabhupada andou mais uns 20 metros para dentro da
floresta. Depois de alguns minutos ele voltou para onde eu estava lhe
esperando, de acordo com suas instruções. Ao passar por mim ele me deu a lota e
disse: "Tudo bem, lave isso com terra e água." Ele então voltou para
casa.
A forma como ele
me tratou aquela manhã foi maravilhosa. Nada de conversa fiada, nada de ‘por
favor’ ou ‘obrigado’. Ele imediatamente me deixou saber que minha posição era
de simples servo, ajudando-o em tudo que ele desejasse, cuidando de suas
necessidades corporais. Eu estava em puro êxtase ao saber que aquilo era meu
serviço. Eu não tinha habilidade para fazer nada que precisasse de
inteligência, portanto, para mim, esse era o serviço ideal. Eu tinha recebido o
serviço mais maravilhoso, cuidando do corpo transcendental do servo de Deus.
Esse foi o
primeiro dia de minha vida. Pela primeira vez
pude entender para que serviam meu corpo e mente. Infelizmente, devido à
inquietude juvenil e inabilidade em seguir o processo de Consciência de Krishna
com sinceridade, eu perdi esse serviço após breves e poucos anos. Agora, com
muito arrependimento, estou implorando ao Supremo Senhor Krishna para dar a
esse tolo uma outra chance de servir meu pai espiritual.
Srila Prabhupada,
sem você, me sinto perdido e só. Eu não sei o que fazer de mim. É muito
doloroso. Quando não penso em você, meu amado mestre espiritual, não tenho
razão para viver. Quando me lembro de você, Srila Prabhupada, sinto muita dor
em saber que desperdicei minha vida em inútil gratificação dos sentidos. Srila
Prabhupada, eu poderia estar com você, limpando sua lota.
Srila Prabhupada Uvaca 90
Janeiro de 1973;
Bombaim, Índia;
Apartamento de
Mahadevia
Srila Prabhupada
falou todas as tardes durante uma semana, como parte do programa de pandal
organizado pelos devotos. Milhares de pessoas estavam presentes. Num grande
palco com um metro e meio de altura estavam deidades de Radha Krishna. Depois
do programa de pandal elas foram instaladas no Bhaktivedanta Manor. Srila
Prabhupada ficava sentado em
seu Vyasasana no palco com seus discípulos a seus pés.
Foi um final de
semana muito agitado. Certa tarde um fogo elétrico começou atrás do altar das
deidades. O fogo se espalhou rapidamente, mas felizmente foi apagado
imediatamente. Mais devotos chegavam todos os
dias e, assim, até o final, dezenas de discípulos de Srila Prabhupada
estavam presentes. Nós, ocidentais, não conseguíamos compreender as palestras,
já que eram todas em Hindi, mas era evidente pelas multidões entusiásticas que
Srila Prabhupada estava causando um impacto em todos.
O último dia foi
especialmente maravilhoso. Depois de Srila Prabhupada acabar a sua palestra,
ele deu um sinal com a cabeça e disse:
"Tudo bem, teremos kirtan." Acyutananda Swami, sentado próximo ao
microfone com uma mrdunga em mãos, começou a liderar o canto. Dentro de poucos
minutos Srila Prabhupada desceu de seu Vyasasana e iniciou a circumambular as
deidades. Ele deu uma volta e se curvou diante de Sri Sri Radha Krishna. Os
outros devotos já começaram a seguir Sua Divina Graça quando ele deu a segunda
volta, novamente se curvando diante das deidades. O kirtan estava ficando cada
vez mais extático a cada segundo. Todos acompanhavam os movimentos de Srila
Prabhupada, saboreando o néctar de seu êxtase.
Majestosamente ele
andou em volta das deidades mais uma vez, completando a terceira volta. Ele
novamente se curvou diante do Supremo Senhor e sua potência de prazer, virando
sua cabeça para a multidão. Ao virar ele levantou seus braços para o alto. Ele
nos abençoou com o maior sorriso que já tinha visto. Dançando, pulando para
cima e para baixo ao som do kirtan, ele nos elevou imediatamente ao reino
transcendental. Era incrível como Srila Prabhupada nos controlava com o
movimento de seus braços. Ao levantá-los ele nos pegava e nos depositava no
mundo espiritual. A multidão de milhares estava absorta no êxtase. O kirtan foi
algo de outro mundo.
O dançar de
dezenas de devotos na plataforma ficou tão animado que o palco começou a
tremer. As deidades começaram a balançar para frente e para trás no altar, como
se Eles estivessem acompanhando Seu devoto puro em seu êxtase. Eu e outro
devoto fomos atrás do altar e seguramos as deidades pelas Suas bases. Srila
Prabhupada compreendeu a situação e parou de dançar. Depois de terminado o
kirtan, Srila Prabhupada e eu entramos no Ambassador, e fomos em direção ao
apartamento de Mahadevia, onde Srila Prabhupada estava ficando. Com um sorriso
transcendental ele disse: "Então, o pandal foi bom?" Ainda imerso na
onda de êxtase pela misericórdia do meu mestre espiritual, eu disse:
"Prabhupada, foi realmente maravilhoso. Quando você dança, todos imediatamente
entram em êxtase." Ele respondeu: "Sim! Na verdade, poderia ter
continuado, mas eu vi que as Deidades estavam em perigo, portanto parei. Caso
contrário, eu teria continuado a dançar."
Srila Prabhupada,
obrigado por me dar à oportunidade de testemunhar a sua potência espiritual.
Foi evidente pela
conversa que tivemos no carro que você tinha grande prazer em distribuir sua
misericórdia a todos lá presentes. Eu sabia que era a entidade viva mais
afortunada do mundo por poder sentar a seu lado no carro. Por favor, eleve seus
braços acima de mim para que eu possa dançar de acordo com seu desejo.
Srila Prabhupada Uvaca 91
Vinte de fevereiro
de 1973; Auckland, Nova Zelândia;
ISKCON Nova
Zelândia
Antes de Srila
Prabhupada chegar ao templo da Nova Zelândia, Siddha Swarupa e Tusta Krishna
Maharaj retiraram os devotos do templo para que Srila Prabhupada pudesse ter
uma estadia tranqüila. Era um arranjo interessante, e um tanto fora do comum,
mas permitiu com que Srila Prabhupada tivesse a chance de relaxar.
Essa noite, Srila
Prabhupada pediu que eu preparasse puris e subji. Enquanto preparava sua
refeição, me dei conta que não havia nenhum doce de leite para por em seu
prato. Aqui não tinha adoração à deidade, portanto não pude pegar maha prasadam
para seu prato. Eu não tive tempo de preparar sandesh, já que tínhamos chegado
apenas há um dia. Levei o puris, subji, e leite quente para o quarto de Srila
Prabhupada e coloquei-os em sua mesa, e prestei-lhe reverências. Siddha Swarupa
e Tusta Krishna Maharaja estavam ambos presentes no quarto conversando com
Srila Prabhupada quando entrei. Isso era uma grande benção, pois era algo que
Srila Prabhupada raramente fazia. Ele normalmente honrava prasadam em
particular.
Sai do quarto e
voltei para cozinha para enrolar e fritar mais alguns puris. Corri de volta
para meu mestre espiritual com dois puris frescos, colocando-os em seu prato,
antes de prestar minhas humildes reverências. Srila Prabhupada olhou para mim
inquisitivamente e perguntou: "Não têm doces?" Respondi: "Não,
Prabhupada. Não preparei nenhum ainda." Srila Prabhupada,
misericordiosamente compreendendo minha situação, então disse: "Oh, tudo
bem. Então me traga um pouco de açúcar." Voltei para cozinha e enchi uma
cumbuca com açúcar branco. Voltei para seu quarto e coloquei-a em sua mesa. Ele
pegou um puri e enfiou-o na cumbuca e deu uma mordida. Ele repetiu várias
vezes. Dava para ouvir o barulho do açúcar sendo esmagado enquanto ele
alegremente mastigava. Ele parou alguns instantes e cantou: "luci cini
sarpuri laddu rasabali" e continuou dizendo: "Essa é uma combinação
muito gostosa. É muito saboroso."
Os dois sannyasis
ficaram boquiabertos vendo ele comer essa ‘combinação muito saborosa’. Ah sim,
eu esqueci de mencionar que nenhum dos dois Maharajas comiam qualquer coisa que
continha açúcar, o que dizer de comer a terrível substância diretamente em sua
forma ‘impura’. Era apenas mais uma das qualidades maravilhosas de Srila
Prabhupada. Ele parecia sempre saber fazer exatamente aquilo que surpreendia e
chocava mais seus discípulos, dando-lhe a oportunidade de entender sua elevada
posição transcendental.
Certa vez, quando
estávamos em Nova Dwarka ,
ele fez uma visita de um dia ao sul, para o templo em Laguna Beach. Era
apenas uma viagem de duas horas de carro. À noite ele pediu um pouco de leite
quente. Nesse templo tinha adoração a Deidade, mas eu não pude achar açúcar na
cozinha do templo, então adocei com mel. Às vezes Srila Prabhupada pedia para
ter seu leite adoçado com mel, mas nessa noite, quando levei o leite, ele
provou-o e imediatamente quis saber, "Por que não foi adoçado com
açúcar?" Eu lhe disse: "Eles não têm açúcar no templo." Ele
respondeu irado: "Como pode ser isso?" Eu expliquei: "Alguns
devotos acham que açúcar branco não é saudável e que é melhor evitá-lo."
Ele disse: "Tudo bem. Se eles não quiserem comer açúcar, eles não
precisam, mas Krishna gosta muito de açúcar. Isso é tolice. Eles tem que usar
açúcar ao fazer as preparações das Deidades."
Srila Prabhupada,
você é incrível. Não importa onde estivesse, você rapidamente eliminava toda a
tolice criativa que seus discípulos inventavam. Você não precisava de uma rede
de espiões para lhe dizer o que estava acontecendo. Krishna era seu espião e
ele lhe dava toda informação necessária para que você pudesse estabelecer o
curso correto para suas crianças imprudentes. Eu saboreei as várias
oportunidades que vi você exibir suas habilidades psíquicas, às vezes de forma
bem humorada, outras com seriedade. Freqüentemente os devotos lhe perguntavam
se você tinha desenvolvido poderes místicos. Eu os vi constantemente, lendo a
mente de seus discípulos e lidando com eles de acordo. Sou grato pelas muitas
vezes que pude presenciar esse tipo de acontecimento. Por favor, Srila
Prabhupada, dê-me sua associação sempre, residindo em meu coração. Você sabe
que não tenho qualquer qualificação, mas eu sei como você é misericordioso.
Afinal, permitiu que eu associasse com você.
Srila Prabhupada Uvaca 92
Junho de 1973;
Mayapura, Índia;
ISKCON, Mayapura Candrodaya Mandir
Em Mayapur, Srila
Prabhupada morava em dois quartos. Um quarto era sua sala de estar, onde ele
traduzia e recebia os convidados. Ao
lado ficava seu quarto de dormir, onde ele também honrava prasadam e por isso
tinha uma pequena mesa de mármore (choki) encostada na parede, à direita de sua
cama.
Junho, em geral,
era uma época quente, portanto, quando Srila Prabhupada almoçava, eu às vezes o
abanava com um abanador de penas de pavão. Não só criava uma brisa, mas
afastava as moscas também. Porém, quando Srila Prabhupada almoçava, a população
de formigas ficava imediatamente ciente do fato. Eles sempre tinham
patrulheiros correndo pelas paredes e dentro de poucos minutos após colocar seu
prato na mesa, ele chegavam em seus batalhões. Certa vez, em Los Angeles , Srila
Prabhupada me disse para colocar turmeric nos pontos onde elas entravam. Deu
certo em Los
Angeles. Creio que aquelas formigas eram mais materialistas.
As formigas de Mayapur não podiam ser impedidas. Obviamente, eram entidades
espirituais e não podiam ser dissuadidas de pegar as sobras maha prasadam do
prato de um devoto puro.
Eu assistia as
centenas de formigas subirem o choki, rodear o seu prato e finalmente atacar
sua prasadam. Elas pareciam saber exatamente quando eram permitidas certas
preparações. Srila Prabhupada comia por partes. Primeiro eram os chapatis e
verduras, depois o arroz era misturado e finalmente ele comia os doces.
Inicialmente elas se agrupavam em volta do prato. Gradualmente elas chegavam
até as preparações que Srila Prabhupada já havia terminado. Parece que as
formigas tinham uma certa educação. Finalmente Srila Prabhupada terminava sua
refeição comendo alguns doces e
levantava para se lavar. Para as formigas, o momento esperado tinha
chegado. Elas sabiam que agora era a hora de atacar os doces. Incrivelmente,
Srila Prabhupada nunca fez qualquer comentário sobre esse ataque diário a seu
almoço.
Isso não era algo
anormal. Acontecia com grande regularidade. Parece que tinha um acordo entre o
devoto puro e os pequenos insetos. Ele podia levar o tempo que quisesse para
comer, e elas podiam comer tudo que ele já não queria mais. Eu tentava pegar os
pratos o mais rápido possível depois que ele tinha terminado, para ver se
sobrava algo para seus discípulos. Com Prabhupada disse em Calcutá: "Tudo
bem, elas não comem muito."
Certo dia enquanto
o abanava durante o almoço, Srila Prabhupada começou a rir. Ele disse:
"Esse é o costume védico. A mulher abana o marido enquanto ele come.
Depois que ele acabou, ela come tudo que sobrou." Rindo, ele disse:
"Dessa forma ela sempre fazia bastante prasadam. Caso contrário, poderia
ficar sem comer. Mas, isso era estritamente o costume." Ainda sorrindo ele
continuou: "Na verdade, na cultura védica esse era o papel da mulher. Elas
serviam de duas maneiras, uma era cozinhando boas comidas e o outro era
providenciando uma boa vida sexual. Essa é a essência da vida material. É claro
a diferença está na Consciência de Krishna. Nós enfatizamos castidade, ser
casto."
Abanando Srila
Prabhupada, silenciosamente, enquanto ele comia, fiquei todo envergonhado. Esse
assunto era uma fonte de grande atração e aversão da minha parte, devido a meu
fascínio pelo sexo oposto e meu constante esforço de controlar meus sentidos.
Fquei lá, tentando compreender o conhecimento que ele estava me passando.
Fiquei mudo, sem coragem de dizer nada, inteiramente apegado à vida material.
Srila Prabhupada
era completamente transcendental. Só ele poderia ficar sentado e comer com
legiões de insetos se preparando para atacar seus restos. Só ele poderia falar
sobre o prazer do sexo sem reservas, porque ele não tinha qualquer atração à
vida material. Sendo um devoto puro todo compassivo, ele era capaz de entender
nossa situação caída, pacientemente nos libertar e nos dar a oportunidade de
realizar serviço devocional.
Srila Prabhupada Uvaca 93
Agosto de 1973;
Vrindaban, Índia
Krishna Balarama
Mandir
Seria normal
imaginar que estar em Vrindaban com Srila Prabhupada seria uma experiência
extática, mas esse período de sete semanas foi muito difícil. Srila Prabhupada
está extremamente doente, portanto estávamos todos em grande ansiedade, pois
parecia que ele poderia nos deixar a qualquer instante. Ele praticamente não
estava comendo fazia muito tempo e, conseqüentemente, estava muito fraco.
Certa manhã ele me
chamou para seu quarto. Estava sentado em sua cama. Quando entrei ele disse,
com voz fraca: "Você pode me fazer um pouco de upma, como eu lhe
mostrei." Parecia um pedido estranho, uma vez que não estava comendo. Era
difícil também para eu entender por que ele queria que eu fizesse, quando
Yamuna devi, estava disponível e obviamente mais bem qualificada do que eu para
cozinhar para ele. Fui para a cozinha, falei para ela do pedido, e
perguntei–lhe se tínhamos legumes disponíveis. Infelizmente, não tinha legumes
frescos na cozinha, mas ela tinha ervilhas secas. Para não demorar, fiz a upma usando as ervilhas secas,
depois de hidratá-las.Fiz isso o mais rápido possível. Estávamos todos animados
pelo fato dele ter solicitado uma preparação cozida, porque até então só estava
comendo laranja fatiada.
Pensando mais a
respeito, me lembrei que no passado ele pedia para eu preparar seus pratos
favoritos com a intenção de aumentar seu apetite. Ele pessoalmente me ensinava
a fazer um prato e, se eu conseguisse recriá-lo bem, ele o pedia todos os dias,
durante uma semana. Portanto, ele deve ter pensado na upma que me ensinou a
fazer. Lembrei-me dele me ensinando a fazer couve-flor com batata e coalhada na
Bhaktivedanta Manor. Em
Nova Dwarka certa vez, ele entrou nos meus aposentos, pediu
para eu pegar um repolho e batatas. Ele me ensinou a cortar o repolho bem fino,
grelhando-o no wok com batatas cortadas em cubos, criando assim um delicioso
subji de batata e repolho. Eu me sentia afortunado por ele ter pedido que eu o
servisse.
Estávamos todos
muito animados pelo fato de Srila Prabhupada estar pedindo algo que ele gostava
de comer. Eu lhe trouxe um prato com katori recheado de upma para seu quarto.
Coloquei-o na choki, e coloquei a pequena mesa na cama, em frente dele. Prestei
reverências e sai do quarto, voltando para cozinha. Eu me sentei, aguardando
ansiosamente junto com outros devotos, na esperança que Srila Prabhupada
gostasse da oferenda e a comesse toda. Passado uns cinco minutos, Srila
Prabhupada tocou seu sino. Corri de volta para seu quarto, vendo que mal tinha
comido a upma. Eu prestei reverências, olhei para cima, e vi meu glorioso
mestre espiritual, que me disse com um olhar carinhoso: "Essa upma estava
de primeira. Eu não pude comer muito porque estou sem apetite, mas eu quero que
você saiba que estava muito bom. Pensei que se você preparasse algo que gosto
eu conseguiria comer, mas não foi possível. Comi um pouquinho e estava muito
gostoso." Eu não podia acreditar o que estava ouvindo. Muito grato, eu
respondi: "Obrigado, Srila Prabhupada." Peguei o prato com o choki e
me retirei.
Srila Prabhupada,
fico sempre maravilhado pela maneira carinhosa com a qual lidava comigo.
Milhares de devotos por volta de todo planeta estavam realizando kirtan, rezando
para o Supremo Senhor que o deixasse ficar conosco. Mesmo assim, você se deu o
trabalho de garantir que seu baixo servo não ficasse magoado em razão de não
ter comido a upma. Mesmo doente você me estimulava. Você sempre é completamente
transcendental, pensando nos outros. Não importando como se sentia
pessoalmente. Espero poder um dia ter uma fração de carinho por você que você
teve por mim. Eu queria agradá-lo naquele dia e, sabendo, você me retribui
enchendo meu coração de alegria. Por favor, perdoe-me por ser tão carente.
Srila Prabhupada Uvaca 94
Setembro de 1974;
Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama
Mandir
Durante esse
período em que
Srila Prabhupada estava doente, havia muita atividade em progresso. Seus
aposentos estavam na fase final de construção e outros projetos estavam se
completando ao redor. O templo e a casa de hóspedes estavam sendo construídos
e, com isso, tinha muito barulho das obras. Srila Prabhupada estava comendo tão
pouco há tanto tempo, que estava muito fraco. Quando precisava ir de um quarto
para outro, um ou dois devotos o ajudavam.
A verão estava
extremamente quente, portanto montamos sua cama na varanda de trás, onde era
muito mais fresco do que em seu quarto. À tarde ele descansava do lado de fora,
apesar das obras estarem em andamento na varanda e no jardim. Quando chegava a
hora de dormir à noite, eu entrava debaixo da rede de mosquitos com ele e
dava-lhe uma massagem nas pernas. Depois da massagem, eu colocava uma esteira
de palha debaixo de sua cama, onde dormia. Passei todas as noites dormindo
diretamente embaixo da cama de Sua
Divina Graça. Assim, se ele precisasse de algo, eu estaria disponível
imediatamente.
Essa era a
primeira vez que dormi diretamente ao lado de Srila Prabhupada. Ele queria que
ficasse perto para poder ajudá-lo a andar quando se levantasse. Era uma
situação muito grave. Eu me sentia como um cão fiel, dormindo no chão ao seu
lado, esperando a oportunidade de servi-lo. Considerava isso como sendo minha
posição.
Certa noite, por
volta de 1:00 da manhã, acordei com o barulho de uma bengala caindo próximo de
minha cabeça no piso de tijolos. Quando abri meus olhos vi meu amado mestre
espiritual caído no chão ao meu lado. Horrorizado, imediatamente peguei os
braços de meu Gurudeva e o levantei de volta para a cama. O barulho que tinha
ouvido era de Srila Prabhupada caindo no chão, depois de tentar andar sem
ajuda. No mesmo instante, eu estava completamente acordado e assustado.
Confuso, eu disse: "Srila Prabhupada, o que você estava fazendo? Por que
não me chamou?" Ele respondeu com a voz fraca, se desculpando: "Oh,
eu precisava ir no banheiro. Pensei que não precisaria de ajuda e não quis
incomodá-lo porque estava dormindo."
Eu sabia que Srila
Prabhupada era muito humilde, mas, até para mim, isso me pegou de surpresa. Eu
estava chateado que não tinha me acordado e, com respeito, lhe dei uma bronca:
"Não, Srila Prabhupada, não há incômodo algum! É para isso que estou aqui.
Você está muito fraco. Você devia ter me chamado." Ele disse: "Eu
pensei que tinha forças o suficiente, mas vejo agora, que não tenho força
alguma."
Em pé, atrás dele,
eu coloquei minhas mãos em suas axilas e o ajudei a andar até o banheiro em
seus aposentos, e o esperei do lado de fora. Quando terminou, eu o ajudei a
andar de volta para sua cama na varanda. No dia seguinte ele não fez qualquer
comentário a respeito do incidente, nem reclamou de qualquer machucado que
possa ter ocorrido em razão da queda. Era mais um dia na vida de um devoto
puro. Ele realmente não se afetava pelas condições de seu corpo. Ele só se
preocupava com o andamento das obras no templo.
Srila Prabhupada
exibia humildade em todas as circunstâncias. Às vezes ele me chamava para seu
quarto e, quando entrava, ele perguntava de forma muito humilde: "Você
pode me preparar algo agora?" Impressionado pelo seu tom humilde, eu
respondia: "Sim, Prabhupada. Não tenho nada mais para fazer a não ser
servi-lo. É por isso que estou aqui." ``As vezes, ele dizia para os
devotos que estavam em seu quarto esperando pela caminhada matinal:
"Podemos ir agora?" Ele era sempre digno e bem educado. Tudo que
dizia, tudo que fazia, nos permitia ficar ainda mais apegados a ele.
Srila Prabhupada,
não há nada que possa dizer para propriamente glorificar suas atividades.
Qualquer um afortunado o suficiente para ter tido sua associação sabe que você
é a personificação de todas as qualidades transcendentais. Você dá sentido à
minha vida. Quando penso em você caindo enquanto dormia, fico profundamente
entristecido. Eu deveria estar acordado, vigiando sua bela forma. Porém, tenho
certeza que não considera isso uma falha de minha parte, devido à sua grande
humildade. É essa qualidade que me mantém viciado em seus pés de lótus.
Obrigado por ser meu divino e amado mestre espiritual.
Srila Prabhupada Uvaca 95
Setembro de 1974;
Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama
Mandir
Durante esse
período de convalescença, surgiram problemas com o andamento das obras no
templo. Meu ponto de vista era um tanto limitado. Eu só ouvia comentários aqui
e ali, das conversas que ocorriam no quarto de Srila Prabhupada. Estavam com
problemas para comprar cimento. Isso, é claro, criava grandes atrasos. Nessa
época um político de Mathura conseguiu um grande carregamento de cimento para
ajudar a completar o projeto e estava agora vindo visitar o templo, para ver o
que tinha sido feito.
Srila Prabhupada
estava determinado a fazer um programa no templo para honrar esse senhor. Isso
gerou muita ansiedade para seus discípulos, que não queriam que Srila
Prabhupada se esforçasse tanto. Alguns dos devotos o estavam aconselhando a não
fazer isso, porque estava fraco e com febre alta. Ele disse: "Esse homem
está vindo. Eu tenho que sair e falar algo."
No dia que ele
chegou, ajudei Srila Prabhupada a colocar suas roupas. Depois, ele colocou
tilak. Depois de alguns minutos ele estava se preparando para sair de seus
aposentos e ir para o templo. Ele virou-se para mim e perguntou: "Tilak,
eu já coloquei a tilak?" Eu lhe disse que sim. Ele acenou com a cabeça e
disse: "Ok, vamos lá." Não dava para acreditar sua determinação. Sua
febre estava muito alta, mas mesmo assim ele se concentrava em sua missão de
propagar o movimento de Consciência de Krishna. Ele não levava em conta sua
condição pessoal. Era uma oportunidade de glorificar o Supremo Senhor. Nós
carregamos Srila Prabhupada até o templo, onde ele deu uma rápida palestra e
publicamente expressou sua gratidão pela ajuda do político em ajudar a
completar a construção.
Já no final do
período de doença de Srila Prabhupada, eu peguei malária. Durante alguns dias
fiquei de cama. Na verdade eu estava em minha esteira de palha, nos aposentos
dos servos. A saúde de Srila Prabhupada estava melhorando e ele já estava
andando por conta própria. Ao passar pelo meu quarto, ele me viu deitado no
chão. Outros devotos estavam lá comendo prasadam. Srila Prabhupada disse:
"O que ele está fazendo no chão? Ele está muito doente. Leve-o para uma
cama." Ele olhou para mim, com compaixão, no momento em que eu estava no
meio de um ataque de malária. Ele disse carinhosamente: "Já lhe deram
algo?" Eu disse: "Não, Prabhupada." Ele virou para Palika e
disse: "Faça-o um pouco de limonada quente e cuide dele."
Não me lembro se
tomei alguma medicação ou não, mas sei que logo fiquei melhor. Era uma sensação
incrível saber como você se preocupava tanto comigo, Srila Prabhupada. Você
sempre fazia me sentir especial. Um ano atrás, num encontro na Segunda Avenida,
26, me perguntaram se você dava tratamento ‘especial’ para alguns de seus
discípulos. Eu não precisei pensar muito antes de responder: "Sim! A todos
eles." Se tem um serviço que posso lhe render é de tentar mostrar o tanto
de amor que você tinha a todos seus seguidores e como era grato por eles lhe
ajudarem em sua missão. Se pudesse compreender a extensão de seu amor por mim,
eu nunca me distrairia de seus dourados pés de lótus, nem sequer por um
segundo. Eu lhe imploro pela inteligência para poder entender sequer uma fração
de seu amor por mim.
Srila Prabhupada Uvaca 96
Setembro de 1974;
Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama
Mandir
Para o alívio de
todos, Srila Prabhupada começou a recuperar sua saúde. Com o melhorar de sua
saúde, ele começou a passar uma hora por dia de baixo da árvore de tamal, no
pátio do templo, ouvindo as palestras de seus discípulos. Ele não estava
sentado com eles, mas observava de uma certa distância. Às vezes ele gostava de
ouvir seus discípulos mais antigos dando palestra, às vezes eu o ouvia fazer
críticas. O que era certo é que ele escutava muito atentamente. Eu me lembro
das vezes quando, durante suas viagens, Srila Prabhupada pedia para um
discípulo falar em sua presença. Meu coração parava, com medo de que ele faria
o mesmo comigo. Fiquei feliz em saber que Srila Prabhupada estava consciente de
minha falta de compreensão filosófica. Ele nunca me colocou numa situação
dessas.
Certa noite, o
comandante do templo estava dando uma aula. Srila Prabhupada estava sentado
confortavelmente em sua cadeira e eu estava sentado a seus pés, no piso de
mármore. O discípulo de Srila Prabhupada começou a falar sobre a importância de
se participar dos programas no templo. Certos devotos não estavam comparecendo
a todos programas, e o comandante do templo aproveitou a aula para tentar
reverter essa situação. Ele começou a dar uma bronca num devoto francês que não
estava indo para as aulas matinais. O palestrante disse: "Não importa se
você não entende inglês. É uma vibração sonora transcendental." Ele
continuou a falar de uma maneira dura. Finalmente Srila Prabhupada me disse:
"Diga a ele para parar de falar agora. Ele já falou o suficiente." Eu
transmiti a mensagem e o devoto parou de falar.
Alguns dias
depois, a palestra do comandante do templo estava novamente seguindo o mesmo
rumo. Srila Prabhupada me disse: "Essas palestras deveriam durar apenas
meia hora. Do contrário ninguém vai escutar. Ele está falando demais. Diga a
ele, apenas meia hora." Imediatamente fui e falei com o palestrante,
transmitindo a mensagem de Srila Prabhupada. Eu não perguntei, mas me pareceu
que Sua Divina Graça não estava incomodado com a duração da palestra, mas sim
pelo fato dele estar fazendo tudo parecer mais um istagosti do que uma aula
sobre os Sastras. Observando a opulência em renuncia de Srila Prabhupada,
notava-se que Sua Divina Graça dava uma instrução particular de uma forma
direta e curta. Ele nunca se repetia inutilmente ou depreciava qualquer um. Ele
estava interessado em treinar seus discípulos para que eles pudessem progredir
em suas vidas espirituais.
Certa noite,
quando Srila Prabhupada estava sentado em sua cadeira no pátio e eu no piso de
mármore ao lado de seus gloriosos pés de lótus,
pedi para melhor explicar um comentário que ele tinha feito de manhã, em
sua sala. Ele tinha dito: "Quando os indianos tocam meus pés, eles estão
simplesmente atrás de benções materiais. Portanto, não deixe qualquer um tocar
meus pés, pois eu terei que sofrer reações pecaminosas e então ficar doente, me
deixando mais fraco."
Sentado debaixo da
árvore de tamal, com a palestra em andamento um pouco distante, eu disse:
"Srila Prabhupada, quando seus discípulos tocam seus pés de lótus, eles
estão tentando lhe mostrar respeito. Eles não estão interessados em ganhos
materiais." Ele sabiamente respondeu: "Sim, isso é verdade, mas,
mesmo assim, o mestre espiritual tem que sofrer ao aceitar suas reações
pecaminosas." Ele ficou lá até mais tarde. Eu fiquei sentado a seu lado,
feliz que ele tinha decidido permanecer mais tempo com suas crianças
espirituais. Ele estava preocupado em se manter saudável e não nos deixar só.
Srila Prabhupada,
meu desejo é morar no passado. Entendo que seus passatempos neste planeta são
eternos e, portanto, eu posso sempre ficar com você ao me lembrar de seus
lindos pés de lótus sobre o piso do pátio do Krishna Balarama Mandir. Obrigado
por me deixar tocar seus pés diariamente. Perdoe-me por assim forçar as reações
da minha vida pecaminosa para cima de você. Por favor, não me afaste.
Srila
Prabhupada Uvaca 97
Setembro de 1973;
Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama
Mandir
Com a melhora da
saúde de Srila Prabhupada, eu comecei a ficar mais consciente de meu próprio
desconforto corporal. Eu não tomei os devidos cuidados aqui na Índia, e, em
conseqüência disso, contraí malária, estou tendo dificuldade na digestão e
desenvolvi colites. Srila Prabhupada reparou que já perdi muito peso. Meus
ânimos andam baixos. Acho que em parte a razão pela minha fraqueza é o estresse
de cuidar de Srila Prabhupada durante seu período doente. Eu desenvolvi uma
aversão a morar na Índia depois de perder minha energia e força.
Fui até o
secretário de Srila Prabhupada, Brahmananda Maharaja, e falei com ele sobre a
possibilidade de eu voltar a Los Angeles para recuperar minha saúde. Eu pedi
para ele falar com Srila Prabhupada. Eu estava com vergonha de falar
diretamente com Sua Divina Graça, porque não conseguia aceitar bem a idéia de
largar seu serviço. No meu coração eu sabia que era errado. Brahmananda
Maharaja falou com Srila Prabhupada sobre meu pedido.
Mais tarde, Srila
Prabhupada me chamou para seu quarto. Entrei nervoso e prestei-lhe reverências.
Ele estava sentado atrás de sua mesa. Eu estava muito envergonhado, cabisbaixo,
incapaz de olhar diretamente em seus olhos. Ele disse: "Então, você não
está se sentindo bem?" Respondi: "Não, Srila Prabhupada. Tenho me sentido
mal faz um bom tempo." Ele continuou: "Você quer voltar para Los
Angeles e recuperar sua saúde." Respondi, timidamente: "Sim, Srila
Prabhupada. Se você achar que não tem problema." Com sua mais doce voz,
ele disse: "Sim, é claro. Você me manteve vivo mês passado. Se não fosse
por você eu não estaria aqui agora. Como posso não querer que você fique
saudável? Você tem feito tantas coisas. Você precisa se cuidar. Não tem
problema em conseguir alguém. Tem tantas pessoas aqui na Índia. Qualquer um
pode fazer seu serviço."
Eu não podia
acreditar o que estava ouvindo. Sua humildade era sem limites. Eu prestei
reverências e sai de seu quarto, muito emocionado. Eu estava no topo do mundo.
Ouvir Srila Prabhupada dizer que eu era responsável por salvar sua vida me
encheu de êxtase. Sabia que ele estava constantemente sendo protegido pelo
Senhor Krishna, mas, mesmo assim, reconhecer meus serviços assim foi
inegavelmente doce. Simultaneamente, eu me senti mais baixo que uma lombriga
intestinal. Como poderia deixar o serviço de uma personalidade tão magnânima?
Minha mente ficou girando o resto do dia.
Aquela noite,
acompanhei Srila Prabhupada ao pátio do
templo, onde ele sentou de baixo da árvore de tamal. Sentado aos seus pés de
lótus, comecei a pensar como era louco. Não havia melhor lugar para ficar em
todo universo de que aos seus dourados pés de lótus. Finalmente, eu disse:
"Srila Prabhupada, não posso ir embora. Não é a maneira certa de agir. Eu
devo apenas ficar aqui e depender de Krishna." Srila Prabhupada sorriu largamente
e disse: "Sim, isso é muito bom. Por ser sincero, Krishna lhe dará todas
as facilidades para realizar seu serviço." Eu senti um enorme alívio ao
saber que estava fazendo a coisa certa.
Fiquei na Índia
com Srila Prabhupada durante mais três meses antes de largar seu serviço
pessoal pela segunda vez.
Srila Prabhupada,
todo dia que sento aqui e escrevo, fico triste ao pensar em todas as
oportunidades que perdi ao não ter sua associação pessoal, devido a minha falta
de Consciência de Krishna. Hoje, estou feliz em saber que, não importa o
serviço que tenha a boa fortuna de realizar, você está transcendentalmente
satisfeito, portanto que meu desejo seja sincero.
Srila Prabhupada Uvaca 98
Fevereiro de 1973;
Auckland, Nova Zelândia:
ISKCON Auckland
Desde que me
tornei o servo pessoal de Srila Prabhupada, sempre teve um nome que nunca
trouxe um sorriso a Sua Divina Graça. Esse nome era Sr.Nair. Ele era o Kamsa da
Iskcon. Ele cometeu o engano de vender um terreno em Juhu para Srila Prabhupada
com uma pequena entrada. A jogada do Sr. Nair baseava-se na hipótese que Srila
Prabhupada não seria capaz de completar os pagamentos e, assim, perderia a
posse. Aí então, o Sr.Nair venderia o terreno de novo, como já tinha feito
diversas vezes no passado. Porém, o Sr. Nair não sabia com quem estava lidando.
Tão logo Srila Prabhupada conseguiu o direito de posse, ele fez seus discípulos
colocarem um templo lá, instalou as deidades, e iniciou-se a adoração completa
às deidades.
É uma longa
história que será o tema de um livro de Giriraja Maharaja. Eu não conheço a
história do projeto de Juhu. Todos estavam prontos para ceder as artimanhas do
Sr. Nair, exceto Sua Divina Graça. Srila Prabhupada passou muitos dias
intensamente cantando japa e andando para um lado e para o outro em seus
quartos ao redor do mundo. Sua determinação ímpar era de adquirir esse terreno
para as Deidades. Ele trabalhou muito para manter seus discípulos inspirados o
suficiente para continuar lutando e não diminuir os esforços de aquisição.
Alguns até mesmo questionavam a razão pela qual Srila Prabhupada estava tão
apegado aquele terreno, a ponto de serem ofensivos.
Tudo ficou muito
claro numa linda manhã, durante a massagem matinal. Eu me lembro como se
tivesse acontecido ontem. Eu estava sentado no chão, atrás de Srila Prabhupada,
massageando vigorosamente suas costas. Tusta Krsna e Siddha Swarupa Maharajas
estavam no quarto conosco. Tusta Krsna Maharaja foi atender ao telefone. Em
seguida me disse para ir atender ao telefone. Falei brevemente no telefone e
voltei correndo para o quarto, com a seguinte mensagem: "Srila Prabhupada,
era Bali Mardana no telefone. Ele ligou para lhe contar que o Sr. Nair
morreu." Imediatamente Srila Prabhupada juntou suas mãos em prece e, com
um brilhante sorriso, falou:"Oh, obrigado, Krsna!"
Confuso, sentei-me
atrás de Sua Divina Graça para massagear suas costas. Eu estava surpreso com a
felicidade de Srila Prabhupada, pensando que, afinal, alguém tinha morrido.
Normalmente isso era uma ocasião para se lamentar e eu esperava uma reação
diferente de Srila Prabhupada. Entendi que nada sabia sobre vida espiritual ou
o devoto puro. Sua Divina Graça continuou: "Eu rezei para que Krsna o
matasse. Ele nos causou muitas dificuldades. Eu rezava para que Krsna fizesse
algo com esse demônio." Então ele citou uma sloka em sânscrito do Srimad
Bhagavatam. Em seguida, a traduzindo para o inglês, disse: "Prahlada
Maharaja disse: ‘Até o sadhu fica satisfeito quando uma cobra ou escorpião é
morto.’ O Sr. Nair era assim como uma serpente, portanto isso é muito
bom."
Ele leu minha
mente e imediatamente corrigiu minhas idéias malucas. Senti um grande alívio.
Agora, com sentimento apropriado, eu perguntei: "Srila Prabhupada, Krsna o
matou? Isso significa que ele obteve a liberação?" Srila Prabhupada riu da
minha pergunta tola e disse: "Não! Krsna não o matou pessoalmente. Isso só
se aplica quando Krsna o mata pessoalmente. Ele não era um demônio tão grande.
Krsna não veio pessoalmente para matá-lo."
Continuei a
massageá-lo e Srila Prabhupada continuou a explicar seu apego pelo projeto,
dizendo: "As Deidades foram instaladas na propriedade. O Sr. Nair estava
cometendo uma grande ofensa a Krsna, que eu não podia tolerar. Ele estava
insultando Krsna. Krsna estava lá e ele tentou expulsar Krsna do terreno. Nós
temos dinheiro. Podíamos comprar propriedades em qualquer lugar, mas Krsna
estava lá em Juhu.
Portanto , estava determinado a consegui-lo para o
Senhor." Depois de alguns minutos, Sua Divina Graça disse: "Eu me
lembro da última vez que veio me visitar em Bombaim. Eu já sabia
que Krsna matá-lo-ia. Eu reparei que ele estava mancando. Normalmente ele era
um homem muito robusto, muito forte. Ele não estava doente, mas, em sua última
visita, estava mancando. Foi então que soube que Krsna matá-lo-ia. De fato,
Krsna o matou."
Srila Prabhupada,
sua determinação em servir o Supremo Senhor é transcendental. Fica óbvio porque
você foi escolhido pelo Senhor Caintanya para distribuir Suas glórias em todas
as cidades e vilas. Você é inteiramente qualificado para ser adorado por todas
entidades vivas neste planeta durante os próximos dez mil anos. Eu pude ver
como você estava fixo em sua determinação ao longo de todas as enormes
dificuldades envolvendo o projeto de Juhu. Você é inteiramente rendido a Krsna.
Por favor, abençoe-me com a determinação de me render inteiramente aos seus pés
de lótus.
Srila Prabhupada Uvaca 99
Julho de 1971;
Nova Iorque; NY EUA
ISKCON Brooklyn
Cheguei no Templo
de Nova Iorque, vindo de Nova Vrindavan, com Kirtananda Maharaja e alguns outros
bhaktas para receber minha iniciação. Já mencionei meu primeiro contato com
Srila Prabhupada, acidentalmente caindo em seu Vyasasana. Meu
primeiro encontro formal foi no dia que Sua Divina Graça me deu iniciação de
Hare Nama. Haviam dez bhaktas sendo iniciados diariamente enquanto ele ficou no
Templo de Brooklyn.
Eu me lembro da
cerimônia de iniciação vivamente, a partir do momento que o secretário de Srila
Prabhupada chamou, "Bhakta Vin." Com dificuldade atravessei a lotada
sala de templo até chegar ao Vyasasana de Srila Prabhupada e, muito nervoso,
prestei minhas reverências. Srila Prabhupada perguntou: "Então, você
conhece os princípios regulativos?" De alguma forma, consegui citá-los.
Então ele disse: "E quantas voltas você vai cantar em suas contas?"
"Dezesseis," eu disse enfaticamente. Então seu nome é Srutakirti.
Isso é um nome de Krsna, que significa ‘aquele cujas atividades são
mundialmente famosas’". Todos os devotos da sala berraram,
"Jaya!" Srila Prabhupada continuou, "E seu nome é Srutakirti
dasa." Quando ele disse isso ele colocou enorme ênfase no ‘dasa’.
Eu prestei minhas
reverências e consegui voltar ao meu lugar na sala do templo. Quando sentei,
alguém me perguntou que nome tinha recebido. Eu disse: "Não sei."
Felizmente nós tínhamos a opção de rever nossos nomes colocados numa lista
pregada na porta de Srila Prabhupada.
Novembro de 1973;
Deli, Índia, ISKCON Deli
Srila Prabhupada
estava palestrando aqui todas as noites no programa de pandal, perante a
presença de milhares de habitantes. Depois do programa, Srila Prabhupada,
voltava aos seus aposentos, protegido por seus discípulos. Em volta de Srila
Prabhupada, alguns discípulos sannyasis usavam suas dandas para proteger Sua
Divina Graça, mantendo afastados todos aqueles admiradores que esperavam tocar
seus pés de lótus. Certa noite quando entramos em seu quarto ele sorriu e
disse: "Lembro-me de quando era jovem. Eu via Mahatma Gandhi. Ele tinha
muitas pessoas a sua volta, protegendo-o dos milhares de admiradores. Eu
pensava: ‘Algum dia, eu quero ter isso.’ E agora eu tenho."
Srila Prabhupada,
já se passaram vinte e cinco anos desde que você misericordiosamente iniciou
esse patife desqualificado. Eu tenho passado a maior parte desse tempo em ilusão. Eu quero
aproveitar a oportunidade de seu centenário para seguir suas ordens. Suas
primeiras instruções para mim foram de cantar dezesseis voltas, seguir os
quatro princípios regulativos e me
tornar servo daquele cujas atividades são mundialmente famosas. Não é possível
para eu servir Krsna diretamente. Rezo para que você seja bondoso comigo e me
permita servir seus pés de lótus. Suas atividades são mundialmente famosas.
Rezo para passar vida após vida elogiando suas glórias mundo afora. Você é o
glorioso servo do Senhor Caitanya porque você satisfez os Seus desejos e
aqueles dos acaryas anteriores. Por favor, me proteja para que não me desvie de suas instruções. Quero que
você resida em meu coração para sempre, para que possa sempre degustar a doçura
de sua separação. É uma emoção muito sublime e só está disponível para seus
fieis seguidores.
Srila Prabhupada Uvaca 100
Cinco de abril de 1973;
Vôo da Pan
American; Londres - Nova Iorque
Uma vez que Srila
Prabhupada era transcendental e completamente livre para fazer o que bem
quisesse, voar com ele era uma experiência emocionante. Você nunca sabia o que
esperar. Hoje não foi diferente.
Srila Prabhupada
estava sentado ao lado da janela, na parte traseira do avião. Shyamasundar e eu
estávamos sentados nas duas poltronas ao lado. Como de costume nesses vôos
transcontinentais as aeromoças freqüentemente oferecem algo para beber para os
passageiros, para não sofrerem os efeitos desidratantes do ar reciclado. Estava
agora então uma aeromoça descendo o corredor com uma bandeja de bebidas em copos
de plástico transparentes, oferecendo-as aos passageiros.
Ao se aproximar de
nossos assentos, Srila Prabhupada perguntou: "O que é isso?"
Respondi: "Oh. Isso é 7-Up, Srila Prabhupada. Você quer?" Ele disse:
"Sim. Deixe-me experimentar." Naturalmente, imediatamente pedi três copos para nós todos. Shyamasundar e eu
esperamos Srila Prabhupada tomar o primeiro gole. Queríamos ter certeza que
7-Up seria prasadam. Observamos atenciosamente enquanto ele colocava o copo em
sua boca de lótus. Ele bebeu um pouco, colocou o copo em sua mesa, e disse:
"Ahh, isso é muito refrescante." Estando todos com muita sede,
bebemos tudo em poucos minutos.
Durante o vôo
tomamos 7-Up umas três ou quatro vezes. Cada vez que Srila Prabhupada bebia um
pouco ele dizia: "Ahh, muito refrescante. Isso é muito bom." Em uma
das vezes, a aeromoça deixou a lata na mesa, junto com os copos cheio de gelo.
Srila Prabhupada pegou-a e perguntou: "Qual são os ingredientes?" Ele
começou a ler: "Água, açúcar, ácido cítrico, óleo de limão e lima. Oh!
Está bem. Isso é muito bom. Todos ingredientes naturais."
Srila Prabhupada
era maravilhoso. Parecia que estava fazendo um anúncio do refrigerante. Ele
estava muito entusiástico a respeito de sua descoberta. Animado, eu o vi
aproveitar cada momento. Depois de chegar no templo um dos devotos me perguntou
se havia algo que Srila Prabhupada quisesse. Eu não conseguia pensar em nada. Isso era um
problema comigo. Certa vez, Srila Prabhupada disse, "Srutakirti não tem
imaginação." É a pura verdade. Eu não conseguia imaginar o que o devoto
poderia conseguir para meu amado Mestre Espiritual. O devoto estava determinado
a oferecer alguma coisa. Finalmente eu disse: "Bem, ele gosta de 7-Up.
Você poderia conseguir isso para ele." Eu o convenci de que isso era uma
boa idéia. Mais tarde aquele dia o devoto trouxe uma caixa de 7-Up e eu a
guardei na cozinha de Srila Prabhupada.
Devo confessar que
durante os primeiros dias eu hesitei, e não ofereci nem uma a Srila Prabhupada.
Eu comecei a bebe-las porque estava com medo de oferece-las. Não conseguia
imaginar o momento apropriado. Lembre-se, não tenho imaginação. Finalmente,
surgiu uma ocasião.
Certa noite um
presidente de templo chegou de longe para ver Srila Prabhupada. Quando Sua
Divina Graça estava em seu quarto conversando com esse discípulo, Srila
Prabhupada tocou seu sino. Fui em direção ao quarto de Srila Prabhupada, quando
o devoto me parou no corredor e disse: "Srila Prabhupada quer água."
Eu disse: "Ok," mas continuei a andar em direção ao quarto de Guru
Maharaja. O presidente do templo, já nervoso, repetiu em voz alta: "Srila
Prabhupada quer água!" Irritado, eu tentei manter minha compostura,
respondendo: "Espere, por favor, eu quero perguntar algo a Sua Divina
Graça."
Aparentemente esse
discípulo estava tendo uma conversa importante em particular com Srila
Prabhupada e eu estava interrompendo-o. Faltando sensibilidade e imaginação eu
não entendi suas necessidades naquele instante, portanto finalmente cheguei ao
quarto de Srila Prabhupada, prestei reverências, e disse: "Srila
Prabhupada, você gostaria de um pouco de 7-Up?" "Ah, sim!", ele
respondeu com um sorriso, "Me traga um pouco de 7-Up." Eu corri de
volta para cozinha e enchi uma taça de prata com 7-Up e gelo. Correndo de volta, coloquei a taça em sua mesa e prestei
reverências. Srila Prabhupada se inclinou em sua asana e começou a beber
lentamente. Quando baixou a taça ele disse: "Isso é muito
refrescante."
Ele se levantou e
começou a andar em volta de seu quarto, degustando sua 7-Up. Fiquei no quarto,
estaticamente observando meu mestre espiritual aproveitando a bebida gelada.
Meu irmão espiritual ficou surpreso com aquilo tudo, ansioso para que eu fosse
embora. Depois de Srila Prabhupada ter terminado seu 7-Up, peguei a taça vazia,
prestei reverências, e alegremente me retirei, sentindo que tinha satisfeito
meu Guru Maharaja com esse simples ato, apesar de ter inadvertidamente
incomodado meu irmão espiritual.
Srila Prabhupada,
sou abençoado por sua misericórdia sem causa. Obrigado pela oportunidade de testemunhar
seus passatempos divertidos. Observando-o em sua lila confidencial me permitiu
ver sua associação com o Senhor Supremo. Sua amável natureza quase que infantil
ficava fortemente contrastada ao seu perfil de acarya como de um leão. Para dar
continuidade ao movimento do Senhor Caitanya você fazia o necessário com força
e determinação. Como um devoto puro do Senhor, você não tinha qualquer apego à
fama e adoração da qual constantemente era alvo. É por isso que você a merece.
Srila Prabhupada Uvaca 101
Abril de 1973;
Nova Iorque, NY, EUA;
ISKCON, Brooklyn
Nessa época, Bali
Mardan estava discutindo a hipótese de conseguir um novo lugar para o templo na
cidade de Nova Iorque e convidou Srila Prabhupada para ver as possíveis
localidades. O sol estava brilhando forte quando Bali Mardan, Kirtiraja, e eu
entramos num pequeno Toyota juntos com Srila Prabhupada. Bali Mardan dirigiu
durante um bom tempo, parando finalmente em frente a uma linda catedral.
Bali Mardan
explicou a Srila Prabhupada: "Esse é o local que podíamos usar para o
templo, Srila Prabhupada. Não podemos entrar porque talvez não seja uma boa
idéia, eles saberem que somos Hare Krishnas. Podemos vê-la daqui." Saímos
todos do carro e ficamos olhando a imensa catedral do outro lado da rua. Era um
prédio muito impressionante e bonito. Felizmente as portas estavam abertas e,
assim, podíamos ver o interior. Srila Prabhupada estava muito impressionado com
o local. Vendo as enormes colunas de mármore ele disse: "Isso faria um
belo templo da ISKCON. É lindo."
Em pé na calçada,
Srila Prabhupada se virou e viu um pequeno mercado italiano. Ele perguntou a
Kirtiraja: "Você acha que eles têm 7-Up?" Com um olhar muito
surpreso, Kirtiraja prabhu disse: "Bem, eu posso ver se eles têm, Srila
Prabhupada. Você quer uma?" Srila Prabhupada respondeu: "Sim, eu
gostaria de uma 7-Up." Kirtiraja entrou na loja, voltando rapidamente com
uma lata de 7-Up. Srila Prabhupada ficou lá, com uma aparência de realeza,
bengala na mão, e saco de contas pendurado no pescoço, parecendo especialmente
transcendental.
Kirtiraj abriu a
lata e Srila Prabhupada a pegou com sua mão direita. Sua bengala estava em sua
mão esquerda, plantada firmemente no concreto da calçada. Ele levantou a lata
aos seus lábios de lótus, bebendo o 7-Up. Eu estava em êxtase, assistindo mais
esse episódio da saga do 7-Up. Não tínhamos como conter nossos sorrisos ao ver
nosso Guru Maharaja em sua simplicidade aristocrática. Ele bebeu metade da lata
e disse: "Bem, agora podemos ir embora." Depois de entrarmos no
carro, Srila Prabhupada passou a lata para Bali Mardan e disse: "Bebi o
suficiente. Você pode beber." Nós três estávamos em êxtase, passando o
maha de um para o outro, até acabarmos a lata de refrigerante. A volta ao
templo foi animada e relaxada.
Tentei não
espalhar a notícia, por entender que criaria um frenesi de 7-Up. Uma semana
depois, quando nós chegamos em
Los Angeles , era aparente que a notícia já tinha chegado na
comunidade de Nova Dwarka. Karandhara disse a Srila Prabhupada que 7-Up poderia
ajudar a aliviar problemas gastrointestinais, e, assim, Srila Prabhupada
ocasionalmente bebia um pouco.
Certo dia ele
disse: "Isso não é bom. Nós não devíamos estar bebendo tanto 7-Up. Eu o
tomo para minha digestão. Caso contrário, beber 7-Up não é necessário."
Depois, quando
voltamos para Índia, muitos devotos estavam avidamente bebendo refrigerantes,
tendo ouvido que Srila Prabhupada tolerava esse tipo de bebida. Certo dia, ao
sair de seus aposentos em Juhu, Srila Prabhupada viu ao longo da escada dezenas
de garrafas de 7-Up e Limca. Desaprovando o lixo juta (contaminado) ele disse:
"O que é isso? Isso não deve ser feito! Isso não é bom! Não pode ser
feito!" Ele continuou a andar para o templo e não mais mencionou o caso.
Srila Prabhupada,
nunca o vi fazer nada para sua gratificação dos sentidos. Acredito que você só
realizou esse passatempo único para aumentar o amor por você daqueles discípulos
que eram afortunados o suficiente para estar por perto. Você é sempre
completamente renunciado e totalmente satisfeito ao servir o Supremo Senhor. A
imagem de você naquela calçada está eternamente gravada em meu coração.
Obrigado por nos ensinar a usar tudo em serviço de Krsna.
Srila Prabhupada Uvaca 102
Janeiro de 1973;
Los Angeles, CA., EUA;
ISKCON Nova Dwarka
Srila Prabhupada
me avisou para ficar longe da cozinha de Nova Dwarka uns dezesseis meses atrás.
Agora suas palavras parecem uma profecia. Nanda Kumar demonstrou o que poderia
acontecer se associando com devotas enquanto trabalhava na cozinha ao se casar
e deixar o serviço pessoal de Srila Prabhupada. Infelizmente não aprendi com
sua experiência e agora era minha vez de ser tomado por desejo.
Em setembro de
1972, Srila Prabhupada me instruiu a preparar suas refeições nos meus aposentos
e ficar longe da cozinha do templo. Devido a ilusão, gradualmente ignorei essa
instrução. A história se repete e agora estou em frente a Srila Prabhupada pedindo
sua permissão para ficar aqui em
Nova Dwarka e me casar. Todos meus irmãos espirituais mais
velhos tentaram me convencer a ficar com Srila Prabhupada, mas já era tarde
para mim. Eles também tentaram me convencer a me casar com uma outra devota,
mas minha mente estava fixa em conseguir uma garota em particular.
Com a mesma
facilidade com a qual me tornei servo pessoal de Srila Prabhupada, agora para
servir meus sentidos, eu perdia meu tesouro mais valioso. Em poucos dias
abandonei o serviço pessoal de meu Guru Maharaja. Srila Prabhupada me conhecia
completamente. Ele não tentou me convencer a ficar com ele ou impedir meu
casamento.
Tendo passado
alguns dias, meu eternamente misericordioso mestre espiritual me chamou para
entrar em seu quarto. Queimando de culpa e vergonha, lentamente fui em direção
ao quarto de Sua Divina Graça. Meus sentidos estavam em parafuso. A minha
parte inteligente sabia que estava colocando gratificação pessoal dos sentidos
acima do serviço íntimo a meu mestre espiritual, mas minha parte luxuriosa
estava perdidamente descontrolada. O tumulto estava me massacrando. Quando
cheguei aos pés de lótus de Srila Prabhupada, prestei-lhe humildes reverências,
um tanto desajeitado.
Ele carinhosamente
me poupou mais vergonha, dizendo: "Traga minha bolsa branca." Essa
bolsa branca viajava com Srila Prabhupada ao redor do mundo. Nela mantinha
todos documentos importantes, documentos bancários, etc. Sai do quarto, abri
seu pequeno baú de metal com tranca e retirei a bolsa.
Quando voltei, coloquei
a bolsa branca em sua mesa e me sentei em sua frente. Senti-me um pouco perdido
e deslocado, não o tendo servido já alguns dias, era um intruso, como se não
pertencesse a esse lugar sagrado, esse núcleo da espiritualidade. Não tinha a
menor idéia do que estava se passando. Sabia que estava comentando um enorme
erro ao deixa-lo, mas não conseguia me impedir.
Srila Prabhupada
abriu a bolsa e dela tirou dois anéis. Ele passou-os para mim e disse:
"Isso é para você e sua esposa." Dizer que fiquei chocado é pouco. Eu
me senti completamente caído, deixando meu Mestre Espiritual para satisfazer
meus desejos, e aqui estava ele me dando presentes, expressando sua gratidão
pelo serviço que tinha prestado. Não era de se estranhar em se tratar de meu
amado Gurudeva. Era algo até normal. Aceitei os presentes, pois já fazia tempo
que tinha aprendido que era melhor aceitar sua misericórdia quando Srila
Prabhupada a dava.
Alguns dias depois
ele me chamou novamente. Entrei em seu quarto e prestei –lhe reverências. Com
um sorriso, ele disse: "Então Kirtananda Maharaja quer que você volte para
Nova Vrindaban com sua nova esposa." Respondi: "Citsukananda prabhu
pediu que eu fosse para o templo em Caracas para ajudá-lo na adoração da
Deidade." Ele disse: "Kirtananda está ansioso para vê-lo de volta em Nova Vrindaban. "
Eu respondi: "Srila Prabhupada, realmente não tenho interesse algum em
voltar." Ele sorriu e acenou com a cabeça, compreendendo minha
determinação. Prestei-lhe reverências e sai do quarto. Ele mandou uma carta a
Kirtananda Maharaja no dia sete de janeiro de 1974, que incluía o seguinte
trecho:
"Em referência a
Srutakirti, propus que ele voltasse a Nova Vrindaban, mas ele disse que não
gosta de trabalho de fazenda e prefere então ir para Caracas para realizar adoração
a Deidade no templo. Então eu já falei com ele, mas falarei de novo, que você
gostaria que ele fosse a Nova Vrindaban, e como ele deveria trabalhar bem aí
com as vacas, sob sua guia."
Srila Prabhupada
não me pediu novamente; sabendo como eu era teimoso, ele não me deu outra
oportunidade para cometer mais uma ofensa a seus pés de lótus. Não houve longos
sermões. Ele nunca tentou me manipular de qualquer forma. Ele nunca me fez
sentir culpado e demonstrou compaixão e gratidão pelo serviço que tinha realizado.
A incrível misericórdia de Srila Prabhupada não pode ser igualada.
Srila Prabhupada,
se um nível de pureza da pessoa é medido por sua capacidade de aceitar todas
situações como sendo a misericórdia de Krsna, então é certo que você é o devoto
mais puro do Senhor. Você aceitou a inconveniência que criei com graça e
carinho. Por favor, perdoe-me por ter-lhe largado. Obrigado por nunca me deixar
e de sempre permitir com que voltasse aos seus sempre misericordiosos e doces
pés de lótus.
Seu servo desastrado,
Srutakirti dasa.
Srila Prabhupada Uvaca 103
Agosto de 1973;
Paris, França;
ISKCON Paris
Quando Srila
Prabhupada chegou no templo de Paris, os devotos ansiosamente o aguardavam na
varanda que ficava bem acima da entrada principal. Como semideuses, eles
jogavam pétalas de flores sobre Sua Divina Graça. Srila Prabhupada respondeu
com um lindo sorriso, retribuindo o amor e carinho que seus discípulos exibiam.
Um dos pontos
altos do tour de Srila Prabhupada pela França foi a instalação das Deidades de
Radha Krsna. Os devotos estavam muito excitados pelo fato de Srila Prabhupada
presidir as festividades. Sua Divina Graça observou atentamente enquanto seu
editor de sânscrito, Pradyumna prabhu, preparava o sacrifício de fogo. Quando
Pradyumna começou, Srila Prabhupada ocasionalmente chamava sua atenção,
dizendo: "Faça assim, não assim." Os devotos estavam em êxtase
assistindo Srila Prabhupada atentamente orquestrando cada detalhe da cerimônia
como um maestro transcendental. O cuidado que Srila Prabhupada tinha com os
detalhes era impecável. Ele queria que tudo fosse feito da melhor forma
possível, de primeira classe, afinal tratava-se da instalação de Radha Krsna.
Tomado por amor, Srila Prabhupada decidiu finalmente fazer tudo por conta
própria.
Ele desceu do
Vyasasana e assumiu o yajna de fogo. Todos os discípulos presentes ficaram
cheios de alegria, ao ver seu Mestre Espiritual
preparar talentosamente a arena para o auspicioso evento. Com Srila
Prabhupada se encarregando das atividades, tudo correu perfeitamente bem. As
Deidades foram banhadas com Panchamrita (cinco líquidos diferentes) e depois
com água, secadas e envoltas em lindas toalhas novas. Depois Sri Sri Radha
Krsna foram trazidos para a sala da Deidade e vestidas de forma opulenta. Srila
Prabhupada pessoalmente ofereceu o primeiro Aratrik às Deidades. Com extremo
cuidado ele ofereceu cada um dos itens a Sri Sri Radha Krsna, enquanto os
devotos extaticamente cantavam os Santos Nomes do Senhor e dançavam. Os olhos
dos devotos acompanhavam cada movimento gracioso de Srila Prabhupada enquanto
que ele extáticamente realizava o aratrik. Seus olhos, brilhando com ungüento
de amor ao Supremo, estavam fixos na suas Deidades durante toda oferenda.
Três meses mais
tarde em seu quarto em Vrindaban, Srila Prabhupada recebeu a mais recente
edição da revista ‘De Volta ao Supremo’. Srila Prabhupada ficava sempre animado
ao receber novas edições do ‘De Volta ao Supremo’. Ele entusiasticamente olhou
cada página, apreciando as enormes fotos coloridas de suas Deidades de Radha
Krsna, recentemente instaladas no Yatra de Paris. Seu olhar cuidadoso parou em
uma foto em particular, que ele ficou examinando com especial carinho. A foto
captou o momento especial em
que Sua Divina Graça estava realizando o aratrik. Seu braço
estava graciosamente levantado sobre cabeça, oferecendo o abanador de camara
(rabo de Yak) as Deidades. Srila Prabhupada olhou para a foto com um olhar
meditativo, como se tivesse entrado nela por uma fração de segundo. Em seguida,
ele virou para nós com os olhos brilhando e um largo sorriso e inocentemente
revelou: "Veja só! Krsna está olhando para mim e eu estou olhando para
Krsna!"
Srila Prabhupada,
eu não tenho a menor idéia de como seria olhar para o Supremo Senhor e ter o
seu olhar de volta para mim. Fui afortunado de ter você misericordiosamente
olhar para essa alma desprezível e rezo para vê-lo de novo, ao nunca perder de
vista suas instruções, e, assim, seguir seus passos.
Srila Prabhupada Uvaca 104
Vinte e quatro de
julho de 1974; Moundsville, WV, EUA;
ISKCON, Nova
Vrindaban
No início de
Janeiro, eu parti de Nova Dwarka com minha esposa e fui para Caracas,
Venezuela. Foi uma experiência incrível para mim. Minha esposa e eu éramos os
únicos Brahmanas iniciados no templo e cuidávamos da adoração das Deidades. Eu
dei muitas aulas, que quase sempre acabavam em aulas sobre o néctar de
Prabhupada. Como não falava espanhol e a maioria dos devotos lá não falavam
inglês e as aulas tinham que ser traduzidas. Depois de alguns meses em Caracas,
a administração do templo mudou e decidi ir embora. Voltei para Philadelphia e
morei em casa durante alguns meses, enquanto trabalhava para reembolsar à minha
mãe o preço das passagens aéreas. Enquanto lá, recebi uma ligação de Kuladri
prabhu de Nova Vrindaban, me pedindo para voltar lá junto com minha esposa.
Finalmente concordei e cheguei em Nova Vrindaban no início de julho.
Minha vida de
grihastha em Nova
Vrindaban foi diferente de minha vida de brahmacari lá. Tinha
meu próprio quarto e não estava fazendo tanto serviço quanto fazia dois anos
atrás. Ainda assim, continuava não gostando da vida de fazenda, uma vez que
tinha viajado ao redor do mundo, prestando serviço devocional em templos de
todos continentes.
Felizmente,
chegaram boas notícias. Incrivelmente, Srila Prabhupada estava vindo passar a
semana de Janmastami, dezoito a vinte e quatro de julho. Quando deixei Srila
Prabhupada em dezembro de 1973, Satsvarupa Maharaja se tornou o servo pessoal
de Srila Prabhupada. Satswarup Maharaja pessoalmente serviu Srila Prabhupada
durante sete meses e meio, até Sua Divina Graça sair de Nova Dwarka em quinze
de julho de 1974. Com isso, Srila Prabhupada chegou em Nova Vrindaban sem
um servo pessoal. Brahmananda Maharaja era seu secretário. Entusiasticamente
aceitei a oportunidade de cozinhar para Srila Prabhupada e massageá-lo enquanto
ele ficou em
Nova Vrindaban. Minha vida novamente tinha sentido.
Um dia antes de
Srila Prabhupada partir de Nova Vrindaban, Brahmananda Maharaja perguntou-me se
não queria reassumir minhas funções como servo de Srila Prabhupada. O problema
era que Sua Divina Graça estava voltando para Índia. Era uma escolha difícil. O
ponto positivo era servir Srila Prabhupada. O ponto negativo era morar na Índia
durante os próximos seis meses, onde sempre tinha problemas de saúde. A outra
escolha era ficar com minha esposa, grávida de seis meses. Eu ficaria
trabalhando na fazenda de Nova Vrindaban. Foi uma escolha agonizante, mas
imediatamente decidir ir com Srila Prabhupada. Brahmananda Maharaja perguntou a
Srila Prabhupada se ele queria que eu fosse junto como seu servo pessoal. Srila
Prabhupada respondeu: "Sim, tudo bem."
Srila Prabhupada
nunca me perguntou o que tinha feito durante os últimos sete meses. Ele nunca
me perguntou qualquer coisa a respeito de minha esposa. Ele não me disse que eu
tinha finalmente tomado juízo. Ele não me disse que sentiu saudades de mim ou
que foi difícil sem minha ajuda. Ele disse muito ao não me dizer nada.
A opulência da
renúncia e austeridade de Srila Prabhupada era vista por sua capacidade de
aceitar tudo aquilo que Krsna providenciava ou não. Se Sua Divina Graça tinha
um servo ou não, não fazia diferença. Ele não pedia nada para si mesmo. Eu já
ouvi Srila Prabhupada dizer que uma pessoa apegada finge não ser apegada, mas
uma pessoa desapegada age com consideração e de uma forma amável. Eu vi Srila
Prabhupada demonstrar isso na sua vida diariamente. Srila Prabhupada cuidava de
todos nós muito carinhosamente, apesar de ser completamente desapegado.
Recomecei minhas
tarefas como servo pessoal de Srila Prabhupada como se nunca tivesse parado.
Ele é meu mestre e eu sou seu servo. É uma relação eternamente doce. Consegui
entender que Srila Prabhupada me permitiu realizar serviço devocional pela sua
misericórdia sem causa. Minha única qualificação era o desejo de servir. Rezo
para continuar lhe servindo como se nunca tivesse ido embora, apesar de ser
sempre caído. Srila Prabhupada, você é uma personalidade que ama
incondicionalmente. É por isso que o Senhor Caitanya o escolheu para distribuir
o Santo Nome mundo afora, sem consideração por casta, raça, cor ou sexo. Você é
o avatar mais liberal de todos.
Srila Prabhupada Uvaca 105
Dezenove a vinte e
quatro de fevereiro de 1973; Auckland, Nova Zelândia
ISKCON Auckland
A maioria dos
devotos sabe que Siddha Swarupa tinha um relacionamento distinto e único com a
Sociedade Internacional para Consciência de Krishna, ao ser o único guru que se
rendeu a Srila Prabhupada, junto com um número razoável de discípulos.
Naturalmente, muitos devotos da ISKCON tinham dificuldades em aceitar a
distinção reservada para Siddha Swarupa, apesar de suas aparentes
qualificações. Conseqüentemente, muitos membros da ISKCON não se davam muito
bem com Siddha e, aparentemente, os sentimentos eram mútuos.
Porém, Siddha teve
bastante associação com Srila Prabhupada e Sua Divina Graça o estimulava para
continuar levando o movimento para frente. Srila Prabhupada disse a Siddha:
"Trabalhe sob o comando do GBC, mas se não conseguir fazer isso, então
trabalhe diretamente sob meu comando." Era claro para mim que Siddha amava
Srila Prabhupada muito e Sua Divina Graça retribuía .
Certa manhã em
Auckland, Siddha presenteou Srila Prabhupada com uma grande garrafa de alumínio
com óleo de sândalo de Mysore, pouco antes de Srila Prabhupada aceitar sua
massagem. Desejando o prazer de Sua Divina Graça, Siddha disse: "Por
favor, use esse óleo de sândalo para massagear todo seu corpo." Srila
Prabhupada disse: "Não, óleo de sândalo é apenas para esfriar a cabeça e
óleo de mostarda é usado no resto do corpo." Não entendendo a significado
ayurvédico, Siddha insistiu generosamente: "Por favor, Srila Prabhupada,
só desta vez!" Siddha queria que o melhor óleo possível fosse usado para
massagear Srila Prabhupada. Entendendo a determinação de Siddha em agradá-lo,
Srila Prabhupada consentiu relutantemente. Naquele dia, então, usei óleo de
sândalo para massagear todo corpo de Srila Prabhupada, enquanto que Siddha
assistia alegremente.
Como de costume,
após a massagem Srila Prabhupada tomou banho, honrou prasadam e cochilou.
Depois de seu descanso ele me chamou. Corri para seu quarto e prestei-lhe
reverências. Ele olhou para mim com uma cara séria e disse: "Não estou me
sentindo bem. Acho que foi a massagem. O óleo de sândalo esfriou meu corpo
demais."
Fiquei tomado de
decepção por não ter tido o devido cuidado com meu Gurudeva. Sabia que óleo de
mostarda era sempre usado no corpo dourado de Srila Prabhupada, devido às suas
características térmicas. Eu compreendia o efeito positivo que o calor tinha na
saúde de Sua Divina Graça. Geralmente Srila Prabhupada não deixava seus
problemas de saúde interferirem no seu serviço devocional. Ele raramente ficava
de cama quando não estava se sentindo bem, a não ser no caso de um problema que
se prolongasse por semanas. Ele nunca tomou aspirina para dor de cabeça.
Durante um
episódio de doença, as únicas mudanças no dia a dia que via em Srila Prabhupada
eram com respeito à sua dieta. E se Srila Prabhupada não tivesse bem o
suficiente para tomar banho, ele me pedia para massageá-lo sem óleo. Em poucas
ocasiões, quando estava gripado, ele me pedia para colocar um pouco de cânfora
no óleo de mostarda e esquentá-lo um pouco. Ele disse: "Continue aquecendo
o óleo enquanto agüentar tocá-lo."
Era impressionante
como Srila Prabhupada aceitava dificuldades para agradar seus discípulos. Ele
sabia que usar óleo de sândalo lhe causava dificuldades, mas mesmo assim, só
para satisfazer seu discípulo, ele o aceitou. Claramente Srila Prabhupada
sofreu muitas austeridades para satisfazer seu Guru Maharaja, mas ele também
estava disposto a aceitar dificuldades para o prazer de seus devotos. Ele
estava sempre ansioso para nos estimular a avançar em serviço devocional, mesmo
quando nós o colocamos em dificuldades.
Srila Prabhupada,
rezo para que possa compreender suas instruções. Dessa forma poderei lhe servir
de acordo com seus desejos, não minhas vontades. Por favor, perdoe-me por não
lhe proteger. Sabia que não era uma boa idéia usar o óleo de sândalo e deveria
ter explicado isso ao Siddha. Ele teria compreendido, pois seu único desejo era
lhe satisfazer.
Srila Prabhupada Uvaca 106
Outubro de 1974,
Mayapura, Índia;
ISKCON Candrodaya
Mandir
Durante o mês de
outubro (Kartik), Srila Prabhupada abençoou os devotos de Mayapur com sua
associação. Era uma época do ano especialmente agradável na Índia. Srila
Prabhupada e sua comitiva ficaram no Mandir, do lado mais longe da rua, no
segundo andar. Tinha um grande banheiro de cada lado do prédio. Em cada
banheiro tinha quatro chuveiros e quatro vasos sanitários, todos com portas.
Certo dia, ao
entardecer, Srila Prabhupada estava dando um darsana em seu quarto. Eu sempre
limpava o banheiro de Sua Divina Graça depois de Srila Prabhupada ter tomado
seu banho. Todo um banheiro foi reservado para uso exclusivo de Sua Divina
Graça durante sua visita.
Quando passei o
primeiro vaso sanitário, uma enorme cobra de quase dois metros passou em frente
de mim, entrando por baixo da porta. Horrorizado, sai correndo do banheiro o
mais rápido possível, tremendo de medo. Não sabia que tipo de cobra que era,
não quis criar uma grande confusão e interromper o darshana de Srila
Prabhupada. Apesar das minhas intenções, o primeiro devoto com qual dei de cara
foi Bhavananda Maharaja. Com o coração batendo forte, eu disse:
"Bhavananda, Bhavananda, tem uma cobra no banheiro de Prabhupada. Passou
na minha frente e não me pegou por pouco!"
Obviamente, meus
planos de manter a calma e não criar um distúrbio não estava nos planos de
Krishna, e assim Ele envolveu Bhavananda Maharaja no drama. Bhavananda entrou
correndo no quarto de Srila Prabhupada, gesticulando dramaticamente com seus
braços e disse: "OOOHHH! Prabhupada! Tem uma cobra em seu banheiro!
Precisamos de ajuda! Vamos chamar Rasaparayana!" Rasaparayana era o
Ksatriya do templo, grande e forte. "Vamos! Vamos chamar
Rasaparayana!", berrou Bhavananda enquanto saíamos correndo do quarto de
Srila Prabhupada.
Efetivamente
encerramos o tranqüilo darshana. Srila Prabhupada e seus discípulos saíram do
quarto e foram para grande varanda que rodeava o prédio. Alguns devotos foram
até o banheiro para procurar a serpente, outros ficaram na varanda. Srila
Prabhupada ficou cantando sua japa silenciosamente, andando de um lado para o
outro, claramente indiferente.
Bhavananda começou
a especular: "Deve ter sido colocada por alguém da Gaudiya Math, caso
contrário como que um cobra iria parar no segundo andar?" Os outros
concordaram, dizendo que não era possível um cobra aparecer no segundo andar
sem ter sido levada. Alguns teorizaram que era um complô comunista. Como eu era
um visitante ao sagrado Dhama de Mayapur, não conhecia a clima político local.
Conclui que simplesmente aconteceu da cobra estar no banheiro de Srila
Prabhupada.
Rasaparayana
tentava achar a cobra, de faca em
mãos. Ele nos informou: "Elas sempre viajam em pares,
portanto se há uma, a outra estará por perto." Finalmente ele viu parte da
enorme cobra saindo por detrás dos encanamentos de um dos vasos sanitários. Ele
transmitiu a boa notícia aos devotos na varanda. Com grande agitação Bhavananda
e os outros começaram a cantar, "Mata! Mata!" Srila Prabhupada
continuava do lado de fora, tranqüilamente cantando em sua japa. Ele não deu
qualquer instrução a respeito da situação. Rasaparayana partiu a cobra em dois
com sua faca afiada.
Com sólida
determinação ele disse: "Vamos continuar olhando. Tem que ter outra."
Os devotos começaram a realizar que possivelmente as cobras tinhas subido pelo
encanamento. Afinal de contas, não era um complô comunista. Vários ansiosos
minutos se passaram em busca do outro intruso. Rasaparayana finalmente o viu no
encanamento atrás dos vasos. Uma vez detectada, a cobra escapou pelos
encanamentos, para nunca mais ser vista de novo.
Depois que todos
se acalmaram, nós voltamos ao quarto de Srila Prabhupada. Ele disse: "Às
vezes, essas cobras tem a missão de matar uma certa pessoa. Elas não param até
conseguirem. Especialmente no final de suas vidas, às vezes, as cobras adquirem
asas. Elas têm uma pessoa que tem que matar. A cobra vai matar essa pessoa e
depois vai para um canto morrer." Eu me lembro de algumas vezes em
Mayapura, durante as calmas e silenciosas noites, Srila Prabhupada identificava
um som:"Ouça isso. É uma cobra voadora. Fazem um barulho especial."
Todos devotos presentes ficavam quietos durante um tempo, esperando ouvir
mais.Fiquei um pouco assustado, pensando que poderia ser o próximo.
Naquela noite, no
quarto de Srila Prabhupada, eu gentilmente massageava suas pernas. O quarto
estava silencioso e escuro. Ele começou a rir e disse: "Então, que devo
fazer aqui se a cobra vier? Só uma cobra foi morta. Talvez a outra virá me
pegar essa noite." Ele parecia se divertir ao lembrar da ansiedade de
todos durante o episódio. Pude entender que ele não estava nem um pouco
preocupado com a cobra. Incentivei o assunto: "Não sei Srila
Prabhupada." Ele respondeu: "Bem, nós não temos medo de uma picada de
cobra. Nós não nos preocupamos com isso. Tanto faz se vier ou não. Nós
simplesmente cantamos Hare Krishna." Acabei de massagear meu amado mestre
espiritual. Ele dormiu em paz, sua mente destemida fixa no Supremo Senhor. Ao
contrário, fui para meu quarto, preocupado com o paradeiro da outra cobra.
Srila Prabhupada,
você é meu herói. Você é o devoto destemido e puro do Senhor. Certa vez durante
uma caminhada matinal em Mayapura, onde todos estavam discutindo as terríveis
conseqüências de uma guerra nuclear, você disse: "Se uma bomba vier, nós
vamos olhar para o céu e dizer: ‘Aqui vem Krsna.’" Por favor, me abençoe
com uma fé inabalável em você para que não tenha mais medo nesse mundo
material. Quero poder cantar os Santos Nomes enquanto a cobra voadora se
prepara para administrar sua última mordida.
Srila Prabhupada Uvaca 107
Outubro de 1974;
Mayapura, Índia;
ISKCON Mayapura Candrodaya Mandir
A noite chegou e
com ela a escuridão, e meus irmãos espirituais ainda estavam excitados,
discutindo o incidente com a cobra que ocorreu naquele dia. Todos estavam
preocupados com o paradeiro e intenções da cobra que escapou, cujo companheiro
tinha sido executado. Todos já tínhamos ouvido sobre a capacidade das cobras se
vingarem, especialmente quando se tratava do assassino de seu cônjuge.
Finalmente sai do
quarto de Srila Prabhupada e fui aos aposentos dos servos para dormir. Nitai prabhu
e eu colocamos nossos colchões no chão. Estávamos preocupados com a cobra
desaparecida, mas não o suficiente para chegar a perder o sono. Exaustos das
agitações do dia, nós apagamos as luzes, prontos para a escuridão. O quarto não
era muito grande, e com nós dois no chão não sobrava muito espaço. Isso não
impediu que Pradyumna prabhu enfiasse seu colchão entre nós dois. Era sua
opinião que se a cobra estivesse por aí, então ao menos ele estaria mais seguro
protegido por nossos corpos. Cansados demais para reagir, Nitai e eu dormimos
confortavelmente, apesar da multidão. Na manhã seguinte estávamos todos vivos e
ninguém tinha sofrido uma picada de cobra.
Nossas atividades
seguiram inalteradas. Naquela noite fui para o quarto de Srila Prabhupada, para
lhe dar uma massagem. Eu prestei reverências e comecei a gentilmente massagear
seus pés de lótus. A noite em Mayapura era sempre muito silenciosa e tranqüila.
Era um lugar excelente para Srila Prabhupada se recuperar de sua recente
enfermidade em
Vrindaban. Fiquei
sentado lá, intoxicado pelo ambiente, vendo Srila Prabhupada como o centro do
Universo. Estava completamente relaxado, como se eu estivesse recebendo e não
dando a massagem. Não me contive e acabei contando ao meu mestre espiritual a
respeito da noite anterior.
Falei: "Srila
Prabhupada, ontem à noite quando estávamos nos preparando para dormir,
Pradyumna se enfiou entre Nitai e eu para não ser mordido pela cobra."
Srila Prabhupada começou a rir e disse: "Sim, isso é muito bom. De fato,
me lembro de uma história que meu irmão espiritual, Damodara Maharaja, me
contou. Aconteceu numa vila aqui perto. Ele disse que lá tinha uma pequena
criança que tinha sido amaldiçoada por alguém a ser mordida por uma cobra.
Tinham cinco membros da família e, quando dormiam, eles cercavam a criança para
protegê-la de cobras em
potencial. A criança dormia no meio cercado por toda família.
Certa noite a cobra entrou, silenciosamente passou pelos membros da família e
picou a criança, matando-a."
Srila Prabhupada
continuou: Então, é assim com cobras. Se você está destinado a ser morto por
uma cobra, não importa que tipo de proteção você arranja. A cobra vai lhe
matar. Mas nós não nos preocupamos com tais coisas. Se Krsna quer protegê-lo
ninguém pode machucá-lo e se Ele quer matá-lo, ninguém pode salvá-lo."
Continuei a
massagear Srila Prabhupada até ele me instruir: "Está bom, vá
descansar." Prestei-lhe reverências e sai de seu quarto me sentindo
completamente seguro. Agarrados aqueles dois pés de lótus dourados, fragrantes
como uma árvore de sândalo, situado no centro do universo, encontrei abrigo
para todo tipo de perigo.
Srila Prabhupada,
rezo para que você me deixe sempre ligado a seus destemidos pés de lótus. Esse
mundo é um lugar muito perigoso, com as cobras da dúvida e tentação passando em
frente da minha consciência todos dias. Você as mata facilmente. Por favor,
seja misericordioso comigo, me proteja das serpentes que estão constantemente
invadindo meu coração. Eu me abrigo em seus heróicos pés de lótus.
Srila Prabhupada Uvaca 108
Fevereiro de 1975;
Honolulu, Havaí, EUA;
ISKCON, Nova
Navadvipa
Depois de seis
meses na Índia, Srila Prabhupada, voltou ao ocidente, passando pelo Havaí. Ele
ficou em Oahu, em Nova
Nabawip , durante uma semana. Foi uma estadia muito movimentada.
Havia muita agitação nesse centro devido às diferenças entre as autoridades
locais e Siddhaswarupa Ananda Goswami. Reclamavam que Siddha não aceitava a
autoridade da Iskcon. As objeções foram encaminhadas ao secretário de Srila
Prabhupada, Paramahamsa Swami. Ele foi a Srila Prabhupada e lhe explicou
algumas das dificuldades que estavam ocorrendo. Srila Prabhupada disse:
"Então, me traga Siddhaswarup e nós teremos uma reunião."
Na reunião estavam
Srila Prabhupada, Siddhaswarupa Maharaja, Paramahamsa Maharaja, Nitai prabhu, o
presidente do templo e eu. Foi realizada no quarto de Srila Prabhupada. A
brilhante luz do sol e uma brisa gostosa entravam pelas várias janelas abertas
no quarto de Srila Prabhupada, criando uma atmosfera alegre. Tinha uma janela
no teto, diretamente acima da mesa de Srila Prabhupada. Srila Prabhupada sempre
gostava de suas vindas à Nova Nabadwip e essa vez não foi uma exceção.
Srila Prabhupada
não perdeu tempo com formalidades. Depois de todos se sentaram no chão ele
virou-se para Siddha e, sem demonstrar qualquer expressão, declarou, muito
objetivamente: "Então, os devotos aqui têm feito reclamações contra
você." Siddha sorriu e respondeu: "E quais seriam elas, Srila
Prabhupada?" Srila Prabhupada continuou: "Uma coisa - por que não
raspa sua cabeça?" Siddha sorriu e respondeu: "Se raspo minha
cabeça às vezes fico resfriado."
Srila Prabhupada começou a rir: "No Havaí, você fica resfriado?"
Siddha disse: "Às vezes, Srila Prabhupada." Srila Prabhupada sugeriu:
"Então você pode usar um chapéu. Aí não ficará resfriado. Você é um
sannyasi, as pessoas estão de olho. É importante estabelecer um bom
exemplo."
Srila Prabhupada
continuou com outra reclamação: "Também, você não carrega sua danda?"
Siddha respondeu: "Bem, eles normalmente não me deixam entrar no avião com
ela, portanto fica difícil viajar com ela." Srila Prabhupada rebateu:
"Nós temos muitos sannyasis, todos carregando suas dandas. Paramahamsa,
ele está carregando sua danda. Ele a trouxe no avião." Siddha respondeu:
"Bem, tenho tido muitos problemas tentando entrar no avião com ela."
Srila Prabhupada
calmamente passou para o próximo ponto. Cada assunto era mais sério que o
anterior. Srila Prabhupada disse: "Eles dizem que seus seguidores, eles
não vem me ver aqui, eles só vêem você. Só escutam de você e lidam com você.
Por que não vem aqui?" Siddha respondeu: "Se eles quiserem vir, eles
podem." Srila Prabhupada rapidamente respondeu, dessa vez com um tom mais
autoritário:"Mas esse é seu dever. Tudo bem que eles lhe adoram e gostam
de muito de você, não tem problema. Mas seu dever é traze-los até mim. Você é
meu discípulo. O dever do discípulo é levar os devotos até o mestre espiritual.
Esse é seu dever. Sua pregação deve ser assim. Se sua pregação não os traz até
esse ponto, então é inútil."
Siddha respondeu:
"Dever ser uma falha minha. Minha pregação não é muito boa. Portanto, eles
não estão vindo. Mas que posso fazer, se não tentar pregar a eles." Srila
Prabhupada respondeu: "Bem, se sua pregação é insuficiente, então é melhor
não pregar."
Ficou tudo
silencioso e, de repente me senti um pouco corajoso. Para manter a conversa
fluindo eu disse: "Srila Prabhupada, eu gostaria de fazer uma
observação." Srila Prabhupada fez um sinal de aprovação com a cabeça e
disse: "Sim, diga." Eu disse: "Por exemplo, hoje de manhã na
sala do templo Siddhaswarupa Maharaja estava dando aula. Ele estava sentado ao
lado de seu Vyasasana e um discípulo dele se aproximou com uma guirlanda de
flores frescas e a colocou em Siddhaswarupa. Quando eu vi isso acontecer, minha
mente ficou perturbada. Na minha opinião a guirlanda deveria ter sido colocada
em você, uma vez que não havia uma guirlanda na sua foto no Vyasasana. Eu acho
que a guirlanda deveria ter sido colocada no Vyasasana primeiro." Srila Prabhupada
virou para Siddha e disse: "Ele tem razão. Está correto. Tudo bem que eles
queriam colocar uma guirlanda em você, mas você deveria ter instruído-os a
colocá-la em minha foto."
Srila Prabhupada
encerrou a discussão sem insistir nesse ou naquele ponto. Ele tratou
diretamente da questão de seguir as instruções do mestre espiritual e do
relacionamento entre Guru e discípulo. Essa última observação foi o final da
reunião. Todos prestamos reverências e saímos do quarto de nosso Divino guia e
amado Gurudeva. No dia seguinte Siddhaswarupa Maharaja visitou Srila
Prabhupada. Siddhaswarup deu US$ 10000 a Srila Prabhupada, que um de seus
discípulos tinha lhe dado. Isso demonstrou sua compreensão das instruções dadas
por Srila Prabhupada.
Você é o perfeito
meio transparente a seu Guru Maharaja. É em nome dele que você sempre aceitou
serviço. Como você foi o discípulo perfeito você é completamente qualificado
como o mestre espiritual perfeito. Você transmite a devoção e adoração de seus
discípulos para os pés de lótus de seu Guru Maharaja. Srila Bhaktisiddhanta
Saraswati Maharaja transmiti os frutos de sua devoção aos pés de lótus de seu
Guru Maharaja. E assim vai de Guru a Guru no sampradaya até os pés de lótus do
Senhor Krsna. Humildemente rezo para me manter ligado a seus pés de lótus,
sempre me lembrando que você é meu eterno Senhor e mestre. Exceto por sua
misericórdia sem causa, minha vida não tem qualquer valor ou qualificação. Eu
lhe imploro, permita-me eternamente divulgar suas glórias. Rezo para nadar no
oceano de bem aventurança que está disponível para aqueles que lembrarem sua
eterna lila.
Seu servo,
Srutakirti dasa
Srila Prabhupada Uvaca 109
Dez de junho de
1975, Honolulu, Havaí EUA;
ISKCON, Nova
Navadvipa
Srila Prabhupada
fez certos comentários a respeito de se nascer na Índia outro dia. Preocupou
tanto meus irmãos espirituais e eu que tive que lhe perguntar a respeito
durante a caminhada matinal. Perguntei: "Srila Prabhupada, outro dia você
disse que Govinda dasi lhe perguntou se teríamos que nascer na Índia antes de
voltar ao lar e você disse que sim. Então estávamos nos perguntando (a essa
altura os meus irmãos espirituais estavam todos rindo, sabendo como eu não
gostava da Índia) como isso é possível. Porque não temos vistos muitos estritos
vaisnavas lá."
Srila Prabhupada,
conhecendo meu coração, respondeu compassivamente: "A terra está lá, como
essa terra aqui. Tem vaisnavas lá. Essa terra não era para ter uma cultura
espiritual, mas ainda sim há vaisnavas aqui. Da mesma forma, na Índia, não, há
muitos vaisnavas lá. A maioria das pessoas na Índia são vaisnavas."
Ainda queríamos
entender melhor, então Paramahamsa perguntou: "Então, ao nos juntar a esse
movimento nós chegamos a plataforma de nascer na Índia, numa família de bons
brahmanas?" Srila Prabhupada respondeu: "Não, você por ir diretamente
também, se você quiser encerrar o negócio. ‘Sucinam srimatam gehe.’ Isso é uma
consideração, para aqueles que falharam na execução. Mas se você se tornar bem
sucedido, então irá diretamente para onde Krsna estiver. Krsna está lá em algum
universo. Então, para aqueles que estão completamente liberados, eles vão para
aquele universo. Da mesma forma que Krsna vem aqui, para cada um dos universos
há uma Vrindavana. Então, é naquela Vrindavana que se nasce, e depois na
Vrindavana original."
Ainda preocupado
com a idéia de nascer na Índia, Paramahamsa continuou: "Aqueles que não
conseguem seguir os princípios de consciência de Krsna, então, eles terão que
ir para Índia na próxima vida?" Srila Prabhupada misericordiosamente
respondeu: "Sim, ‘srimatam, srimatam sucinam.’ Então srimatam, você pode
vir para cá. Srimatam significa uma família muito rica. Aqui tem muitas
famílias ricas, os Ford, mas srimatam e sucinam. Então se vocês estão criando
tanto brahmanas, se esse culto for permanente, então teremos muitas famílias de
brahmanas aqui no ocidente também." Srila Prabhupada bondosamente satisfez
nossas mentes inquietas e rapidamente mudamos o assunto.
Srila Prabhupada,
perdido sem sua guia, sigo seus passos. Fico envergonhado, ao lembrar de minha
mentalidade ofensiva e total falta de Consciência de Krsna. Como poderia não
reconhecer vaisnavas na terra dos vaisnavas? Você gentilmente corrigiu minha
atitude e pensamentos desrespeitosos sem me dar uma bronca. Você descreveu como
será possível nascer nesse país se esse culto de Consciência de Krsna for
permanente. Seu otimismo em nossa habilidade de nos tornarmos Conscientes de
Krsna ainda nessa vida me da esperança, apesar de meu desajeitado esforço todos
esses anos. Rezo para que algum dia eu possa ver todas entidades vivas como
devotos, seguindo seu exemplo.
Srila Prabhupada Uvaca 110
Abril de 1975;
Vrndavana, Índia;
ISKCON, Krsna
Balarama Mandir
Srila Prabhupada
era sempre muito bondoso com seus discípulos. Ele satisfazia nossos desejos ao
distribuir artigos de roupas prasadam, que ele tinha usado, quando chegavam
novas. Srila Prabhupada nunca acumulou muitos pertences, sempre distribuindo
aos seus discípulos. Um item que era especialmente cobiçado era o chadar de lã
cinza de Srila Prabhupada, já bastante usado. Meditando nele, eu imaginava
Srila Prabhupada usando-o a bordo do Jaladutta em sua viagem transatlântica. Eu
pensava como ele tinha usado-o havia muitos anos. O valor mágico do chadar
aumentava cada vez que Srila Prabhupada o usava. Eu vi Sua Divina Graça usá-lo
para se aquecer durante as caminhadas matinais durante muitos anos. O chadar
estava com pequenas manchas de água em alguns lugares. Foi com esse chadar que
Srila Prabhupada me ensinou a dobrar chadars, durante minha primeira caminhada
matinal junto com ele, já como seu servo pessoal, em Dallas dois anos e meio
atrás.
Em Mayapur os
sannyasis juntarem seu dinheiro e compraram um lindo chadar de caxemira para
Srila Prabhupada. O chadar custou vários milhares de rúpias. Era marrom com um
trabalho elaborado nas bordas. Veio de uma região conhecida por sua caxemira de
primeira qualidade. Acho que era chamada de lã de pashima, famosa por ser macia
e fina, mas ao mesmo tempo bem quente. Diziam que um chadar inteiro poderia ser
puxado através de um anel, de tão fino e leve que era a caxemira. A lã vinha da
barba de um bode que vivia nos mais inclinados picos dos Himalaias. O chadar
era fino e leve, mas mantinha você bem quente. Com muito orgulho os sannyasis
deram o presente para Srila Prabhupada certa manhã. Um dos sannyasis já tinha
decidido que quando Srila Prabhupada o aceitasse, seria ele o afortunado de
ficar com o seu velho chadar.
Quando Srila
Prabhupada recebeu o chadar ele sorriu e disse: "Quando era jovem eu
recebia um desses todo ano. Tinha um senhor, um amigo de meu pai, que estava
sempre indo e vindo de Caxemira. Ele trabalhava com isso. Todo ano eu ganhava
um." Srila Prabhupada aceitou o chadar mas não ofereceu seu chadar velho
para nenhum dos sannyasis presentes. Ele não usava muito o novo chadar e
continuou a usar seu chadar velho durante as caminhadas matinais.
Uma semana depois
Srila Prabhupada estava no Krsna Balarama Mandir. O fato que todos queriam o
chadar de Srila Prabhupada só fez aumentar meu desejo de possuí-lo. Eu era um
grihastha e tinha algumas centenas de rúpias no bolso. Pensei então em comprar
um chadar idêntico ao de Srila Prabhupada. Tinha certeza de que se eu desse a
Sua Divina Graça uma réplica exata daquele chadar, porém novo, ele
imediatamente me daria seu velho e abençoado chadar. Fiz arranjos para que um
devoto fosse até Deli e me comprasse um, já que nunca largava meu posto. Ele
voltou com um chadar novo, cinza, da marca Lohi. Paguei 150 rúpias, o que
equivalia a US$7 na época.
Srila
Prabhupada com seu chadar de lã cinza
Na tarde seguinte,
ciente de minha motivação egoísta, entrei no quarto de Srila Prabhupada, acanhado,
com meu presente condicional debaixo dos braços, e prestei-lhe reverências. Meu
Guru Maharaja estava sentado tranqüilamente atrás de sua mesa, efulgente como
sempre. Eu disse: "Srila Prabhupada, acabei de comprar esse chadar para
mim mesmo, mas, como ele está novo, achei que você deveria ficar com ele. Seu
chadar é muito velho." Srila Prabhupada, como sempre, conhecia bem minha
mentalidade infantil. Ele olhou diretamente para mim e perguntou: "Você
precisa de um chadar?" Respondi: "Bem, sim, preciso." Ele disse:
"Então, pode ficar com ele. Não tem problema."
Srila Prabhupada
estava dificultando as coisas para mim e não me deixou enganá-lo. Já bem
embaraçado, insisti: "Mas Srila Prabhupada, realmente ficaria feliz se
você aceitasse esse chadar novo. Seria melhor para mim se você o aceitasse.
Você é meu mestre espiritual." Srila Prabhupada, se divertindo com minha
difícil situação, respondeu timidamente: "Não, tudo bem. Já basta o meu.
Não preciso de um novo." Pude entender que ele não iria permitir nem sequer
um pingo de duplicidade da minha parte. Srila Prabhupada, conhecendo meu
coração, estava brincando comigo. Eu me rendi, finalmente falando a verdade,
confessei: "Na verdade, Srila Prabhupada, prefiro muito mais ficar com seu
chadar do que esse chadar novo. O seu é prasadam. Eu quero o seu."
Com grande prazer
Srila sorriu largamente e disse: "Ok, então pode pegar o meu. Aceitarei
esse chadar novo." Coloquei o chadar novo em sua mesa e prestei-lhe
reverências. A verdade realmente nos libera. Aliviado, fui até a estante. Em
êxtase, peguei o velho chadar de Sua
Divina Graça e flutuei triunfante de volta ao meu quarto.
Srila Prabhupada,
ainda tenho seu chadar. Certa vez você me instruiu: "Quando o mestre
espiritual deixa esse planeta, toda sua parafernália é adorável. Até então,
tudo do mestre espiritual pode ser usado por seu discípulo, exceto seus
sapatos." Seu chadar está sendo usado em seu murti. Na nossa sala de
templo da família está sua forma, em tamanho real. Quando chega o inverno, você
a usa, como fez durante tantos anos, viajando pelo mundo. Quando a vejo em
você, me lembro de toda sua generosidade para comigo, em troca de meu
insignificante serviço realizado por tão pouco tempo. Quando usava aquele
chadar, sabia que maya não podia me tocar. Sua misericórdia me protege. Agora,
sei que devo usar suas instruções como um chadar protetor, cantando dezesseis
voltas e seguindo os quatro princípios reguladores. Eu quero sempre estar com
você e rezo para poder eternamente servir suas instruções.
Srila Prabhupada Uvaca 111
Abril de 1975;
Vrndavana, Índia;
ISKCON Krsna
Balarama Mandir
Esse período de
duas semanas no Krsna Balarama Mandir foi extremamente corrido, devido às
preparações finais para abertura do templo. Srila Prabhupada andava diariamente
pelo templo, aconselhando Surabhi Maharaja, os arquitetos e engenheiros, sobre
alterações necessárias. Os aposentos de Srila Prabhupada também estavam sendo
terminados, apesar de já estarem bastante habitáveis. Com a aproximação do
glorioso dia, Surabhi Maharaja estava aparentemente dormindo muito pouco. Ele
estava constantemente correndo atrás e supervisando centenas de carpinteiros e
pedreiros que trabalhavam na obra.
Certo dia Srila
Prabhupada me chamou. Entrei em seu quarto e prestei-lhe reverências. Ele
estava chateado. Ele disse: "Eles colocaram um assento de plástico no vaso
sanitário do meu banheiro e ele já quebrou. Chame Surabhi."Sai pela
propriedade atrás de Surabhi, descrevendo-lhe a situação. Juntos nós corremos
de volta para o quarto de Srila Prabhupada. Nós entramos e prestamos
reverências. Srila Prabhupada olhou para Surabhi e disse: "O assento do
vaso sanitário já quebrou. Eu preciso de um assento novo, caso contrário como
poderei me sentar? Sou um homem velho, eu preciso sentar." Surabhi respondeu:
"Sim, Srila Prabhupada. Eu cuidarei disso."
Dois dias tinham
se passado e nada tinha sido feito a respeito do banheiro de Srila Prabhupada.
Srila Prabhupada me chamou e disse: "Onde está meu assento. Chame
Surabhi." De novo, sai atrás, encontrei Surabhi e voltamos para o quarto
de Srila Prabhupada, prestando reverências ao entrar. Srila Prabhupada
perguntou impacientemente: "Onde está meu assento para o vaso
sanitário?" Surabhi respondeu: "Srila Prabhupada, eles estão
procurando por um na cidade hoje. Eles não conseguiram achar um em Vrndavana,
portanto foram procurar em Mathura." Srila Prabhupada respondeu:
"Não! Eu não quero um assento desses de plástico. Eles são mal feitos e
vão quebrar novamente. Mande um dos carpinteiros esculpir um de madeira. Eu o
quero hoje." Surabhi chamou um dos trabalhadores e explicou: "Guru
Maharaja quer um assento esculpido de madeira. Faça uma assento muito bem
feito." O carpinteiro Brijbasi estava muito feliz com a oportunidade de
realizar um serviço pessoal para um devoto puro de Krsna.
Naturalmente, as
coisas não se desenrolaram como planejadas. Surabhi estava extremamente ocupado
e não teve tempo para supervisar o trabalho sendo feito no importante assento.
Os mistris eram muito profissionais, mas incrivelmente lentos, pois tudo era
feito com as ferramentas mais simples. Naquela tarde Srila Prabhupada me chamou
e perguntou: "Onde está meu assento? "Respondi: "Vou descobrir,
Srila Prabhupada." Sai do quarto bem depressa, não querendo que sua irritação
sobrasse para mim. Dentro de poucos minutos estávamos no quarto de Sua Divina
Graça, prestando reverências. Surabhi disse: "Desculpe-me, Srila
Prabhupada. Não consigo acompanhar o trabalho de todos. Eu lhe disse para já
ter isso pronto. Achei que já estaria instalado." Srila Prabhupada disse:
‘Eu quero esse assento agora. Tem que estar aqui. Tem que estar pronto."
Nós dois prestamos reverências e rapidamente nos retiramos do quarto.
Estressado, meu falso ego silenciosamente tentava se desculpar por não
conseguir satisfazer as exigências transcendentais de Sua Divina Graça.
Nós corremos até o
mistri e Surabhi disse, já em voz alta: "Você tem que acabar esse assento
ou está despedido. Você tem que terminá-lo imediatamente." Eu fiquei
impressionado com a simplicidade das ferramentas utilizadas para esculpir o
assento de um pedaço de madeira. Despreocupado o homem calmamente perguntou a
Surabhi: "Guru Maharaja via querer desenhos esculpidos no assento?"
Surabhi virou os olhos e disse: "Só termine o trabalho. Agora!"
Finalmente o mistri levou o assento ao quarto de Srila Prabhupada e prestou
reverências. Ele entrou no banheiro e corretamente instalou o assento no vaso.
O mistri estava muito feliz de ter a oportunidade de entrar no quarto
santificado de Srila Prabhupada.
O mistri
compreendia que era afortunado por poder realizar um serviço importante para o
Guru. Srila Prabhupada nos lembrava que não importa qual grandioso serviço que
aparentemente estamos fazendo, nosso objetivo mesmo é servir o Guru Maharaja.
Nós poderemos receber a oportunidade de realizar um grande projeto, mas nossa
posição é de servo. Ficando humildes, nós nos garantimos o serviço contínuo e
eterno ao nosso amado mestre espiritual.
Depois que todos
saíram, Srila Prabhupada disse: "Esfregue um pouco de óleo de mostarda no
assento, até não absorver mais."Alegremente acatei suas instruções,
aliviado com a iminente conclusão do incidente. Depois de passar o óleo no
assento, informei a Srila Prabhupada que seu banheiro estava pronto para ser
usado. Mais tarde, Srila Prabhupada entrou no banheiro e, quando saiu, acenou
com a cabeça e disse: "Está bom."
Srila Prabhupada
mantinha um padrão muito estrito de Consciência de Krsna em Vraj Dhama. Ele
esperava que seus discípulos residentes mantivessem os padrões, vivendo vidas
exemplares. Isso era aparente em todos aspectos da vida no Krsna Balarama
Mandir. Sendo inferiores, nós tínhamos dificuldade em entender a importância
dessa visão superior. Portanto, Sua Divina Graça nunca recomendava viver em
Vrindavan de forma ordinária ou mundana. Se um devoto não pudesse manter os
mais elevados padrões de Consciência de Krsna, então ele não deveria estar
morando em Vraj
Dhama. Srila Prabhupada supervisionava nossas práticas
devocionais atentamente, já que a vida era como o fio da navalha aqui nesse
mais sagrado Dhama.
Eu ficava
impressionado com Surabhi. Diariamente Srila Prabhupada o chamava para seu
quarto e dava lhe uma bronca sobre diferentes aspectos da construção. Com a
abertura do templo se aproximando, a pressão sobre Surabhi era enorme. Srila
Prabhupada queria que tudo fosse feito perfeitamente, e era o serviço de
Surabhi garantir que os desejos de Sua Divina Graça fossem satisfeitos. Certo
dia, enquanto andava, Srila Prabhupada olhou para os quartos das Deidades e disse:
"Por que ainda não colocaram as portas?" Surabhi respondeu:
"Estou tentando Srila Prabhupada, mas tem muita coisa para fazer. É
difícil." Srila Prabhupada respondeu: "Isso não importa, você tem que
conseguir. Esses homens estão todos lhe enganando. Não os deixe lhe enganar.
Você tem que ficar em cima de tudo, para ter certeza que tudo será feito."
Isso continuou
durante uma semana, com Srila Prabhupada perguntando a Surabhi: "Por que
não colocaram as portas das Deidades ainda? Por que não colocaram os portões da
frente?" Surabhi explicava que estava cuidando do assunto. Finalmente,
pela misericórdia de Krsna, tudo começou a dar certo nos últimos dias antes da
inauguração. Durante uma caminhada matinal, com Srila Prabhupada pelo templo,
os devotos residentes admiravam o magnífico templo. Um dos discípulos de Srila
Prabhupada disse: "Surabhi fez um trabalho muito bom, Srila Prabhupada.
Ele trabalhou arduamente. Seu trabalho é excelente." Srila Prabhupada riu
e disse: "Sim, todos dizem, ‘Surabhi fez um bom trabalho", exceto eu.
Eu fico só criticando, dizendo: ‘Por que você está trabalhando tão devagar? Por
que está trabalhando tão mal? Todos estão dando-lhe os parabéns, exceto eu. Meu
dever é instrui-lo. Portanto faço críticas, esse é meu dever. Sou seu mestre
espiritual, portanto devo guia-lo." Não tenho certeza, mas acho que
Surabhi Maharaja pode respirar pela primeira vez em duas semanas.
Srila Prabhupada,
fico pasmo quando vejo o serviço que meus irmãos e irmãs espirituais lhe
renderam ao longo dos últimos trinta anos. Meu serviço tem sido insignificante.
Não fui nem capaz de aceitar suas broncas sem ficar magoado. Você sempre foi
gentil comigo, conhecendo a fragilidade da minha fé. Rezo para desenvolver fé
implícita em suas ordens para poder realmente servir seus pés de lótus, não
importa como você lida comigo. Por favor, me dê sua misericórdia sem causa.
Permita-me estar presente em seus passatempos e jamais me afastar de seus pés
de lótus novamente.
Srila Prabhupada Uvaca 112
Era sempre um
prazer estar com Srila Prabhupada. Eu especialmente gostava quando ele nos dava
uma noção de como era sua vida antes de vir para América. Compartilhar assim
sua vida era uma expressão maravilhosa de seu amor por nós. Srila Prabhupada
também tinha grande prazer em descrever diferentes aspectos de sua vida com
seus discípulos. Certa tarde ele começou a descrever a sua vida como sannyasi
para Paramahamsa e eu.
Ele disse:
"Quando morava em Vrindavana, às vezes ia para Deli durante alguns dias
para conversar com meu editor. Eu ficava em um pequeno quarto durante essas
visitas. Durante o inverno, era muito frio. Tinha que quebrar uma pequena
camada de gelo com minha lota no balde com a água de banho. Aí eu me banhava
com essa água."
Havia umas
senhoras que vieram visitar Srila Prabhupada na Bhaktivedanta Manor algumas
vezes. Elas sabiam que Sua Divina Graça era um homem santo. Elas queriam que
Sua Divina Graça os ajudasse com uns problemas que elas tinham. Elas falaram
que tinham fantasmas morando em seu apartamento. Tentavam de tudo para se
livrar deles, mas nada funcionava. Falaram que objetos da casa eram quebrados,
ao serem jogados pelos quartos. Uma das mulheres perguntou a Srila Prabhupada
se tinha alguma reza ou mantra que elas poderiam cantar para expulsar essas entidades
para fora permanentemente.
Não foi nenhuma
surpresa aos seus discípulos quando Srila Prabhupada as aconselhou a cantar o
Maha Mantra. Ele carinhosamente nos contou de sua própria experiência com o
‘sobrenatural’. Ele contou que quando era um grihastha, ele comprou uma grande
casa assombrada em Calcutá por um ótimo preço. Ele disse, sorrindo:
"Ninguém queria comprar o lugar. Era uma grande e linda casa, mas por ser
assombrada, todos tinham medo. Então comprei a casa e fui morar lá. Às vezes, me
lembro de ficar sentado vendo coisas se mexendo pela casa. Eu ficava lá sentado
e cantava ‘Hare Krsna’. Certa vez, um dos meus empregados veio até mim e me
disse: ‘Swamiji, como posso ficar aqui com todos esses fantasmas?’ Eu lhe disse
que não tinha que se preocupar com nada, era só cantar Hare Krsna. Então, eu
vivia lá e muitas coisas aconteciam, mas nada me assustava."
Certo dia na
primavera de 1973, Srila Prabhupada estava em seu quarto em Nova Dwarka. Ele
estava andando, cantando Japa. Felizmente eu estava sentado no chão
observando-o. De repente, ele olhou para mim e, com um tom de voz muito sério,
disse: "O problema é que nenhum de meus discípulos acredita que Krsna está
aí. De fato, ninguém acredita que Krsna existe." Fiquei pasmo enquanto que
Srila Prabhupada continuava a cantar Japa. Minha fé era microscópica, na melhor
das hipóteses. Eu estava em ilusão, mas não o suficiente para discordar de suas
palavras. Além do mais, não conseguia pensar em nada para falar. Srila
Prabhupada já tinha falado tudo.
Srila Prabhupada,
minha fé é muito fraca e meus sentidos são como fantasmas, me assombrando. Por
favor, purifique minha alma desses demônios. Permita-me escutar o santo nome de
seus corajosos lábios de lótus. Por favor, guie-me em seu serviço devocional. Eu
não conheço Krsna, mas já pude experimentar o abrigo de seus pés de lótus. Eu
tenho absoluta fé que você se relaciona amavelmente com Krsna a todos momentos.
Se eu me agarrar a seus destemidos pés de lótus, por sua misericórdia, de
alguma forma, eu servirei o Senhor.
Sua Consciência de
Krsna era evidente em cada palavra que você falava, em cada olhar que você dava
e em cada movimento transcendental seu. Por favor, abençoe essa alma perdida e
olhe para mim misericordiosamente de novo. Sem ouvir você cantar os Santos
Nomes, eu fico perdido e com medo.
Ansioso para lhe
servir,
Srutakirti dasa
Srila Prabhupada Uvaca 113
Oito de outubro de
1974; Mayapura, India;
Mayapura
Candrodaya Mandir
Hoje à tarde
recebi um telegrama muito especial. Minha mulher deu luz um menino no dia seis de outubro de 1974, as
4:15 da manhã. Eu achei isso muito auspicioso, porque o Mangal Aratrik começa
as 4:15 da manhã aqui em Mayapura. Imediatamente corri para o quarto de
Srila Prabhupada e prestei reverências. Sorrindo largamente, disse: "Srila
Prabhupada, minha mulher acabou de dar luz ao meu filho!" Srila Prabhupada
sorriu e disse: "Muito bem. Então, você pôde chamá-lo de
Mayapuracandra." Ele começou a rir e continuou: "Mayapuracandra! Você
não encontrará esse nome em lugar algum no Sastra. Acabei de inventá-lo. Você
encontrará Navadvipa Candra e Nadir Nimai, mas não encontrará esse nome em
lugar algum."
Ele continuou:
"Então, lhe darei um pouco de dinheiro. Você pode pedir para um dos
rapazes locais irem até Navadvipa comprar pulseiras e tornozeleiras de prata
para ele." Ainda emocionado, nem considerei recusar sua generosa oferta.
Quatro meses
depois (nove de fevereiro de 1975), Srila Prabhupada parou em Nova Dwarka durante
dois dias a caminho da Cidade do México. Depois de seu descanso à tardinha, ele
tocou seu sino. Eu corri até seu quarto e prestei reverências. Ele disse:
"Chame aqui Nanda Kumar." Felizmente ele estava do outro lado da rua.
Eu lhe disse que Srila Prabhupada queria o ver. Nanda me perguntou porque e respondi:
"Não faço a menor idéia. Ele só me pediu para lhe chamar." Nós dois
voltamos correndo e prestamos reverências. Quando olhei para cima, Srila
Prabhupada me deu as chaves de seu baú de metal que ficava no quarto e disse:
"Traga-me minha bolsa branca."Peguei a bolsa e nós dois ficamos
sentados lá, não tendo a menor idéia do que estava para se passar.
Ele tirou duas
notas de cinqüenta dólares de sua bolsa e me deu uma, dizendo: "Tome.
Compre algo para seu filho." Sempre que Srila Prabhupada demonstrava seu
amor me dando algo desta forma eu ficava tomado de amor por ele. Eu não podia
recusar uma demonstração tão bela de amor. Imensamente feliz, peguei a nota e
disse emocionado: "Muito obrigado Srila Prabhupada!" Aí então ele se
virou para Nanda Kumar, que tinha sido seu servo pessoal antes de mim, e tentou
lhe dar a outra nota de cinqüenta dólares. Nanda Kumar recusou-a, dizendo:
"Não posso aceitar isso de você, Srila Prabhupada." Imediatamente
Srila Prabhupada graciosamente derrotou seu argumento, dizendo: "Não é
para você. É para seu filho." Nanda alegremente aceitou a nota de seu
amável mestre espiritual. Depois de nos dar esses presentes para nossos filhos,
Srila Prabhupada gentilmente fez um sinal com sua cabeça e disse: "Ok,
agora você podem ir." Nós prestamos reverências e saímos de seu quarto,
comentando entre nós que éramos muito afortunados de ter um mestre espiritual
tão incrivelmente generoso.
Srila Prabhupada,
muitas vezes você me deu artigos de roupa, cuidando de mim de todas maneiras.
Nunca pensei que você me devia algo em troca de meus serviços, afinal de
contas, você nos deu o maior presente de todos. Você nos deu a oportunidade de
desenvolver amor a Deus, mas a atenção pessoal que você nos deu é outro
presente inigualável. O exemplo que você dá é incrível. Apesar de ser nosso
mestre espiritual, e como tal deve ser tratado com o próprio Senhor, ainda
assim você nos serve, providenciando todas nossas necessidades.
Quando chegará o
dia quando eu verei meus irmãos e irmãs espirituais como ‘prabhus’,
oferecendo-lhes meus respeitos e não brigando com eles sobre a melhor forma de
lhe servir e honrar.
Srila Prabhupada Uvaca 114
Dezembro de 1974;
Bombaim, Índia;
ISKCON Juhu
Meu segundo tour
de viagens transcendentais com Sua Divina Graça começou informalmente em meados
de julho e continuou até o fim de dezembro. Passamos a maior parte do tempo na
Índia, lugar que inicialmente tinha me afastado dos pés de lótus de meu mestre
espiritual. Infelizmente, quando estava na Índia, eu ficava doente quase o
tempo todo. Sofri durante o período de sete semanas em que Srila Prabhupada
estava extremamente doente em Vrindavana. Quando ele melhorou, minha saúde se
deteriorou e só conseguia pensar em ir embora para recuperar minha saúde. Pela
graça de Srila Prabhupada, eu havia conseguido superar minha falta de rendição
e ficar aos seus pés de lótus. Porém, tendo novamente ficado doente na Índia
(Juhu), minha mente ficou muito agitada.
Eu era incapaz de
apreciar minha posição altamente afortunada e meditava nas minhas enfermidades
corporais. Srila Prabhupada já estava aqui há um mês e estava se preparando
para voltar ao ocidente, passando pelo Havaí. Fiquei muito apegado aos planos
de viagem, contemplando minha sobrevivência até a programada data de embarque.
Infelizmente houve um atraso devido a insistentes problemas técnicos no projeto
de Juhu. Quando recebi a notícia fiquei arrasado. Ao andar todos dias na linda
praia de Juhu com meu amado Srila Prabhupada, eu ficava ciente dos 747s voando
acima. Imaginava todos indo para o ocidente e queria muito está abordo de um
daqueles aviões. Sua Divina Graça falava de filosofia com seus discípulos e eu
ficava só meditando nos aviões, acompanhado-os até ficarem fora de vista.
Durante certas
caminhadas tentei brincar com Paramahamsa Maharaja, na esperança de descobrir
se ele também estava querendo ir embora da Índia. Como Paramahamsa Maharaja não
se identificou com minhas vontades, eu transferi a conversa para Brahmananda
Maharaja na esperança de alguma simpatia.
Nessa época havia
um problema sério no templo do Havaí. Eu contei a Brahmananda meu desejo de
voltar aos EUA, devido a meus problemas de saúde. Certa tarde nós fomos falar
com Srila Prabhupada. Entramos em seu quarto com muita apreensão e prestamos
reverências. Eu estava ciente de como era tolo de querer abandonar os pés de
lótus de meu amado Guru Maharaja, mas minha mente incontrolável me obrigava. Eu
disse: "Srila Prabhupada tenho
agüentado, na esperança que estivesse indo embora em breve, mas parece que não
está pronto para ir ainda. Quero saber se posso voltar ao ocidente para
recuperar minha saúde." Com sua compreensão transcendental de sempre ele
bondosamente disse: "Tudo bem. Você volta para Los Angeles e recupere sua
saúde. Brahmananda, você pode ir para o templo no Havaí para ajudar com o
problema lá. Eu me reencontrarei com vocês dois quando voltar para o
Havaí."
O vôo de volta
para os Estados Unidos não foi tão prazeroso quanto imaginei. Quando o avião já
estava nas nuvens, Brahmananda e eu viramos um para o outro e lamentamos nossa
decisão de deixar Sua Divina Graça. Srila Prabhupada nos deixou ir embora tão
facilmente como tinha deixado eu voltar a ele alguns meses atrás. Ele aceitava
aquilo que Krsna providenciava e nunca forçava ninguém a fazer algo que não
queriam. Observei sua graciosa opulência de renúncia repetidas vezes.
Devemos implorar
pela associação com Guru e Krsna. Não vem automaticamente ou de forma barata.
Srila Prabhupada sempre disse: "Serviço devocional é voluntário e
realizado com prazer." Brahmananda Maharaja parou no Havaí, agindo como o
representante de Srila Prabhupada, ele foi cuidar dos problemas do templo.
Segui em frente
para Los Angeles, Nova Dwarka, indo morar com minha mulher e filho, que agora
já estava com três meses de idade. Escondi minha ansiedade de nunca ter visto
meu filho, tentando artificialmente ser desapegado. Ao negar meus sentimentos
naturais, eu estava tentando satisfazer estritas exigências internas e
externas. De alguma forma, precisava provar externamente minha sólida posição
como um bom devoto. Dessa forma, voltei a Nova Dwarka sem saber que a causa da
minha doença pode ter sido a negação de minhas vontades emocionais. De fato, eu
estava ansioso para voltar a Nova Dwarka e estar com minha família.
Passei um tempo no
templo de Nova Dwarka e depois fui à Nova Navadvipa com minha família. Quando
Srila Prabhupada chegou no dia vinte e nove de janeiro de 1975 eu já estava
inteiramente envolvido com a vida familiar. Paramahamsa Maharaja e Nitai prabhu
estavam trabalhando arduamente para cuidar de todas necessidades de Srila
Prabhupada. Eu estava tão envolvido com meu novo ashram que nem sequer ofereci
meus serviços, exceto por dar a Srila Prabhupada sua massagem noturna.
Apesar de Srila
Prabhupada misericordiosamente permitir com que eu massageasse sua linda forma
todas as noites, ele nunca me perguntou porque eu não estava mais ativamente em
seu serviço pessoal. Ele não me perguntou o que estava fazendo durante o dia ou
por que estava tão envolvido com minhas atividades familiares. Nunca me ocorreu
que deveria estar inteiramente ocupado em realizar serviço pessoal a Srila
Prabhupada. Minha consciência estava definitivamente atraída as atividades de
grihastha. Felizmente, eu não estava controlando meu destino e Krsna fez
arranjos para que eu retornasse ao serviço pessoal de Sua Divina Graça após
pouco tempo brincando de vida caseira.
Srila Prabhupada,
é doloroso ver como tenho sido um discípulo ingrato e caído. Muitas vezes eu
ouvi seus discípulos perguntarem: "Por que Krsna não me obriga a
servi-Lo?" Você respondia: "Se você é obrigado então não pode haver
amor. Tem que ser voluntário." Você sempre me tratou dessa forma e rezo
para que não faça isso mais. Não sou inteligente e desejo que você me obrigue a
servi-lo. Porém, você é tão paciente e bondoso que nunca nos obrigou. Dessa
forma, nós não podemos cometer a grande ofensa de não seguir suas ordens. Por
favor, crie em mim o desejo de servi-lo a cada instante. Minha única felicidade
é servir seus pés de lótus. Por favor, mantenha esses dourados pés de lótus na
minha cabeça para que seja incapaz de me desviar de sua proteção.
Srila Prabhupada Uvaca 115
Cinco de fevereiro
de 1975; Honolulu, Havaí;
ISKCON Nova
Navadvipa
Recentemente ouvi
falar sobre a ‘bolha de ilusão.’ Eu estava sempre cercado por essa ‘bolha da
ilusão.’ Essa bolha começa onde minha Consciência de Krsna acaba. Pude observar
que, como servo pessoal de Srila Prabhupada, eu ficava cercado por uma ‘bolha
de proteção.’ Era um benefício maravilhoso que vinha automaticamente por estar
na presença de um devoto puro. Sendo o servo de Srila Prabhupada, eu era bem
cuidado. Nunca tinha que me preocupar com minhas refeições ou onde iria dormir.
Meu passaporte, visas e passagens aéreas pareciam se manifestar por conta
própria. Viajei em volta ao mundo cinco vezes sem nunca me preocupar com um
acidente de avião. Afinal estava sentado ao lado do devoto mais puro do Senhor
do Universo.
Era uma posição de
dar inveja, mas infelizmente eu a larguei voluntariamente. Agora, aqui no
Havaí, eu sou um dos grihasthas me esforçando para ser um devoto ativo, viver
fora do templo e cuidar de minha família. Srila Prabhupada compreendia a
dificuldade. Eu sei disso porque certa vez em Vrindaban Srila
Prabhupada falou sobre o grihastha ashram, "É um grande
dilema. Nós não podemos pagá-los para morar no templo, mas tampouco eles podem
trabalhar externamente." Hoje, fazendo compras com alguns amigos devotos,
a perda da minha ‘bolha de proteção’ me custou caro. Tivemos um acidente de carro.
Hamsavatar e sua esposa, Sangita levaram minha esposa e eu ao mercado. Eu
estava sentado ao lado do motorista quando um carro furou o sinal e bateu no
porta do motorista. Minha porta abriu e sai voando, junto com Hamsavatar.
Aterrissei no meu sacro. Minha coluna ficou dolorida durante meses. Nosso carro
quase passou por cima de mim. Nós dois fomos levados ao hospital.
Naquela noite eu
não dei em Srila Prabhupada sua
massagem noturna. No dia seguinte Paramahamsa Maharaja me encontrou e disse:
"Srila Prabhupada quer saber onde você estava ontem a noite." Eu lhe
contei minha tragédia. Ele voltou a Srila Prabhupada e explicou minha situação.
Meu compreensivo mestre espiritual disse: "Oh! Chame-o aqui."
Sentindo muito dor, cheguei com dificuldade até o quarto de Srila Prabhupada e
prestei reverências lentamente. Visivelmente aparentando dificuldade, eu me
sentei diante de meu efulgente mestre espiritual. Ele olhou para mim
atentamente e com compaixão disse como uma voz gentil: "O que aconteceu?
Ouvi falar que você teve um acidente de carro." Eu lhe contei os detalhes
e ele escutou atentamente. Quando terminei ele disse: "Accha! Se não fosse
pela misericórdia de Krsna você estaria morto." Tentei sorri e disse:
"Sim, foi muito assustador."
Nos dias que se seguiram
fui afortunado de poder estar no quarto de Srila Prabhupada em diferentes
ocasiões. Todas as vezes que estava lá com outros devotos, Srila Prabhupada
acabava falando de mim. Muito dramaticamente ele disse: Srutakirti, ele se
envolveu num acidente muito sério. Se não fosse pela misericórdia de Krsna ele
estaria morto." Depois de ouvir isso pela terceira vez, finalmente pude
realmente compreender – se não fosse pela misericórdia de Srila Prabhupada e
Krsna, eu estaria morto. Era jovem e despreocupado e a morte me parecia muito
remota. Se não fosse, nunca teria largado os pés de lótus de meu Gurudeva. Ele
insistiu no assunto. Finalmente pude compreender e realizar que Srila
Prabhupada estava falando a verdade absoluta. Foi a experiência mais incrível ter
meu carinhoso Guru reafirmar que Krsna tinha me salvado. Rezo para poder
aumentar minha fé e compreensão em cada palavra dita por Sua Divina Graça e
cada ação por ele realizada.
Srila Prabhupada
estava traduzindo o quinto canto do ‘Srimad Bhagavatam’ nessa época. Ele
descreveu a história do meu acidente assim:
S.B.5:14:1
SIGNIFICADO
"Quando na
luta pela existência, a entidade viva está perdida na floresta do mundo
material, seu primeiro dever, é encontrar um guru fidedigno que vive ocupado
aos pés de lótus de Visnu, a Suprema Personalidade de Deus. Afinal de contas,
se ela estiver realmente ansiosa de livrar-se da luta pela existência, deve
encontrar um guru autêntico e receber instruções aos seus pés de lótus. Dessa
maneira, ela pode escapar dessa luta.
Visto que nessa
passagem compara-se o mundo material a uma floresta, poder-se-ia apresentar o
argumento de que, em Kali-yuga, a civilização moderna concentra-se
principalmente nas cidades. Uma grande cidade, contudo, é como uma grande
floresta. Na verdade, a vida na cidade é mais perigosa que a vida na floresta.
Se alguém, sem amigo ou refúgio, entra numa cidade desconhecida, viver nessa
cidade ser-lhe-á mais difícil do que viver numa floresta. Existem muitas
metrópoles em toda a superfície do globo, e, para onde quer que olhemos, vemos
que a luta pela existência acontece vinte e quatro horas por dia. As pessoas
correm a toda em seus carros, a uma velocidade de cento e dez a cento e trinta
quilômetros por hora, constantemente indo e vindo, e isso monta o cenário da
grande luta pela existência. A pessoa tem que levantar de manhã bem cedo,
entrar nesse carro e viajar a uma velocidade muito arriscada. Sempre há perigo
de acidentes, e a pessoa precisa tomar bastante cuidado. Em seu automóvel, a
entidade viva está cheia de ansiedades, e sua luta não é nada auspiciosa."
Copyright BBT 1975
Meu querido Srila
Prabhupada, os anos se passaram rapidamente. Passei por várias situações
difíceis. Mesmo assim, eu sigo em frente sem realmente compreender que,
"Se não fosse pela misericórdia de Krsna eu estaria morto." Por favor
me dê a inteligência para compreender a urgência de me render a você. Quando a
morte chegar quero ter minha mente fixa em seus pés de lótus. Não quero ser
jogado de um lado para o outro pela energia material. É doloroso demais.
Desejando entender
o que significa ser,
Seu servo,
Srutakirti
dasa
Srila Prabhupada Uvaca 116
Sete de fevereiro
de 1975; Honolulu, Havaí;
ISKCON, Nova
Navadvipa
Sudama
Maharaja se retirou da administração de Nova Navadwipa, então Srila Prabhupada
estava reunido com um grupo de discípulos antigos para decidir quem iria
assumir essa responsabilidade. Seu editor de sânscrito, Nitai prabhu, sugeriu
que fosse eu. Srila Prabhupada conhecia bem minha natureza e disse: "Não.
Srutakirti é calmo demais para administrar um templo." Quando Nitai me
contou isso, sorri, podendo ver que ele me conhecia melhor que eu mesmo. Srila
Prabhupada chamou Manasvi para vir de Bombaim para administrar o templo.
Durante a estadia de Srila Prabhupada aqui, Nitai e Paramahamsa Maharaja
estavam tentando me convencer a ir com eles como servo pessoal de Srila
Prabhupada, durante suas viagens pelo ocidente. Eu lhes disse gostava da idéia
de ser seu servo no ocidente, mas eu sempre acabava de volta na Índia, e eu não
queria ir para Índia. Eles disseram que seria muito bom eu viajar com eles pelo
ocidente por que não havia ninguém para cozinhar para Srila Prabhupada. Quando
fosse para voltar à Índia eles chamariam Nanda Kumar para viajar com Srila Prabhupada.
Eu disse que me parecia ser bom em teoria, mas não muito prático. Eles não
conseguiram me convencer.
Um dia antes de
Srila Prabhupada sair de Nova Navadvipa, Guru Kripa Maharaja me disse que Srila
Prabhupada queria me ver antes de sair para Los Angeles. Juntos nós voltamos ao
quarto de Srila Prabhupada e prestamos reverências. Srila Prabhupada olhou para
mim com um sorriso e disse: "Então, Srutakirti, você vai ficar aqui? Sua
esposa está aqui, com filho?" Respondi: "Sim, Prabhupada." Ele
continuou: "Então, você vai ajudar Manasvi administrar o templo?"
Respondi com menos convicção: "Sim, Prabhupada. Acredito que sim." Eu
estava pensando como era egoísta de não ir com meu magnífico Mestre Espiritual.
Ele estava me dando toda oportunidade para dizer que queria ir com ele, mas
ainda assim não o fazia. Srila Prabhupada sorriu afetuosamente e disse:
"Então, isso é bom. Você fica aqui com sua esposa e filho."
Fiquei sentado lá,
em frente a Srila Prabhupada, com minha mente girando. Meus sentidos estavam me
arrastando para todos os lados. Srila Prabhupada estava me dando a oportunidade
de viajar com ele novamente. Ele estava me esperando abrir a boca e meu
coração, mas eu não conseguia. Era realmente incrível como ele era tolerante.
Eu não sabia o que dizer. Srila Prabhupada começou a rir e virou seu olhar
transcendental a Guru Krpa, e disse: "Sim, você sabe o que eles chamam a
mulher e filhos? São conhecidos como a tigresa e o chacal." Gurukrpa
Maharaja, que estava sentado ao meu lado durante toda a conversa, disse, rindo:
"Srila Prabhupada, eu sei porque a mulher é comparada ao uma tigresa, mas
porque as crianças são comparadas ao chacal?" Srila Prabhupada respondeu:
"Bem as crianças, de várias maneiras, criam muitas inconveniências para o
pai. Estão sempre precisando de tantas coisas e às vezes o incomodando tanto
que não consegue dormir. Dessa forma, é como se tivessem comendo a corpo do
pai. Essa é a ocupação dos chacais, comer a carne de outros animais."
Foi a gota d’água.
Imediatamente me rendi, dizendo: "Srila Prabhupada, eu irei com você como
seu servo." Srila Prabhupada sorriu largamente, inclinando sua cabeça para
a direita, e disse: "Tudo bem!" Eu prestei reverências e sai do
quarto de Srila Prabhupada com passos enérgicos. Sabia que estava fazendo a
coisa certa. Comecei a me preparar para mais um excitante tour a serviço de Sua
Divina Graça. Quando a notícia rapidamente se espalhou dentro da comunidade,
Janmadogni dasa, um devoto inteligente com idéias controversas, me disse que
estava em maya por não ficar com minha esposa e filho. Não afetado, sorri e
sai, confiante, me sentindo corretamente situado. Srila Prabhupada
misericordiosamente tinha deixado meu serviço muito claro para mim. Era apenas
devido a minha pouca inteligência que foi necessário me dar uma paulada com um
exemplo tão forte.
As comparações que
ele fez são para pessoas materiais. Ele freqüentemente explicava que esses
exemplos não se aplicavam àqueles envolvidos em serviço devocional. Tais almas
iluminadas não estão no conceito corporal da vida. O que era realmente incrível
foi quando vi o seguinte verso e significado que Srila Prabhupada tinha
traduzido apenas alguns dias antes.
S.B.5:14:3
Tradução
"Meu querido
rei, os membros familiares neste mundo material são rotulados de esposa e
filhos, mas, na verdade, eles se comportam como tigres e chacais. Tentando
proteger suas ovelhas, um pastor faz tudo o que pode, mas os tigres e raposas
levam-nas à força. Do mesmo modo, embora um homem avaro queira guardar seu
dinheiro mui cuidadosamente, seus membros familiares levam à força todos os
seus bens, por mais vigilante que ele seja."
Significado
Um poeta hindi
canta: din ka dakini rat ka baghini palak palak rahu cuse. Durante o
dia, a esposa é comparada a uma bruxa, e de noite é comparada a uma tigresa.
Sua única ocupação é sugar o sangue de seu esposo tanto de dia quanto de noite.
Durante o dia, existem muitas despesas domésticas, e o dinheiro ganho pelo
esposo à custa de seu sangue é gasto. À noite, devido ao prazer sexual, o
esposo elimina o sangue na forma de sêmen. Dessa maneira, sua esposa aplica-lhe
sangria tanto de dia quanto de noite, mas ele é tão louco que chega inclusive a
mantê-la com muito cuidado. Do mesmo modo, os filhos são como tigres, chacais e
raposas. Assim como os tigres, chacais e raposas levam as ovelhas apesar da
proteção vigilante do pastor, os filhos surrupiam o dinheiro do pai, embora o
pai o controle pessoalmente. Assim, os membros familiares podem ser chamados de
esposas e filhos, mas, na verdade, eles são assaltantes. S.B. 5:14:3
Copyright BBT 1975
Srila
Prabhupada nunca poderei lhe recompensar
por todos as coisas maravilhosas que você fez por mim. Mas essa realmente se
destaca. Da maneira mais doce você me levou de volta aos seus pés de lótus por
mais cinco meses. Você facilmente poderia ter ido sem mim, mas você me permitiu
segui-lo, de novo. Fico imerso no néctar de saber que você queria que fosse
junto. Por favor, me dê a inteligência para poder glorificá-lo propriamente,
podendo assim realizar um pouco de serviço mostrando ao mundo que você é o
devoto mais glorioso do Senhor. Por favor, pegue-me mais uma vez e coloque-me a
seus pés de lótus, o único lugar seguro para essa alma distraída.
Srila Prabhupada Uvaca 117
Onze de fevereiro
de 1975; Cidade do México, México;
ISKCON, Cidade do
México
Chegando na Cidade
do México tivemos uma experiência extraordinária. Srila Prabhupada, emissário
transcendental de Goloka Vrindavana, foi recebido com honra pelos devotos aqui.
Srila Prabhupada não teve que passar por nenhuma alfândega ou controle de
passageiros, indo direto do avião para uma limusine que o esperava. Como se não
fora o suficiente, os devotos daqui, liderados por Hridayananda Maharaja,
providenciaram uma escolta policial, que acompanhou a limusine do aeroporto até
o templo. Foi uma mudança extremamente agradável da normalmente massacrante
experiência com aeroportos. Nós estávamos acostumados a sermos tratados com
suspeita, como criminosos em potencial, na alfândega de outros aeroportos
internacionais.
A caminho do
templo Srila Prabhupada expressou apreciação pelo tratamento VIP. Ansioso para
continuar a agradar Sua Divina Graça, Hrdayananda Maharaja aproveitou a
oportunidade para relatar a Srila Prabhupada todas o incrível serviço que a BBT
espanhola tinha realizado. Muitos livros estavam sendo traduzidos e
distribuídos em
espanhol. Srila Prabhupada ficou muito feliz em saber que as
glórias do Senhor estavam sendo divulgadas.
Quando ele chegou
no templo, Srila Prabhupada teve darshan com as Deidades e depois pediu o maha
Delas. Essa era a rotina de Srila Prabhupada, ao viajar de templo em templo. Ele sempre
tinha especial interesse em ver como as Deidades estavam sendo adoradas. Era
como se Srila Prabhupada fosse o inspetor transcendental de Krsna, tendo
certeza que a adoração das Deidades estavam sendo bem feitas por suas crianças.
Depois de provar
um pouco da maha prasadam, Srila Prabhupada disse: "Essa prasadam está
horrível. A adoração não está à altura. É importante que a adoração da Deidade
seja muito bem feita." Srila Prabhupada enfatizou novamente: "É
igualmente importante adorar as Deidades da melhor forma possível como é
distribuir livros." Meu coração pesava ao pensar nos devotos responsáveis
pela cozinha, mas eu sabia que era a vez deles de receber instruções
misericordiosas. Isso seria algo que nunca esqueceriam.
Eu especulava a
respeito do relacionamento de Srila Prabhupada com as Deidades. Tendo uma visão
mundana, eu via as lindas formas do Senhor, mas não conseguia reconhecer o
princípio inato de interação recíproca (lila). Às vezes, tentava imaginar como
seria ter darshan com as Deidades e ver Krsna da forma que Srila Prabhupada
certamente via. Srila Prabhupada enfatizava que tínhamos que entender que Krsna
não é diferente de sua forma no templo. Ele gentilmente nos lembrava
repetidamente - "Krsna está aqui em Sua forma Arca-Vigraha."
Durante sua
estadia Sua Divina Graça deixou todos ficarem sabendo que era imperativo ter
adoração de primeira classe, junto com a distribuição de livros. Afinal, o
propósito de todos livros de Srila Prabhupada era de compreender que Krsna era
a Suprema Personalidade de Deus e nós Seus servos. Adoração da deidade era uma
forma de se aplicar tudo que estava descrito nos livros de Srila Prabhupada.
Quando chegou a
hora de sair da Cidade do México a Caracas, os devotos fizeram os mesmos
arranjos, com a limusine e escolta policial até o aeroporto, na esperança de
aliviar os incômodos normais de viagens internacionais. Porém, quando Srila
Prabhupada chegou no aeroporto no carro, houve um atraso e ele não pode
embarcar. Ele teve que ficar no carro quase uma hora. Sentado lá ele disse:
"Teria sido melhor esperar no terminal. Mas estou esperando aqui no
carro." Foi difícil para nós que estávamos presentes, saber que Srila
Prabhupada não estava tendo a oportunidade de se despedir dos seus discípulos.
Srila Prabhupada
retribuía com transcendência, em aeroportos com muitos de seus discípulos ao
redor do mundo. Para muitos devotos, essa era a maior oportunidade de se associar
pessoalmente com Srila Prabhupada. Srila Prabhupada sentiu a separação de seus
discípulos ao ser negado esse prazer.
Quando Srila
Prabhupada chegou no templo de Caracas, Venezuela, foi como um replay de sua
chegada a Cidade do México. Ele teve darshan com as Deidades e mais tarde, em
seu quarto, pode provar a maha prasadam. De novo, Srila Prabhupada disse:
"Esses puris estão terríveis e as verduras também. Essa prasadam não está
boa. Adoração da Deidade tem que ser de primeira. É preciso adorar a Deidade
com esmero!" Novamente fiquei surpreso, pois era muito raro Srila
Prabhupada dizer a seus discípulos que tinham que melhorar a adoração da
Deidade. De qualquer forma, Srila Prabhupada gentilmente estimulou seus
piedosos e jovens discípulos a avançarem no caminho espiritual.
Nunca era o caso
de Srila Prabhupada ficar chateado conosco e por isso nos estávamos arruinados.
Ele sempre enfatizava a importância de realizar nosso serviço com cuidado e
atenção. Esse é o exemplo que nosso amado Mestre Espiritual nos deixou. Tudo
que Srila Prabhupada fazia era com a máxima atenção e devoção ao Senhor.
Srila Prabhupada
gostava muito de ficar nessa parte do mundo e ficou impressionado com a
sinceridade dos devotos. Eu também gostava de estar no templo de Caracas, visto
que fiquei lá alguns meses, quando pela primeira vez larguei o serviço pessoal de Srila Prabhupada
em janeiro de 1974. Conhecia bem a maioria dos devotos e, para mim, era como
estar em casa.
Srila Prabhupada,
você criou uma grande família de Vaisnavas. Você é o munificente pai e avô de
dezenas de milhares de devotos do Senhor Krsna. Você bondosamente possibilitou
que seus seguidores fossem para qualquer lugar no mundo, tivessem darshan com a
Suprema Personalidade de Deus e aproveitassem a associação de amigos e família.
Esse é um dos grandes benefícios adicionais de ser um membro de sua Iskcon. Por
favor, permita que esse filho pródigo permaneça em sua família para sempre.
Você nos instruiu
que "Distribuição de Livros e Adoração da Deidade" tem que ir lado a
lado. Seus livros nos inspiram e nos dá conhecimento para servir Krsna.
Adoração da Deidade nos dá a prática. As Deidades são a raiz original dessa
família Vaisnava, sem Elas, estamos perdidos. Seus livros são como cordiais
convites a vir pessoalmente servir à Deidade. Nosso dever é lembrar a todos que
encontramos que nós somos servos do Senhor. Adoração à Deidade do Senhor Krsna
acontece em seus templos ao redor do mundo. Seus livros convidam todos,
"Por favor, venha você servir o Senhor." Adoração da Deidade é o
apogeu do serviço amoroso. Seus livros são o conhecimento que nos permiti
chegar a esse estágio. Você está nos chamando, "Volte ao Supremo."
Srila Prabhupada Uvaca 118
Vinte e cinco de
fevereiro de 1975; Miami, Florida, EUA
ISKCON Miami
Srila Prabhupada
chegou em Miami, depois de duas maravilhosas semanas na Cidade do México e
Caracas, Venezuela. Ele ficou numa pequena casa próxima ao templo. A casa era
normalmente a residência de um casal de devotos. Na casa havia posters de
quadros devocionais dos livros de Srila Prabhupada nas paredes. Quando Srila
Prabhupada e eu entramos na casa, ele olhou para um poster em particular. Krsna
estava sentado na carruagem e Arjuna estava em pé ao Seu lado, com sua mão
esquerda levada a sua testa. Parecia que Arjuna estava muito angustiado.
Srila Prabhupada
começou a rir. Fiquei ao seu lado e ele explicou: "Sim, essa imagem, eu
gosto muito desse trabalho. Essa imagem é muito instrutiva." Desconhecendo
qualquer ligação com minha própria vida, ingenuamente perguntei: "Como
assim, Srila Prabhupada?" Conhecendo-me completamente, ele respondeu:
"Bem, Krsna está dizendo a Arjuna, ‘Você tem que abrir mão de tudo.’ Ele
está dizendo para Arjuna, ‘Largue sua família, você tem que matá-los, você tem
que matar os membros de sua família.’ Então essa é a questão. A pessoa tem que
estar disposta a abandonar tudo para Krsna e fazer o que Krsna deseja. Você tem
que estar disposto a abrir mão de sua esposa, filhos, tudo. Você tem que estar
disposto a matar seus parentes se é isso que Krsna quer, o que dizer de
abandoná-los. Se Krsna quiser, você mata seus parentes. Isso é um devoto. Um
devoto está disposto a matar seus parentes para Krsna. Então, aqui Arjuna está
pronto, ele está aceitando, aí tudo vai ficar bem. Como devotos, temos que ter
a capacidade de abrir mão de todos vínculos familiares." Foi um choque, já
que ainda me considerava um recém casado com um lindo filho. Eu estava apenas
iniciando minha vida familiar e certamente não estava dispostos a abandoná-los,
muito menos matá-los. Esse nível de rendição era muito extrema. Simplesmente
aceitei o fato que eu ainda não podia ter essa compreensão. Oprimido por minha
ignorância, olhei para o chão e disse em voz débil: "Sim, Srila
Prabhupada."
Depois de explicar
a imagem, Srila Prabhupada seguiu para dentro da pequena casa. Comecei a
desfazer sua bagagem, considerando a valiosa instrução. Eu ansiava pelo
conforto do apego familiar e estava atormentado pelo fato de ter deixado meu
filho e jovem esposa.
A maneira com qual
Sua Divina Graça falou comigo ao entrar na casa, explicando o dilema de Arjuna,
foi completamente objetiva. Srila Prabhupada era tão esperto e maravilhoso que
ele não estava me instruindo diretamente. Ele não estava me dizendo que tinha
que abandonar minha família. Ele estava gentilmente me convidando a chegar a
minhas próprias conclusões. Não tinha qualquer indicação em sua voz que isso se
tratava de minha situação especificamente. Eu estava apegado e determinado a
ficar com minha família. Srila Prabhupada estava me preparando filosoficamente
para tomar a importante decisão que tomaria em breve.
Eu tinha me
juntado ao exército de Prabhupada e Krsna. Em vez de ser o Tio Sam no cartaz,
era Prabhupada apontando e dizendo: "Krsna quer você!"* Estávamos em
guerra contra maya. Srila Prabhupada, que é
nosso comandante e chefe, pediu que nós adotássemos medidas de
emergência. Como guerreiros voluntários isso requeria grandes sacrifícios
pessoais. Podíamos escolher entre a pregação na linha de frente ou fazer um trabalho
de apoio nas bases. No meu caso isso significava servir Srila Prabhupada
pessoalmente e para muitos significava longas horas de sankirtan.
Um pouco cansado
da batalha contra maya, fiquei ciente que a guerra nunca acabaria. De alguma
forma ou outra compreendi que não bastava uma única tentativa para me render. A
mágica de eliminar todo estresse através de Consciência de Krsna instantânea
não parecia ser mais possível para mim. Poderia fazer a maravilhosa escolha de
ficar corretamente situado aos pés de lótus de Srila Prabhupada, mas isso não
significava que minha mente se entregaria ao controle da minha inteligência.
Minha inteligência batalhava diariamente com minha mente rebelde. No passado
essa batalha tinha me levado à doença.
Eu estava
tranqüilo sabendo que minha família estava sendo cuidada pelo Templo do Havaí.
Não era como se eu tivesse abandonado-os. Simplesmente tinha sido chamado para
fazer um serviço externo. Eu só estava com Srila Prabhupada há duas semanas,
desde que saímos do Havaí. Ficava feliz em pensar que estaria de volta a minha
amada família quando Sua Divina Graça deixasse os EUA. Afinal, esse era o
acordo feito com Paramahamsa Swami, o secretário de Srila Prabhupada, onde
Nanda Kumar seria o servo de Srila Prabhupada durante suas viagens pela Índia.
Eu estava muito apegado a esse acordo.
Porém, Srila
Prabhupada parecia está me preparando para mais serviço amoroso transcendental
ao me instruir num nível bem diferente. Ele estava me dando a oportunidade de
me render a Krsna e ficar com ele com seu servo pessoal. Parecia que ele estava
me pedindo para largar meu apego por minha família e continuar como seu servo
pessoal. Ele não disse mais nada a respeito enquanto ficamos em Miami. Com medo,
certamente também não toquei mais no assunto.
Sempre cem por
cento, Consciente de Krsna, Srila Prabhupada sempre nos ensinava a nos render a
Krsna, declarando guerra a maya. Porém, eu não estava Consciente de Krsna. Eu
tinha flashes, mas visão mesmo não. Era difícil para eu ficar no fogo de Consciência
de Krsna. Era difícil ficar na linha de frente. Estava cansado e precisando de
alívio, de um pouco de gratificação dos sentidos. Eu precisava de uma dose
rápida, para aliviar a dor de negar meus sentidos. Meu vício ao prazer
independente me consumia. Apesar de sempre gostar de ficar com Srila
Prabhupada, meus sentidos estavam sempre agitados. Estava sempre procurando uma
maneira de pacificá-los. Posso me lembrar de como, não importa onde estivesse,
estava sempre ansioso para chegar ao próximo templo. Incapaz de ficar em paz
onde estava, sempre me prometia que a satisfação estava na próxima esquina.
Então estava sempre pronto para seguir em frente.
De alguma forma ou
outra, apesar de minha natureza instável, Srila Prabhupada estava satisfeito me
tendo como seu servo. Isso é um fato importante. Srila Prabhupada, estava
satisfeito com aquilo que Krsna providenciava. Felizmente ele não desistiu de
mim. Apesar de minhas numerosas falhas, ele nunca me pediu para ir embora ou
fazer outra coisa. Ele me deixou ficar aos seus pés de lótus e render-lhe
serviço íntimo, não importa o quanto minha mente estava agitada. Eu me
refugiava ao massagear os pés de lótus de Sua Divina Graça e ficava em paz.
Meu amado mestre,
você é tão compassivo. Você sempre me estimulava da maneira mais doce possível
a ficar sob seus cuidados e realizar serviço devocional. Eu era tão
desafortunado que não fui capaz de me render aos seus desejos. Não tem um dia
que se passa que não lamento minha tolice. Rezo para que algum dia eu possa novamente
ter a oportunidade de esfregar seus pés de lótus. Se acontecer, espero poder me
lembrar quão facilmente abandonei esse serviço, para que nunca mais largue
esses dourados e macios pés de lótus.
*Nota do tradutor:
Aqui Srutakirti se refere ao famoso poster amplamente usado na Segunda Guerra
Mundial pelo Governo Americano, onde Tio Sam, a personificação do Governo,
estava apontando para frente e dizendo a todos para se juntarem ao exército e
ajudar o governo nos seus esforços bélicos.
Srila Prabhupada Uvaca 119
Vinte e oito de
fevereiro de 1975; Atlanta, Geórgia, EUA;
ISKCON Atlanta
A visita de Srila
Prabhupada ao templo de Atlanta durou apenas alguns dias, mas foi repleta de
néctar transcendental. Srila Prabhupada inundou a comunidade de devotos com
amor a Personalidade de Deus. Quando Sua Divina Graça chegou, ele fez a
seguinte palestra, breve e doce, para os devotos, em frente às Deidades.
Srila Prabhupada:
Então estou muito feliz de vê-los e estou vindo da Cidade do México?
Devoto: Sim!
Srila Prabhupada:
Então, Cidade do México, depois Caracas, depois...
Devoto: Miami.
Srila Prabhupada: Miami. Então vejo que o templo de vocês é o melhor.
Devotos: Jaya! Haribol!
Srila Prabhupada:
Então, Caintanya Mahaprabhu é muito bondoso. Parama karuna pahu dui jana. Dois
Senhores, Nitai-Gauracandra, Nityananda Prabhu and Sri Caintanya Mahaprabhu,
Eles são muito bondosos, entendem? Eles apareceram para salvar as almas caídas
desta era. Então eles são mais bondosos que Krsna. Krsna, Ele também é muito bondoso.
Ele vem para nos salvar. Mas Krsna exige que primeiro nós devemos nos render.
Caintanya Mahaprabhu não sequer exige rendição. Ele é tão bondoso (voz já
falhando). Então, rendam-se a Sri Caitanya Mahaprabhu e sejam felizes. Muito
obrigado. (chorando).
Srila Prabhupada
se derreteu em êxtase ao ver as Deidades. Inundado pelo amor a Deus, lágrimas
nectáreas de êxtase corriam dos olhos de Srila Prabhupada. Srila Prabhupada
ficou emocionado ao ver as Deidades sendo tão bem cuidadas. Como fomos
afortunados! Foi incrivelmente doce testemunhar os encontros transcendentais de
Srila Prabhupada com as Deidades! Não é possível descrever adequadamente Sua
Divina Graça, nos dando uma noção de seu êxtase divino. Srila Prabhupada via o
Senhor perante ele. Eu, por outro lado, via apenas linda deidades feitas de
metal. Não compreendia a natureza real de Arca Vigraha. Podia apenas imaginar o
que Srila Prabhupada estava sentindo.
Srila Prabhupada
raramente revelava seus sintomas de êxtase. Ele pediu desculpas quando entrou
em transe extático da última vez em Mayapur. Essa foi a única vez que fui afortunado
o suficiente para ver as lágrimas de êxtase de Srila Prabhupada. Pasmos e
maravilhados pelos humores transcendentais de Srila Prabhupada, todos ficaram
parados. Estávamos absolutamente atentos ao ver nosso Mestre Espiritual deixar
sua consciência externa e cada momento parecia doze anos ou mais.
Misteriosamente o tempo se expandiu em nossa volta como o grande desconhecido.
Intensamente comovidos, ficamos extáticamente esperando Srila Prabhupada
voltar. Quando Sua Divina Graça novamente se juntou a nós, ele acenou com a
cabeça para que o kirtana fosse começado.
O que mais me
impressionava era a capacidade que Srila Prabhupada tinha de conter esses
sintomas de êxtase regularmente. Ele se controlava perfeitamente para nos
instruir e dar continuidade ao movimento do Senhor Caitanya. Não éramos capazes
de realmente entender o êxtase de Srila Prabhupada, portanto ele
compassivamente nos treinou do nível de neófito para frente. Serviço devocional
é tão cheio de bhava transcendental que malandros tolos poderiam facilmente
considerar tais emoções como sendo mundanas, pois é tudo que conhecem. Srila
Prabhupada cuidadosamente viveu uma vida exemplar, nos ensinando aquilo que
estávamos prontos para aprender.
Aqui em Atlanta
ele também tocou mrdunga no vyasasana durante kirtan. Essa foi a única vez que
testemunhei esse incrível evento. Todos aqui tiveram uma oportunidade muito
rara de ver brevemente seu mestre espiritual de forma muito extática.
Hoje posso
entender que se eu conseguir meditar em qualquer dia de sua vida eu posso me
tornar consciente de Krsna. Cada minuto de sua presença, é repleta de ondas de
néctar que continuamente saem de sua forma transcendental. Sou incapaz de apreciar
o amor a Deus que você emana porque minha consciência está coberta pelo desejo
de gozar os sentidos. Srila Prabhupada, por favor, me dê os olhos para poder
vê-lo.
Srila Prabhupada Uvaca 120
Um de março de
1975; Atlanta, Geórgia, EUA;
ISKCON Atlanta
Paramahamsa,
Nitai e eu recebemos um tesouro transcendental único durante nossa estadia em Atlanta. Quando Srila
Prabhupada chegou em Atlanta o clima estava frio. Os devotos deram a Srila
Prabhupada um par de meias e sapatos de lona. Na manhã seguinte ajudei Srila
Prabhupada enfiar seus dedões transcendentais em seus novos sapatos com a ajuda
da abençoada calçadeira. Depois de sua caminhada e programa matinal, Srila
Prabhupada tocou seu sino. Fui até seu quarto e prestei reverências. Sentei-me
e olhei para Srila Prabhupada. Ele disse: "Esses sapatos não são do
tamanho certo, você pode usá-los." Imediatamente respondi: "Não posso
usar seus sapatos Srila Prabhupada. Seria ofensivo." Ele respondeu
gentilmente: "Se eu lhe der permissão então não tem problema."
Que surpresa!
Srila Prabhupada era sempre cheio de surpresas, mas essa eu nunca imaginei -
andar com os sapatos de meu Guru Maharaja*! Com um menino, fiquei cada vez mais
excitado com a idéia de calçar os sapatos do meu pai espiritual. Eu tinha
ouvido falar que não se deve usar o sapato do Mestre Espiritual, o que tornou a
idéia ainda mais fascinante. Pensar que eu poderia quebrar essa regra era algo
controverso! Adorei! Eu tinha firme fé que quando Srila Prabhupada dizia que
algo estava bem, então com certeza não tinha problema, portanto estava seguro e
muito feliz, sabendo que seus sapatos eram cheios de incrível potência.
Sorrindo, aceitei ficar com seus sapatos. A generosidade de Srila Prabhupada
continuou a fluir em minha direção. Ele perguntou: "Você precisa de
meias?" Tenho que confessar que, apesar de não se recomendar ficar
aceitando presentes do mestre espiritual, eu estava achando o máximo. Com
elevado prazer e muito sem vergonha, alegremente respondi: "Sim, acho que
sim." Ele disse: "Tudo bem, pegue algumas meias para você e para
Paramahamsa e Nitai também."
Alegremente segui
sua instruções. Prestei reverências, enchi os braços com o sapato e algumas
meias e sai correndo do quarto. A primeira coisa que fiz foi correr para um
lugar escondido, como uma criança que está aprontando, e tentei calçar aqueles
sapatos transcendentais. Como a malvada meia irmã de Cinderela, meus pés
infelizmente eram grandes demais para os sapatos de Sua Divina Graça.
Insistentemente, tentei enfiar meus pés nos sapatos mágicos de Srila
Prabhupada. Finalmente pude compreender a profunda lição. Eu, praticamente e
simbolicamente, jamais poderia andar com os sapatos de Srila Prabhupada.*
Brincalhão como
sou, infelizmente não dei muita importância a esse profundo significado. Minha
natureza malandra me fez correr até meus irmãos espirituais, a quem alegremente
entreguei as meias de Srila Prabhupada, explicando que ele queria que eles as
aceitassem. Eles resistiram, dando me uma bronca por ter agido de forma pouco
recomendada. Eles reagiram exatamente da maneira que eu esperava. Ainda
resistindo fortemente, ainda brinquei com eles e depois lhes transmiti as
benções de Srila Prabhupada. A controvérsia tinha sido confirmada pela maneira
que me criticaram, ficando assim mais doce a aventura. Ouvindo as benções, eles
rapidamente pegaram as meias das minhas mãos e as colocaram sobre seus dedões
frios.
Srila Prabhupada
pessoalmente utilizava tudo em serviço de Krsna ou fazia com que outros
seguissem esse princípio transcendental de utilidade. Então, tentando seguir
seus passos, não em seus sapatos, rapidamente me recuperei do fato que seus
sapatos não me cabiam. A próxima vez que vi o presidente do templo, eu lhe
expliquei o fato dos sapatos não servirem Srila Prabhupada bem, e que ele
poderia ficar com eles.
Ele os pegou e
colocou ao pé do Vyasasana de Srila Prabhupada. Envergonhado, não consegui lhe
contar a história toda, mas me tranqüilizei pelo fato de saber que não é
possível contaminar nada que já tivesse tido contato com nosso completamente
puro mestre espiritual.
Srila Prabhupada,
você foi incrivelmente misericordioso comigo. Muitas vezes ouvi dizer que, ‘a
familiaridade gera desprezo’. Eu sei que fui incrivelmente ofensivo ao não
compreender corretamente sua gloriosa presença, mas contrário a relacionamentos
mundanos, quanto mais você me abençoava com sua associação, mas eu podia
apreciar sua grandeza.
Você continuamente
expressou seu amor por todos que encontrava. Você retribuía com genuína
afeição, ao expressar, calorosamente, seu amor por seus discípulos, fiquei cada
vez mais encantado e apegado a você. Você encarna tudo que prega. Você
livremente dava seu amor espiritual a todos. Como seu amor era imotivado e
incondicional, ele nunca diminuía ou perdia seu valor. Seu amor atravessa o
tempo e espaço e atinge o coração de todos afortunados o suficiente para
receber sua literatura transcendental. Você fica eternamente perto dos corações
de seus discípulos fieis, que aderiram ao seu Bhagavat Vani. Por favor, me
perdoe por pensar que poderia andar com seus sapatos*. Ninguém pode ser
comparado a você. Eu deveria saber disso. Apesar de nunca poder calçar seus
sapatos, rezo para algum dia poder
seguir esses divinos passos que você tão claramente colocou diante de mim.
*Nota do tradutor:
Aqui, e em outros lugares desta história, Srutakirti faz uma alusão a uma
expressão em inglês – "fit (ou walk) in your shoes" (literalmente
calçar seus sapatos) que significa "ter a mesma capacidade" ou
"atingir o mesmo nível".
Srila Prabhupada Uvaca 121
Dezembro de 1974;
Los Angeles, CA, EUA;
ISKCON Nova Dwarka
Durante uma noite
muita fria em Nova Dwarka ,
eu estava com as duas bocas do meu fogão acessos no meu quarto, para aquecê-lo
o suficiente para conseguir dormir. Ajudava bastante, pois eu dormia numa
esteira de palha usando meu chaddar como um cobertor. Eu tentava manter ao
mínimo minha parafernália para ficar mais fácil de viajar em volta ao mundo com
Srila Prabhupada. Às vezes, eu usava uma mala para Sua Divina Graça e uma
pequena para mim, mas a maioria das vezes eu mantinha os pertences de nós dois
na mesma mala.
Srila Prabhupada
viu isso à noite e então, na manhã seguinte, ele me chamou bem cedo. Entrei em
seu quarto, prestei reverências e olhei para meu sempre misericordioso guru. Ele
disse: "Por que você está dormindo com o fogão aceso à noite?" Eu lhe
expliquei que o calor do fogo me ajudava a dormir a noite, agora que tinha
ficado tão frio.
Ele prosseguiu:
"Você não tem um cobertor?" Respondi: "Não, Srila Prabhupada.
Normalmente não preciso de um." Ele respondeu: "Tudo bem, vá até meu
armário e escolha qualquer cobertor e suéter que quiser." Eu
entusiasticamente corri até o seu armário. Depois de examinar os quatro
cobertores cuidadosamente dobrados na estante, eu escolhi o mais grosso e
colorido deles. Depois peguei uma de seus suéteres açafroados. Voltei ao quarto
e lhe mostrei minhas escolhas. Ele sorriu em aprovação, acenando com a cabeça,
e disse: "Tudo bem, pode ir agora." Eu prestei reverências e sai do
quarto me considerando a alma mais afortunada do mundo.
Usei o cobertor
todas as noites, me sentindo coberto pelo amor de Srila Prabhupada, que me
manteve espiritualmente quente. Certo dia estava andando com um de meus amigos,
Brahmarupa prabhu. Ele me perguntou se não queria dormir na sala do templo
aquela noite, junto com os outros devotos. Eu aceitei. Como fico sempre
sozinho, a idéia me pareceu interessante. Fui com meu cobertor colorido. Tinha
um lado com um acabamento bem liso, tipo de seda, e do outro era bem peludo e macio.
Quando entrei na sala Brahmarupa arregalou seus olhos e exclamou: "Onde
você conseguiu isso?" Eu lhe disse: "Srila Prabhupada me deu-o."
Quando eu disse isso, comecei a me sentir culpado por possuir algo tão valioso
e disse: "Você quer?" Ele imediatamente disse: "Sim!" Então
dei o cobertor para ele.
Uma semana mais
tarde, quando estava me preparando para dormir em meu quarto, Srila Prabhupada
viu que não estava com meu cobertor. Ele perguntou: "Onde está o cobertor
que eu lhe dei?" Envergonhado, eu respondi em voz baixa: "Um dos
devotos o viu e, quando disse que era seu, ele ficou tão excitado que me senti
na obrigação de dar para ele." Ele calmamente respondeu: "Tudo bem,
pegue outro cobertor." Com um pouco mais de emoção ele disse: "E
dessa vez não o dê para ninguém." Novamente, acatei alegremente sua
generosa instrução e peguei outro cobertor prasadam.
Em certas
ocasiões, quando estávamos em lugares frios, Srila Prabhupada me dava suéteres.
Porém, nunca consegui ficar com sequer um deles. Invariavelmente um devoto
descobria que era prasadam de Srila Prabhupada e eu ficava me sentindo egoísta
e então o dava. Meus irmãos espirituais apreciavam muito prasadam de Srila
Prabhupada. Quando viajava com Srila Prabhupada, eu ficava com muito pouco. Eu
achava que não era prático carregar muitas coisas. Ao contrário, eu não estava
sendo nada prático, mas na época eu não entendia isso.
Srila Prabhupada,
você exibe completa fé no Supremo Senhor em todas suas atividades. Você
freqüentemente nos dizia que se nós nos ocupássemos completamente no serviço de
Krsna, então todas nossas necessidades seriam supridas. Pude vivenciar essa
verdade diversas vezes enquanto realizava seu serviço pessoal. Não havia
necessidade de fazer esforço específico. Sua simplicidade era exemplar.
"Os homens comuns seguem os passos de um grande homem." A vida é uma
luta constante quando esqueço de servir seus pés de lótus. Eu rezo para obter
sua misericórdia sem causa e assim poder eternamente lhe servir sem me
preocupar com meu conforto pessoal.
Srila Prabhupada Uvaca 122
Três de março de
1975; Dallas, Texas, EUA;
ISKCON Dallas
Srila Prabhupada
viajou rapidamente pelo mundo ocidental. Normalmente, ele passava apenas alguns
dias ou, no máximo, uma semana em cada templo. Os dois locais, que ele abençoou
com estadias mais longas, foram Nova Dwarka em Los Angeles e Nova
Navadvipa no Havaí.
Depois de ficar no
Yatra de Atlanta durante dois dias, Srila Prabhupada e sua comitiva seguiram
para o centro de Dallas, ficando lá por mais dois dias. Minha mente estava fixa
no acordo que fiz com Paramahamsa Maharaja, onde eu voltaria para minha esposa
e filho no Havaí antes de Srila Prabhupada partir para Índia. Parte de mim
ansiava pelo conforto de sociedade, amigos e amor que a vida como grihastha oferecia.
Uma outra parte de mim estava se acabando com sentimentos de culpa por largar
meu amado Guru Maharaja. Com um coração intranqüilo era difícil para eu ficar
sentado sozinho no quarto, hora após hora, dia após dia, esperando ser chamado.
Meus sentidos estavam agitados, me obrigando a falar com Paramahamsa Maharaja
para por o plano em prática.
Falei então com
Paramahamsa, já que o centro de Dallas era o mais próximo de Los Angeles, onde
Nanda Kumar estava. Eu lhe disse que estava na hora de fazer a troca entre
Nanda Kumar e eu. A próxima parada de Srila Prabhupada era Nova Iorque, depois
Índia. Eu tinha medo de ir para Índia. Como resultado eu geralmente ficava
extremamente doente. Eu queria ter certeza que o acordo ia ser posto em prática. Era uma simples
questão de providenciar o vôo de Nanda Kumar até Nova Iorque, e meu vôo poderia
ser direto de Dallas até o Havaí.
Mais tarde naquela
manhã, enquanto energicamente massageava Srila Prabhupada, Paramahamsa
Maharaja, o secretário de Sua Divina Graça, entrou no quarto e prestou
reverências. Ele disse: "Srila Prabhupada, deveríamos chamar Nanda Kumar em Los Angeles ? Não
deveríamos chamá-lo agora para substituir Srutakirti? Nanda Kumar poderá ser
seu servo agora que estamos a caminho da Índia. Podemos tomar as providências
necessárias?"
Para mim esse era
o momento da verdade. Eu estava muito ansioso, esperando a resposta de Srila
Prabhupada. Eu não sabia o que esperar, mas sabia que tudo era possível. Era
curioso como era freqüente ter Srila Prabhupada tomando decisões enquanto
massageava suas costas, impedindo com que visse a expressão em sua linda cara
dourada. Eu fiquei sentado atrás de Srila Prabhupada, com as pernas cruzadas,
vigorosamente esfregando, prendendo a respiração. Esperei muito pouco.
Srila Prabhupada
respondeu: "Não estou muito ansioso para ter Nanda Kumar vindo comigo. Ele
é caprichoso demais. Alguma mulher vai passar por perto e ele irá embora. E
então, estará acabado. Será o fim. Ele é muito bom, ele é muito qualificado,
mas ele é caprichoso demais. Uma menina cruzará seu caminho e aí acabou. Ele
vai embora."
Paramahamsa,
sentado em frente a Srila Prabhupada, disse: "Bem, Srila Prabhupada, o que
poderemos fazer? Srutakirti deveria ir para Índia?" Passou-se três
segundos antes de Srila Prabhupada responder. Era como se ele estava esperando
eu dizer alguma coisa. Ele estava me dando a escolha. Minha ambivalência me
manteve quieto. Eu estava suando frio, entendo que, apesar de minha apreensão,
provavelmente eu estava indo para Índia com meu amado Srila Prabhupada.
Srila Prabhupada
disse sem cerimônia: "Sim, ele pode vir." Novamente, Srila Prabhupada
muito misericórdia e gentilmente me deu outra oportunidade para tomar uma
decisão. Meu coração derreteu, meu Guru Maharaja queria que eu fosse come ele!
Eu senti que meu amado Guru Maharaja precisava de mim! Srila Prabhupada me fez
sentir tão heróico, que eu corajosamente aceitei ir para Índia com ele. Nada
mais foi dito durante o restante da massagem. Paramahamsa prestou reverências e
saiu do quarto. Continuei a massagear meu amado mestre espiritual até ele pedir
para eu parasse.
Voltando ao meu
quarto, contei tudo aos meus irmãos espirituais, rindo do que tinha acontecido.
No fundo eu já sabia que isso ia acontecer. Depois de Srila Prabhupada ter
tomado essa decisão, eu me senti muito aliviado. Algo de muito especial tinha
acontecido! Srila Prabhupada tinha dado a entender que gostava de me ter com
seu servo! Pode parecer besteira, mas para mim significava muito. Srila
Prabhupada nunca dizia muito a respeito de meu serviço. Ele era transcendental,
servindo o Supremo Senhor, e aceitava todas as situações como a misericórdia do
senhor. Hoje ele disse que gostaria que eu fosse com ele. Srila Prabhupada
tinha passado muito tempo me treinando e estava satisfeito com os resultados.
Era uma boa sensação. Srila Prabhupada sempre expressava sua gratidão aos meus
serviços indiretamente. Hoje ele confirmou isso.
Às vezes os
devotos perguntavam sobre a natureza de um servo pessoal de primeira. Penso
agora que um bom servo sempre ajuda o mestre antecipando suas necessidades, o
satisfazendo sem ser solicitado. Um bom servo pessoal não pede muito em troca,
nem precisa de muito estímulo ou de ter muitos problemas resolvidos. Um bom
servo pessoal não inventa perguntas e só fala quando é questionado. Um bom
servo pessoal não tenta manipular o mestre. Ele faz seu serviço e tenta não
atrapalhar. Um bom servo pessoal só dá sua opinião quando solicitada. Todas
suas perguntas devem ser feitas com sinceridade e submissão. Um bom servo
pessoal é influenciado pelo Guru e não interfere na missão do Guru.
Senti-me
maravilhoso ao saber que você queria que eu ficasse com você. Agora, sinto
apenas tristeza por meu desejo de ficar com você não ter sido forte o
suficiente. Srila Prabhupada, todo dia eu lamento e minhas emoções me
atormentam. Eu sou a pessoa mais desgraçada na face da terra. Você nunca me
mandou embora, mas ainda assim eu lhe deixei. Sem visão e tolo, eu achei que
você estaria conosco para sempre através de seu vapu. Perdoe-me minha
ignorância. Eu rezo para que você me de darshana mais uma vez. Estou no
inferno, perdido e só, sem ver seu sorriso ou tocar seus pés de lótus macios
como seda.
Srila Prabhupada Uvaca 123
Orgulho Espiritual
Um devoto
receptivo pode aprender muito, ficando apenas sentado e quieto, vendo Srila
Prabhupada. Eu já mencionei anteriormente que Srila Prabhupada, sentado com a
sua coluna muito reta em seu jardim de Nova Dwarka, certa vez disse: "O
devoto tem orgulho de ser o servo de Krsna." Isso era uma lição muito
importante para mim, pois para ficava um pouco confuso tentando equilibrar
minha humildade com meu orgulho de ser um servo de Krsna.
Eu era um tanto
tímido na execução de meu serviço quando envolvia pedir a ajuda ou o serviço de
pessoas fora da comunidade de devotos. Eu confundia minha humildade devocional
com apreensão corporal. Eu podia ter tido muito orgulho de ser o servo de
Krsna, o servo de Prabhupada; invés disso, eu achava que tinha que pedir
desculpas. Iludido, eu achei que tinha que emanar humildade.
Amorosamente,
Srila Prabhupada era a personificação do orgulho em ser o servo de Krishna. Às
vezes quando Srila Prabhupada voltava ao seu quarto depois de um programa
matinal ele virava-se para mim e dizia com um sorriso em seu rosto: "Você
gravou a palestra de hoje?" Eu respondia: "Sim, Srila
Prabhupada." Ele continuava: "Deixe-me ouvi-la. Eu quero
ouvi-la." Em outras ocasiões ele estaria sentado atrás de sua mesa em seu
quarto e, quando devotos entravam para lhe ver, ele perguntava: "Então,
foi boa a palestra hoje?" É claro que os seus discípulos sempre respondiam
com entusiasmo, adorando cada palavra que fluía dos lábios de lótus de seu
mestre espiritual. Os devotos compreendiam mensagens especiais em algumas de
suas palestras e até a entidade viva mais burra poderia entender o ponto
central que Srila Prabhupada sempre e continuamente explicava.
Parecia que Srila
Prabhupada ficava especialmente orgulhoso com certas palestras. Na minha
experiência, quando ele estraçalhava a filosofia Mayavadi, ele se divertia
muito. Ele orgulhosamente apresentava Krsna a todos, claramente derrotando
qualquer falso argumento deles. Ele tinha muito orgulho de ter Krsna como seu
Senhor e Mestre.
Srila Prabhupada
demonstrava muito orgulho de seus discípulos. Numa linda tarde em julho de
1973, Srila Prabhupada estava sentado no gramado do Bhaktivedanta Manor com
alguns de seus discípulos e convidados Indianos. Eu estava lendo um trecho;
‘Cinco Aspectos do Senhor Caintanya’, uma publicação inicial e parcial do ‘Sri
Caintanya Caritamrta’. Eu estava me esforçando, tentando pronunciar o Bengali
através da transliteração. Para minha grande surpresa, depois de ler uns dez
minutos Srila Prabhupada disse: "Veja só como ele pronuncia bem o Bengali.
Apesar de nunca ter lido em Bengali em toda sua vida, com esse método ele pode
pronunciá-lo muito bem."
Muitas vezes Srila
Prabhupada elogiava seus discípulos ocidentais diante da comunidade Indiana. Ao
fazer isso ele cumpria muitos objetivos. Ele estimulava seus discípulos a
continuarem a progredir em Consciência de Krsna. Ele estimulava a comunidade
Indiana a levar mais a sério aquilo que era o direito de nascença deles. Ele
mostrava a todos que pela misericórdia de Guru e Gauranga e a potência do Santo
Nome, até mesmo mlecchas e yavanas poderiam progredir na vida espiritual. Srila
Prabhupada sempre dava crédito à potência do Nome do Senhor e de seu Guru
Maharaja por tudo que tinha feito. Certa vez em seu quarto em Nova Dwarka , Srila
Prabhupada me disse: "Vocês rapazes e meninas ocidentais tem se intoxicado
tanto, que se não fosse pelo cantar do Maha mantra, não seriam capazes de fazer
nada."
Em maio de 1975,
em Perth, Austrália, Srila Prabhupada estava conversando com um professor.
Srila Prabhupada estava falando muito enfaticamente sobre as diferentes classes
de seres humanos. Paramahamsa Maharaja e eu estávamos sentados no quarto nos
divertindo, vendo nosso mestre espiritual expressar ao bastante receptivo
senhor que quase todos eram homens de quarta classe. Srila Prabhupada olhou
para o professor e disse: "Você também é um homem de quarta classe."
O senhor respondeu: "Bom, que posso fazer?" Srila Prabhupada
respondeu energicamente:"Você deve se tornar um devoto puro, como
eles!" Ele acabou a frase apontando a Paramahamsa e eu, como exemplos de
um devoto puro. Meu irmão espiritual e eu olhamos um para o outro e sorrimos
largamente. Sabíamos que não éramos devotos puros, mas adorávamos ser usados
como evidências por nosso querido mestre espiritual. Sabíamos que Srila Prabhupada
jamais, mas nunca mesmo, diria, "Torne-se um devoto puro como eu."
Essa era uma das lindas qualidades de meu mestre espiritual, um devoto puro do
Senhor.
Srila Prabhupada,
tudo que posso ter feito na minha vida é única e exclusivamente graças a sua
misericórdia sem causa. Estou sempre consumido pelo orgulho falso, mas meu
maior orgulho, corretamente situado, é de me identificar como seu servo. Você é
meu Senhor e eu tenho muito orgulho de ser seu servo. Rezo para ficar
eternamente assim. Por favor, me dê a inteligência para nunca esquecer minha
eterna posição. Apesar de não ter qualquer qualificação, eu tenho fé em suas
palavras quando apontou para Parahamsa e eu. Eu sei que você nos abençoou a
obter serviço devocional puro nessa vida ou numa vida futura. De sua boca para
o ouvido de Krishna. Todas as glórias a você, Srila Prabhupada!
Srila Prabhupada Uvaca 124
Março de 1975;
Mayapur, Índia;
ISKCON Mayapur Candrodaya Mandir
Mais de duas
semanas já se passaram desde que Srila Prabhupada me animou a acompanhá-lo em
seu tour da Índia. Muitas lições valiosas estavam à frente. Como já mencionei,
provavelmente demais, eu estava com medo de ir para Índia por razões de saúde.
Durante minha primeira viagem para Índia com Srila Prabhupada em 1972, eu contraí
icterícia, malária, colites e, é claro, disenteria – tudo nos primeiros dois
meses. Os efeitos custaram a ir embora e minha saúde estava então um pouco
frágil. Esse tour de Srila Prabhupada na Índia durou dois meses e, pela graça
de meu querido Gurudeva, eu fiquei bem de saúde o tempo todo.
Não gosto de falar
sobre minhas atividades, mas preciso porque Srila Prabhupada pessoalmente
cuidou para que eu recebesse todo que precisasse para ficar saudável. Eu comia
frutas frescas, iogurte, e queijo de vaca. Eu também comia legumes ao vapor e
arroz. No café da manhã eu comia mingau de aveia. É claro que continuava comer
maha de Srila Prabhupada sempre que possível. Freqüentemente Srila Prabhupada
me perguntava se estava tomando leite de vaca fresco e comendo frutas o
suficiente. Ele falava para a Mataji encarregada de preparar suas refeições
para assegurar que eu estava recebendo tudo que quisesse. Não quero parecer
ofensivo, mas Srila Prabhupada cuidou de mim não como um pai, mas como uma
amável e dedicada mãe. Sua Divina Graça se tornava querido a todos que o
encontravam. Fiquei encantado com seu carinho e amor. Ele se preocupa e cuida
muito de todos nós. Fico até envergonhado, pois nunca mereci esse tratamento
transcendental.
A maravilhosa
qualidade de compaixão de Srila Prabhupada não era direcionada apenas para mim.
Ele amava todos seus discípulos. Quando ele chegou no Krsna Balaram Mandir para
a abertura do templo ele chamou seus líderes no quarto e disse: "Como
estão todos sendo tratados? Estão recebendo leite de vaca para beber? Eles têm
que receber leite de vaca. Eles não devem tomar leite de búfalo." São
literalmente inumeráveis as vezes que Srila Prabhupada falava sobre a
importância de dar boa prasadam para os devotos. Uma das primeiras coisas que aprendi
é que toda visita tem que tomar prasadam antes de ir embora, mesmo se fosse
apenas um pedaço de fruta.
Durante o utsava,
festival de abertura do Krsna Balaram Mandir, os devotos ficaram em diversas
casas de hóspedes em volta do templo, já que não havia lugar suficiente no
templo. Srila Prabhupada falou para os responsáveis: "Providenciam para
que os devotos tenham bons lugares para ficar, eles não devem ficar
desconfortáveis." Era um enorme prazer ver uma pessoa Consciente de Krsna em ação. Srila Prabhupada
estava completamente ciente de tudo aquilo que se passava a sua volta – e tudo
aquilo que não se passava. A carinhosa atenção de Srila Prabhupada influenciava
todos devotos a fazerem o melhor possível.
Srila Prabhupada
se certificava que toda sua comitiva comesse boa prasadam e tinham todas suas
necessidades atendidas. Ele disse aos líderes para se certificarem que todos
sob sua responsabilidade recebiam o mesmo tratamento. Eu nunca ouvi Srila
Prabhupada falar para qualquer pessoa que essa estava comendo em excesso. Porém , era
comum Sua Divina Graça, falar para seus discípulos, que estavam acordando muito
tarde, se não acordassem cedo o suficiente para aproveitar os benefícios
espirituais de Brahma Muhurta.
Srila Prabhupada,
você sempre estabeleceu o exemplo perfeito, nos mostrando como agir em todas
circunstâncias. Quando estava doente você continuava a realizar seu serviço sem
reclamar, mas quando eu reclamei você carinhosamente atendeu a todas minhas
necessidades. Eu lhe devo minha vida e muito mais. Para si mesmo você aceitava
tudo que Krsna providenciava, mas para seus discípulos você se esforçava para
providenciar todo o conforto com o qual estavam acostumados. Você tinha prazer
em ver seus discípulos ocupados em serviço devocional, sem ansiedades. Por
favor, me abençoe com o desejo de tratar meus irmãos e irmãs espirituais com o
mesmo amor e carinho que você me proporcionou.
Srila Prabhupada Uvaca 125
Setembro de 1973;
Bombaim, Índia;
ISKCON Juhu
Já falei muitas
vezes de meu medo de ir para Índia com Srila Prabhupada, devido a questões de
saúde que dificultavam meu serviço. Diferenças culturais também eram uma das
importantes razões que me levava a não gostar de viajar para esta parte tão
diferente do mundo. Eu não era o único com uma aversão a ficar na Índia.
Testemunhei a vinda de muitos a essa terra sagrada, que rapidamente foram
embora devido a uma série de dificuldades, como problemas de saúde, falta de
estrutura, problemas pessoais com a gerência e choque cultural.
Testemunhei dois
discípulos veteranos de Srila Prabhupada chegando a seus limites pessoais na
terra sagrada. Histórias de importantes oportunidades de pregação no ocidente
os chamavam de volta para os EUA. Pregar para os membros vitalícios parecia ser
dolorosamente lento na Índia. Os Indianos nos diziam que nós não estávamos lhe
dizendo nada de novo, afinal eles tinham passado suas vidas ouvindo sobre
Krsna. Membros vitalícios freqüentemente diziam: "Ah sim, conhecemos
Krsna."
Srila Prabhupada
tinha uma boa maneira de explicar essa situação. Ele dizia que os ocidentais
estavam a 100
quilômetros de Krsna, mas agora, sob sua tutela,
estávamos caminhando em direção ao Senhor. Os Indianos estavam a 10 km de Krsna, mas
infelizmente estavam se afastando. Nosso problema, então, era de descobrir uma
maneira de fazê-los virar, para que pudessem ir "De Volta ao
Supremo." Às vezes não era nada animador.
Alguns discípulos
de Srila Prabhupada estavam em seu quarto, suplicando a Srila Prabhupada para
deixá-los voltar ao ocidente. Um deles disse: "Nós somos como homens de
negócio, arrecadando dinheiro e registrando membros vitalícios." De certa
forma isso era verdade, mas a diferença era que estávamos fazendo isso para
Srila Prabhupada e Krsna, não para nosso lucro pessoal.
Srila Prabhupada
era compreensivo em relação a frustração deles, mas disse de forma severa:
"Mas eu quero que fiquem aqui. É o desejo de seu mestre espiritual ficar
aqui, então é melhor ficarem." Continuaram a argumentar. Um dos sannyasis
disse: "Não é serviço ir para América e pregar? Na América a pregação é
tão melhor." Eu estava sentado num canto do quarto, impressionado com a
insistência de meus irmãos espirituais. Era algo um tanto raro de se ver. Os
discípulos de Srila Prabhupada pareciam ser incapazes de desistir. Eles estavam
determinados a saírem da Índia e Srila Prabhupada parecia ainda mais
determinado a mantê-los aqui. Era evidente que Srila Prabhupada considerava a
pregação na Índia como de total importância. Essa foi uma lição que aprendi em
minha primeira viagem a Índia com meu Guru Maharaja.
Antes, em janeiro
de 1973, no apartamento de Kartikeya Mahadevia, uma discussão entre Srila
Prabhupada e alguns de seus discípulos ficou bastante acirrada. Esses dois
sannyasis também estiveram presentes nessa reunião. Incrível testemunhar a
determinação de Srila Prabhupada, e sua enorme capacidade em administrar seus
jovens discípulos em serviço devocional. Srila Prabhupada estava furioso depois
de ter recebido diversas reclamações de membros vitalícios que não estavam
recebendo seus livros. Srila Prabhupada disse aos seus discípulos no quarto:
"Se vocês não conseguem administrar isso corretamente, então é melhor
encerrarmos nossas atividades na Índia e ir embora. Isso não é nada bom. Tudo
tem que ser feito muito cuidadosamente." Todos podiam entender como era
importante para Srila Prabhupada distribuir essa literatura transcendental. E
todos nós queríamos satisfazer Sua Divina Graça, não importa quais fossem os
obstáculos que tivéssemos à frente.
Agora, nove meses
depois, Srila Prabhupada estava novamente pedindo a esses mesmos dois sannyasis
para ficarem na Índia. A reunião não estava indo bem. Eu já queria sumir, ao
ver como Srila Prabhupada estava chateado. De outro lado, podia bem entender a
dificuldade que era ficar na Índia. Srila Prabhupada estava dependendo desses
dois homens para ajudá-lo em seu importante trabalho, mas eles simplesmente não
conseguiam ficar mais. Foi uma batalha dura. A intensidade das negociações era
algo que poderia esperar ver entre pessoas do mesmo nível, nunca entre
discípulos e o mestre espiritual. Srila Prabhupada queria que eles ficassem e
pronto. Seus discípulos argumentavam; diziam que tinham que sair da Índia para
pregar, que o ocidente estava cheio de oportunidades. Finalmente, demonstrando
puro desgosto, Srila Prabhupada disse: "Tudo bem. Cantem suas dezesseis
voltas, sigam os quatro princípios reguladores e façam o que bem
entender."
Foi assim que essa
rara conversa chegou ao seu fim. Nosso magnânimo líder lhes deu permissão para
servirem ele da forma que pudessem. Novamente ficou claro que Srila Prabhupada
nos considerava voluntários em seu exército transcendental. Nós é que tínhamos
que decidir o quanto queríamos a misericórdia e o avanço espiritual de servir
nosso mestre espiritual de acordo com seus desejos. Diariamente nós escolhíamos
o que e o tanto de serviço que estávamos dispostos a fazer ao nosso Guru
Maharaja.
Certa vez em seu
quarto em Nova Dwarka ,
Srila Prabhupada disse: "No fundo, todos nós temos que voar nosso próprio
avião." Srila Prabhupada, ainda
estou tentando voltar para o aeroporto. Sem você me guiando, fica muito difícil
achar o caminho de volta. Você deu a todos nós tudo que era necessário para nos
ocuparmos em serviço devocional, mas eu acho que jamais serei qualificado o
suficiente para voar em meu próprio avião de volta para Krsna. Permita-me
servir aqueles que estão qualificados para voarem seus aviões "De Volta ao
Supremo." Rezo para que você me permita ser seu comissário de bordo em
suas viagens pelo universo liberando almas condicionadas.
Srila Prabhupada Uvaca 126
Novembro de 1972;
Vrindaban, Índia;
Templo de Radha
Damodara
Desta vez Srila
Prabhupada ficou num quarto no segundo andar do Templo de Radha Damodra. Não me
lembro a razão por ele não ter ficado em seu habitual conjunto de dois quartos
no primeiro andar. Seu quarto no segundo andar tinha uma grande varanda de
concreto, que ficava em cima de seu quarto no primeiro andar. Em Vrindaban,
quase todos os prédios são feitos de tijolo e concreto, portanto os tetos são
superfícies lisas de concreto que podem ter muitas utilidades.
Os aposentos de
Srila Prabhupada do segundo andar tinham uma sala e um quarto, e sua comitiva
ficava em um outro quarto separado. Srila Prabhupada recebia sua massagem na
varanda, em frente ao seu quarto, e os raios do sol refletiam em sua dourada e
brilhante pele, besuntada com óleo de mostarda. Ele me disse: "Ponha o
balde de água no telhado. O sol há de esquentá-lo." Usando sua lota e com
sua gumpsa ele tomava seu banho na varanda com apenas esse único balde d’água.
Srila Prabhupada fazia questão de manter sua manutenção corpórea muito simples.
Depois de tomar seu banho ele voltava ao seu quarto e vestia roupas limpas que
eu tinha colocado em sua cama antes da massagem. Hoje o clima estava muito
quente, portanto Srila Prabhupada só vestiu seu dhoti, sem kurta.
Certo dia, alguns
minutos antes dele entrar em seu quarto para se vestir, eu o ouvi berrando.
Ainda estava na varanda limpando tudo. Tão logo lhe escutei, entrei correndo no
quarto. A porta da frente estava aberta. Não fazia a menor idéia do que se
passava e, apesar de ter entrado correndo, por força de hábito eu prestei
reverências. Srila Prabhupada estava atrás de sua mesa. No que eu me sentei,
com pressa, e olhei para ele, ele atirou sua bola de tilaka em direção a minha
cabeça. Era do tamanho de uma bola de golfe e ele a jogou com a força de um arremessador
de beisebol. Errou minha cabeça por poucos centímetros. Levei um susto e estava
com medo. Perguntei: "Qual é o problema?" Apontando em direção a
minha cabeça ele berrou: "Aquele macaco roubou meu sapato." Eu me
virei a tempo de ver uma das pestes peludas de Vrindaban sair correndo do
quarto com a sandália de Srila Prabhupada em sua mão.
Havia muitos
macacos nessa parte do Dhama e eles estavam sempre procurando um saco de
contas, óculos, ou outro pertence valioso para roubar, que eles então usavam
para trocar por comestíveis. Fiquei aliviado de saber que meu Guru Maharaja
estava jogando a bola de tilaka no macaco e não em mim. Foi uma experiência
extremamente fora do comum ter uma bola de tilaka passar voando próximo a minha
cabeça assim. Felizmente meu mestre espiritual tinha uma boa mira.
O macaco pulou
para o telhado do quarto de Srila Prabhupada e esperou. Srila Prabhupada disse:
"Esse malandro pegou minha sandália. Pegue um pouco de doce e venha para
fora."Peguei uns doces de leite do vidro acima da estante de Srila
Prabhupada e segui meu guru para o confronto na varanda. Srila Prabhupada levou
sua bengala. O macaco estava sentado na beira do telhado com a sandalha em sua
boca esperando o início das negociações.
O telhado ficava
fora de nosso alcance, uns dois metros e pouco do onde nós estávamos. Srila
Prabhupada começou a pular para cima e para baixo, ameaçando o macaco com sua
bengala. O macaco pareceu até gostar da atenção que estava recebendo. Ele
parecia não se sentir nem um pouco ameaçado ou preocupado com a possibilidade
de Srila Prabhupada conseguir pegar a sandália. O diabinho peludo começou a
balançar a sandália, nos provocando. Srila Prabhupada continuou a pular,
tentando acertar o macaco com sua bengala e disse: "Esses macacos são tão
malandros." O macaco continuou a nos provocar. Agora estavam fazendo
caretas. Era evidente que se tratava de um profissional, muito hábil em
seqüestrar os bens dos outros para obter um resgate. Era um ladrão esperto que
tinha prazer em fazer suas negociações malandras.
Essa foi minha
primeira experiência nesse tipo de combate e, devo admitir, achei tudo muito
divertido. Pronto para me envolver eu disse: "Srila Prabhupada, deixe-me
ver se consigo lhe dar um doce em troca da sandália." Srila Prabhupada
respondeu: "Sim, tente isso." Com meu destemido líder ao meu lado,
cuidadosamente levantei minha mão com o doce, esperando que o macaco me desse
aquela sandália mágica em
troca. Como era de se esperar, ele tentou me enganar. Tentou
pegar o doce sem largar a santa sandália de Srila Prabhupada. Novamente tentei.
Ofereci o doce e fiz um sinal para que me desse a sandália. O macaco começou a
me dar a sandália com uma mão e pegar o doce com a outra. Tomei menos atenção
ao observar o meu sucesso. Em frente a meu Guru, eu estava prematuramente
orgulhoso de meu sucesso antecipado. Mas o macaco me enganou, ficando com o
doce e a sandália. Infelizmente, o macaco não abriu mão da sandália. Para minha
vergonha, eu consegui perder três doces ao inimigo sem sequer chegar perto de
pegar a sandália de lótus.
O macaco começou a
mastigar a sola da sandália com vontade. Ele conseguiu rasgar um pequeno pedaço
e deixar várias marcas de dentes nele. Srila Prabhupada não achou aquilo nada
engraçado e disse: "Esqueça isso. Agora ele estragou o sapato." Sua
Divina Graça voltou ao seu quarto e se preparou para o almoço. Eu comecei a
segui-lo. Olhei para cima e vi o macaco largar a sandália e fugir. Imagino que
ele tenha entendido que a sandália não valia nada para ele se não valesse para
nós. Achei melhor pegar a sandália e então chamei o Girisha, o filho de
Hayagriva, e pedi para ele subir até o telhado para pegar a sandália de Srila
Prabhupada. Girisha tinha dez anos de idade e estava ansioso para ser útil.
De baixo vi
Girisha indo pegar a sandália. Quando ele estava se abaixando para pegá-las, um
bando de macacos sem vergonhas, apareceram de repente e o atacaram. Eles lhe
deram o maior susto. Um dos macacos começou a ameaçá-lo. Girisha berrou:
"Srutakirti! Srutakirti!" Assustado, olhei a meu redor e vi um pedaço
de bambu. Peguei e joguei para ele. Tão logo ele pegou a pedaço de bambu,
começou a ameaçar os macacos com ele, eles rapidamente recuaram. Girisha pegou
a sandália e correu escada abaixo, com os macacos em sua cola. Girisha heroicamente
me entregou a sandália.
Levei a sandália
até Srila Prabhupada, uma vez que ele a tinha usado durante muito tempo e
parecia gostar muito dela. Ele tinha outras, mas gostava mais dessa. Quando eu
lhe mostrei a sandália ele disse: "Ah, não parece estar tão ruim. Pegue um
pouco de cola e veja se consegue consertá-la." Eu a levei de volta a meu
quarto e a consertei da melhor forma possível. Corri de volta para o quarto de
Srila Prabhupada com a sandália remendada, prestei reverências, e lhe mostrei
meu trabalho. Com um sorriso em sua cara e acenando sua cabeça em aprovação ele
disse: "Ficou bom. Ainda posso usá-las."
Duas semanas mais
tarde estávamos em Hyderabad, na casa do Sr. Pithi, um membro vitalício muito
rico. Certo dia o Sr. Pithi viu a sandália de Srila Prabhupada. Eu lhe
expliquei o que tinha acontecido. Ele disse: "Adoraria comprar novas
sandálias para Srila Prabhupada." Eu lhe disse que era uma ótima idéia.
Ele mandou seu empregado comprar sandálias. Quando as novas sandálias foram
apresentadas a Srila Prabhupada ele as aceitou carinhosamente e mais tarde,
disse: Não posso usá-las. São feitas de couro." Ele continuou a usar sua
sandália danificada durante várias semanas, até chegarmos a outro templo.
Compramos uma sandália que ele gostava e ele abriu mão da que estava usando.
Sua sandália rasgada esta hoje na casa de Kirtiraja prabhu em Alachua. Estão
dentro de um mostruário de vidro e são veneradas por seus curadores.
Srila Prabhupada,
é muito difícil descrever o imenso prazer que senti naquele dia, em pé ao seu
lado, enquanto você tentava acertar o macaco com sua bengala. Durante alguns
poucos minutos estávamos lutando contra um inimigo em comum, na terra de Krsna.
Posso nunca mais poder participar de passatempos transcendentais assim novamente,
mas eu nunca esquecerei aquele dia especial, pois durante alguns minutos você
me deixou participar de um jogo muito divertido em Vrindaban Dhama. Rezo
para que minha memória daquele dia nunca seja tirada de mim.
Srila Prabhupada Uvaca 127
Setembro de 1974;
Calcutá, Índia;
ISKCON Calcutá
Durante a estadia
no Templo de Calcutá, em 1973, pude observar como Srila Prabhupada gostava da
culinária Bengali. Por incrível que pareça, durante todo o tempo que fui servo
pessoal de meu amado Srila Prabhupada, Sua Divina Graça não comeu muito a típica prasadam Bengali. Mesmo quando ele
ficava nos templos de Calcutá e Mayapur, ele regularmente honrava prasadam
feita por seus devotos ocidentais. O problema era que as maravilhosas
preparações Bengalis, apesar de serem muito gostosas, continham muito óleo de
mostarda e Srila Prabhupada já tinha dito: "Para mim é difícil de
digerir."
Certo dia no
Templo de Calcutá, Tamala Krsna Maharaja entrou no quarto de Srila Prabhupada e
prestou reverências. Sentado confortavelmente atrás de sua mesa, Srila
Prabhupada estava efulgente como de costume. Tamala Krsna Maharaja perguntou:
"Você não disse que óleo de mostarda é para ser usado externamente no
corpo e ghi internamente na comida?" Srila Prabhupada sorriu e respondeu:
"Sim." Tamala Krsna Maharaja continuou: "Então, isso não
significa que não deveríamos usar óleo de mostarda na cozinha? Às vezes alguns
devotos usam óleo de mostarda na preparação de alimentos. Eu não acho que isso
seja uma boa idéia." Srila Prabhupada riu e disse: "Bem, é verdade,
mas óleo de mostarda é muito gostoso. Faz as verduras ficarem de primeira.
Portanto, em Bengal, todos usam óleo de mostarda na cozinha. É muito
gostoso."
Às vezes, quando
Srila Prabhupada ficava em Bengal, sua irmã vinha ao templo cozinhar para ele.
Se por um lado isso era bom, por outro criava muitos problemas. Todos sabiam
que a irmã de Srila Prabhupada, Pishima, entrava na cozinha do templo
contrabandeando óleo de mostarda debaixo de seu sari para usar no preparo das
refeições de seu amado irmão. Como Srila Prabhupada, Pishima tinha o hábito de
escutar o que tínhamos a dizer e depois fazer o que ela bem queria. Srila
Prabhupada comia tudo que ela preparava e ocasionalmente reclamava mais tarde:
"A comida que ela me fez está me fazendo passar mal."
Ele até brincava:
"Acho que ela está querendo me matar." Às vezes eu dava lhe uma
bronca, como de pai para filho, dizendo: "Prabhupada, você não fica doente
quando come as coisas feitas em sua panela, mas quando come as coisas que sua
irmã prepara você fica doente." Ele respondia com convicção: "Sim!
Não me dê outra coisa. Deixe me comer apenas aquilo que você prepara. Se minha
irmã me dar algo, você o coma, se quiser. Eu não o quero."
Fiquei muito
animado com sua determinação em seguir minhas valiosas instruções. É claro, ele
nunca seguiu as instruções dos outros por muito tempo, especialmente no que se
tratava de sua dieta. Ele sempre fazia o que bem queria. Certa vez, um dos
sobrinhos espirituais de Srila Prabhupada, um brahmacari Bengali, visitou Srila
Prabhupada em seu apartamento em
Juhu. Ele era um ótimo cozinheiro e se ofereceu para preparar
shukta, um prato de legumes amargo. Fiquei assistindo o jovem devoto fritar com
talento grandes pedaços de verdura, incluindo o melão amargo. Quando ele acabou
tinha um grande pote de sopa muito gordurosa e amarga. Srila Prabhupada adorou,
se deliciando a cada mordida. Ele disse: "Isso é a coisa mais incrível.
Srutakirti, você tem que aprender a fazer isso. Faça desse jeito. Está de primeira."
Nunca fui capaz de
preparar aquele prato tão bem quando o jovem brahmacari. Felizmente para mim,
Srila Prabhupada aceitava as comidas muito mais simples que eu preparava
regularmente. Fiquei muito feliz em ouvi-lo dizer que não ficava doente com
minhas comidas.
Srila Prabhupada,
eu sempre fico maravilhado com dimensão de sua compaixão. Você regularmente
aceitava serviço de qualquer um, não importava as conseqüências que isso lhe
trazia. Ninguém sabe disso mais do que eu. Você nunca desistiu de mim e eu sei
que, enquanto tiver um desejo sincero de lhe servir, você nunca irá me deixar.
Por favor, deixe me adquirir um gosto por aquela shukta que você comeu e um
gosto por serviço devocional. Ambos são amargos demais para eu poder saborear
com esses meus sentidos inutilizados por vidas e mais vidas comendo coisas
demoníacas
Srila Prabhupada Uvaca 128
Vinte e sete de
setembro de 1972; Los Angeles, CA. USA;
Nova Dwarka
Abaixo um trecho
da carta que mandei a Kirtananda Maharaja três semanas depois de deixar Nova
Vrindaban e de me ter tornado servo pessoal de Srila Prabhupada:
"Eu estou
começando a entender que qualquer coisa ligada a Srila Prabhupada é realmente
nectárea. É pela misericórdia sem causa dele que finalmente consegui me ocupar
num trabalho de pregação que realmente gosto – descrever as gloriosas
atividades de nosso amado mestre espiritual aos outros devotos. Cada palavra
dita e cada passo dado por Srila Prabhupada
é uma fonte de néctar para milhares de discípulos ao redor do mundo. Só
Prabhupada pode converter vidas desgraçadas em algo aproveitável. Ele aceita o
mais insignificante serviço como um grande feito.
"Enquanto
massageava Srila Prabhupada ontem, mencionei que fazíamos aratis para as vacas.
Quando disse isso, Prabhupada ficou mais
sério. Eu lhe perguntei se era bom fazer isso e ele disse que não. Eu lhe
perguntei se tinha algo de especial para fazermos pelas vacas. Ele disse:
"Mantenham as vacas limpas, passe escova e banhe elas e podem também polir
seus chifres e cascos."
"Prabhupada
recebeu sua sandesa ontem e ele me pediu para colocar duas delas em seu prato
ontem à noite, junto com abacaxi e leite quente. Ele deu uma mordida e disse:
‘Kirtananda Maharaja fez sandesa de primeira.’ Ele então disse que sandesa e
rasagulla são chamados de doces Bengalis e que são ‘padrão’. Ele tem criticado
o fato do templo de Los Angeles ficar inventando doces – doces com ‘puffed
rice’, carob, leite em pó, corante, pasta de amendoim, etc. – coisas que ele
não gostou. Ele disse: "Eu lhes dei sandesa, rasagulla e bolas doces.
Esses são doces padrões e são muito bons. Por que ficam inventando tantas
coisas diferentes?’ Então, ontem à noite, fiz queijo e preparei sandesa hoje de
manhã. No almoço eu lhe dei uma feita por você e uma minha. Ele comeu as duas.
Quando terminou, lhe perguntei como estava a sandesa. Ele sorriu e disse:
"Você as preparou?!" Eu lhe contei o que tinha feito e ele disse que
estavam muito bons. Ficou muito feliz, pois sandesa é um de seus doces
favoritos."
Srila Prabhupada,
a verdade absoluta nunca muda. Vinte e cinco anos se passaram desde que escrevi
essa carta a Kirtananda Maharaja. Por sua misericórdia sem causa pude
redescobrir um, "trabalho de pregação que realmente gosto". Rezo para
que nunca mais deixe tantos anos vazios passarem sem glorificar meu magnífico
mestre espiritual. Por favor, me dê mais uma oportunidade de preparar sandesa
para seu almoço – assim poderei saborear sua maneira de me encorajar, ao
arregalar seus olhos e declarar: "Isso está muito bom."
Srila Prabhupada Uvaca 129
Srila Prabhupada,
hoje estou começando a aceitar a passagem de seu querido servo, Upendra Prabhu.
Fico sempre impressionado ao constar quão pouco aprendi sobre Consciência de
Krishna. Falei muito com Upendra no verão passado. Ele me falou de sua condição
e que era provável que morreria no ano seguinte. Apesar de estar ciente de sua
doença, ainda assim pensava, "Não, ele não nos irá deixar tão cedo."
Me defronto com minha incapacidade de aceitar a morte, e meu querido amigo,
Upendra, agora se foi.
Isso me lembra de
quando eu fui lhe visitar em agosto de 1977. Era então presidente de Nova
Nabadwip, o templo do Havaí. Fui para Vrindaban com Madhudvisa prabhu para
passar um tempo com você, Srila Prabhupada. Quando cheguei e vi sua condição,
fiquei muito perturbado. Você tinha perdido muito peso e estava muito fraco.
Ainda assim, você nos recebeu com entusiasmo. Você estava charmoso e efulgente
como sempre, nos encorajando. Você disse a Madhuvisa:"Então, permaneça
como grihastha e renda seu serviço. Não há problema algum. Se a pessoa não pode
seguir em frente, não tem problema. O fracasso é a base do sucesso. Depois
tente. Tente novamente. Onde está Srutakirti? Como está você?" Respondi:
"Muito bem, obrigado." Srila Prabhupada disse: "Srutakirti também
é um grihastha. Então vocês podem trabalhar juntos para melhorar esse
movimento. Essa é nossa ambição. Grhe ba banete thake, ha gauranga bole
dake, narottama mage tara sanga. ‘Ficando em casa ou como um sannyasi, se
ele é devoto do Senhor Gauranga, eu quero sua associação.’ Isso é de Narottama
Thakura... Grhe ba banete thake, ha gauranga bole dake, narottama mage tara
sanga. Então siga os princípios e qualquer posição será adequada. Não se
deixe ser levado pelas ondas de maya. Capture Caintanya Mahaprabhu e você será
salvo. Está bom assim? Não nos deixe. Você é bem...pelo menos você fez avanços.
Você é um dos devotos importantes. Então não perca essa posição agora.
Administre da posição que você quiser ficar. Agora Gaurasundara também veio.
Então fico feliz em ver que você...Seu tufo de cabelo está longo. Sim. Corte-o.
Dê a eles um bom lugar para ficar." Tamala Krsna disse:
"Prasadam." Srila Prabhupada respondeu: "Aceite prasadam e fique
aqui durante um tempo. É claro que, de acordo com meu horóscopo, esses são meus
últimos dias. Mas se Krsna quiser me salvar, aí é diferente. Eles calcularam
oitenta e dois anos e dois dias?" Tamala Krsna disse: "Oitenta e um
anos, cinco meses, e 28 dias." Srila Prabhupada continuou: "Isso é de
acordo com os cálculos de meu horóscopo. Oitenta e um anos se completaram e eu
começarei meu octogésimo segundo ano. Não importa se eu deixar esse corpo.
Mesmo na morte eu continuarei vivendo. Um ano antes ou um ano depois...Agora,
na medida do possível eu lhes treinei. Tente seguir os princípios. E siga em frente. Não deixe que
os truques de maya o atrapalhem. Continue, siga em frente, a qualquer custo.
Bhaktivinoda Thakura disse: Surgem
tantos obstáculos, maya é muito forte e ainda assim, nós continuamos seguindo em frente. Isso é bom."
Passei as duas
seguintes semanas no Krishna Balaram Mandir. Upendra estava massageando-o e
dando-lhe banhos de esponja. Ele me permitiu realizar esse maravilhoso serviço
com ele. Pela sua misericórdia e a misericórdia de Upendra prabhu pude novamente tocar o corpo de meu
transcendental pai espiritual. Era o serviço ao qual eu estava mais apegado, e
ter Upendra ao meu lado o fez mais doce ainda. Ele era um servo tão
maravilhoso. Ele carinhosamente partilhou o néctar do serviço comigo, sabendo
que ao compartilhar você com outros, sua própria êxtase aumentava.
Quando estava me
preparando para ir embora de Nova Nabadwip, Upendra me deu a esponja que usamos
para banhá-lo como um presente de despedida. Estava perfumada com o cheiro de
seu corpo e o pó que usamos durante a massagem. Eu a dei quase toda, mas minha
esposa, Kusa, conseguiu ficar com um pequeno pedaço e o colocou numa moldura.
Está hoje em seu altar em nossa sala de templo.
Tolamente deixei
Vrindaban cedo demais. Eu poderia ter ficado com você se meu desejo você mais
forte, mas, pensando que era indispensável como presidente de templo e não
realizando que nunca mais veria seus pés de lótus novamente, parti. É uma
decisão que vou me arrepender por toda eternidade. De repente, você se foi. Eu
nunca pensei que isso fosse acontecer. Você me ensinou tanto sobre a natureza
temporária deste mundo material, mas aprendi muito pouco. Quando vou aprender
aquilo que você tão cuidadosamente ensinou a esse tolo servo. Não há nada mais
valioso nesse mundo que a associação com os devotos do Senhor. Quando vou
aprender que o único néctar nessa vida é a associação com os devotos de Krsna?
Srila Prabhupada,
eu me identifico muito com Upendra. Basicamente ele é carinhosamente conhecido
como sendo seu servo pessoal. Ele era muito sentimental. Depois que você foi
embora ele ficou mais conhecido por suas dificuldades em seguir o caminho de
Consciência de Krsna. Minha condição depois que você deixou seu corpo tem sido
similar. Você misericordiosamente deu sua mão e levou seu servo, Upendra,
ajudando-o cuidadosamente em sua passagem para o próximo mundo. Você nos mostra
como é compassivo e carinhoso para conosco. Você nunca reconhece nossos maus
hábitos, graciosamente mostrando gratidão pelo serviço que façamos, não importa
quão insignificante.
Srila Prabhupada,
sou muito caído e preguiçoso. Não consigo sentir sua presença desde que partiu
deste mundo. Meu apego a você é sentimental e sou incapaz de realizar qualquer
serviço útil. Por favor, me leve deste lugar horrível para que possa
massageá-lo, junto com meu irmão espiritual, Upendra prabhu. Olhe para mim
carinhosamente e me salve de mim mesmo.
Você vive
eternamente em suas instruções e sua presença pode ser vista em seus discípulos
que seguem essas instruções, se tivermos olhos para ver. Por favor, lembre-se
de mim como lembrou de Upendra. Dê-me essa alegria de ter a associação de meus
irmãos e irmãs espirituais no momento da morte. Rezo para poder estar cantando
os santos nomes de Guru e Gauranga ao deixar meu corpo e assim seguir os passos
de meu mais afortunado amigo e irmão espiritual, Upendra prabhu.
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