terça-feira, 14 de maio de 2013

Srila Prabhupada Uvaca


Srila Prabhupada Uvaca de Prabhu Srutakirti dasa
"Confissões de seu servo pessoal, Srutakirti dasa implorando para permanecer Dasa Dasa Anu Dasa vida após vida!"

 TODAS AS GLÓRIAS A SRI GURU E GAURANGA!

Esse livro é dedicado a glorificação de
A.C. Bhaktivedanta Swami,
nosso querido Guru Maharaja, Srila Prabhupada!
Dedicado a ISKCON, o Corpo de Srila Prabhupada,
No centenário de Sua Divina Graça, 100o Aniversário do Seu Dia de Aparecimento!

Dedicado a todos os servos de Sua Divina Graça,
Dedicado a todos Vaishnavas!
Copyright @ 1996, 1978 de Vincent Fiorentino. Todos direitos reservados. Esse material não pode ser reproduzido na integra ou em parte de qualquer maneira, sem a permissão do autor.
Traduzido por Giridhari Das
Mande-nos e-mail (em inglês), clicando aqui: vrinda@aol.com ou (português) pbuvaca@gopala.com


Conteúdo:
Clique na seção de Uvaca para ir direto para aquela parte do livro:
Índice
1         Palavras verdadeiras após 12 anos de prática
2         Teste da velocidade ao tocar o sino
3         Montanhas no céu
4         Devotos não tem ambição
5         A importância da distribuição de livros, O poder do livro
6         Misericórdia para um inseto
7         Relógio mundial
8         Os primeiros dias como servo
9         Mundo de fantasia dos adultos
10       Jejum
11        Allen Ginsberg
12        Damodar Maharaja
13        Orgulho de ser servo de Krishna
14        Armas de brinquedo
15        Controle da mente/ Se os homens estão agitados, que vão para floresta
16        Sruto- Apelido
17        Psicólogo
18        Dormir
19        Jardins de LA, lugar favorito
20        Meus pés
21        Cozinhando rasgullas
22        Futebol/ cicatriz
23        Céu azul da efulgência de Krishna/ Jasmim
24        Banho no Yamuna
25        O medo de abrir meu coração
26        Bhajans no Manor
27        A boca de Saraswati como os caminhões de lixo de Nova Iorque
28        O devoto é simples ou trapaceiro?
29        Se você só ler esse livro
30        Pipoca
31        Gatinho insistente
32        Cultura védica
33        (Machado) Reverências, uma atitude
34        Aposentado por uma hora
35        Proposta do GBC para se aposentar
36        O macaco e as bananas
37        Batatinhas
38        Banho da perna e dos pés
39        Economia mundial
40        Eu quero subir as escadas correndo
41        St. Moritz/ St. Infernal
42        Cantando voltas em minhas contas
43        Manutenção do jardim
44        Prós e contras do Bengali Kirtan
45        Banho no aeroporto de Bangkok
46        Superalma e a aeromoça no vôo para o México
47        Pés de lótus no vôo da Transcendental World Airways
48        Ficar inteligente quando chegar aos 80
49        Arjuna canta voltas? Nós devemos dar o exemplo
50        Amanhã você deve servir Yamuna-devi
51        Abanando/ Chame alguém com inteligência
52        Desejando o cordão brahmínico de Srila Prabhupada
53        Carro errado em Bombaim
54        Prabhupada nos observa comendo
55        Um menino de 12 anos cozinha o almoço de Srila Prabhupada
56        Lembrando seus sapatos da infância
57        Mosquitos/ não fofoquem
58        Formigas e os doces/ Katchori de coco e as dores
59        Prabhupada, o maestro, Rathayatra de Londres
60        Puris quentes de Mayapur/ Não esquente a Maha da Deidade
61        Prabhupada me inspira para cantar minhas voltas
62        Cantando e seguindo os princípios
63        Cantando no templo quando as Deidades estão descansando
64        O Vaso
65        O domínio do idioma inglês de Srila Prabhupada
66        Elevador / Raspando cabeça / Banho de balde / Datong
67        Puffed Rice/ Memórias da infância
68        Não seguiram as instruções, não os ajudará
69        Gravador come fitas/ Massa de chapati para testar privada
70        As máquinas de Kali Yuga/ Ugra Karma
71        Talvez eu também tenha icterícia
72        Música Indiana clássica / Animal mais bonito
73        Queda na cozinha de LA/ Retrucando o Guru
74        Casca de laranja/ Juta vs. Maha Prasad
75        Qual é o problema?
76        Não durma durante o Mangal Arati/ Dormindo & Comendo
77        Eu só comia puris/ Memórias da juventude
78        Vestindo Srila Prabhupada
79        Nadando a sós na praia de Juhu
80        O gorila Dvivida / Bhagavat como um doce
81        Duas horas na vida de um servo/ Massagem e preparação de alimentos
82        Mudando o cardápio do almoço
83        Prabhupada da Devananda sua última chance
84        Extático lila de aeroporto/ Serviço é amor
85        Brincando com sua irmã, Pishima
86        Pishima está dormindo na minha cama
87        Sintomas de êxtase de Srila Prabhupada
88        Sonhando com a esposa/ Desatenção traz queda
89        Prestes a me tornar servo de Prabhupada
90        Prabhupada dança, mas para por causa das Deidades
91        Prabhupada, Siddhaswarup, e os cini puris
92        Formigas e abanando durante prasadam
93        Upma e a compaixão de Prabhupada
94        Prabhupada cai
95        Febre alta não pode parar sua apreciação
96        Fazendo crítica das aulas em Vrndavana
97        Você salvou minha vida. Sim, recupere sua saúde.
98        Boas notícias, o Sr. Niar morreu
99        Srutakirti "DASA", memórias da juventude
100       7-Up, reunião a sós com presidente do templo
101       Prabhupada vai ver templo em potencial em NYC
102       Cozinha de L.A., casamento, Misericórdia de Prabhupada
103       Instalação das Deidades de Paris
104       De volta ao serviço de Prabhupada depois do casamento
105       Prabhupada satisfaz seus discípulos, doença após massagem com sândalo
106       Cobras nos aposentos de Srila Prabhupada
107       Nosso medo da cobra, que fugiu
108       Relacionamento entre Guru e discípulo
109       Tomando banho na Índia
110       O chaddar de lã cinza de Srila Prabhupada
111       Surabhi, o assento do vaso, e a construção do templo
112       Fantasmas e cantando o Maha Mantra sem medo
113       Nomeando meu filho, presentes de Prabhupada
114       Deixando o serviço de Srila Prabhupada para recuperar minha saúde
115       Krsna me salva, Prabhupada diz que eu teria morrido
116       Srila Prabhupada novamente me aceita como seu servo pessoal
117       A importância de adoração a Deidade e distribuição de livros
118       Krsna e Arjuna no carruagem, devemos render tudo!
119       Êxtase de Srila Prabhupada em Atlanta
120       Srila Prabhupada me da seus sapatos
121       Srila Prabhupada me da sua suéter e cobertor
122       Srila Prabhupada quer que eu vá para Índia com ele
123       Orgulho espiritual
124       Srila Prabhupada cuida de mim
125       O desejo de Srila Prabhupada
126       O sapato de Srila Prabhupada é comido por um macaco no Radha Damodar
127       Cozinha Bengali, óleo de mostarda, Pishima, e Shukta
128       Para satisfazer o Senhor Krishna, só oferecer sandesa & rasagulla
129       Um tributo ao servo pessoal de Srila Prabhupada, Upendra Prabhu!

Srila Prabhupada Uvaca 1
Outubro de 1972, Vrindavan, Índia
Templo de Radha Damodara
(Trecho de uma carta)
São 5:30 da manhã e Srila Prabhupada acabou de me chamar no seu quarto, querendo saber por que Shyamasundara e Pradyumna ainda estão dormindo. "Não sei", respondi. Ele me pede para chamá-los. Quando voltamos Srila Prabhupada nos diz que temos que conquistar o sono.
"Acordar cedo e tomar um banho frio não são austeridades, mas apenas bom senso e boa higiene”, diz Srila Prabhupada. Então revelando uma incrível verdade, Sua Divina Graça diz, "Cantando dezesseis voltas, seguindo os princípios regulativos, acordando cedo, reduzindo o comer e o dormir, obtemos a energia espiritual. Se alguém seguir esses princípios durante doze anos, tudo que ele falar será perfeito!”
Todas as glórias a Srila Prabhupada! 

Srila Prabhupada Uvaca 2
Oito de setembro de 1972
ISKCON Pittsburgh
Esse é meu primeiro dia como servo de Srila Prabhupada. A totalidade de meu treinamento para me tornar o seu servo foi composta por ver Sudama Maharaja dando uma massagem em Srila Prabhupada e ser instruído, "Quando Srila Prabhupada tocar o sino, vá imediatamente a seu quarto e veja como você pode servi-lo”.
São agora 2:00 da tarde. O sino toca. Muito nervoso, vou correndo a seu quarto e presto-lhe reverências. Sentando pergunto: "Que posso fazer, Srila Prabhupada?". Ele sorri e responde: "Oh! Nada. Só queria saber  se você  é rápido’.
Depois de completar minha primeira missão com sucesso, relaxei e voltei ao meu quarto. Srila Prabhupada estava me deixando a vontade com seu senso de humor, gentileza e carinho.

Srila Prabhupada Uvaca 3
Outubro de 1972, Vrindavan, Índia,
Templo de Radha Damodara
 Brahmacari: "Srila Prabhupada, diz aqui no livro de Krsna, em uma das histórias, que Krsna e Balarama saltaram de uma montanha que tinha 88 milhas de altura. Onde fica essa tal montanha?
Srila Prabhupada pausou e então respondeu: "No céu."
Em outra ocasião:
Brahmacari: "Srila Prabhupada, eu quero sempre estar a seus pés de lótus!"
Srila Prabhupada: "Isso vai ser difícil, porque eu estou sempre me mexendo."
Srila Prabhupada tinha um grande senso de humor. 

Srila Prabhupada Uvaca 4
Jardim de Srila Prabhupada
ISKCON, Nova Dwarka
 Srila Prabhupada estava em seu jardim com os pais de um jovem devoto. Sendo responsável pelo paisagismo eles tiveram a boa sorte de agradar Sua Divina Graça.
Kirtanananda Maharaja e eu estávamos presentes. "Um devoto tem muito orgulho de ser um servo de Krsna," disse Srila Prabhupada. "Um devoto tem esse orgulho. Nós não temos vergonha de ser um servo de Krsna." Srila Prabhupada falou então diretamente ao pais, "Seu filho é um bom rapaz e um bom devoto." Eles ficaram muito satisfeitos pelas doces palavras de Sua Divina Graça. Agora mais à vontade, eles comentam: "Os devotos não parecem ser muito ambiciosos."
"É isso mesmo," Srila Prabhupada falou. "Um devoto não tem qualquer ambição. Ele simplesmente quer fazer algum humilde serviço para Krishna. Ele não tenta fazer nada grandioso. Um devoto não tem ambição. Nós não temos ambição alguma."
Vendo o desconforto dos pais, Kirtanananda Maharaja interveio: "O que Prabhupada quer dizer é que os devotos não têm ambição material." Srila Prabhupada respondeu enfaticamente: "Não! Nós não temos ambição. O devoto não é nada ambicioso. Nós só queremos servir Krsna."
Srila Prabhupada sabia sempre o ponto que ele queria estabelecer. Às vezes seus discípulos interrompiam Srila Prabhupada para interpretar suas declarações, achando que Srila Prabhupada não entendia as pessoas devido a diferenças culturais.
Conhecendo a elevada posição de nosso querido Srila Prabhupada, podemos compreender que Sua Divina Graça sabia com quem ele estava lidando, o que eles queriam dizer e exatamente o que ele queria que eles entendessem. Srila Prabhupada não compromete a filosofia para agradar ninguém. Ele fala a verdade absoluta!
Jai Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 5
Sete de outubro de 1972
San Francisco, ISKCON
(Trecho de uma carta)
 
Em vista da maratona de 1000 000 de livros, nós gostaríamos de compartilhar esse néctar de lila para o prazer de Srila Prabhupada e todos os seus discípulos e netos espirituais.
Recentemente Srila Prabhupada disse que nossa verdadeira pregação é a distribuição de livros. Ele diz: "O que você pode falar a uma pessoa em três minutos? Mas se essa pessoa lê uma página de um livro, isso pode salvá-la. Da maneira que tiver que ser feito está bom, mas se você deixar a pessoa com raiva e ela não levar um livro, então isso foi tolice sua."
As declarações de Srila Prabhupada mostram a diferença entre nossas palavras e as suas. O poder vem da pureza. Srila Prabhupada é um devoto puro, nós somos seus humildes servos. Somos afortunados de distribuir suas palavras na forma de livros.
Srila Prabhupada disse: "Meu Guru Maharaja diariamente produzia um pequeno jornal. O jornal custava alguns centavos e sempre que um brahmacari voltava das ruas falando que tinha vendido um exemplar, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati ficava muito feliz e dizia:"Oh! Isso que você fez é muito bom!. Você é um bom rapaz." 

Srila Prabhupada Uvaca 6
ISKCON, Nova Dwarka, LA., Califórnia
Hoje minha esposa, Kusa devi, meu filho, Mayapuracandra, e eu pegamos um pequeno passarinho que estava no nosso quintal e o botamos numa gaiola com comida e água. Ele parece doente e prestes a morrer, mas não poderíamos deixar isso acontecer sem lhe dar uma atenção especial. Ao seu lado botamos um CD Hare Krishna tocando continuamente, caso ele esteja prestes a partir de seu corpo. Veremos se ele vai melhorar ao ficar vivo ou ao morrer.
Às vezes, nós devotos não agimos dessa maneira. Eu sempre ouvia que era melhor não nos enredar nos assuntos de outras entidades vivas. Afinal de contas não somos nosso corpo. Somos almas espirituais, constitucionalmente parte e parcela de Krishna, e Seu servo. Se nós servimos o pássaro talvez tenhamos que nascer de novo para receber os benefícios piedosos desta ação. A história abaixo talvez explique a razão pela qual nós agimos desta maneira:
Era primavera de 1973 em Nova Dwarka. Srila Prabhupada tocou seu sino. Imediatamente fui ao seu quarto e prestei-lhe reverências. Quando sentei, seus olhos ficaram arregalados. Olhando-me com grande preocupação ele apontou ao chão, próximo de minhas pernas, e perguntou: "Você está vendo esse inseto?" Olhando em volta durante alguns momentos finalmente vi o pequeno inseto.Indiquei que sim, não tendo idéia do que estava para acontecer.
Num tom muito sério, Sua Divina Graça disse: "Tenho visto esse inseto já há algum tempo e ele não se moveu. Acredito que ele esteja com fome. Pegue uma flor prasadam e leve-o para fora. Coloque-o numa planta para que ele possa se nutrir." Imediatamente  fiz o que meu mais misericordioso Guru Maharaja pediu e voltei aos aposentos dos servos.
Nenhum de nós mencionou o inseto de novo. Foi apenas mais uma maravilhosa ocasião onde ele me mostrou o quanto indiscriminadamente misericordioso é um devoto puro. Sua Divina Graça não achava que era um desperdício de tempo mitigar transcendentalmente  o sofrimento de até a menor entidade viva. Agora, só por ver o menor dos insetos, sou forçado a me lembrar de meu querido Srila Prabhupada. Não importa o quanto somos insignificantes, se fomos afortunados o suficiente para conseguir o olhar de um nitya-siddha, nossas vidas serão enormemente beneficiadas. 

Srila Prabhupada Uvaca 7
26 de abril de 1973
Los Angeles, Califórnia
ISKCON, Nova Dwarka
(Trecho de uma carta)
Desde que voltamos a Los Angeles, Srila Prabhupada tem vindo aos meus aposentos para me mostrar como preparar alguns pratos novos. A maneira com a qual ele entra, senta-se no chão e comanda as atividades é realmente encantadora.
Outro dia Jayatirtha deu a Srila Prabhupada um relógio de mesa que mostra o horário de qualquer cidade no mundo, com o girar de um mostrador. Prabhupada ficou bastante satisfeito com o relógio e disse que o homem que o inventou merecia os US$300 que custou por ter esforçado tanto seu cérebro.
No andar de cima está agora um famoso alfaiate. Ele elabora roupas para milionários, mundo afora e quer preparar todo um conjunto de roupas para Prabhupada. Não consigo imaginar o que ele pode fazer com uma kurta e um dhoti para ficar diferente e ainda sim conseguir que Prabhupada os use. 

Srila Prabhupada Uvaca 8
12 de setembro de 1972
Dallas, Texas
Os últimos dias têm sido os mais maravilhosos que já tive em Consciência de Krsna, apesar do fato de não saber o que estou fazendo. Já dei a Srila Prabhupada três massagens. Tendo recebido seu único comentário: "Muito obrigado." Ontem ele entrou na cozinha e me mostrou como preparar seu almoço na sua panela de três compartimentos. Ele fez dahl e verduras usando o mesmo chaunce e me mostrou como enrolar chapatis sem usar o rolo. Ele falou que eles ficam melhores assim – se você consegue fazê-los. Hoje ele novamente cozinhou seu almoço para meu benefício. Ele fez três verduras, dahl, e arroz na panela, e eu fiz os chapatis. Para suas outras refeições ele falou que ele queria um pouco de fruta com leite de manhã e fruta no final da tarde – nada mais. Ele enfatizou que só queria pequenas porções em seu prato. 

Srila Prabhupada Uvaca 9
Trecho de uma carta datada de  Sete de outubro de 1972
Essa manhã, enquanto andava no Merit Park, no centro de Oakland, nós passamos por um pequeno zoológico com um grande cartaz na entrada. Lá estava escrito: "Mundo de Fantasia das Crianças". Prabhupada leu em voz alta e então, apontando os arranha céus, falou: "Mundo de Fantasia dos Adultos". 

Srila Prabhupada Uvaca 10
Vyasa-Puja de Srila Prabhupada 1973
Bhaktivedanta Manor, Inglaterra
Faz dois anos e meio que sou um brahmacari e estou ficando inquieto. Meus sentidos estão me atraindo. Srila Prabhupada explicou inúmeras vezes que temos que reduzir a quantidade de sono e comida para avançar espiritualmente. Assim, decidi aproveitar esses dois dias de jejum para reduzir na alimentação. Quando quebrei o jejum a meia-noite de Janmastami, eu comi bem pouco. Na tarde seguinte, depois das comemorações do Vyasa-Puja de Srila Prabhupada, novamente comi bem pouco. Não sentia fome. Suponho que meu estômago tivesse encolhido. No dia seguinte, depois de novamente comer um pequeno almoço, Srila Prabhupada me chamou em seu quarto. Depois de reduzir minha alimentação em apenas algumas poucas refeições, Srila Prabhupada comentou observando-me: "Sua cara está parecendo muita magra. Você não está se sentindo bem?". "Não, Srila Prabhupada, estou bem. Estava tentando reduzir na minha alimentação.” "O que é isso!?" Srila Prabhupada questionou, "Você tem serviços a serem prestados. Você não deve reduzir sua alimentação. Isso é tolice. Você tem que me dar massagens e fazer tantas outras coisas. Não reduza. Você deve comer tudo que conseguir digerir. É isso que você deve comer."
Incrivelmente, em nossos primeiros dezesseis meses juntos, essa é a segunda conversa que Srila Prabhupada teve comigo a respeito do consumo de prasadam. Finalmente, decidi não me preocupar com a quantidade de prasadam que comia em minhas refeições.
Veja só como Srila Prabhupada é misericordioso! Sua Divina Graça tem um perspicaz poder de observação, e esta sempre atento ao nosso bem estar. Às vezes, nós ficamos muito ocupados planejando maneiras de avançar, mas Srila Prabhupada nos guia e cuida de nós há todos instantes.
Jai Srila Prabhupada! 

Srila Prabhupada Uvaca 11
Verão 1973- Bhaktivedanta Manor, Inglaterra
Allen Ginsberg acaba de chegar da Índia. Quando ele vem ter seu darsana com Srila Prabhupada ele traz consigo um órgão. "Você está cantando Hare Krishna?", pergunta Srila Prabhupada. "Sim, eu ainda canto Hare Krishna e outras coisas. Posso tocar o órgão para você e cantar?", diz Allen. Srila Prabhupada diz: "Sim, você pode."
Allen Ginsberg começa tocar seu órgão, cantando "Ooooommm." Cada vez que ele cantava "Om" sua voz ficava mais e mais grave. Enquanto isso, Srila Prabhupada reclinava-se confortavelmente atrás de sua mesa. Quando Allen Ginsberg acabou, Srila Prabhupada falou: "Você pode cantar o que você quiser, mas continue cantando Hare Krishna. Enquanto você cantar Hare Krishna estará tudo bem. Você pode cantar o que quiser, mas não pare de cantar Hare Krishna."
Agora já tinham muitos devotos no quarto. Srila Prabhupada falou: "Então, teremos kirtan." Allen Ginsberg começou liderando, tocando o órgão e cantando o maha-mantra. Depois de alguns minutos Srila Prabhupada olhou para Hamsadutta e disse: "Sua vez de liderar."Então, virando para Allen Ginsberg, falou: "Ele vai liderar, ele vai cantar." Pela graça de Srila Prabhupada todo nós estávamos participando de um kirtan extático.
Srila Prabhupada sabe como estimular a todos, não importa qual sua orientação ou passado. Sua Divina Graça nos inspira a seguir o caminho de volta para o lar, de volta ao Supremo.
Jai Srila Prabhupada! 

Srila Prabhupada Uvaca 12
Junho de 1973
Mayapura Candrodaya Mandir
Esse mês, o irmão espiritual de Srila Prabhupada, Damodara Maharaja, veio visitar Sua Divina Graça. Srila Prabhupada não estava muito interessado em vê-lo. Uma vez ele me falou: "Se Damodara Maharaja vier, eu não quero vê-lo. Ele simplesmente vem e fala: "essa math, eles estão fazendo isso, e aquela math eles estão fazendo aquilo, e meus discípulos estão fazendo isso." Srila Prabhupada então falou: "Não estou interessado nessas coisas. Eu adoraria se ele viesse e falasse sobre Krsna ou falasse sobre filosofia, mas ele fala sobre todas essas tolices. Eu não estou muito interessado em ouvi-las."
Falei para Srila Prabhupada que tentaria impedir Damodara Maharaja de entrar em seu quarto. A próxima vez que ele veio, eu lhe falei que Sua Divina Graça estava descansando e não poderia ser incomodado. Damodara Maharaja não ficou satisfeito com meu argumento. "Prabhupada falou que eu poderia vir sempre que quisesse. Por que você não me deixa vê-lo?", ele perguntou. De novo, lhe expliquei: "Não posso incomodá-lo enquanto ele está descansando." Damodara Maharaja ficou furiosamente andando para um lado e para outro, determinado a fazer as coisas de sua maneira. Eu já estava suando.
Milagrosamente, Srila Prabhupada saiu de seu quarto, através da varanda, a caminho do banheiro do outro lado do prédio. Imediatamente Damodara Maharaja chamou-o, "Prabhupada! Swamiji!" Srila Prabhupada respondeu: "Oh! Entre, entre. Eu já estarei com você." Quando Srila Prabhupada voltou ao seu quarto, Damodara Maharaja falou: "Seus discípulos estão me criando muitas dificuldades. Eles não me deixam entrar para vê-lo."
Srila Prabhupada virou-se para mim, dizendo: "Por que você está criando tantos problemas para ele? Eu te disse que sempre que ele vier, você deixe-o entrar. Ele é meu irmão espiritual. Ele deve ter permissão de entrar imediatamente." Respondi: "Tudo bem, Srila Prabhupada."
Eu estava vibrando por ter tido a oportunidade de servir Srila Prabhupada assim tão intimamente e me senti abençoado por ter acesso a seus pensamentos mais íntimos. Sua Divina Graça foi capaz de agradar seu irmão espiritual e eu recebi a oportunidade de ajudar. Srila Prabhupada nos mostrou como devemos tratar um irmão espiritual, não importa o que sentimos. Ele era um diplomata transcendental e eu tive o deleite de ser o seu confidente.

 Srila Prabhupada Uvaca 13
Setembro de 1972
Essa tarde, no jardim, Srila Prabhupada sentou-se com a coluna bem reta e com seus olhos abertos cantou, "Govindam adi purusam tam aham bhajami. Esse é o nosso orgulho. Nós somos servos da pessoa mais grandiosa – Krsna. Todos são servos, mas nosso orgulho é que somos servos de Krsna. Govindam adi purusam tam aham bhajami." 

Srila Prabhupada Uvaca 14
Uma Massagem Matinal de Srila Prabhupada
Quando era ainda um pequeno menino andando com sua Mataji, Srila Prabhupada viu algumas armas de brinquedo. "Quando eu vi as armas imediatamente tinha que tê-las," ele falou. Como sua mãe não queria lhe comprar uma, ele começou a chorar. Finalmente sua mãe falou: "Está bem, está bem, vou lhe comprar uma arma. Srila Prabhupada olhou para a arma em sua mão e então olhou para sua outra mão vazia:"Eu não tenho um arma para essa mão. Eu tenho que ter uma para cada mão"ele disse. "Não", disse sua mãe. Mas mesmo nesta tenra idade, a determinação de Prabhupada era inabalável e ele conseguiu o que queria. "Naquele instante", disse ele, "eu me deitava na rua e começava a espernear, batendo meus pés, punhos e cabeça no chão." Ele chamava isso de um ataque. Mostrando-me um marca em sua testa, ele falou: "essa cicatriz é dessa época. Eu tinha plena certeza que deveria ter as duas armas. Então, ela me comprou a outra arma."
Ele continuou: "Quando eu queria alguma coisa, tinha que tê-la e minha mãe tinha que consegui-la. Caso contrário, eu falava para meu pai e ele ficava muito chateado com minha mãe e então ela tinha que fazer. Eu não sei" disse ele, "talvez meu pai soubesse."
Srila Prabhupada fez esse mui sutil comentário sobre seu pai "saber" a posição de seu querido filho. Prabhupada não entrou em maiores detalhes, dando-nos a oportunidade de chegar às nossas próprias conclusões. Aqui, novamente, nós podemos ver a grande humildade que tem o devoto puro do Senhor Supremo.
Jai Srila Prabhupada! 

Srila Prabhupada Uvaca 15
Devoto: Minha mente vagueia o tempo todo enquanto canto. Não consigo controlá-la.
Srila Prabhupada: "Que história é essa de controlar a mente? Você tem que cantar e ouvir. Só isso. Você tem que cantar com a sua língua, e o som você escuta, é só. O que isso tem a ver com a mente?"
31de novembro de 1972
ISKCON Bombaim
(Trecho de uma carta)
Recebi sua carta e fico feliz de saber das notícias atuais do mundo ocidental. Nenhum dos itens era do conhecimento de Srila Prabhupada. Um item foi especialmente interessante. Era a respeito da separação de homens e mulheres no templo de Nova Iorque. Srila Prabhupada recebeu a carta a respeito deste assunto no mesmo tempo que a sua chegou. Quando ele ficou sabendo que as mulheres só eram permitidas no templo em horários estritos, por agitar os brahmacaris, ele falou que os brahmacaris poderiam ir para as montanhas, pois não era possível ter tais regras em nossos templos.
Em sua carta a Ekayani, Srila Prabhupada disse: "Eu não sei porque essas coisas estão sendo inventadas. Nós já temos o nosso padrão Vaisnava. É suficiente para todos grandes, grandes santos e acharyas em nossa linha – por que deveria ser inadequado para meus discípulos para eles então criarem algo? Isso não é possível. Quem introduziu essas coisas – que mulheres não podem cantar japa no templo, que elas não podem realizar arati e tantas outras coisas? Se eles ficam agitados, então deixe os brahmacaris irem para a floresta, eu nunca introduzi essas coisas. Se os brahmacaris não podem ficar na presença de mulheres no templo, então eles podem ir para floresta, não ficar em Nova Iorque, por que em Nova Iorque tem tantas mulheres, como eles poderão evitar vê-las? Melhor coisa é irem para a floresta para não verem qualquer mulher, se eles ficam agitados tão facilmente, mas então ninguém  irá vê-los também, e como nosso trabalho de pregação continuará?"

Srila Prabhupada Uvaca 16
12 de setembro de 1972,
ISKCON, Dallas
(Trecho de uma carta)
Outro dia Srila Prabhupada tocou seu sino para me chamar. Entrei em seu quarto e prestei-lhe reverências. Quando sentei ele sorriu e me disse: "Srutakirti, seu nome é longo demais. Eu vou chamá-lo de Sruto." Durante os próximos dias Sua Divina Graça calorosamente me chamou de "Sruto". Meu carinho por ele aumentou imensamente. Ter Srila Prabhupada personalizando meu nome foi muito prazeroso.
Na noite passada Srila Prabhupada ficou até as 11:30 da noite esclarecendo filosoficamente um pequeno grupo de devotos, no qual eu estava incluso. Eu me sentia cansado, mas era incapaz de me retirar de conversas tão nectáreas
Todas as glórias a Srila Prabhupada!!!

Srila Prabhupada Uvaca 17
Trecho de uma carta datada 7 de outubro de 1972
Um dia em seu quarto em Los Angeles um psiquiatra estava criticando os devotos porque eles forçavam o público a aceitar seus serviços. Srila Prabhupada rapidamente indicou que isso nos fazia melhor que ele. Ele disse que nós dávamos nossos serviços para todos de graça indo até eles, enquanto ele fazia as pessoas irem até ele e ainda lhes cobrava. O psiquiatra silenciou-se rapidamente. 

Srila Prabhupada Uvaca 18
Carta a um devoto a respeito de Srila Prabhupada e Dormir
Srila Prabhupada falava sobre dormir em certas ocasiões. Quando eu me tornei seu servo, ele me chamou a seu quarto depois de tirar um cochilo rápido após o almoço. Isso foi no templo de Dallas quando Srila Prabhupada foi ver as instalações do gurukula. Ele me perguntou se eu cochilava depois do almoço. Disse-lhe que não. Isso não era algo que era feito nesta época. Então ele falou: "Eu sou um homem velho e não consigo dormir muito tempo de uma só vez, portanto tiro um cochilo depois do almoço."
Eu só estava com ele há poucos dias nessa época. Mas sua humildade já tinha conquistado meu coração. Em uma outra ocasião quando ele estava preparando-se para descansar à tarde, falou para mim: "Sempre que vou descansar, penso: ‘Acredito que agora vou desperdiçar meu tempo.’"
Srila Prabhupada era incrível. Depois  de estar dois anos com ele uma coisa que eu sabia com toda certeza era que ele nunca, mas nunca, desperdiçava seu tempo. Com vinte anos de idade, eu tinha dificuldade em acompanhar seu ritmo em suas voltas ao mundo para esclarecer seus discípulos. Ele tinha  setenta e cinco anos nessa época. Às vezes durante sua caminhada matinal, alguns de seus discípulos sacudiam a cabeça, olhando um ao outro, querendo saber quando ele começaria a voltar, pois já estavam ficando cansados de andar.
Uma vez Srila Prabhupada estava num vôo curto saindo do JFK (Nova Iorque). Como era um avião largo – aquele avião tinha uns 10 assentos lado a lado – muitos devotos compraram bilhetes que lhes colocavam na mesma fileira que Srila Prabhupada. Quem não gostaria da oportunidade de sentar-se perto de seu guru? Eu estava ao lado de Srila Prabhupada – meu mais afortunado dever como seu servo. Com o passar do tempo, infelizmente, alguns discípulos começaram a apagar. Era um espetáculo e tanto – cabeças raspadas balançando para cima e para baixo ao longo da fileira, como aquelas pequenas bonecas com as cabeças em molas que as pessoas botam no vidro traseiro de seus carros. Prabhupada não estava nada satisfeito com o a apresentação tamásica e deixou que eu soubesse. "Veja só", disse ele, "todo mundo está inteiramente acordado exceto os devotos. Eles estão em maya, dormindo. Todo mundo está acordado. Por que eles não podem ficar acordados?" Normalmente quando Srila Prabhupada falava comigo desta maneira eu ficava quieto. Com medo de dizer a coisa errada, algo que pudesse incomodá-lo mais ainda, eu só ficava sentado lá e esperava ele parar, sem dizer sequer uma palavra. Esse era um desses momentos. Durante meu tempo com Srila Prabhupada,  aprendi que não existia tal coisa como uma boa razão. Não existia nenhum argumento que você pudesse usar que Prabhupada não derrotava, e eu não era suficientemente avançado para tê-lo me corrigindo regularmente. Portanto,  nem tentei argumentar que, ao contrário dos karmis, os devotos só dormiam algumas poucas horas. Prabhupada passou mais alguns minutos mostrando como mesmo os karmis estavam acordados, mas os devotos não conseguiam ficar acordados. Uma coisa era certa: eu não cochilei naquele vôo.

Srila Prabhupada Uvaca 19
7 de outubro de 1972,
ISKCON, Los Angeles
Em Nova Dwarka, toda tarde até o anoitecer, Srila Prabhupada ia para o jardim durante umas duas ou três horas. Cá estávamos, no meio da poluída Los Angeles, mas quando entrávamos no jardim estávamos em outro mundo. A luz filtrava gentilmente pelas árvores, dando as folhas um brilho surrealista. Às vezes estávamos sozinhos. Em outras ocasiões um ou outro devoto se juntava a nós. Quando estávamos sós, Srila Prabhupada passava boa parte do tempo cantando japa enquanto ficava sentado em seu pequeno elevado asana. O jardim era aconchegante, ricamente decorado com um arco, bordado com trepadeiras floridas, e um chafariz borbulhando.
Muitas vezes Sua Divina Graça comentava como ele gostava do jardim. Ele falou que depois de viajar em volta ao mundo tantas vezes ele chegou a conclusão que esse era seu lugar favorito. Eu acho que isso é devido as mais de trinta  plantas de Tulasi suntuosamente crescendo em seu jardim. Srila Prabhupada falou: "Onde quer que esteja Tulasi, lá é Vrindavan."

Srila Prabhupada Uvaca 20
Krishna Balarama Mandir: Vrindaban, Índia
Hoje estou sozinho nos aposentos de Srila Prabhupada, dando-lhe uma massagem e me sinto sem jeito. Ele está sentado de pernas cruzadas e eu estou sentado em frente dele, massageando sua cabeça com óleo de sândalo. Estou embaraçado porque está muito aparente que ele está olhando para os meus pés já há um bom tempo. Acredito que nunca me senti tão consciente na presença de meu mestre espiritual.
Para minha surpresa Sua Divina Graça falou: "Então, sua mãe é muito bonita?" Agora, num estado de choque, respondo: "Bem, ele já tem quase cinqüenta anos de idade agora, mas, sim, ela foi uma mulher muito atraente." Ele diz: "Sim, eu sabia. Eu estava reparando seus pés. Seus pés são muito simpáticos. Eles dizem que isso significa que sua mãe é bonita. Eu estava só checando. Eu queria ver se isso era verdade."
Srila Prabhupada era muito pessoal com seus discípulos. Ele cuida de nós, se preocupa com nós, e está interessado em nós. Jai Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 21
Julho de 1974, Nova Vrindaban
Acabei de juntar-me novamente a Srila Prabhupada depois de deixar seu serviço pessoal por seis meses. Hoje, os devotos estão falando da maneira correta de se preparar rasgulla. Srila Prabhupada disse: "Vou mostrar a vocês como fazer rasgulla. Prepare tudo hoje." Todos devotos ficaram excitados. A maioria teria sua única oportunidade de ver Prabhupada trabalhando na cozinha. Srila Prabhupada explicou como preparar a coalhada e fazer a água açucarada. Quando tudo estava pronto Srila Prabhupada entrou a cozinha e começou a cozinhar a rasgulla. Todos olhos estavam em Srila Prabhupada enquanto que ele habilmente induzia as bolas a rolarem no xarope. Todos exceto os de um sannyasi que estava olhando para a rasgulla. Srila Prabhupada o corrigiu dizendo: "Você já comeu metade desses."
Passando-se um tempo, Srila Prabhupada virou para Kirtananda Maharaja e disse: "Agora você pode assumir." No momento em que Srila Prabhupada tirou suas mãos da colher as rasgullas desmontaram, encolhendo pela metade. Kirtananda Maharaja tentou salvar a oferenda, mas já era inútil. Elas já estavam estragadas. Alguns, de nós provaram-nas, só para ter certeza, mas, infelizmente, o gosto estava péssimo.
Pela misericórdia sem causa do Mestre Espiritual tudo é possível.

Srila Prabhupada Uvaca 22
setembro de 1975, Calcutá
Srila Prabhupada está sendo transportado em  um carro. Parahamsa Swami e eu estamos com ele. Ao passar por um pequeno parque Srila Prabhupada sorri e disse: "Eu jogava futebol aqui quando era jovem. Adorava ser o goleiro porque era preguiçoso, não gostava de ficar correndo. Essa era a posição que eu gostava."
Tempo e local desconhecido.
Hoje, enquanto massageava Srila Prabhupada ele me mostra uma cicatriz em sua perna e diz: "Está vendo essa cicatriz? Isso aconteceu quando eu era jovem. Estava em frente à minha casa e tinha fósforos. De alguma forma eu comecei um fogo e minhas roupas imediatamente ficaram em chamas. Foi muito ruim. Eu não sei o que teria acontecido comigo, mas, de repente, não sei da onde, apareceu um homem, apagou o fogo e depois sumiu."
Srila Prabhupada não entrou em maiores detalhes sobre esse cavalheiro que veio do nada. Ele definitivamente deu a entender que a pessoa tinha vindo diretamente do mundo espiritual. Eu sei que não posso pedir para ser mais específico. Depois de estar tanto tempo com Srila Prabhupada sabia que ele já tinha falado o tanto que queria. No passar dos dois anos que fiquei com ele, Srila Prabhupada nunca fez qualquer comentário na minha presença declarando que ele tinha vindo do mundo espiritual. Ele é tão piedoso e misericordioso que ele nos estimula dizendo que podemos nos tornar Conscientes de Krsna nessa vida mesmo.
Ele é o acarya, ensinando pelo exemplo. Ele nunca nos pediu para fazer algo que ele mesmo não fazia. Ele comia, dormia, cantava suas voltas, acordava cedo, lia o Srimad Bhagavatam. Ele nunca agia de forma superior a seus discípulos. Às vezes ele dizia, "É meu dever corrigi-lo porque você é meu discípulo." Nós somos suas crianças e seu dever é nos ensinar.
Nós sabemos que Srila Prabhupada nos foi enviado do mundo espiritual por Sri Caintanya Mahaprabhu, mas uma razão pela qual eu sou tão apegado a ele é porque ele nos deixou ficar a vontade consigo, agindo como se ele estivesse "praticando" Consciência de Krsna,  ao invés de ser a encarnação do mesmo.
Pessoalmente, eu sempre achei que aquela pessoa que apagou o fogo foi Krsna, a Suprema Personalidade de Deus.

Srila Prabhupada Uvaca 23
7 de outubro de 1972
ISKCON, Los Angeles
(Trecho de uma carta)
Certa tarde no jardim de Nova Dwarka, Srila Prabhupada olhava para o céu e falou: "Então, o céu é a cor de Krsna?" Um discípulo respondeu: "No livro de Krsna diz que Krsna é azul escuro como uma nuvem de chuva." Srila Prabhupada disse: "O céu é a cor de Krsna. É a luz da efulgência do corpo de Krsna que faz o céu ficar azul."
Às vezes depois de deixar o jardim, ele voltava ao seu quarto e escutava gravações da aula de Srimad Bhagavatam daquela manhã. Então ele me pedia para escolher um jasmim estrelado que florescia a noite nos arbustos do seu jardim. O perfume da flor era especialmente fragrante à noite. Uma noite, enquanto segurava um ramo próximo a seu nariz por vários minutos, ele disse: "Ah, isso é Krsna!".
Várias vezes eu as levava a seu quarto logo antes da massagem da tarde. Durante sua massagem ele freqüentemente as cheirava. Ele então as deixava em seu travesseiro, próximo ao seu nariz, toda noite. Na manhã seguinte eu encontrava as flores delicadamente sobre seu travesseiro, exatamente onde estavam na noite anterior. As flores pareciam tão frescas e perfumadas como se tivessem sido apanhadas naquele instante. Sua Divina Graça está sempre nos mostrando como Krishna está por toda parte da criação material.

Srila Prabhupada Uvaca 24
25 de outubro de 1972, Vrindavan, Índia
Templo de Radha Damodara
(Trecho de uma carta)
Enquanto caminhávamos ao longo do Yamuna, Srila Prabhupada pediu a um de nós para pegar um pouco de água. Shyamasundara Prabhu trouxe um pouco em sua mão. Srila Prabhupada jogou um pouco em sua cabeça e nos pediu para fazer o mesmo. Então ele disse: "Isso é tão bom quanto tomar um banho no Yamuna."
Enquanto estávamos no palácio no Keshi-ghata, Srila Prabhupada advertiu os devotos a não mergulharem no Yamuna porque tinham muitas tartarugas grandes na água e podíamos nos machucar. Srila Prabhupada está sempre preocupado com nosso bem-estar, sob todos aspectos.

Srila Prabhupada Uvaca 25
Uma Mensagem Em Resposta Ao Passatempo De Brigas Entre As Facções.
Medos de Revelar Meu Coração
Acabei de colocar algumas gotas de néctar de Prabhupada, porém eu estou realizando a minha falta de qualificações e as limitações de meu esforço. Quem pode realmente glorificar o Senhor e Seu devoto puro? Lendo algumas críticas feitas por respeitáveis devotos, fiquei com medo. Enquanto escrevia diariamente, já estava me preocupando com a possibilidade de alguém achar minhas memórias ofensivas ou blasfemas. Obviamente, sou cheio de defeitos. Minhas intenções são de glorificar Sua Divina Graça e distribuir aos meus irmãos e irmãs espirituais um pouco do néctar de Prabhupada. Meu desejo é poder compartilhar o glorioso desejo de Srila Prabhupada de servir o Senhor, para que todos possamos nos inspirar e continuar o processo de serviço devocional, desejando pessoalmente servir nosso querido Srila Prabhupada e dar continuidade a sua missão.
Eu sinto que é meu dever contar minhas memórias de Sua Divina Graça. Nunca fui muito filosófico mas sempre amei a maneira como Srila Prabhupada conduzia cada minuto de sua vida. Ele foi, literalmente, meu pai. Meu próprio pai morreu quando eu tinha três anos de idade e até completar meus dezenove anos, quando encontrei Srila Prabhupada,  nunca tive uma grande influência masculina na minha vida. Acredito que isso é uma razão pela qual minhas histórias têm a tendência de mostrar mais seu lado carinhoso. Existem tantas facetas da personalidade de Srila Prabhupada, mas só lembro-me de sua doçura, compaixão, misericórdia e sua simples inocência e bondade. Tendo dado aulas ao longo dos anos tem me ficado aparente que os devotos estão ansiosos para ouvirem a respeito dessas qualidades.
Algumas das histórias favoritas são aquelas onde eu descrevo como ele me corrigia me chamando de nomes pitorescos como "mlechha", "homem morto", "bandido", etc. São histórias extáticas porque quando as conto,  espero poder transmitir o amor que  Srila Prabhupada tinha por mim. Sei que ele me amava e, portanto ele podia me xingar assim, para tentar penetrar minha cabeça dura. Se eu fosse escrever essas mesmas histórias,  tenho certeza que alguém iria ficar ofendido, achando que eu estava vendo Srila Prabhupada como um pessoa normal.
Em 1978 eu me sentei com Satsvarupa Maharaja e ele gravou minhas memórias durante um período de cinco dias. Agora vejo esses manuscritos e posso ver tantas coisas que seriam ofensivas para alguns devotos. Porém, essas atividades aconteceram. Por favor, perdoem-me pelas recordações imperfeitas. Compreendo que minha habilidade de compartilhar é cheia de imperfeições, mas se eu esperar até me purificar, temo que vocês nunca as ouçam. Srila Prabhupada falou tantas coisas. Ele gerenciou uma sociedade transcendental mundial com um bando de ocidentais desqualificados. Ele era a "Consciência de Krishna" dentro da ISKCON.
Em meus manuscritos  muitas vezes digo que Srila Prabhupada estava ansioso ou que ele cantava em voz alta quando estava chateado. Ele instruiu os outros a fazerem o mesmo. Uma vez ele me disse: "quando você estiver com sono e tem voltas para completar, você pode andar pelo quarto e cantar, como eu faço." Eu sei que Srila Prabhupada nunca estava com sono, não da maneira como que fico com sono. Eu estou dormindo, mesmo quando estou acordado. De fato, os únicos momentos onde eu estou acordado são quando eu me lembro dele. Em seu sono ele estava com Krsna da mesma forma que estava quando acordado.
Eu vi Srila Prabhupada aflito, ansioso, chateado, com raiva e furioso. Freqüentemente isso era devido à nossa imaturidade ou nossas tentativas de mudar a filosofia, etc., mas não importa qual era seu humor, ele estava sempre absorto em Consciência de Krsna.
Rezo para que todos vocês continuem escrevendo sobre os passatempos transcendentais de Sua Divina Graça. Sei que sou caído e que é muito provável que  não consiga apresentá-lo corretamente. Dependo da minha esposa, Kusa devi, para editar todas minhas escritas, ela é muito mais avançada do que eu e pode cancelar a maioria das minhas ofensas antes de chegarem ao público. Fui o servo de Srila Prabhupada durante dois anos e eu sei que cometi mais ofensas que vocês possam imaginar, mas sua misericórdia é tão grande que ele me permite continuar fazendo algum serviço.
TODAS AS GLÓRIAS A SRILA PRABHUPADA!
Eu já falei, "Todas as glórias a Srila Prabhupada" milhares e milhares de vezes, inconscientemente repetindo essas gloriosas palavras sem total compreensão, atenção ou consciência. Eu as repito como um robô. Eu preciso celebrar o real significado deste mantra.
TODAS AS GLÓRIAS A SRILA PRABHUPADA!
Relendo as histórias nesta pasta a frase "Todas As Glórias a Srila Prabhupada!" Significa mais para mim agora do que jamais foi possível no passado. Não estou interessado em apresentar meus pontos de vista pessoais sobre iniciação no ramo da ISKCON do Brahma Madhava Sampradaya através desse trabalho.
Srila Prabhupada dizia muitas vezes que a verdade absoluta é imutável. Ele nos deu o presente inigualável da "Verdade Absoluta". Minha compreensão não vai ser mudada por pontos de vista filosóficos apresentados por diferentes grupos dentro ou fora da ISKCON.
É obvio que isso é valido para muitos devotos sinceros, que escreveram volumes de ensaios, cartas, panfletos, etc. Eles têm sido afortunados por terem sido expostos ao processo de serviço devocional pelo nosso glorioso mestre espiritual Srila Prabhupada.
TODAS AS GLÓRIAS A SRILA PRABHUPADA!
Essas lindas palavras significam tanto para mim agora. São 3:00 da manhã. Acabei de acordar de um sonho com meu amado Mestre Espiritual onde ele ocupava alguns de seus discípulos. Estou muito feliz de ter atividades como essas que ocorrem na minha vida e assim tenho que compartilhar essa benção com outros.
Se não fosse através de Srila Prabhupada, quais seriam as causas de nossas disputas na vida? Alguns de nós estaríamos discutindo quem ganharia a copa. Outros estariam mais dispostos a discutir o preço de ações na bolsa, etc. Os mais piedosos estariam tendo debates sobre como melhor apresentar os ensinamentos de Jesus de uma maneira mais pura.
Nós somos tão afortunados. Nós podemos discutir e debater sobre a melhor maneira de dedicar nosso corpo, a mente e inteligência no processo de serviço devocional ao Senhor Krishna. Srila Prabhupada pegou esse bando briguento e nos tornou um grupo muito afortunado.
TODAS AS GLÓRIAS A SRILA PRABHUPADA!
Existem devotos que querem ser iniciados diretamente por Srila Prabhupada, cantar suas dezesseis  voltas e seguir os princípios regulativos. Existem outros que querem ser iniciados por um dos discípulos de Srila Prabhupada, cantar dezesseis voltas e seguir os princípios regulativos. E por aí vai.
Eu posso ver Srila Prabhupada sorrindo agora. É um sorriso lindo, que eu já vi muitas vezes antes e rezo para continuar a ver. Ele certamente vai rir por último. Ele pegou um grupo de ocidentais irreligiosos, peritos em brigar, e nos fez brigar sobre ele. O que poderia ser melhor?
Trabalhar juntos para ele? Isso seria bom. Obviamente, a única maneira de fazer isso é servi-lo e, se preciso, brigar um pouco também.
TODAS AS GLÓRIAS A SRILA PRABHUPADA!
Parece que é isso que esta acontecendo aqui, porém nós estamos todos dedicados a glorificar Srila Prabhupada.
Tenho que confessar que gosto de uma boa briga. Isso é, gosto de ver a ação de longe, de um lugar seguro. Meu ego raramente me permite lutar diretamente, a não ser que eu saiba que posso vencer. Perder seria demais para meu falso ego, mas como um apreciador de esportes, gosto de assistir a uma boa briga. Isso é natural. Mas esse assunto é de longe grande demais para minha pequena mente. É necessário apresentar uma tese para apresentar um pequeno argumento. Não sou nem um pouco qualificado para tal tarefa. Na escola, não tinha nenhuma vontade de me juntar ao clube de debates. A única coisa a que estava disposto discutir era de quem era o carro mais veloz, qual era a menina mais bonita, e, é claro, quem iria ganhar o campeonato.
Não quero criticar vaishnavas aqui, nem quero minimizar o assunto sendo discutido por uma assembléia de devotos. Eu permaneço humilde na frente de todos aqueles que buscaram abrigo aos pés de lótus de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami, Prabhupada. Espero que eu possa obter a misericórdia de todos devotos reunidos para ser tão passional em meu amor por ele.
São três da manhã e Srila Prabhupada me acordou de um sonho maravilhoso. É sua misericórdia sem causa, e ele está estaticamente em minha mente. Durante os dois anos que  passei no serviço pessoal de Srila Prabhupada, era extremamente claro que ele queria que nós trabalhássemos juntos. Divergências sempre existiram e sempre existirão. Apesar de nossos problemas, é possível trabalharmos juntos.
Srila Prabhupada às vezes contava a história dos filhos que estavam massageando o pai. Eles tinham suas divergências. Um filho dava uma cutucada onde o outro estava massageando, esse outro então fazia o mesmo onde seu irmão estava massageando. Obviamente, isso não era nada bom para ninguém.
Durante nossos debates e discussões é importante lembrarmos que estamos todos massageando o corpo de nosso pai, Srila Prabhupada. Se nós, mantermos isso em mente, as diferenças existirão, mas respeitando um ao outro como amadas crianças de Srila Prabhupada, nós poderemos dar ao nosso pai uma excelente massagem. ISKCON é o corpo de Srila Prabhupada. Srila Prabhupada falou que sua caminhada matinal e sua massagem o mantinham em boa saúde. Vamos todos contribuir para a saúde, nosso amado, Guru Maharaja dando-lhe uma boa massagem enquanto honramos nossos Irmãos e Irmãs Espirituais. Vamos concentrar nossos motivos e ações nas:
GLÓRIAS DE SRILA PRABHUPADA!
Quase toda manhã Srila Prabhupada acordava as duas ou três da manhã e começa seu trabalho de tradução para que seus discípulos pudessem ter êxtases transcendentais escritos para lerem sempre. Algumas manhãs, eu era afortunado o suficiente para acordar ao som de sua voz no quarto ao lado. Às vezes ele estava fazendo a tradução das palavras, as vezes lentamente falando um significado no Dictaphone. Mesmo eu estando enfurnado no modo da ignorância, ainda assim me sentia afortunado de poder ouvir a história transcendental sendo gravada. Agora, vinte e cinco anos depois, finalmente acordei cedo de manhã para escrever a única êxtase transcendental que tive pela misericórdia de todos devotos e meu Mestre Espiritual, e isso é:
TODAS AS GLÓRIAS A SRILA PRABHUPADA!
Implorando para ser sempre o servo de Srila Prabhupada,
Srutakirti dasa
 
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Srila Prabhupada Uvaca 26
Agosto de 1973, Bhaktivedanta Manor
Faz um ano que estou com Srila Prabhupada e  já me acostumei com o seu  ritmo transcendental. Às vezes, sentado em meu quarto,  ouvia os doce sons de seu órgão vindo de seu quarto.Sabia que eu podia convidar quaisquer devotos que tivessem por perto do quarto de Prabhupada enquanto Sua Divina Graça cantava, mas hoje não tinha ninguém por perto. Então, fui a seu quarto e prestei-lhe minhas humildes reverências. Ao sentar fui coberto pelo néctar do melodioso bhajan de Srila Prabhupada. Todos entravam em êxtase só por ouvi-lo tocar o órgão que, junto com o som de sua voz, amolecia meu coração de pedra. Sentei-me em silêncio, escutando-o, sem me mexer. Não queria criar qualquer tipo de distração enquanto ele estava nesse humor. Para mim era um espanto como ele podia ter tantas responsabilidades, mas era sempre capaz de sentar-se em seu quarto e cantar japa, fazer bhajanas, e ler seus livros.
Depois de um minuto, tirando seus olhos do órgão, ele olhou para mim e fez um sinal com a cabeça, eu já  sabia que era para eu pegar seus karatals e começar a acompanhá-lo. Quando ele terminou, eu disse: "Srila Prabhupada, seu kirtan e bhajans são sempre diferentes de todos outros que já escutei." Ele começou a rir e respondeu: "Sim, eu tenho meu próprio estilo de cantar."
É claro que o estilo de Srila Prabhupada era às vezes imitado, mas nunca era igual. Afinal de contas, quem mais poderia montar uma sociedade internacional cantando debaixo de uma árvore?

Srila Prabhupada Uvaca 27
Inverno de 1972, Índia
No meu primeiro tour pela Índia, outono e inverno de 1972, Malati devi cozinhou para Srila Prabhupada. Ela era a esposa de Shyamasundar dasa, o secretário de Srila Prabhupada. Eles tinham uma filha, Sarasvati, que tinha uns três anos de idade naquela época. Ela era a menininha mais afortunada. Ela era a única pessoa que eu conheço que podia entrar e sair do quarto de Srila Prabhupada sem ser anunciada.
Era como se ela aparecesse do nada, como uma pequena Narada Muni, em diferentes templos, mundo afora. Ela sempre acabava aparecendo no quarto de Prabhupada durante alguns momentos, e então, da mesma forma que vinha, ela desaparecia. Ele gostava de sua companhia. Às vezes ela sentava em seu colo. Outras vezes ele criava dificuldades para ela, carinhosamente provocando-a como um avô faria. Agora uma coisa a respeito dela era certo, ela sempre tinha prasadam em suas mãos e boca. Srila Prabhupada observava isso e às vezes ele dava-lhe doces que ficavam em sua mesa.
Um dia ela entrou no quarto enquanto eu estava massageando Srila Prabhupada. Como sempre ela estava comendo. Ele falou: "Você está sempre comendo. Sabe do que você me lembra, Sarasvati?" Ela olhou para ele com sua boca cheia de comida, e, balançando a cabeça, indicou que ela não tinha idéia. "Você me lembra da cidade de Nova Iorque – os caminhões de lixo!” "Você conhece os caminhões de lixo de Nova Iorque?" Com a cabeça ela indicou que sim. Prabhupada continuou: "Em Nova Iorque eles têm esses enormes caminhões de lixo. Eles descem a rua e os trabalhadores botam o lixo dentro dele." Aqui, Srila Prabhupada abriu seus braços, um sobre sua cabeça e o outro próximo ao chão. "Ele descem a rua e botam o lixo no caminhão, na grande boca do caminhão e aí o caminhão vai zzzzzzzzuuuuummmmmmmmmmm e fecha e come tudo. Então faz iiiimmmmmmm e abre de novo. Assim."
Falando assim, ele imitou o abrir e fechar da boca do caminhão de lixo com suas mãos. "Sua boca é exatamente assim. Você está sempre botando coisas nela. Igual aos caminhões de lixo de Nova Iorque."
Ele conseguia diverti-la, mas com a mesma rapidez com qual ela aparecia, logo sumia. Talvez ela ia pegar mais prasadam de sua mataji. Continuei fazendo a massagem em Srila Prabhupada, impressionado por sua grandeza e tentei imaginar que ações piedosas ela deve ter realizado para poder brincar com Sua Divina Graça tão intimamente. A oportunidade que eu tive de presenciar o lila de Srila Prabhupada era claramente um sinal de sua misericórdia sem causa. O jeito carinhoso e brincalhão de Srila Prabhupada continua a amolecer meu coração de pedra.

Srila Prabhupada Uvaca 28
Caminhada Matinal, Perth, Austrália
Andar de manhã com Srila Prabhupada nunca era chato. Às vezes Sua Divina Graça não falava nada, e só cantava japa durante toda caminhada. Isso podia ser decepcionante para alguns devotos que não tinham essa rara oportunidade normalmente. Às vezes eles faziam perguntas, na esperança de conseguir com que Srila Prabhupada começasse um debate ou conversa, mas isso era um negócio arriscado. Srila Prabhupada não era sujeito às nossas vontades. Às vezes ele dava uma resposta rápida a essas perguntas e continuava a andar em silêncio.
Hoje, porém, Srila Prabhupada estava falante, bem humorado. Sorrindo ele perguntou aos devotos: "O devoto é correto ou trapaceiro?" Um devoto respondeu: "Ele é correto, Srila Prabhupada." Com um brilho malandro em seus olhos ele perguntou: "Tem certeza? Ele é correto ou trapaceiro?" Seus discípulos, sem compreenderem que tinham caído numa armadilha, novamente responderam com entusiasmo: "Sim, o devoto é correto!"
Srila Prabhupada então lhes deu a resposta inesperada: "De fato, o devoto é trapaceiro!" Todos ficaram fixos em suas posições, boquiabertos. Srila Prabhupada explicou: "Veja eu, por exemplo, vim a seu país e estavam todos comendo carne, se intoxicando, fazendo todo tipo de tolice. Enganei a todos. Enganei vocês a se tornarem Conscientes de Krishna. Então, nesse sentido, o devoto tem que ser trapaceiro, porque ele tem que poder enganar, como eu enganei a todos. Ninguém queria ser Consciente de Krishna, mas eu os enganei.”
Srila Prabhupada era o Acarya. Ele nos ensina pelo exemplo. Ele nos mostrou sua arte nos enganando novamente durante a caminhada matinal.

Srila Prabhupada Uvaca 29
Entrar no quarto de Srila Prabhupada era sempre uma experiência esclarecedora. Às vezes Srila Prabhupada sentava e lia seus livros. Quando ele os lia parecia que tinham sido escritos por outra pessoa, pois ele não os lia com a mente de um autor procurando erros de edição ou gramática. Ele os lia com o prazer de um devoto puro, lendo os passatempos do Supremo Senhor a Quem ele estava inteiramente apegado.
Um dia em Los Angeles entrei em seu quarto para realizar minhas tarefas e ele estava sentado lendo o "Bhagavad Gita Como Ele É". Depois que eu prestei-lhe reverências, ele olhou-me e disse: "Se você ler somente esse livro e compreendê-lo, você se torna Consciente de Krishna ainda nesta vida." Alguns meses depois, quando entrei em seu quarto, ele estava lendo o "Néctar da Devoção". Ele olhou-mee disse: "Esse livro é tão bom. Só por ler esse único livro você pode se tornar Consciente de Krishna."
Srila Prabhupada nos ensinava através de seus exemplos. Ele fazia tudo que ele nos pedia para fazer. Ele pedia para lermos seus livros e ele os lia também.

Srila Prabhupada Uvaca 30
Sete de outubro de 1972, Berkeley, Califórnia
Essa noite Srila Prabhupada falou na Universidade da Califórnia, em Berkeley, penetrando o coração da capital neo-intelectual hippie. Os devotos de São Francisco receberam sua palestra com entusiasmo e prazer. Eles prepararam barris de pipoca e as distribuíram depois da palestra de Srila Prabhupada.
Srila Prabhupada perguntou: "O que é isso?" Jayananda, que foi um personagem chave na preparação e distribuição de pipoca prasadam nos sankirtans da rua de Berkeley já algum tempo, respondeu: "Pipoca, Srila Prabhupada, você quer um pouco?" Srila Prabhupada respondeu curioso: "Sim, me dê um pouco."
Os devotos distribuíam a pipoca num pequeno saquinho onde estava escrito o mantra "Hare Krsna". Srila Prabhupada comeu a pipoca com grande deleite e disse: "Oh, isso é bom!" Todos devotos, especialmente aqueles que tinham preparado e distribuído a prasadam, sentiram enorme prazer. Agora eles tinham certeza que sua oferta tinha sido aceita e suas vidas eram bem sucedidas. Quando Srila Prabhupada acabou de comer a pipoca no saquinho, aumentou ainda mais o carinho que todos Vaisnavas presentes sentiam por ele, pois deixou sua mão dentro do saquinho, alegremente. Foi muito doce. Todos devotos atentamente acompanhavam cada movimento de Srila Prabhupada. A atitude brincalhona de Sua Divina Graça sempre entusiasmava o coração dos devotos.
Cheios de alegria os devotos realizaram um extático Hare Nama Sankirtan na Av. Telegraph, um lugar famoso por seus habitantes hippies. A caminho de casa, Srila Prabhupada continuou a entusiasmar os devotos dirigindo lentamente ao longo do grupo de sankirtan. Todos devotos cantavam em bem-aventurança e dançavam eufóricos, motivados pela presença e supervisão de Srila Prabhupada.
Na noite seguinte Srila Prabhupada teve outro programa de pregação. Desta vez os devotos trouxeram pipoca para Srila Prabhupada e a ofereceram. Srila Prabhupada falou: "Não, eu sou velho e não posso fazer esse tipo de coisa com muita freqüência. É muito bom, mas para mim é difícil de digerir. Ele recusou dizendo: "É muito bom. Eu gosto."
Jai Srila Prabhupada!
Seu servo,
Srutakirti dasa e Kusa devi dasi (sim, eu também estava presente)

Srila Prabhupada Uvaca 31
Abril de 1973, Los Angeles, Califórnia
Templo de Nova Dwarka
Sempre que há privacidade e o tempo está agradável Srila Prabhupada toma sua massagem ao ar livre, com suas costas para o sol matinal, não importa o local. Muitas vezes Sua Divina Graça falou: "O sol matinal lhe dá energia e o sol da tarde lhe tira." Hoje é um lindo dia ensolarado e Srila Prabhupada decidiu tomar sua massagem em "seu lugar favorito", o jardim. Tendo eu colocado o colchonete na grama com o óleo de sândalo e mostarda ao lado, Srila Prabhupada veio e sentou-se de pernas cruzadas.
Hoje algo fora do comum aconteceu. Enquanto massageava as costas de Srila Prabhupada um gatinho, ainda filhote, passou por baixo da cerca. Talvez o gatinho quisesse associação com um devoto puro. A coisinha peluda começou a lamber as costas de Srila Prabhupada e carinhosamente esfregar seu pelo na Sua Divina Graça. Para minha grande surpresa, Srila Prabhupada permitiu que isso continuasse durante alguns minutos.
Finalmente, Srila Prabhupada falou: "Agora chega, leve-o para fora.". Rapidamente, peguei o gato e coloquei-o do outro lado da cerca. Por ser muito pequeno e extremamente determinado a conseguir mais associação o gatinho imediatamente voltou por baixo da cerca, e voltou.,.voltou... voltou.... Três vezes ele entrou e três vezes eu o coloquei para fora.
Finalmente achei uns blocos de cimento e coloquei-os ao longo da base da cerca. O gato não conseguia mais entrar e nem conseguir mais um carinho de Sua Divina Graça. Agora com seu caminho bloqueado, o gato ficou chorando fortemente do outro lado da cerca enquanto durou a massagem de Srila Prabhupada. Miando, ele lamentava sua desgraça. Aprendi algo com aquele gatinho: eu deveria ter esse mesmo forte desejo de me associar com um devoto puro.
Vejam só como mesmo um momento de associação com um devoto puro pode mudar a vida de até um pequeno animal. O gato deve ter sido atraído pela natureza transcendental de Srila Prabhupada. Ele queria se banhar no néctar de Prabhupada não importava quais os obstáculos à sua frente. Rezo para que um dia eu possa ser tão determinado quanto aquele gatinho e ter a associação de meu Guru Maharaja em serviço devocional amoroso.

Srila Prabhupada Uvaca 32
Primavera de 1973, Los Angeles, Califórnia
ISKCON, Nova Dwarka
Hoje Srila Prabhupada descreveu algumas das diferenças entre a civilização védica e a civilização ocidental. "Meninos e meninas." "Agora um homem, ele quer fazer algo. Ele vê uma mulher e diz: ‘Vou conseguir aquela mulher’. Ele chega até ela e diz: ‘O que você está fazendo? Por que nós não saímos?’"
"Quando éramos jovens," ele continua, "os mesmos desejos existiam. Os desejos não mudaram nada. Nós também tínhamos desejos como esse. Você vê uma mulher, você fica atraído. Mas a cultura existia. A cultura era tão rígida que você não podia nem olhar para ela, o que dizer de falar com ela e fazer alguma proposta. Era tudo igual, exceto a cultura. Agora, não há cultura. Você chega e diz o que quiser. Nós tínhamos todos esses desejos, conversando como colegas de escola, mas você nunca podia se aproximar de uma mulher. Isso não existia. Você nem pensava sobre isso."
Srila Prabhupada deixou Vrindaban Dhama e a cultura Védica para nos salvar da nossa assim chamada civilização avançada. Todas as glórias a Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 33
Massagem matinal, 1975
Por volta de 11 da manhã Srila Prabhupada começa sua massagem matinal, que durava cerca de uma hora e meia. Não existem regras fixas em relação à duração da massagem de Srila Prabhupada. Às vezes durante a massagem Srila Prabhupada ficava bastante ocupado. Seu secretário lia a correspondência e anotava as respostas. Também acontecia de seu editor de sânscrito entrar com dúvidas a respeito do trabalho de Srila Prabhupada daquela manhã.
Um dia, durante a massagem, o editor de sânscrito entrou e saiu do quarto de Srila Prabhupada várias vezes. A primeira vez que ele entrou prestou-lhe reverências cuidadosamente. Nas próximas vezes que entrou ele se ajoelhou rapidamente, tocando brevemente a cabeça ao chão, e, rapidamente, sentou-se e fez suas perguntas. De novo saiu do quarto. Quando voltou, fez a mesma coisa. Srila Prabhupada o corrigiu, dizendo: "O que é essa machadada? Preste suas reverências. Essa machadada não é nada bom."
Srila Prabhupada sempre cuidava de seus discípulos. Ele nos impedia de cometer ofensas devido ao nosso descuido. Esse incidente aconteceu vinte e dois anos atrás, e nunca entendi direito o que Srila Prabhupada quis dizer com a palavra "machadada". Só sei que parte do significado era referente ao movimento rápido que associamos a essa ferramenta.
Enquanto escrevo, porém, vejo um outro sentido da palavra. Nosso serviço devocional é uma trepadeira muito frágil. Quando rendemos serviço pessoal ao mestre espiritual, nós podemos facilmente danificar nossa trepadeira devocional com nossos egos, que nesse sentido são como machados. Consciência de Krishna significa ser consciente de nossas atividades a todo instante, e nunca querer minimizar ao oferecer respeito ao nosso Guru Maharaja.
Todas as glórias a Srila Prabhupada, o jardineiro mais hábil que tão amavelmente cuida da nossa trepadeira devocional. Jai Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 34
ISKCON, Nova Dwarka- Los Angeles
Durante os dois anos que pessoalmente servi Sua Divina Graça, ele falou muitas vezes sobre aposentar-se dos deveres administrativos para se concentrar na tradução das escrituras para a humanidade como um todo. Minha primeira experiência foi assim:
Eram umas nove da manhã e Srila Prabhupada me chamou ao seu quarto e disse para eu chamar Karandhara. Isso acontecia freqüentemente quando estávamos em Nova Dwarka. Srila Prabhupada parecia ter grande fé nas habilidades de Karandhara. Lembro-me de Srila Prabhupada elogiar Karandhara ao mostrar os degraus de concreto que Karandhara tinha feito, "Karandhara pode fazer qualquer coisa." Se estivéssemos em L.A., e surgisse qualquer tipo de problema, Srila Prabhupada chamava Karandhara, tendo certeza que ele poderia trazer a solução.
Quando Karandhara entrou, Srila Prabhupada o deixou chocado, dizendo: "Não quero mais me envolver tanto na administração. Quero traduzir livros." Karandhara respondeu com entusiasmo: "Sim, posso fazer todo seu trabalho de secretaria daqui e você pode ficar aqui e traduzir. Nós cuidaremos de tudo muito bem." Srila Prabhupada respondeu: "Sim! Faremos isso imediatamente, não quero saber de nenhum negócio. Nada de negócios. Você cuida de todos meus afazeres para mim."
Karandhara deixou o quarto, pronto para gerenciar a ISKCON de seu escritório na Av. Watseka. Pensei: "Isso é incrível. Prabhupada vai deixar o GBC cuidar da sociedade. Nova Dwarka era perfeita. Tinha todos os recursos para Srila Prabhupada. Ele poderia ficar aqui durante anos traduzindo o dia inteiro se ele quisesse. Srila Prabhupada já tinha falado que seu jardim aqui era seu lugar favorito."
Eram agora dez da manhã quando Srila Prabhupada tocou seu sino. Prestei-lhe minhas reverências ao entrar no quarto, mas antes mesmo que levantasse a cabeça do chão ele falou: "Chame Karandhara." Quando Karandhara entrou em seu quarto e prestou-lhe  reverências, Srila Prabhupada viu a ponta de uma carta no bolso da kurta de Karandhara. Srila Prabhupada arregalou os olhos e perguntou: "O que é isso?"  "Oh! É uma carta para o senhor, Srila Prabhupada.", respondeu Karandhara. "Abra-a", disse Srila Prabhupada.
Karandhara abriu a carta e a leu para Srila Prabhupada. Era uma típica carta de um discípulo mais antigo, administrando algum templo em algum lugar do mundo. Srila Prabhupada escutou atentamente e em seguida ditou a resposta.
A aposentadoria de Srila Prabhupada tinha durado pouco mais de uma hora. Essa foi a primeira aposentadoria que eu presenciei, mas não a última. Srila Prabhupada tinha enorme prazer em traduzir o Srimad Bhagavatam para nós. Ele também tinha enorme prazer em ensinar suas crianças, mostrando-as como seguir o caminho espiritual. Sua paciência era sem fim. Diariamente ele nos levantava quando tropeçávamos, nos estimulando a tentar andar de novo. Não importava o quanto ele sonhava em se aposentar, ele não nos deixava até que pudéssemos andar a sós. Chegou a hora de andarmos sós.
Jai Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 35
Setembro de 1974, Vrindavan, Índia
ISKCON- Krishna Balarama Mandir
Há várias semanas que Srila Prabhupada está doente. Tem sido um período muito difícil. Ele praticamente não está comendo e precisa de ajuda para andar. Depois de muito tempo, agora está melhorando, para o alívio de todos seus discípulos.
Alguns membros do GBC têm se reunido. O enfoque de suas discussões é aliviar Srila Prabhupada de todas suas responsabilidades administrativas. Eles acreditam que se pudessem gerenciar eficientemente, então Srila Prabhupada ficaria mais aliviado. Eles imaginam que sua saúde melhorará se ele não tiver mais que se preocupar com a administração diária da ISKCON.
Eles solicitaram uma reunião na presença de Srila Prabhupada. Começaram dizendo: "Srila Prabhupada, nós decidimos que podemos cuidar de toda administração, e você pode ficar livre para fazer seu trabalho de tradução. Você não precisará se preocupar com a administração da sociedade. Nós temos a competência para fazer isso." Srila Prabhupada ficou com muita raiva e  disse: "Quando eu quiser que vocês administrem, quando eu quiser parar de administrar, eu lhes digo. Não diga a seu mestre espiritual quando ele deve abandonar a administração. Quem vocês pensam que são, dizendo ao mestre espiritual que ele não precisa mais administrar? Sou perfeitamente capaz de saber quando não quero mais administrar. Quando eu decidir que não quero mais, então paro de administrar. Isso é minha decisão. Não a de vocês." Encerrou-se a reunião!

Srila Prabhupada Uvaca 36
Outubro de 1972, Vrindaban, Índia
Radha Damodara Temple
Essa tarde Srila Prabhupada está falando em sua ante-sala. Ele tem feito isso regularmente desde que chegou. Alguns dos moradores locais trazem oferendas de frutas e flores e as colocam a seus pés de lótus. De repente, no meio da palestra, um macaco entrou no quarto como um foguete em direção as bananas. No que ele corria para fora, Visaka rapidamente joga seu chaddar em cima do macaco e tenta recuperar as bananas. Ela conseguiu pegar a maioria das bananas, mas dentro de poucos segundos o macaco já tinha desaparecido com uma bela banana em sua mão.
Srila Prabhupada falou: "Vejam só como o macaco é inteligente. Isso mostra que, relativamente, todas entidades vivas são inteligentes. Quanto tempo você acha que teria levado para você fazer isso, entrar e sair correndo e conseguir as bananas? Esse macaco é muito inteligente no que refere à sua alimentação. Ele consegue fazer isso em poucos segundos. Praticamente ninguém o viu. Ele simplesmente pegou as bananas e saiu. É assim no mundo material. Todos são muito peritos em suas esferas de atividade. Então, nós temos quer ser devotos espertos, não espertos como os macacos."
O incidente durou apenas uns segundos. Mesmo estando Srila Prabhupada no meio de uma palestra ele estava sempre atento a tudo que acontecia à sua volta. Srila Prabhupada estava sempre ciente das atividades a seu redor. Srila Prabhupada era perito em fazer mais de uma coisa de cada vez.

Srila Prabhupada Uvaca 37
Sete de outubro de 1972, ISKCON, San Francisco
Berkeley
Já sou servo de Srila Prabhupada há um mês. Estou começando a me sentir à vontade e sentir que sei o que estou fazendo. Porém pouco sabia que isso me qualificava para o seguinte retrocesso, assim que acreditava já estar sabendo das coisas, oh oh!
Essa noite Srila Prabhupada pediu para eu preparar puris, batata frita (potato chips*) e leite quente. Nós não estamos ficando no templo. Nós estamos na casa de um jovem casal. Eles são amigos dos devotos. Os devotos locais passaram horas arrumando a casa para prepará-la antes da chegada de Srila Prabhupada.
A cozinha não é muito boa. Felizmente, tinha ghi no fogão, portanto dava para preparar uma refeição. Srila Prabhupada tinha pedido batata frita (potato chips) e eu estava ansioso para fazê-las, mas não tinha experiência. Fazer os puris era bem fácil, mas demorado. Estava ficando tarde e eu não queria que Srila Prabhupada esperasse.Descasquei uma batata e a fatiei o mais fino possível com o descascador de batata, e coloquei-a para fritar no ghi bem quente. Elas ficaram com uma aparência razoavelmente similar a batatinhas fritas (potato chips), mas nada igual ao que eu já tinha visto.
Sentia-me muito abençoado de poder servir diretamente o representante de Krsna. Srila Prabhupada era minha deidade viva, com a misericórdia especial de poder lidar com ele diretamente. Com carinho corri para Sua Divina Graça com o prato com as batatas fritas, um puri quente e um copo de leite quente. Srila Prabhupada apontou para a batata frita e firmemente perguntou:  "O que é isso?" Confuso, respondi: "Batata frita (potato chips), Srila Prabhupada." "Isso não é batata frita!", ele exclamou, já irado. "Não era isso que eu queria."
Vendo meu sofrimento, ele disse: "Tudo bem, pode deixar." Senti-me péssimo. Essa foi a primeira vez que tinha cometido um erro sério no meu serviço a meu Guru Maharaja. Eu queria morrer. A oferenda tinha sido inaceitável. Voltei para cozinha e preparei o próximo puri. De volta ao quarto de Srila Prabhupada coloquei o puri em seu prato e prestei-lhe reverências. Quando sentei, ele olhou para mim com um grande sorriso. Com ênfase disse: "Isso aqui está muito bom. Tudo bem. Está bem bom." Respirei aliviado e respondi: "Oh, que bom! Muito obrigado, Srila Prabhupada."
Eu estava nas nuvens. Não sabia se ele realmente tinha gostado das batatas ou se estava falando isso só para me fazer sentir melhor. De qualquer forma, era maravilhoso. Senti-me ótimo ao ter alguém se preocupando tanto comigo. Ffiz outro puri, levei para ele e o esperei terminar. Pegando seus pratos, fiquei extático de ver que ele tinha comido todas as minhas assim chamadas batatas fritas. Srila Prabhupada com misericórdia  aceitou meus esforços desastrados.
Meses depois, na Índia, finalmente entendi que "potato chips" são o equivalente britânico das "french fries" americanas. Tendo pouca experiência eu desconhecia isso. Agora compreendo que Srila Prabhupada queria aquilo que conheço como sendo "french fries".
Mais tarde, fiz as batatas fritas de Srila Prabhupada de acordo com suas instruções, "finas e croscantes**". Repare a ortografia. Não está errado. Srila Prabhupada freqüentemente usava essas palavras divertidas. Eu preferia seu uso da palavra, "croscante" invés de "crocante". Parece que fica mais gostoso.
*Nota do tradutor 1: esse passatempo envolve  uma distinção que é feita no inglês americano entre batata frita palito (french fries) e em fatias (potato chips). Essa distinção não existe no inglês britânico.
**Nota do tradutor 2: aqui Srila Prabhupada falava "cripsy", invés de "crispy". 

Srila Prabhupada Uvaca 38
Seis de outubro de 1972, ISKCON, Berkeley
Srila Prabhupada chegou hoje e ficou na casa de um de seus bem querentes. Seus discípulos lhe mostraram a casa. Srila Prabhupada sentou e perguntou: "Tem alguma prasadam?" Não tinha nada disponível. Ele disse: "Então me traga um pouco de fruta ealgo para lavar meus pés. Traga uma toalha e um pouco de água. Isso é o procedimento normal. Você deve lavar os pés da pessoa que está chegando." Srila Prabhupada não precisa de nada da nossa parte, mas por sua misericórdia, ele nos ensina a receber convidados, o que dizer do mestre espiritual.
Os devotos correram para preparar tudo. Quando os seus discípulos começaram a lavar seus pés, Srila Prabhupada falou: "Lave até meus joelhos. Esse tipo de banho dos pés refresca todo corpo depois de uma viagem."
Novamente em Vrindavan, num dia muito quente, Srila Prabhupada mencionou, outra vez, esse fato depois de voltar de um compromisso. Voltando a seus aposentos, ele foi diretamente ao banheiro e lavou seus pés e pernas com água fria. Ele falou: "Fazendo isso, rejuvenescemos todo o corpo”.
Ele nos ensinou o padrão antigo de etiqueta Védica, incluindo suas aplicações práticas. Ele nos revigora com seu conhecimento. Jai Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 39
Quinze de setembro até Vinte e oito de outubro de 1972
ISKCON, Juhu, Bombaim
Srila Prabhupada tinha o maior prazer em falar sobre Krishna a Seus associados, vinte e quatro horas por dia. Ele adorava toda oportunidade que tinha de falar sobre a filosofia de Consciência de Krishna. Em grande contraste, ele usava pouquíssimas palavras quando se tratava de suas necessidades corpóreas. A dicotomia era extática.
Diariamente Srila Prabhupada tirava um rápido cochilo depois de seu almoço prasadam. Depois de acordar, Sua Divina Graça passava pelo local onde eu ficava, a caminho do banheiro. Muitas vezes eu descansava também. Tão logo ouvia o doce som de seus passos, levantava-me e lhe prestava reverências. Srila Prabhupada passava por mim, dizendo: "Dab", em voz grave. Antes que ele voltasse a seu quarto, era meu dever ir para cozinha, abrir um coco verde, botar um canudo dourado no buraco e colocar essa água doce em sua mesa. Isso era um ritual diário. Toda vez que eu ouvia a palavra "dab" a mesma oportunidade extática se apresentava.
Especialmente em Vrindavan, Srila Prabhupada freqüentemente se gabava aos convidados como seu servo conseguia preparar o almoço rápido. Ele dizia: "Srutakirti, consegue preparar meu almoço todo, arroz, dahl, chapatis, e três ou quatro subjis, em apenas 45 minutos." Então ele olhava para mim e dizia: "Não é?" Balançando a cabeça eu disse: "Sim, Srila Prabhupada, e lhe dou uma massagem enquanto está tudo cozinhando. Agora arregalando seus olhos, ele disse”: "Veja só, 45 minutos e todo esse negócio de necessidades corpóreas...acabadas. Isso é Consciência de Krishna. Nós minimizamos as necessidades corpóreas ao máximo possível para assim ter mais tempo para serviço devocional."
Outro exemplo, que demonstrava a eficiência, com um mínimo de esforço de Srila Prabhupada, acontecia na privacidade de seus aposentos. Srila Prabhupada me instruía sem sequer usar uma palavra. Quando estávamos sentados em sua ante-sala ele olhava para o ventilador de teto. Se estivessem ligados, significava que eu deveria desligá-los. Caso contrário, se desligados, deveria ligá-los. Outras vezes, ele olhava para as cortinas. Se as cortinas estivessem abertas, era para fechá-las. Se estivessem fechadas, eu as abria. Srila Prabhupada disse: "O servo de primeira classe, faz seu serviço sem ser solicitado. Ao servo de segunda classe, você pede e ele faz e ao servo de terceira classe, você pede e ele faz de má vontade, ou nem mesmo faz."
Eu rezo para ouvir seus passos, ver seus olhares, ouvir suas palavras e ter a oportunidade de servi-lo vida após vida. Srila Prabhupada é o Acarya.
Jai Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 40
Junho de 1972, Los Angeles, Califórnia
Nova Dwarka
Hoje, depois da caminhada matinal um grupo, de cinco ou seis devotos, ficou nos pés da escada, vendo Srila Prabhupada subi-la com sua bengala até seu quarto. Enquanto ele andava, todos estavam alegremente cantando, "Jai Srila Prabhupada".
Ele virou e nos olhou com um sorriso encantador. "Eu estava pensando: quando jovem, corria escada acima. Agora o mesmo desejo ainda existe. Ainda quero correr escada acima, mas devido a esse corpo agora não posso. Ainda quero fazer essas coisas, como se eu fosse jovem. Quero ficar ativo, mas o corpo limita muito." Ele continuou a subir a escada e nos prestamos nossas profundas reverências.
Uma luz se acendeu em minha mente, e compreendi, momentaneamente, como Srila Prabhupada aceitou voluntariamente tantas inconveniências para nos salvar dessa concepção de vida corporal grosseira.
Testemunhei a majestade da lila de Prabhupada enquanto o servia pessoalmente, mas também presenciei muitos períodos dolorosos.
Meu coração partia ao testemunhar o sofrimento de Sua Divina Graça, por aceitar voluntariamente as reações pecaminosas de almas caídas como eu. O fato de Srila Prabhupada experimentar esses desconfortos não diminuía sua grandeza, mas sim ampliava. Essa é a misericórdia sem fim de um devoto puro. Quem pode ser tão magnânimo? Ele é o nosso eterno bem querente, aceitando a insuportável responsabilidade de nos salvar de nossa condição caída.
Durante os próximos dias vou tentar descrever alguns passatempos de Srila Prabhupada que são simultaneamente doces e às vezes tristes também, na esperança que eu possa meditar em sua grandeza.Imploro o perdão de todos que ofendo ao compartilhar minhas percepções. Se eu esperar até me tornar perfeito para então tentar glorificar meu amado guru, receio que todas essas memórias possam se perder. Reconheço que Sua Divina Graça era um nitya-siddha, e, portanto não era susceptível a qualquer doença material, mas ainda assim ele nos abençoou com sua misericordiosa associação andando conosco nesse lugar de misérias. Essa é sua misericórdia sem causa.
Jai Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 41
Dois a quatro de abril de 1973
Saint Moritz- Zurique, Suíça
Quando estávamos em Bombaim, um discípulo antigo mostrou a Srila Prabhupada um atraente cartão postal de Saint Moritz, repleto de flores silvestres e montanhas a perder de vista. Era lindo. Em consideração, o devoto de Srila Prabhupada lhe disse que seria bom descansar um pouco na longa viagem entre Bombaim e Nova Iorque. Srila Prabhupada poderia descansar um pouco em Saint Moritz. Quem já viajou entre, a Índia e os EUA, sabe que a viagem é extremamente cansativa. Srila Prabhupada estava viajando muito, nunca passando mais do que seis a sete dias em cada local. Portanto, a idéia de parar em Saint Moritz parecia ser realmente ótima.
Porém o outro motivo para desembarcar em Saint Moritz era especulação com ouro. Alguns homens mais antigos estavam pensando em fortalecer as reservas da ISKCON investindo em ouro antes da desregulamentação de preços. Zurique era o local para investimentos em ouro. Porém Srila Prabhupada cortou a idéia pela raiz.
Saint Moritz é uma estação de esqui e nessa época do ano a neve cobre tudo até perder de vista. O hotel onde ficamos tinha uma recepção central com um elevador. Ao sair do elevador e entrar no quarto do hotel, havia um espaçoso apartamento de três quartos com cozinha. A grande sala de estar tinha portas de vidro deslizantes que davam na varanda, com uma maravilhosa vista das montanhas cobertas de neve. Para muitos era uma vista de tirar o fôlego, mas não para Srila Prabhupada.
Srila Prabhupada era muito meticuloso. Não importa onde nós estivéssemos, sua vida continuava como se nada tivesse mudado. Sua programação diária permanecia a mesma. Essa manhã não foi diferente. Srila Prabhupada vestiu seu casaco açafroado e se preparou para sair na sua caminhada matinal, dizendo: "Nós vamos sair para andar? Vamos ver o quanto está frio?"
Como estávamos no andar térreo, Sua Divina Graça abriu as janelas deslizantes para sair, passando pela varanda. De repente uma rajada de vento gélido entrou em todo apartamento. Parecia uma tempestade. Srila Prabhupada arregalou seus olhos e disse: "Ooohhhh, isso é frio demais!"
Sempre que eu via essas suas reações brincalhonas, meu coração derretia de alegria. Srila Prabhupada exibia a inocência de uma criança. Enquanto que a maioria dos devotos via sua determinada e poderosa pregação, eu me sentia afortunado de ver a cara de Srila Prabhupada iluminada com expressões íntimas e cativantes. Sua Divina Graça sentiu o frio. Ele não gostou, então ele disse: "Vamos andar no corredor, dentro do prédio."
Não era uma mera rajada de vento gélido que iria impedir Srila Prabhupada de realizar sua caminhada matinal. Então Sua Divina Graça, Pradyumna e eu fomos para o corredor. Bom, isso criou uma série de problemas diferentes. Levando em consideração que estávamos em 1973, o hotel era muito high tech. Tinha sido criado para operar com um mínimo de desperdício de energia. O sistema era que as luzes do corredor ficavam acesas somente durante um tempo fixo, provavelmente suficiente para a pessoa ir do quarto até o elevador. Então, enquanto andávamos, subindo e descendo o corredor, tínhamos que ficar apertando os vários botões que tinham ao longo do corredor para que as luzes não se apagassem. Caso contrário estaríamos andando no escuro.
Pradyumna decidiu voltar ao apartamento. Srila Prabhupada e eu andávamos pelo corredor, para cima e para baixo. Eu corria de um botão para o outro, apertando e cantando, apertando e cantando. Isso continuou durante uma meia hora, quando Srila Prabhupada falou: "Esse tempo frio abriu meu apetite. Você pode ir me fazer um pouco de halavah."Respondi: "Tudo bem Srila Prabhupada, o senhor quer que eu espere o senhor acabar de andar ou quer que eu vá agora?" As luzes ficavam acesas uns trinta segundos, portanto eu estava preocupado com o apertar dos botões. Srila Prabhupada respondeu rindo: "Não, eu vou andar. Você vai fazer a halavah."
Nós sempre adorávamos quando Srila Prabhupada tinha apetite. Era um grande prazer cozinhar para ele. Quando entrei, falei para os outros: "Srila Prabhupada ainda está andando no corredor. Alguém deveria ir apertar os botões, para manter as luzes acesas para ele." Nós demos uma espiada pela porta e vimos Srila Prabhupada cantando, andando e apertando os botões para manter as luzes acesas. Foi muito engraçado. Jai Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 42
Quatro de abril de 1972, Zurique, Suíça
Depois de sair de Saint Moritz nós passamos um dia num hotel exclusivo com vista para o Reine em Zurique. Srila Prabhupada tinha um quarto e sua comitiva ficou no quarto ao lado. Os quartos não eram interligados. Quando chegou a hora de fazer sua massagem eu tinha que ir até o quarto dele, e lá colocar minha gumpsa, para não andar de gumpsa no corredor. Quando terminei a massagem, esqueci meu saco de contas em seu quarto.
As contas de japa não eram as mesmas na qual Srila Prabhupada tinha cantado durante minha iniciação dois anos antes, infelizmente as tinha perdido em Nova Vrindaban. Eu tinha pensado em pedir a Srila Prabhupada para cantar em minhas novas contas, mas não queria admitir o meu descuido. Meu saco de contas era prasadam, dado por Sua Divina Graça. Para meu enorme prazer quando voltei ao quarto de Srila Prabhupada  vi sua mão em meu saco de contas. Durante a próxima meia-hora sentei-me e, alegremente o assisti contar nas minhas contas. Mais uma vez, Srila Prabhupada satisfez meus desejos sem que eu os solicitasse. Esperei até ele terminar e então levei minhas contas, recém santificadas, de volta para meu quarto. Jubiloso, contei orgulhosamente aos outros como eu tinha acabado de ser beneficiado por um milagre.
Do aeroporto de Zurique nós fomos para San Moritz num trem de luxo. Srila Prabhupada, eu e um outro jovem brahmacari chamado Jai Hari subimos a bordo. Os outros devotos tinham reuniões de negócios para discutir investimentos. A viagem de trem pelos Alpes era magnífica. Seguindo a base de montanhas cobertas de neve, o trem estava constantemente fazendo curvas. A impressionante vista tinha cativado toda minha atenção e de Jai Hari. Srila Prabhupada ficou sentado, cantando em voz baixa, enquanto que nós ficamos mostrando detalhes da vista um para o outro, tendo completamente esquecido nosso Mestre Espiritual sentado ao nosso lado.
Srila Prabhupada quebrou nossa meditação, perguntando: "Como eles chamam esse lugar". Feliz por ter a oportunidade de responder uma pergunta tão simples, eu rapidamente disse: "San Moritz, Srila Prabhupada, Saint Moritz!" Ele imediatamente respondeu: "Eles podem chamar de Saint Moritz, eu chamo de Saint Infernal. Esse lugar é infernal. Vejam, não existe vida em lugar nenhum, só galhos de árvores e neve. Não tem nada vivo por perto."
Srila Prabhupada tinha efetivamente usado nossa ilusão como uma oportunidade para instruir dois de seus discípulos novatos. Jai Hari e eu passamos cabisbaixo, o restante da viagem, cantando em voz baixa e escutando a vibração transcendental do Maha Mantra, da maneira que Srila Prabhupada queria. Estar com Srila Prabhupada era uma posição muito afortunada. Se você seguisse seu exemplo você sabia que estava bem situado.
Se você tinha perguntas para fazer, a resposta que recebia era a verdade absoluta. Ele freqüentemente tranqüilizava milhares de devotos, respondendo suas perguntas, removendo seus medos e ocupando-os em serviço de Krsna. Srila Prabhupada, por favor, me liberte do apego às montanhas de maya, para que eu possa ouvir suas bondosas e gentis instruções.
Jai Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 43
Essa manhã enquanto cortava a grama, pude, pela graça de Sri Guru e Gauranga, me lembrar de meu amado Srila Prabhupada. Sempre me sinto muito afortunado de poder meditar em meu Guru Maharaja, especialmente quando estou no meio de atividades tão mundanas.
Vinte e seis de fevereiro de 1975, ISKCON Miami
Nessa manhã Srila Prabhupada fez sua caminhada nos jardins do templo de Coconut Grove. Enquanto andava nos jardins, ele virou-se para o presidente do templo e perguntou: "Por que o jardim dos outros está limpo? Aqui só tem folhas no chão."
O devoto respondeu: "Bem, debaixo das folhas só tem terra. As folhas impedem a terra de se levantar." Srila Prabhupada completou: "Tem gramados por todos os lados. Porque, aqui você tem terra?"
Junho de 1975, Honolulu, Hawai
ISKCON Nova Navadvipa
Os jardins de Nova Navadwip eram sempre muito bonitos, mas desta vez, quando Srila Prabhupada chegou, não estavam com boa manutenção. Em sua volta pelos jardins Srila Prabhupada perguntou: "Por que o jardim não está sendo cuidado?" Sukadeva, o presidente do templo, respondeu: "Srila Prabhupada, não tem ninguém para cuidar dele." Naquele momento tinha uns vinte devotos andando atrás de Srila Prabhupada, "Como assim? Ninguém para fazer?"
Para fazer progresso no caminho do serviço devocional deve-se criar condições que dão prazer ao Mestre Espiritual, aí então é certo que receberemos a graça de Krsna. Nós somos dasa dasa anu dasa.
Jai Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 44
Dezoito de março de 1973
ISKCON Mayapur Candrodaya Mandir
Está sendo realizado aqui o primeiro festival internacional de devotos da ISKCON. O estilo Bengala de kirtana está tendo uma enorme influência em muitos devotos. Srila Prabhupada expressou um pouco de desprazer em relação ao canto de tantos mantras diferentes. Ele disse: "Eles podem cantar seus ‘Nitai Gaura, Hari Bols’, mas eu vou cantar Hare Krsna e voltar ao lar, voltar ao Supremo."
Alguns kirtans realmente exageraram nos ‘Hari bols’. Se nós soubéssemos a tradução talvez saberíamos o que fazer. Srila Prabhupada gostava de cantar o Maha mantra.
Vinte e seis de abril de 1973, ISKCON, Nova Dwarka
Brahmananda Maharaja e eu introduzimos o estilo Bengali de dançar durante os kirtans. Nós aprendemos durante o festival de Mayapura. Muitos devotos adoraram. Srila Prabhupada também sorria quando via os devotos dançando perante ele. Pradyumna lhe perguntou se era bom dançar desta maneira, pois para alguns devotos era estranha.  Srila Prabhupada respondeu: "Sim, claro que é!"
Srila Prabhupada adorava ver seus discípulos cantando "Hare Krishna" e dançando em êxtase.
Jai Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 45
Aeroporto de Bancoque
Srila Prabhupada distribuía sua misericórdia sem distinção. Essa é a bondade do devoto puro. Num vôo da Índia para o ocidente, nós tivemos uma parada de duas horas no aeroporto de Bangkok. Nós tínhamos que esperar na área de trânsito.
Srila Prabhupada falou para mim: "Pegue minhas coisas. Vou tomar um banho."Fui para o local onde estavam as bagagens, abri a mala de Srila Prabhupada, peguei sua lota, toalha e roupas limpas. Isso levou alguns minutos. Voltei para Sua Divina Graça. Ele me perguntou: "Onde fica o banheiro?" Nós andamos juntos ao banheiro. Infelizmente não tinha local apropriado para tomar banho.
Srila Prabhupada nunca desistia. Quando ele queria fazer algo, não existia obstáculo que o impedisse. Analisando a situação, ele virou para mim e disse: "Tudo bem, vou tomar banho de pia." Ele colocou sua gumpsa e, com a lota em sua mão, começou a  jogar água repetidamente  em seu corpo. Ele se ensaboou e voltou a jogar água. Fiquei ao lado, pasmo, olhando enquanto ele se refrescava. Ele era completamente transcendental a todas atividades à sua volta.
Observando de um canto do banheiro estava o funcionário responsável pela limpeza. Ele parecia incomodado, vendo o trabalho adicional que aquilo lhe daria. Ele não tinha a menor idéia de como estava sendo abençoado por um Parahamsa. Ele estava tendo a oportunidade de fazer o trabalho de um pujari pela misericórdia sem causa de Srila Prabhupada.
Quando Srila Prabhupada terminou lhe dei a toalha. Ele secou-se e vestiu seu dhoti e kurta limpos. Tendo acabado, nós saímos juntos do banheiro. O funcionário veio em minha direção. Era óbvio que ele estava reclamando, mas eu não tinha a menor idéia do que ele estava dizendo. Enquanto isso Srila Prabhupada estava rindo. Ao sair, falei: "Srila Prabhupada, acho que ele ficou um pouco chateado." Srila Prabhupada respondeu: "Fazer o que?! Eu tinha que tomar banho. Estava me sentindo muito cansado."
Viajar com Srila Prabhupada era sempre uma aventura incrível. Ele nunca se sentiu obrigado a se conformar às convenções sociais. Nos aviões ele usava o banheiro quando, a luz de colocar o cinto de segurança, estava acesa. Ele comia sua prasadam quando não podíamos abaixar nossas mesas de apoio. Se alguém lhe dissesse algo, ele as ignorava. Eles então viravam para mim e eu levantava os ombros e dizia: "Não posso impedi-lo." Invariavelmente eles iam embora derrotados, sabendo que nada podem contra uma pessoa de Vaikuntha.

Srila Prabhupada Uvaca 46
19 de fevereiro de 1975, Venezuela Airlines
Srila Prabhupada influenciava todos à sua volta. Viajar com ele era uma experiência esclarecedora. Era extático ver como Srila Prabhupada era capaz de levar os espíritos de todos nos templos que visitava para o mundo transcendental. Porém, estar com ele em aviões e aeroportos proporcionava uma oportunidade diferente, de ver como ele mudava a vida daqueles que não conheciam nada a seu respeito. Devia ser sua efulgência. Ela podia ser vista, até mesmo por um quadrúpede, como eu. Uma vez uma aeromoça que estava passando ao lado falou: "Esse homem me parece muito maravilhoso." Outros perguntavam o que poderiam fazer por ele.
O que ocorreu no vôo da Venezuela Airlines não foi o único, porém foi bem especial. Srila Prabhupada, Parahamsa Swami, Nitai das, e eu estávamos viajando da Cidade do México a Caracas.Não havia preparado prasadam para o vôo, mas logo antes da decolagem uma senhora Vaisnava me deu um saquinho com arroz (puffed rice) que ela tina preparado para a viagem.
Logo depois de decolarmos,  Srila Prabhupada falou: "Bom, vamos aceitar prasadam." Perguntei: "O senhor quer o que eles estão servindo no avião?" Ele imediatamente respondeu: "Não, não! Nós temos nossa prasadam. Isso é bom."Falei, "Ok." Nem sequer pedi um prato,  abaixei a mesinha, abri o pacote de alumínio, e coloquei o arroz inflado diante de meu mestre espiritual. Ele começou a comê-los imediatamente. Ele comeu metade, apesar de não ser uma porção grande. Sem nem olhar para mim disse: "Esta bem, agora você pode pegar." Esse era o néctar pelo qual nós estávamos ansiosos. Srila Prabhupada sempre cuidava de sua comitiva. Essa era uma de muitas de suas qualidades que eu apreciava enormemente.
Srila Prabhupada estava no assento ao lado da janela. Ele sempre sentava próximo à janela. Eu estava no meio, sempre me sentava ao lado de Srila Prabhupada, exceto quando eu sucumbia ao desejo de algum membro do GBC. Parahamsa estava no assento próximo ao corredor. Peguei o arroz inflado de Sua Divina Graça dividi o alumínio ao meio, metade para mim, metade para Parahamsa Swami.
Estávamos alegremente comendo os restos de Srila Prabhupada quando uma jovem aeromoça que passava ao lado olhou para nós e, de repente, estendeu seu braço por cima de Parahamsa e meteu sua mão na minha maha. Ela pegou um punhado cheio e jogou-o em sua boca. "Oh, isso é muito bom. O que é isso?" Tentando manter minha compostura, respondi: "É arroz inflado. É feito de arroz." Srila Prabhupada estava olhando para ela com um largo sorriso. Novamente ela disse: "Ah, é muito bom." "Fico feliz que você tenha gostado," respondi, ainda um pouco chocado com o que ela tinha feito. "Vocês vão comer alguma outra coisa?", ela perguntou.
"Bem", eu disse, "nós somos vegetarianos. A não ser que tenha alguma fruta, nós não podemos comer nada." Ela respondeu com entusiasmo: "Eu vou para a  primeira classe pegar uma cesta de frutas para vocês." Num instante ela voltou com frutas e facas. Novamente, ela perguntou: "Tem algo mais que eu possa conseguir para vocês?" Virando para Srila Prabhupada,  perguntei:"Prabhupada, o senhor gostaria de um pouco de leite?" Ele disse: "Sim, leite quente." Eu disse, "Ok. Ele vai querer um pouco de leite quente e nós também." Rapidamente, ela foi para primeira classe e voltou com o leite quente."
Muitas vezes eu ouvi Srila Prabhupada falar em suas palestras sobre a Superalma que reside nos corações de todas entidades vivas. No entanto, eu nunca tinha sentido Sua presença até esse dia. Estou convencido que só a Superalma dentro do coração da aeromoça poderia inspirá-la a agir de tal forma, contrariando todo seu treinamento profissional.
Às vezes devotos me ofereciam dinheiro para conseguir um pouco dos restos de Srila Prabhupada. (Nunca aceitei). Eles imploravam pela oportunidade de fazer qualquer serviço pessoal. E aqui estava essa aeromoça conseguindo, audaciosamente, o que quase ninguém conseguia, pela misericórdia de Krishna e Seu devoto puro.
Todas as glórias a você, Srila Prabhupada, por distribuir sua misericórdia a todas entidades vivas que entravam em contato com você.

Srila Prabhupada Uvaca 47
Voando na TWA (Transcendental World Airways)
Onde quer que esteja o devoto puro, lá é Vaikuntha, e ele distribui sua misericórdia sem causa para almas caídas quer queiram ou não. Srila Prabhupada sempre me fazia sorrir quando viajava porque ele nunca mudava seus hábitos. Na presença de pessoas materialistas essas atividades eram às vezes pouco convencionais.
Srila Prabhupada gostava de olhar para fora, durante a decolagem e pouso, de seu assento ao lado da janela. Ele parecia especialmente contente em olhar para fora durante o pouso. Quando tínhamos um vôo longo, o secretário de Srila Prabhupada e eu levantávamos de nossos assentos para permitir que Srila Prabhupada deitasse e descansasse. Nessa ocasião em particular, o corpo transcendental de Srila Prabhupada estava deitado ao longo dos assentos. Sua cabeça repousava tranqüilamente no travesseiro, próximo à janela. Ele parecia inteiramente relaxado, coisa que até hoje eu não sei fazer em um avião.
Seus pés passavam por baixo do encosto de braço e continuavam uns 20-30 cm além do assento, ocupando assim parte do espaço do corredor. Eles eram tão lindos, com ou sem as meias açafroadas os cobrindo. Nesse dia eles estavam confortavelmente cobertos. Enquanto ele descansava por cerca de uma hora, os passageiros andavam para cima e para baixo no corredor, esbarrando seus kamala padas. Às vezes quando batiam nele ele os movia ligeiramente, mas nunca os retirou de tudo. Ele os deixou lá durante todo o tempo que descansou, abençoando todos que foram afortunados o bastante de passar por eles.
A comitiva de Srila Prabhupada observou o espetáculo da fileira seguinte, tentando imaginar o que essas pessoas tinham feito para merecer uma oportunidade como essa. Talvez Srila Prabhupada os abençoou com sua misericórdia sem causa a força, quer eles queriam ou não.
Obrigado Srila Prabhupada por me ajudar a ver de relance sua divindade descontraída. Por favor, me abençoe à força repetidamente, como você tão bondosamente já fez tantas vezes no passado.

Srila Prabhupada Uvaca 48
Agosto de 1973, Bhaktivedanta Manor
Estou com Srila Prabhupada há um ano agora e tenho sido abençoado com a oportunidade de massageá-lo todos dias. Creio que estou ficando muito eficiente e imagino que hoje será mais uma massagem extática. Srila Prabhupada diz: "O Manor é maravilhoso e quando tem sol não há lugar melhor."
Srila Prabhupada está sentado na esteira de palha diretamente em cima do piso de madeira corrida, perfeitamente encerada, e a seu lado estão duas garrafas. A garrafa grande contém o óleo de mostarda e a pequena o óleo de sândalo. A luz do sol brilhante entra através das várias janelas e a tez dourada de Srila Prabhupada está efulgente e banhada de sol. Estou sentado atrás de Sua Divina Graça esfregando sua cabeça com óleo de sândalo, devido a seu efeito refrescante. Depois de massagear sua cabeça por cerca de quinze minutos, passei adiante e comecei a massagear as costas de Srila Prabhupada. O óleo de mostarda é usado em seu corpo, portanto peguei a garrafa e coloquei um pouco em minha mão.
Muitas vezes Srila Prabhupada tinha me dito: "Você pode massagear minhas costas o mais forte possível." Era para valer. Era incrível! Eu usava todo meu peso e força para massagear suas costas e mantinha esse esforço durante meia hora, ou mais, ele nunca disse:, "Não tão forte." Às vezes eu deliberadamente fazia com mais força do que o normal, pensando que tinha como chegar a seu limite. Eu não consegui. Srila Prabhupada ficava sentado, perfeitamente relaxado durante essa "luta passiva", como ele chamava. Ele não precisa se apoiar para receber minha força. Ele só ficava lá, sentado, como se nada estivesse acontecendo.
Ele sempre gostava de sua massagem, e hoje não foi uma exceção. Então  levantei para mudar de posição. Mas quando dei um passo para a direita, para massagear o peito de Srila Prabhupada, derrubei a garrafa com o óleo de mostarda. Durante todo esse ano, Sua Divina Graça tinha me avisado para não deixar a garrafa destampada. Infelizmente, às vezes eu a deixava, às vezes não. Hoje eu tive que pagar o preço. Imediatamente ele berrou: "Seu tolo, você vai ser inteligente quando chegar aos oitenta. Vá pegar um copo e traga-o aqui." Sai correndo, reaparecendo com um katori de aço inox. Srila Prabhupada falou: "Bem, bote sua mão no óleo e empurre-o para dentro do copo." Nos dois ficamos sentados lá, até que todo o óleo do chão estivesse no copo de metal. "Complete a massagem com esse óleo”. Srila Prabhupada nunca desperdiçava nada. Falarei mais sobre isso em outro passatempo.
Agora, parecia estar tudo quieto demais enquanto continuava a massagem em Srila Prabhupada. Achei que ele estava com raiva por causa da minha tolice, então comecei a pensar: "Que posso falar para minimizar minha ofensa?" Pensei e pensei, e finalmente conseguir criar coragem e deixei escapar: "Muito obrigado, Srila Prabhupada, achei que ia levar muito mais tempo para ficar inteligente." Srila Prabhupada começou a rir. "Sim", disse ele, "isso é uma velha expressão usada na Índia quando alguém fazia alguma tolice. ‘Você vai ser inteligente quando chegar aos oitenta.’"
Srila Prabhupada é um devoto puro e Krishna tem a obrigação de manter a palavra de Seu devoto. Eu não tinha a menor chance de me tornar Consciente de Krishna, mas se eu conseguir viver até aos oitenta, finalmente me tornarei inteligente. Inteligência mesmo é se tornar Consciente de Krishna, portanto rezo para poder viver até aos oitenta anos de idade, e assim satisfazer as expectativas de meu querido Srila Prabhupada.

Srila Prabhupada Uvaca 49
Agosto de 1973, Londres, Inglaterra
Bhaktivedanta Manor
Hoje à tarde, durante a massagem de Srila Prabhupada, Rebatinandana Swami entrou no quarto com um problema que ele imaginou só poderia ser resolvido por seu mestre espiritual. Ele disse: "Srila Prabhupada, Shyamasundara é o GBC e ele está tomando todo tipo de decisão. Eu quero aceitar sua autoridade, mas sinto-me na obrigação de lhe dizer que ele não está cantando suas voltas. Tenho certeza absoluta disso. Ele não canta nenhuma volta. Além do mais, muitos devotos do templo tem dificuldade em aceitar sua autoridade. Quero saber como devemos proceder."
Srila Prabhupada ficou em silêncio alguns instantes e então respondeu: "Shyamasundara está muito ocupado. Quando Arjuna estava lutando a batalha de Kuruksetra, ele não cantava suas dezesseis voltas. Quando você está lutando uma batalha, onde está o tempo para cantar suas voltas? Talvez Shyamasundara esteja ocupado demais. De qualquer forma, você deve entender desta maneira. Enquanto ele estiver no comando, você deve seguí-lo e estimulá-lo a cantar..
Em Calcutá, durante outra massagem à tarde, um devoto entrou no quarto e perguntou o que deveria ser feito, porque Gargamuni Maharaja, o administrador do templo não estava cantando suas voltas. Srila Prabhupada respondeu: "Ele não deveria estar no cargo. Ele pode ser materialmente qualificado em muitas maneiras, mas isso não é o suficiente. Na administração a pessoa tem que ter o aspecto transcendental. A pessoa tem que seguir os princípios reguladores e cantar, caso contrário é simplesmente inútil ter alguém com conhecimento administrativo."
Srila Prabhupada não o removeu do cargo naquela época. Ele é o acarya e é capaz de fazer os ajustes de acordo como tempo, lugar e circunstância. Nós podemos ver em suas cartas e ouvir em suas conversas. Às vezes as instruções numa carta eram unicamente válidas para a pessoa em questão. Não era para ser aplicada como regra geral. Para a verdade absoluta nós podemos ler seus livros. Ele freqüentemente chamava-os de "as leis para os próximos 10000 anos". Estou começando a entender que a presença pessoal de Srila Prabhupada neste planeta foi tão poderosa, que foi capaz de carregar almas caídas como eu e nos manter em serviço de Krishna, até mesmo quando não estávamos seguindo estritamente suas regras. Desde que partiu, tem me ficado bastante claro que se eu quiser me associar com ele e realizar serviço devocional, tenho que seguir suas instruções estritamente. Isso pode parecer simples bom senso para a maioria dos devotos, mas para mim é uma revelação.
Srila Prabhupada vive eternamente em suas instruções e seus seguidores vivem com ele. Srila Prabhupada, por favor, me ocupe em seu serviço.

Srila Prabhupada Uvaca 50
Quinze de outubro de 1972, Vrindavan, Índia
Templo de Radha Damodara
Já há cinco semanas que eu estou com Srila Prabhupada, cozinhando para ele e massageando seu corpo transcendental diariamente. Nunca vou entender porque ele me abençoou desta forma. Hoje, algo de novo aconteceu no meu serviço. Yamuna devi esta na cozinha de Srila Prabhupada preparando seu almoço. Isso sempre foi um dos meus deveres principais. Afinal, Sua Divina Graça passou dois dias em Dallas me ensinando a usar sua panela. Logo aprendi, como foi afortunado. Levava muito tempo para fazer qualquer coisa na Índia.
Depois de massagear Srila Prabhupada, eu tomava banho e me vestia. Não sabia o que fazer, já que não precisava preparar seu almoço. Comecei a andar por volta do templo. Era muito diferente estar em Vrindaban. Eu estava tentando apreciar minha bem aventurança em estar no lar de Krishna e com seu devoto puro.
Finalmente voltei para a cozinha de Srila Prabhupada. Entrei na cozinha e prestei-lhe reverências. Nunca me ocorreu como estava sendo ofensivo em tomar tais liberdades. Srila Prabhupada estava lá sentado, tomando sua prasadam. Era o exato local onde ele tinha passado anos elaborando seus planos de conquistar o mundo com Consciência de Krishna. Ele levantou sua cabeça com um lindo olhar e perguntou: "Então, já tomou sua prasadam?" "Não," "acabei de tomar banho."respondi.  Srila Prabhupada respondeu com seu charme: "Oh, você não tomou prasadam. Yamuna faça um prato de prasadam para ele."Falei: "Não, tudo bem. Eu espero o senhor terminar." Ele disse: "Não. Sente-se e tome prasadam."
Segui alegremente suas ordens, malandro que eu era. Agora eu compreendo que foi um dos momentos mais doces de minha vida. Cá estava eu tomando prasadam com Srila Prabhupada. Só nós dois. Em Vrindaban. No Templo de Radha Damodara. A misericórdia do devoto puro não tem limite.
Nem estava preparado para o que estava para vir. Pude compreender que nunca tinha degustado prasadam antes. Também, pude verificar que nunca tinha cozinhado algo que era digno de ser oferecido. Yamuna devi, é uma devota com poderes transcendentais. Enviada pelo Senhor para que Srila Prabhupada pudesse comer suntuosamente. Cada uma de suas preparações era incrível. Ela fazia chapatis tão perfeitamente no fogão. Os subjis eram definitivamente do mundo espiritual. Sentado com Srila Prabhupada, compreendi que ofensa eu estava lhe prestando ao cozinhar para ele. Às vezes ele dizia que eu cozinhava "boa prasadam americana." Agora eu entendi o que ele quis dizer com isso. A culinária de Yamuna era transcendental.
Era como se eu nunca tivesse comido antes. Ao terminar, Srila Prabhupada perguntou: "Então, gostou?" Respondi entusiasticamente: "Sim, Srila Prabhupada. Muito." Ele sorriu e disse, "Então, hoje ela preparou seu almoço, amanhã você cozinha para ela. Esse é o costume védico. Hoje ela realizou um pouco de serviço para você, agora amanhã você deve servi-la." Eu disse: "Oh, sim Prabhupada."
Outras vezes Srila Prabhupada tinha dito: "Devemos sempre estar dispostos a servir alguém, não simplesmente sempre aceitar serviço. Você chama alguém de ‘prabhu’. Prabhu significa mestre. Qual é objetivo de você aceitar serviço do seu mestre. Você é o servo e o está chamando de prabhu, mas está aceitando todo esse serviço de seu mestre. Então, eu estou lhe chamando de ‘prabhu’. Isso significa que eu devo lhe render serviço. Essa atitude tem que estar presente, que eu sou servo de todos, pois chamo todos de ‘prabhu’."
Nunca cozinhei para Yamuna devi. Isso não teria sido um serviço. Teria sido uma austeridade para ela ter que comer meu, "prasadam americano". Mataji, por favor, perdoe-me por aceitar seu serviço. Srila Prabhupada, por favor, perdoe-me por não seguir suas instruções. Rezo para me ser concedida a capacidade de servir meu mestre espiritual com habilidade de uma alma rendida, como Yamuna devi dasi 
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Srila Prabhupada Uvaca 51
Outubro de 1972, Vrindavan, Índia
Templo de Radha Damodara
Desde sua chegada no dia 15 de outubro, Srila Prabhupada tem dado aulas de "Néctar da Devoção", todas as tardes no pátio próximo ao Bhajana Kutir de Srila Rupa Goswami, durante o mês de Kartika. Srila Prabhupada falava muito em fazer isso antes de chegarmos aqui. Ele estava bastante animado e disse que suas aulas seriam em inglês, não em Hindi, para o benefício de seus discípulos. No avião a caminho de Deli ele me disse: "Você pode ler do Néctar da Devoção e eu dou os significados."Fiquei muito feliz com a oportunidade.
No primeiro dia de aula, Pradyumna ficou com o serviço de ler o livro, que para mim não foi um problema. Eu tinha que gravar a palestra e cuidar das necessidades pessoais de Srila Prabhupada, como abaná-lo quando necessário. O pátio estava cheio de seus discípulos e muitos Brijbasis. A maioria deles não compreendia o inglês, mas isso não importava. Eles estavam felizes, por ter a associação de um homem santo.
O dia ainda estava claro durante a aula. Papagaios voltavam para seus galhos para passar a noite. Os macacos estavam fazendo uma bagunça, como sempre. Era uma atmosfera transcendental - exceto pelas moscas. Elas ficavam zumbindo por volta de Srila Prabhupada enquanto ele falava. Era uma ótima oportunidade para eu fazer um pouco de serviço. Peguei o abanador de camara e me posicionei ao lado de meu guru. Eu rodava o abanador como um pujari fazendo arati em frente às Deidades e me sentia muito orgulhoso de prestar um serviço como esses diante de meus irmãos espirituais. Para cima e para baixo eu abanava, mal reparando que as moscas continuavam a lhe incomodar. Teve um momento aonde ele chegou a levantar a mão para afugentar as moscas. Não cheguei nem perto de resolver o problema.
Finalmente, deu estrume de vaca. Meu Mestre Espiritual olhou para mim e berrou: "Traga aqui alguém com alguma inteligência." Fiquei congelado, durante o que me pareceu ser um ano.
Imediatamente um jovem brahmacari, chamado Kunjabihari, pegou o abanador de minhas mãos suadas e se posicionou ao lado de Srila Prabhupada. Muitos consideravam-no um devoto um tanto excêntrico. Naquele momento eu não o teria escolhido para realizar esse tipo de serviço.
Voltei ao meu gravador. Minha mente estava girando junto com ele. Finalmente entendi o que significava ser 1/10,000 de um fio de cabelo. Observei Kunjabihari. Parecia que ele poderia apagar um incêndio florestal, tal era a intensidade com a qual ele abanava. Não tinha mosca louca o suficiente para ficar nas redondezas enquanto ele estava lá. Srila Prabhupada não parou de falar para seus discípulos durante todo o episódio. Quando eu já estava começando a respirar novamente, Srila Prabhupada olhou para Kunjabihari com um sorriso, e indicou com um movimento da cabeça que aprovava o serviço devocional de seu discípulo.
Tudo que me lembro foi de ter levantado no final da aula e caminhado sozinho em direção ao quarto de Srila Prabhupada. Antes que eu pudesse entrar, um brahmacari se aproximou e disse: "Srutakirti, você é muito afortunado de ser corrigido assim por Srila Prabhupada." Com muito esforço eu sorri e disse: "Sim."
Essa foi a primeira vez que Srila Prabhupada me corrigiu na frente de tantas pessoas. Era difícil aceitar. Ele foi muito bondoso de ter cortado meu falso orgulho. Ele tem me abençoado desta forma repetidamente ao longo dos anos. Ele tem que fazer isso porque eu ainda não aprendi que sou, "o tolo número um." Ele fica tentando me ensinar que serviço é para seu prazer, não para o meu.
Srila Prabhupada, por favor, me dê outra chance lhe abanar. Não! Eu ainda estou muito cheio de mim mesmo. Por favor, abençoe-me com o desejo de abanar seu discípulo, Kunjabihari dasa. Ele o satisfez com seu serviço. Essa é a maneira de avançar em Consciência de Krishna.

Srila Prabhupada Uvaca 52
Mayapur, Índia
Mayapur Candrodaya Mandir
Durante uma caminhada matinal em Mayapur, um devoto perguntou a Srila Prabhupada: "O mestre espiritual sabe de tudo?" Srila Prabhupada respondeu: "O mestre espiritual sabe tudo que Krishna quer que ele saiba. Só Krishna sabe tudo."
Para mim, parecia que Srila Prabhupada sabia tudo sobre mim. Nas poucas ocasiões onde eu testei minha inteligência contra a de Srila Prabhupada eu fui rapidamente derrotado. A seguinte história é o primeiro exemplo.
Recebi minha iniciação Brahmínica de Srila Prabhupada no Templo de Nova Dwarka, em agosto de 1971. Kirtananda Maharaja, eu, e alguns outros devotos dirigimos de Nova Vrindaban até Los Angeles numa van fechada em apenas quatro dias. A viagem foi infernal, mas valeu cada minuto.
O processo de iniciação Brahmínica foi extático. Entrei em seu quarto e prestei-lhe reverências. Então, enquanto ele segurava o cordão Brahmínico em suas mãos ele sussurrou o Gayatri mantra em meus ouvidos. Tudo aconteceu muito rapidamente. Quando sai de seu quarto me foi dado um papel, onde estava escrito o mantra. Depois de ficar alguns dias, nós encaramos a longa viagem de volta a Nova Vrindaban. Porém, não me pareceu tão ruim.
Logo ocorreu uma tragédia. Certa manhã, por volta das 3:00, eu estava me banhando num pequeno lago lamacento na total escuridão. Eu estava com pressa, pois tinha que preparar os pratos das Deidades para oferenda de Mangala. Ao jogar o balde de água sobre minha cabeça, o meu cordão acidentalmente deve ter sido levado pela água. Horas depois, quando descobri, eu chorava. O cordão que Srila Prabhupada tinha me dado estava perdido para sempre. Era um péssimo sinal e eu temia ter perdido meu elo com meu mestre espiritual.
 Outubro de 1972, Vrindavan, Índia
Templo de Radha Damodara
Agora, um ano após o incidente, eu estava como o servo pessoal de Srila Prabhupada. Era meu dever colocar um novo cordão Brahmínico em sua mesa todo mês. Eu fazia isso sempre no dia de lua cheia ou no Ekadasi. Srila Prabhupada tomava banho depois de receber sua massagem matinal. Enquanto ele se banhava eu punha em sua cama roupas limpas. Então, eu ia para sua ante-sala, abria seu espelho, colocava a bola de tilak ao lado e sua minúscula lota com água ao lado desses itens. Depois de se vestir ele se sentava em sua mesa e colocava sua tilak e, então, cantava o Gayatri antes de almoçar.
Hoje era um dia especial, porque Srila Prabhupada iria cantar em seu novo cordão, enquanto segurava o seu cordão atual. Como a perda de meu cordão de iniciação Brahmínica era um peso em meu coração e estava ansioso para reparar a situação. Esse era meu primeiro mês no serviço pessoal de Srila Prabhupada. Portanto, estava ansioso para conseguir o cordão prasadam de Sua Divina Graça e, assim, restabelecer meu elo Brahmínico transcendental.
Depois de ter cantado o Gayatri, ele cruzou a varanda a caminho da cozinha, onde Yamuna devi estava cozinhando. Entrei em sua sala e peguei o cordão descartado, só para descobrir que ele tinha arrebentado cada um dos fios. Não podia acreditar. Nos dois anos que se seguiram, ele nunca mais fez isso. Sai de sua sala carregando o cordão e me sentei na varanda, dei um nó em cada um dos seis fios, determinado a restabelecer meu elo novamente. Para mim não importava que tinha partido os fios. Eram, de qualquer forma, SEUS fios. Fiquei lá, sentado, satisfeito comigo mesmo. Srila Prabhupada passou por mim, tendo almoçado. Eu prestei-lhe reverências. Ele sorriu e disse: "O cordão brahmínico, você já o jogou fora?" Respondi: "Ainda não, Srila Prabhupada." Ele falou: "Você deve enterrá-lo debaixo da planta de Tulasi, nos jardins do templo. Coloque-o debaixo das raízes." Tudo que pude dizer foi: "Tudo bem."
Eu não podia acreditar. Tive a oportunidade de presenciar os poderes místicos de Srila Prabhupada em outras ocasiões também. Se você queria algo, ele fazia você pedir. Ele parecia ter prazer em expor meus desejos. Eu também gostava muito. Poderia ter-lhe dito que tinha perdido meu cordão, mas estava envergonhado demais. Eu não gostava de pedir nada a Srila Prabhupada e tentava até mesmo não lhe fazer muitas perguntas, vendo que tinham tantos que faziam perguntas regularmente. Eu tentava imaginar o que Srila Prabhupada queria, não o que eu queria. Porém, às vezes meu desejo me dominava.
Srila Prabhupada, por favor, perdoe-me por não seguir suas instruções. De fato, nunca enterrei seu cordão como você me solicitou. Muito obrigado Srila Prabhupada, por me tolerar.

Srila Prabhupada Uvaca 53
Dezembro de 1972, ISKCON Bombaim
Enquanto os aposentos de Srila Prabhupada não ficaram prontos em Juhu, ele se hospedou no apartamento de um membro vitalício. Seu nome era Kartikeya Mahadevia. As acomodações eram boas e Srila Prabhupada parecia confortável lá. Toda manhã Srila Prabhupada, Shyamasundara dasa, e eu pegávamos o carro de Kartikeya, um Ambassador, e íamos para um lugar à beira mar, para caminhar. A calçada era larga e tinha poucas pessoas.
Certo dia, enquanto andávamos, nós passamos por um homem deitado na beira da calçada. Isso era um tanto comum nas ruas de Bombaim. Na volta nós passamos por ele novamente. Srila Prabhupada virou para nós e disse: "Está vendo aquele homem ali? Ele está morto." Srila Prabhupada continuou a andar sem fazer mais comentários.
Uma outra vez, já de volta no carro, Shyamasundara não conseguia enfiar a chave na ignição. Ele tentou durante vários minutos. Finalmente ele disse: "Srila Prabhupada, algo está errado. Isso não vai funcionar. Vou pegar um táxi." Ele saiu correndo, deixando Srila Prabhupada e eu sentados no banco de trás do carro. Passou-se alguns minutos e dois senhores Indianos abriram as portas do carro e entraram. Fiquei assustado. Srila Prabhupada começou a falar com eles em Hindi e parecia muito calmo. Ele sorria enquanto conversava com eles. De repente, um deles colocou sua chave na ignição, imediatamente ligando o motor. Começaram então a dirigir.
Finalmente entendi que nós estávamos sentados no carro errado. Isso não é tão difícil de acreditar. Após vinte e cinco anos todos Ambassadors ainda se parecem iguais. Os senhores insistiram em levar Srila Prabhupada de volta a seu apartamento. Srila Prabhupada conversou com eles durante todo o trecho. Ele disse: "Desculpe-nos." Ele disseram, "Não tem problema. Nós o levaremos para onde o senhor estiver hospedado." Eles nos levaram de volta a cidade. Quando chegamos, Srila Prabhupada disse: "Vocês devem subir e comer prasadam." Eles responderam: "Não, nós temos que trabalhar. Temos reuniões de negócios. Muito obrigado, Swamiji."
Depois de sair do carro, Srila Prabhupada me disse: "Essa é a diferença entre a Índia e a América. Na América eles teriam dito, ‘Hei, o que você está fazendo aí? Saia, imediatamente, do meu carro’ Possivelmente teriam batido na gente. Na Índia, ainda temos um pouco de cultura. Na Índia, eles vêem um sadhu e o respeitam. Mas em seu país eles o expulsam. Eles dizem:"Saia do meu carro.’"
É interessante notar que mesmo numa situação dessas, Srila Prabhupada tentou fazer com que eles comessem um pouco de prasadam. Isso era algo que eu via acontecer inúmeras vezes. Srila Prabhupada queria que todos que entrassem em contato com ele recebessem prasadam.
Todas as glórias a Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 54
Verão de 1973, Londres
ISKCON- Bhaktivedanta Manor
No Uvaca anterior Srila Prabhupada mencionou que na comunidade Indiana ainda restava um pouco de cultura. Isso podia ser visto em referência aos Indianos ao redor do mundo. Freqüentemente Srila Prabhupada e seus discípulos eram convidados para banquetes na casa de membros vitalícios. Seus discípulos estavam sempre muito ansiosos para participar de tais eventos por poderem se associar com Srila Prabhupada e comer prasadam bem opulenta. Eu não me lembro de nenhuma ocasião onde Srila Prabhupada recusou um convite. Às vezes ele dava uma breve palestra antes de servirem a prasada. Um desses eventos ocorreu enquanto Srila Prabhupada estava ficando na Manor. Dezenas de devotos foram à casa de um senhor Indiano. A prasadam foi opulenta.
Srila Prabhupada descrevia prasadam de diversas maneiras. Ele disse: "O devoto deve comer prasadam suntuosa. Simples, porém suntuosa. Suntuosa significa muito saborosa. Se a prasadam é saborosa você consegue continuar comendo mesmo sem estar com fome e se não for saborosa então você imediatamente perde o apetite. Prasadam deve ser muito boa para o devoto, aí então tudo mais vai estar bem." Ele disse: "Prasadam opulenta significa ghi e açúcar."
No banquete havia puris, halavah, arroz doce, e muitas outras preparações. Eu me lembro de observar Srila Prabhupada comendo. Era sempre algo especial. Normalmente, ele comia prasadam sozinho em seu quarto. Não sou capaz de descrever a maneira encantadora com a qual ele movia seus dedos, mãos e boca enquanto comia prasadam, mas até eu era capaz de ver que ele estava respeitando Krishna prasadam. Todos nós comemos tudo que queríamos.
Quando voltamos ao Manor, Srila Prabhupada tocou seu sino. Corri para seu quarto e prestei-lhe reverências. "Então, todos gostaram da prasadam? Todos gostaram do banquete?", perguntou ele com um sorriso. Eu disse: "Bem, na verdade, Srila Prabhupada, alguns dos devotos, não estão se sentindo muito bem. Eles dizem que tudo foi frito no óleo, e não no ghi." Srila Prabhupada respondeu: "Bem, o que você quer? Eu estava observando eles e eu vi, Pradyumna, ele comeu tantos puris, e um outro devoto comeu muita verdura."
Fiquei pasmo. Eu tinha observado Srila Prabhupada comendo, mas não tinha notado que ele nos estava observando tanto. Ele conseguia fazer tantas coisas ao mesmo tempo sem parecer que estava fazendo nada. Porém, eu tinha uma observação própria para fazer: "Sim, Srila Prabhupada,"concordei, "mas eu também não me sinto muito bem, e eu não comi muito." Ele disse: "Sim, eu sei. Você não comeu muito, mas eu me lembro que você comeu quatro puris." Não acreditando no que tinha se passado, eu me retirei, tentando entender como ele sabia disso tudo. Ele sabia mais sobre o que eu tinha comido do que eu mesmo. Era assombroso para mim como ele estava ciente de tudo a sua volta num evento tão comum.
Obrigado, Srila Prabhupada por prestar tanta atenção a essa pessoa tão inútil. Rezo para nunca esquecer o tempo que você tão pacientemente passou me instruindo em diversas situações. Você tinha um serviço tão monumental para realizar, mas eu fico mais impressionado com todas aquelas maravilhosas coisas que você fez por mim e ainda faz todo dia. Por favor, permita-me lembrar sua bondade vida após vida. Separação de você é algo amargamente doce. É um gosto pelo qual eu nunca me satisfaço. 

Srila Prabhupada Uvaca 55
Verão de 1973, Londres
ISKCON- Bhaktivedanta Manor
Ficar com um devoto puro do Senhor durante dois anos foi à oportunidade mais maravilhosa de aprender a agir em Consciência de Krishna. Para uma pessoa como eu, também foi uma oportunidade de cometer inúmeras ofensas a uma grande alma. Tem muitas atividades gravadas em minha mente que me trazem alegria, e outras que me trazem tristeza.
Um devoto indiano no Manor tinha um filho de doze anos de idade. Esse menino queria cozinhar um almoço para Srila Prabhupada. Sua Divina Graça aceitou a proposta. Eu, tendo a mentalidade de um menino de doze anos de idade e nenhuma atitude de serviço, pensei que isso era uma chance para eu descansar um pouco na parte da manhã. Não supervisionei nenhuma das atividades do menino e não tinha a menor idéia se ele realmente era qualificado para cozinhar um almoço para Srila Prabhupada. Dei uma massagem em Srila Prabhupada e voltei para meu quarto.
O rapaz trouxe o almoço para Srila Prabhupada. O dahl estava queimado. Os chapatis estavam duros, pois não tinham se estufados e arroz cru. Srila Prabhupada provou tudo. O rapaz voltou para cozinha para preparar outro chapati. Naquele instante eu entrei no quarto de Srila Prabhupada. Ele disse: "Essa prasadam, você não ajudou?" Respondi, "Não, Srila Prabhupada. Pensei que ele iria preparar tudo." Ele disse: "Sim, mas você deveria ter ficado com ele, para ter certeza que tudo ia sair direito. Isso é muito ruim. Como posso comer isso?" Naquele instante o menino entrou no quarto com outro chapati. Srila Prabhupada lhe disse: "Tudo está muito bom. Você fez muito bem." O rapaz estava muito feliz. O menino tinha realizado seu serviço devocional no limite de sua capacidade e assim agradado seu mestre espiritual. Eu, mal preciso citar, tinha cometido uma grande ofensa com minha preguiça. Srila Prabhupada nem berrou. Era duro para mim quando ele berrava, mas quando ele estava aborrecido comigo e ficava quieto era pior.
Eu quero falar deste incidente para mostrar um outro aspecto da grandeza de Srila Prabhupada. Ele poderia escolher entre um sem número de assistentes espiritualmente e materialmente qualificados para facilitar sua vida, mas ele aceitava o meu serviço. Ele nunca pediu para eu deixar sua companhia. Ele graciosamente aceitava minha incompetência. Ele sempre me fazia sentir apreciado, apesar de minhas falhas. Eu já vi Srila Prabhupada perdoar seus discípulos de muitas ofensas. Essa certamente não foi a pior coisa que eu fiz em relaçãoa ao meu mestre espiritual, mas diz respeito ao seu serviço direto, portanto me traz muita tristeza.
Srila Prabhupada, não me mande embora. Não existe lugar seguro nesse mundo material senão e somente aos seus dourados pés de lótus. Por favor, me dê o desejo de servir o senhor e seu movimento durante todas minhas vidas. Desejando ser seu servo, Srutakirti dasa.

Srila Prabhupada Uvaca 56
Outubro de 1973, Bombaim
Praia de Juhu
Para ser honesto, tenho que dividir minha associação com Srila Prabhupada em três categorias diferentes. A primeira seria maravilhosa. A história anterior, apesar de minhas inabilidades em servi-lo, é maravilhosa, pois  fui capaz de testemunhar a misericórdia e gentileza de Srila Prabhupada. A segunda seria mais maravilhosa. Isso inclui poder massageá-lo e cozinhar para ele diariamente. Massageá-lo era especialmente doce para mim. Mas, melhor que isso, foram os momentos muito especiais, que só podem ser descritos como sendo os mais maravilhosos. Hoje preciso contar uma história dessas.
São cerca de 10 da noite e Srila Prabhupada está pronto para sua massagem noturna. Aqui em seu apartamento em Juhu ele tem um quarto separado. É especialmente bom aqui por causa dos mosquitos. Sim, isso mesmo, por causa dos mosquitos; porque assim eu tenho que entrar embaixo da tela que fica sobre sua cama, junto com Srila Prabhupada. Fica bastante íntimo para mim. Srila Prabhupada deitado e eu sentado próximo a seus pés. Era como se eu estivesse acampando com meu mestre espiritual, como dois jovens na floresta. Hoje, Srila Prabhupada me ajudou nessa fantasia.
Enquanto eu massageava seu corpo gentilmente, ele disse: "Uma das minhas coisas favoritas, quando era jovem, eram meus sapatos. Eles eram importados da Inglaterra. Eles tinham um couro macio por cima e solas de couro duras. Naquela época, eles custavam seis rúpias. Era uma fortuna. Na Índia, 70 anos atrás, seis rúpias eram muito dinheiro. Eu gostava muito de meus sapatos e me lembro que eu os usava para ir para escola."
Ele pausou alguns minutos. Eu estava sendo carregado pela onda de bem-aventurança de Srila Prabhupada. Tentava imaginar ele andando com seus sapatos. Ainda massageando sua forma transcendental, sorri e disse: "Prabhupada, ao andar para escola, você ficava olhando para seus sapatos?" Ele começou a rir e disse: "Sim, eu ficava olhando para meus sapatos. Gostava tanto deles, aqueles sapatos."
Ele falou de outras memórias de sua infância naquela noite. Algumas eu já mencionei, outras eu vou mencionar depois. Esse foi uma noite, "ainda mais maravilhosa" para mim. Eu poderia ficar para sempre lá, massageando e ouvindo-o contar aquelas histórias. Era como ouvir o Livro de Krishna pela primeira vez. Sua memória era incrível. Quando ele falava de sua infância parecia que ele estava lá. Agora, eu compreendo que ele não estava descrevendo esses passatempos unicamente para meu prazer. Ele os contava para que eu pudesse descrevê-los a todos seus seguidores. Espero poder transmiti-los com pelo menos uma semelhança do néctar que eu sentia enquanto ele me contava esses passatempos sublimes.
Obrigado Srila Prabhupada, por compartilhar suas memórias comigo. Eu não tinha qualificação alguma para ouvi-las de qualquer fonte, e, de alguma forma ou outra, pude ouvi-las diretamente de sua Divindade. Também não tenho qualquer qualificação para descrevê-las, mas faço isso porque você contou-as para mim e é meu extático dever propagar suas glórias aos três mundos. Eu nunca vou entender isso.

Srila Prabhupada Uvaca 57
Março de 1973, ISKCON Mayapur
Essa foi minha primeira viagem para Mayapur com Srila Prabhupada. Foi antes de ser construída a casa de hóspedes. Onde ele ficava era muito austero. Basicamente, era uma goshala, uma cabana de palha. Tinha sido preparado para sua estadia. Srila Prabhupada ficava num quarto e nós ficamos no outro lado da divisória.
Eu nunca tinha visto tantos mosquitos na minha vida. Eram tantos que, até que eu colocasse a tela por cima de sua cama, já tinham mosquitos dentro da tela. Certa noite, depois que nós dois tínhamos entrado debaixo da tela, eu estava massageando sua perna. Eu disse: "Tem tantos mosquitos. Devo matá-los, Srila Prabhupada?" Ele disse: "Sim! Eles estão atacando. De acordo com os Sastras, se você está sendo atacado, você tem o direito de se defender. E, eles estão atacando." Então, eu massageava e observava. Quando eu via um, eu levantava e batia minhas mãos. Às vezes eu gentilmente dava uma tapa no corpo de Srila Prabhupada, quando via um pousando em suas costas ou cabeça. Fora o serviço mais estranho que eu já tinha realizado, mas eu tive imenso prazer em fazê-lo. De guerreiro eu não tinha nada, mas até eu dava conta desse inimigo. Finalmente eu tinha recibo um serviço no qual eu era bom, matar insetos. Srila Prabhupada foi muito gentil.
Ele também tinha a melhor descrição desses incômodos insetos. Uma manhã ele tocou seu sino muito cedo. Entrei em seu quarto andando bem devagar, meio que dormindo ainda. Ele olhou para mim com um toque de raiva e disse: "Um mosquito na noite passada estava cortando minha testa. Ele me perturbou tanto. Ele dificultou meu trabalho de tradução." Era incrível. Não importava o que estava acontecendo, Srila Prabhupada sempre ligava tudo a Krishna e seu serviço. Nunca era uma questão de inconveniência corporal. Ele só reclama de algo interferindo em seu serviço. É claro que, durante os dois anos que eu passei com ele, é tudo que vi, Srila Prabhupada ocupado em serviço a seu guru maharaja e Srila Prabhupada em plena bem aventurança. Isso ocorria simultaneamente.
Era bastante frio de noite, mas Srila Prabhupada não reclamava disso. Mas ele reclamava das conversas desnecessárias que ocorriam entre seus discípulos. Como estávamos todos ficando no mesmo quarto, toda conversa que se passava poderia ser ouvida por ele. Ele disse: "Diga a eles para ficarem quietos. Toda essa conversa não é bom. Eles estão só fofocando. Diga a eles para parar."
Isso não era fácil para mim, pois normalmente os devotos eram meus irmãos espirituais mais antigos. Eu dizia a eles que Srila Prabhupada tinha pedido silêncio. A mesma situação ocorreu aqui meses depois quando nós ficamos na casa de hóspede. Mayapura era um lugar tão silencioso em 1972-73 que qualquer conversa podia ser ouvida por Srila Prabhupada muito bem. Quando Srila Prabhupada estava no templo, muitos de seus devotos se juntavam. Era uma oportunidade perfeita para trocar histórias sobre essa ou aquela pessoa, etc., etc. Srila Prabhupada disse: "Por que tudo tem que se deteriorar a esse tipo de conversa fiada, discussão inútil? Isso desperdiça tempo, destrói Consciência de Krishna."
Eu sempre suavizava o tom antes de transmitir o recado para meus irmãos espirituais. Simplesmente não tinha coragem de falar para eles o que ele me tinha falado. Nunca o vi mencionar isso a ninguém quando iam a seu quarto, mas é certo que de mim ele não escondeu.
Essa era uma qualidade de Srila Prabhupada. Ele tomava muito cuidado de não desanimar ninguém através da crítica. Se alguém tivesse a capacidade de agüentar, então ele criticava. Caso contrário, ele era o maior diplomata transcendental que já existiu. Seu único objetivo era transmitir amor a Krishna ao maior número de pessoas possível e, se você tivesse a oportunidade de se associar com ele diretamente, eram grandes as possibilidades de você desenvolver grande apego a ele, não importa o quanto você lutasse contra isso.

Srila Prabhupada Uvaca 58
Vinte e cinco a trinta e um de janeiro de 1973, ISKCON, Calcutá
Sem dúvida essa era a cidade natal de Srila Prabhupada. Permeava aqui, uma atmosfera relaxada. O templo ficava no segundo andar. A sala do templo era de tamanho modesto, e o quarto de Srila Prabhupada ficava no fim do prédio. A melhor parte era sem dúvida a grande varanda de mármore que percorria todo prédio. De lá, via-se um pequeno lago do outro lado da rua.
Parecia não haver fim ao fluxo de visitas a seu quarto. Era diferente de outros templos, onde havia muito mais controle. Eu me lembro de quando ele descansava a tarde. Eu me deitava na frente das portas, para que ninguém pudesse entrar. Era um dos meus serviços favoritos, tendo a oportunidade de servi-lo como seu cão de guarda. Isso mostra o pouco controle que havia no que diz respeito à visitas. Srila Prabhupada sabia que eram pessoas de sua cidade natal e ele era especialmente gracioso com essas visitas. Sempre tinha algumas caixas de doces de leite em seu quarto que eram comprados nas lojas de doce locais. Os sandesh variados eram os mais saborosos do mundo. Srila Prabhupada sempre enfatizava: "Todos visitantes devem receber prasadam."
Um dia reparei que uma das caixas de doces estava coberta de formigas. Pensei que, se mostrasse isso a Srila Prabhupada, ele me mandaria jogá-los fora. Aí então eu poderia tirar as formigas e ficar com todos para mim. Cheio de luxúria, entrei no seu quarto e prestei-lhe reverências e lhe contei o dilema. Ele sorriu, sem dúvida lendo minha mente, e disse: "Tudo bem, elas não comem muito." Então ele disse: "Pegue um thali (um prato com uma borda de 2 cm.) e encha-o de água. Então coloque um pote de cabeça para baixo e os doces em cima do pote. Isso cria um fosso, assim as formigas não conseguem pegar os doces."
Uma das características transcendentais de Srila Prabhupada era que ele nunca, mas nunca, desperdiçava nada. Essa qualidade pode ser vista em muito de seus passatempos.
Certa tarde, enquanto eu deitava fora de seu quarto, eu o ouvi gemendo. Eu não sabia o que fazer. Olhei algumas vezes e o vi se mexendo na cama. Ele não me chamou, porém eu não estava agüentando mais. Finalmente, entrei correndo em seu quarto e perguntei: "Srila Prabhupada, qual é o problema?" Ele disse: "Minha barriga, muita dor. Deve ter sido algo que comi. Muita dor." Ele não pediu ajuda. Fiquei no quarto, massageando levemente sua barriga.
Mais tarde ele disse: "Deve ter sido aquele katchori de coco que minha irmã me fez de almoço. Ele não estava cozido, está muito difícil digerir o coco. Está me causando muito dor." Durante toda noite os devotos se revezaram, massageando sua barriga e corpo. A dor continuou até o dia seguinte. Cada vez que respirava, ele soltava um suspiro. Na manhã seguinte veio o kaviraja. Ele confirmou o que Srila Prabhupada tinha dito. Quando entrei em seu quarto as quatro da manhã ele me disse: "Essa katchori foi um caos. Passei a noite toda sem conseguir descansar. Criou um caos na minha vida."
Srila Prabhupada, por favor, perdoe-me. Por ter voluntariamente aceito minhas reações pecaminosas você teve que passar por tanto sofrimento.Tenho observado você lidar com isso em silêncio, nunca reclamando. Estou eternamente em seu débito.

Srila Prabhupada Uvaca 59
7-8 de julho de 1973, Festival de Rathayatra em Londres
A segunda metade da história anterior, sobre o katchori, aconteceu em Calcutá, durante a primeira semana de julho. Isso é significante porque logo em seguida Srila Prabhupada esteve decidindo para onde ele iria viajar. Isso era sempre uma aventura emocionante. Nessa ocasião um devoto mais antigo estava sugerindo que Srila Prabhupada deveria ir para o Havaí ou Los Angeles para descansar. Porém, um devoto de Londres o havia convidado para participar do festival de Ratha Yatra.
Srila Prabhupada era perito em ocupar seus devotos de tal forma que eles pudessem desenvolver seu amor e apego por ele. Esse processo de decidir para onde ele viajaria acontecia sempre, não importava onde Srila Prabhupada estivesse ficando. Ele deixava seus discípulos sugerirem lugares para onde ele deveria ir e as razões para isso. Havaí era muito sugerido por causa do clima ameno e boas frutas. Ele ouvia todas as opiniões de seus discípulos e então fazia o que ele achava melhor. Achava muito divertido, depois que entendi o processo.
Às vezes, ele visitava todas as cidades do mundo sem nem sair de sua sala. A coisa mais importante para seu secretário saber era que, a não ser que ele falasse, "mande um telegrama" ou "peça-os para nos mandar os bilhetes", era apenas uma sugestão de Srila Prabhupada. Isso mantinha seus discípulos ao redor do mundo, ocupados pintando seus templos de azul e branco, que eram consideradas as cores favoritas de Srila Prabhupada. Não tenho certeza, mas às vezes acredito que Srila Prabhupada achava que todos os templos fora da Índia tinham o aroma de tinta fresca.
Nessa ocasião ele me perguntou: "Srutakirti, o que você acha? Devo ir para Londres participar do festival de Ratha Yatra ou para o Havaí para descansar?" Eu já estava com Srila Prabhupada há quase um ano e sabia que faria como ele bem quisesse. Porém, fiquei encantado dele ter pedido minha opinião. Aquele reconhecimento era suficiente para durar toda minha vida. Rapidamente respondi: "Srila Prabhupada, se você fosse ao festival de Ratha Yatra em Londres, muitas pessoas seriam beneficiadas por sua associação." Ele sorriu largamente e disse: "Sim, eu acredito que sua observação está correta." Depois de ouvir a opinião de todos, Srila Prabhupada disse: "Muito obrigado por seus conselhos. Eu vou para Londres para o festival de Ratha Yatra."
Foi um festival incrível. Minha perspectiva era limitada, porque fiquei ao lado de Srila Prabhupada, mas foi cheia de aventura. Srila Prabhupada estava muito entusiasmado. Seu Vyasasana estava disponível no carro de Ratha, porém ele decidiu andar junto com os devotos. Srila Prabhupada estava andando na frente do carro, batendo palmas ao ritmo do kirtan. Ele levantava suas mãos, convidando todos a dançarem. Ele parecia ser o supremo maestro. Ao levantar suas mãos, todos saltavam em êxtase. Não era  necessária qualquer purificação. Se você estava perto dele, você estava em êxtase - exceto pelos "bobbies" (policiais). Eles estavam procurando o responsável. Eles queriam que todos se acalmassem. Eles eram inteligentes o suficiente para entender que se eles pudessem controlar Srila Prabhupada, eles poderiam controlar a multidão "indisciplinada".
De alguma forma ou outra eles pensaram que eu era o "assistente" de Sua Divina Graça. Um dos bobbies disse: "Você terá que dizer ao seu chefe que ele tem que sentar. Ele está causando muito distúrbio. Todos estão ficando loucos e nós não conseguimos controlá-los." Eu disse: "Tudo bem" e não fiz nada. Era bastante óbvio que Srila Prabhupada estava comandando a festa. Eu não fazia a menor idéia de quem estava presente, mas Srila Prabhupada estava claramente em êxtase. Eles se aproximaram novamente dizendo, com mais firmeza: "Você tem que falar com ele. Ele tem que sentar." Novamente, concordei. Com medo de alguma represália, dei um tapinha nas suas costas e disse: "Prabhupada, os policiais querem que você se sente. Eles dizem que você está criando um tumulto no festival." Srila Prabhupada olhou para mim durante um breve instante. Ele rapidamente virou a cara, com seus braços ainda erguidos. Sorrindo majestosamente, ele continuou a andar com passos saltitantes. Ele andou o tempo todo. Os bobbies desistiram de seu ataque. Eles não eram páreo para um devoto puro e o Senhor do Universo.
Srila Prabhupada, quando eu disse que muitas pessoas seriam beneficiadas por sua associação,  não sabia quais eram seus planos. Você era um oceano de misericórdia, que estava sendo distribuída livremente a todos presentes. Por favor, perdoe-me por ter dado um tapinha nas suas costas naquele dia. Devido a minha burrice eu tentei distrai-lo de sua missão. Obrigado por ignorar minhas ilimitadas deficiências.

Srila Prabhupada Uvaca 60
Dezesseis a dezoito de março de 1973, ISKCON Mayapur
Durante o período em que ficava num pequeno prédio na frente do terreno de Mayapur, Srila Prabhupada às vezes saía para observar seus discípulos comendo prasadam. Nessa época, o local onde eles comiam ficava logo atrás dos aposentos de Srila Prabhupada. Nessas condições precárias ele considerava seus discípulos pioneiros, enfrentando grandes austeridades para ajudá-lo em sua missão. Na maioria dos lugares na Índia as condições eram, quando muito, razoáveis. Srila Prabhupada ansiava para logo construir instalações para os hóspedes, para que seus discípulos tivessem um lugar adequado para ficarem.
Os devotos usavam um pequeno fogão a kerosene para cozinhar os puris. Não tinha uma cozinha fixa. Eles estavam cozinhando ao ar livre, próximo de onde comiam. Enquanto os devotos comiam, a comida continuava a ser feita e, assim, eles recebiam puris quentes continuamente. Nessa época do ano, recolhia-se a seiva das tamareiras, que era então fervida até se tornar um gaur incrivelmente gostoso. Certo dia Srila Prabhupada saiu de seu quarto para utilizar o rudimentar banheiro. Como mencionei antes, ele sempre tinha prazer em ver seus discípulos honrando prasadam. O processo era maravilhoso. Ele saía e, é claro, todos prestavam reverências. Ele dizia: "Vão, continuem comendo sua prasadam." O intercâmbio entre Srila Prabhupada e seus discípulos era muito doce. Ele olhou para baixo e viu a combinação de puris quentes com gaur de tâmara e disse: "Oh, uma combinação muito boa."
Mais tarde, em seu quarto, ele disse para mim: "Isso não é uma boa prática, os devotos comendo puris feitos na hora, quente daquele jeito. Esse não é nosso sistema. Você simplesmente come prasadam. Somos tão elevados, nobres? Os devotos têm que comer puris quentes, um atrás do outro? Isso não é bom. Isso deve parar." Mais tarde aquele dia eu transmiti a mensagem para um dos administradores do templo para que os desejos de Srila Prabhupada fossem cumpridos.
Setembro de 1973, ISKCON Bombaim—Praia de Juhu
Hoje de manhã, quando chegamos, Srila Prabhupada me informou que ele comeria de almoço maha da Deidade. Fiquei satisfeito com esse arranjo porque facilitaria as coisas, já que ainda não tinha achado ninguém que pudesse preparar seu almoço. Quando a maha chegou do templo comecei a esquentá-la. Enquanto eu estava na cozinha, um devoto entrou e disse que Srila Prabhupada queria sua prasadam agora. Eu disse: "Estou esquentando-a e já vou levá-la." Ele voltou num instante e disse: "Srila Prabhupada está com raiva. Ele a quer agora." Entrei no quarto tremendo e prestei-lhe reverências. Ela começou a berrar antes mesmo de eu me levantar. "Por que você está esquentando a prasadam. Maha prasadam não é para ser esquentada. Eu a quero agora. Eu não a queria esquentada. Eu só queria a prasadam. Traga-a agora."
Estar com Srila Prabhupada nunca era tedioso. Muitas vezes devotos me falavam que devia ser difícil ser o servo pessoal de Srila Prabhupada. De fato era. Eu acho que devia ser muito mais difícil para Srila Prabhupada me ter como seu servo pessoal. Ainda não faço idéia quanta tolice ele teve que suportar devido a meus maus hábitos. Ele tinha muita paciência e tolerância. Tinha muito a aprender com ele. Freqüentemente ele dizia: "Consciência de Krishna é bom senso." Srila Prabhupada por favor me abençoe com bom senso para que eu possa começar a servi-lo de acordo com seus desejos.

Srila Prabhupada Uvaca 61
Maio de 1973, Los Angeles, Ca.,
ISKCON, Nova Dwarka
Eram cinco da tarde. Eu estava deitado na minha rede, nos aposentos dos servos, quase dormindo, quando eu ouvi o sino tocar. Andei em direção à sala de Srila Prabhupada e tentei me recompor. Compreendi que ainda estava afetado pelo modo da ignorância. Entrei na sala de Srila Prabhupada e prestei-lhe reverências, sentei-me, na esperança que ele não reparasse meu estado. Eu estava pior do que imaginava. Ele estava mais consciente da minha ilusão do que eu. Essa declaração pode parecer elementar, mas eu sempre pensava que Srila Prabhupada tinha coisas mais importantes com qual se preocupar do que minha Consciência de Krishna.
Ele olhou para mim com um olhar preocupado e disse: "Então, por que você não está cantando." Puxa! Como ele me pegou de surpresa. Srila Prabhupada era perito em confrontar as pessoas quando você menos esperava. Eu não sabia o que dizer. Então, disse algo idiota, mas honesto. "Srila Prabhupada, eu estou tendo uma certa dificuldade. É difícil para eu ficar em meu quarto o dia inteiro lendo e cantando." Sua resposta foi incrível. Ele disse: "Eu também estou sentado aqui o dia todo. Eu só saio uma vez por dia para andar. O resto do dia, eu só fico aqui sentado, sem problemas." Srila Prabhupada disse isso com uma cara séria. Respondi rapidamente: "Não sou como você Srila Prabhupada. Você é como Haridasa Thakur. Eu não sou muito transcendental. Tenho que me manter ocupado. Talvez eu possa datilografar para você?" Ainda me olhando muito seriamente, ele disse: "O que vamos fazer?" Eu disse: "Srila Prabhupada, não sei." Ele então disse: "Chame Karandhara."
Como já mencionei em outras histórias, Srila Prabhupada falava essas palavras freqüentemente quando estava em Los Angeles porque Karandhara resolvia tudo, ele era muito sério. Nós entramos juntos no quarto de Srila Prabhupada e prestamos reverências. Srila Prabhupada falou para Karandhara: "Srutakirti esta tendo dificuldades. Ele não está cantado. Ele precisa fazer algo para se manter ocupado. O que vamos fazer?" Karandhara, muito sério como sempre, disse: "Nós temos que encontrar alguma tarefa, de alguma forma."
Srila Prabhupada disse: "Sim! Tenho uma idéia. Estou traduzindo o ‘Srimad Bhagavatam’ aqui nesse quarto. Então, começarei a traduzir o ‘Caitanya-Caritamrta’ na outra sala. Nesse quarto terei meu Dictaphone e traduzirei ‘Srimad Bhagavatam’ e na outra sala você coloca outro Dictaphone para que eu possa começar a traduzir o ‘Caitanya-Caritamrta’." Olhando para mim ele disse: "Então você pode datilografar. Você pode preparar tudo para a edição. Desta forma você ficará ocupado e eu manterei Pradyumna ocupado com a edição. Está bom assim?" Eu respondi entusiasticamente, "Sim, Srila Prabhupada. Obrigado." Karandhara e eu preparamos a outra sala para que Srila Prabhupada pudesse começar a trabalhar no ‘Sri Caintanya-Caritamrta’.
Cedo na manhã seguinte, quando Srila Prabhupada foi ao banheiro se preparar para sua caminhada matinal, entrei na sala e tirei a fita da máquina. Ele tinha traduzido um pouco. Naquele dia cantei entusiasticamente minhas voltas, sabendo que meu Mestre Espiritual me amava mais do que poderia imaginar. Mais tarde naquele dia eu transcrevi a fita. Não tinha muito, mas ele continuava fazendo o Srimad Bhagavatam no outro quarto, portanto era compreensível.
No dia seguinte, quando entrei na sala para pegar a fita, vi que ela não tinha sido usada. Ele não fez mais nenhuma tradução do ‘Sri Caintanya Caritamrta’ durante o restante de nossa estadia em Los Angeles, mas, para mim, isso não fazia diferença. Sua preocupação comigo tinha acendido uma pequena luz dentro de mim.
Seis meses mais tarde, na sala em Los Angeles onde ele fez sua primeira hora de tradução do ‘Sri Caitanya Caritamrta’, ele me disse: "Você deveria se tornar perito no ‘Caintanya-Caritamrta’ e dar palestras a seu respeito."Balancei a cabeça e sorri, não sabendo como isso jamais poderia acontecer. Srila Prabhupada, sei que por sua misericórdia sem causa, tudo é possível. Se eu pudesse desenvolver uma fração do amor por você que você mostrou ter por mim, minha vida seria um sucesso. Rezo para que em alguma vida distante eu possa compreender meu relacionamento com você.

Srila Prabhupada Uvaca 62
Srila Prabhupada falando sobre cantar japa
Era fácil compreender que Srila Prabhupada gostava de cantar japa. Ele sempre enfatizou para nós a importância de cantar dezesseis voltas. Ele me contou que na sua época de casado ele utilizava um método simples para completar suas dezesseis voltas. Ele disse:, "Quando eu morava em casa, eu cantava quatro voltas antes de cada refeição e quatro voltas antes de dormir. Dessa forma as dezesseis voltas eram cantadas sem dificuldade." Ele sorriu e disse: "Se você não aceitar prasadam antes de cantar suas quatro voltas, então é certo que você as cantará."
Em Nova Dwarka ele me disse: "À noite, se eu fico cansado, eu ando e canto." Olhando para mim, ele disse: "Se você ficar cansado, então ande e cante como eu faço. Às vezes, se eu estou cansado, ando de um lado para outro no quarto. Simplesmente num quarto pode-se fazer tudo. Se você estiver cansado, você pode ficar em pé e cantar, como eu faço." Era muito comum ver Srila Prabhupada andando em seu quarto ou sentado em sua cadeira de balanço, cantando suas voltas. Certas vezes, à noite, ele cantava voltas enquanto eu o massageava na cama. Às vezes ele dizia: "Pronto, terminei." Certa vez em Nova Dwarka eu estava em sua sala, limpando em volta da mesa. Ele estava sentado atrás da mesa, cantando japa. Ele então puxou para baixo seu contador, olhou para mim com um lindo sorriso e disse com muita satisfação: "Pronto, acabei minhas dezesseis voltas, agora poço fazer a besteira que quiser."
Às vezes os devotos perguntavam a Srila Prabhupada sobre seguir certas regras em relação a Ekadasi ou Catur, mas Srila Prabhupada respondia: "Meus discípulos, eles não conseguem nem cantar suas dezesseis voltas e seguir os princípios. O que adianta essas outras regras e princípios? Primeiro façam essas coisas. Façam essas coisas tão simples que eu lhes peço. Não se preocupem com esses outros rituais. Primeiro cantem suas dezesseis voltas e sigam os princípios."
Certo dia um brahmacari entrou no quarto de Srila Prabhupada e disse que havia caído com uma mulher. Ele falou para Srila Prabhupada que talvez fosse melhor ele se casar. Srila Prabhupada respondeu: "Casar. Por que você acha que casar vai resolver seus problemas? É melhor você cantar. Apenas cante Hare Krishna. Cante suas dezesseis voltas." Muitas vezes devotos entravam no quarto de Srila Prabhupada com um problema, na esperança que ele pudesse resolvê-lo com um arranjo específico. Mas a solução era sempre a mesma. "Cante Hare Krishna. Cante suas dezesseis voltas." Ele desenvolveu a frase: "Just do it (só faça)", muito antes da Nike.
Certa vez ele disse a um discípulo: "Se tiver algum problema, cante em voz alta. Se tiver alguma agitação, cante em voz alta." Certa vez lhe disseram que um devoto antigo não estava participando do Mangal Arati ou cantando suas voltas, pelo menos não com os outros devotos. Srila Prabhupada disse: "Faça como exemplo aos outros devotos. Você é muito avançado. Você não precisa ir ao Mangal Arati, mas você deve estabelecer o exemplo para aqueles que precisam."
Obrigado, Srila Prabhupada, por ser o Acarya. Você sempre ensinava através do exemplo. Você cantava voltas. Você cantava o Gayatri mantra três vezes ao dia, acordava cedo, e aplicava tilak em seu corpo transcendental. Você nunca pediu para um discípulo fazer algo que você não estava fazendo. Você sempre praticava o que você ensinava. Você mostrou na prática como um devoto puro se comportava. Eu estou em ilusão desde de tempos imemoriais, mas eu rezo para que nunca me iluda a ponto de achar que esse processo de serviço devocional é só para o neófito.

Srila Prabhupada Uvaca 63
Setembro de 1972, Los Angeles, Califórnia
ISKCON, Nova Dwarka
Srila Prabhupada tinha grande prazer em ouvir seus discípulos cantarem o Maha Mantra, mas às vezes ele queria que eles cantassem em outro lugar. A sala do templo em Nova Dwarka, 1972, é agora um museu. Ficava ao lado do quarto de Srila Prabhupada. Era por volta das duas da tarde. Tinha um devoto no templo cantando suas voltas, em voz muito alta. Srila Prabhupada estava descansando, como também estavam Sri Sri Rukmini Dwarkadisa. Srila Prabhupada nem tocou seu sino para me chamar. Ele abriu a porta de seu quarto e berrou do segundo andar: "Diga àquele devoto que as Deidades estão descansando e que ele deve se calar. Diga a eles para calarem a boca." Srila Prabhupada era muito humilde. Ele poderia ter dito que ele estava descansando e não queria ser incomodado, mas não era dessa forma que apresentava as coisas.
Junho de 1973- Mayapur Índia,
ISKCON- Mayapur Candrodaya Mandir
Srila Prabhupada e sua comitiva tinham quartos na metade do segundo andar da casa de hóspedes. O resto do segundo andar ficava disponível para outros devotos visitantes. Tem uma linda varanda que contorna todo o prédio. Às vezes Srila Prabhupada andava pela varanda cantando japa. Os devotos ficavam do outro lado da varanda, na esperança de conseguir ver Sua Divina Graça. Certa manhã, um devoto mais antigo estava andando de um lado para o outro na varanda de mármore, cantando japa. Meus instintos me diziam que ele estava cantando alto demais e que Srila Prabhupada poderia se incomodar. Eu já tinha um pouco de experiência no assunto. Srila Prabhupada apreciava muito sua êxtase silenciosa. Eu disse: "Prabhu, talvez fosse melhor você cantar um pouco mais baixo. Srila Prabhupada pode não gostar." Ele olhou para mim como se eu fosse louco. Acredito que ele imaginava que Srila Prabhupada ficaria contente com sua devoção. Ele me deixou para trás e continuou a cantar do seu jeito.
Após poucos minutos, o sino tocou. Eu já sabia que estava para acontecer e, confesso, estava em êxtase. Corri para o quarto de Srila Prabhupada e prestei-lhe reverências. Srila Prabhupada disse, com raiva: "Quem está cantando lá fora? Se eles querem cantar em voz alta, diga a eles para cantarem na sala do templo, diante das Deidades." Alegremente expus o culpado e corri para fora. Dessa vez eu estava com um ar presunçoso. Afinal, eu estava armado com o ‘Cakra de Srila Prabhupada’. Nem precisa ser dito que, após receber a mensagem de Srila Prabhupada, ele foi embora com uma nova atitude.
Srila Prabhupada, você me disse: "O servo de primeira classe faz o que seu mestre deseja, e faz sem ser mandado." Eram várias as vezes onde eu, por experiência, sabia o que você queria que eu fizesse, mas não fazia devido a fraqueza de caráter. Eu sempre tentava ficar quieto. Você disse: "Em relação a sua própria pessoa, o devoto é humilde e dócil, mas para Krishna e Seu devoto puro, ele fica que nem um leão." Obrigado por sempre nos mostrar essas qualidades.

Srila Prabhupada Uvaca 64
Dezembro de 1973; Los Angeles, CA; E.U.A.
ISKCON Nova Dwarka
Quando Srila Prabhupada estava em Deli ele ganhou um vaso de prata de um membro vitalício. Originalmente ia ser presenteado a Indira Ghandi e, assim, o vaso tinha o nome dela gravado. Srila Prabhupada ficou muito satisfeito com o presente e pediu que eu o colocasse na bagagem para Los Angeles. Quando chegamos, ele apontou para sua mesa e disse: "Eu vou mantê-lo aqui." Mostrei o vaso para os devotos encarregados da limpeza do quarto de Srila Prabhupada, enquanto ele tinha sua caminhada matinal. Eu disse: "Srila Prabhupada gosta muito deste vaso. Vocês deveriam colocar umas belas flores nele."
Diariamente era colocado um lindo arranjo no vaso. Era de bom tamanho e comportava muitas flores. Um dia nós voltamos da caminhada matinal mais cedo que o normal. Tão logo Srila Prabhupada entrou em seu quarto ele viu que o vaso não estava em sua mesa. Ele olhou para mim e disse: "Onde está o vaso?" Respondi: "Bem, provavelmente eles o levaram para cozinha para colocar flores novas nele." Agora, ele já estava um pouco irado, e estava ficando mais e mais rapidamente. "Por que?", ele perguntou: "As flores estavam boas. Por que eles trocam essas flores todos os dias? Por que eles desperdiçam tanto? Quem está fazendo isso? Diga a eles para só trocarem as flores quando estiverem ficando ruins. Você não deve nunca tirar uma flor deste quarto até que ela murche. Não é necessário. É puro desperdício. Onde está o vaso? Traga-o imediatamente!"
Sai correndo do seu quarto. Na verdade, eu estava ansioso para sair. Não era nada bom para eu ficar perto de Srila Prabhupada quando ele estava berrando, mesmo quando eu não era o objeto de sua ira. Felizmente o vaso estava na cozinha do templo. Eu disse aos devotos: "É melhor vocês pararem de trocar as flores todos os  dias. Srila Prabhupada falou que isso era muito ruim. Também não retire o vaso de seu quarto." Cheguei em seu quarto com um belo arranjo novo, mas isso não o alegrou. Coloquei o vaso em sua mesa e prestei-lhe reverências, querendo ficar com minha cabeça no chão. "Só troque quando for preciso," ele berrou, "Eles não deveriam gastar tanto com flores. Ele não deveriam gastar tanto dinheiro, todo dia – trocando. Esse é o hábito americano, só gastar." Ele deu o seguinte exemplo, era um usado freqüentemente, devido ao condicionamento de seus discípulos: "No seu país, se você tem uma roupa grande demais, ao  invés de dobrar, vocês cortam e jogam fora. Esse é o seu processo aqui na América. Na Índia, se tem alguma sobra, eles dobram e costuram por cima. Tudo que dá errado aqui, vocês resolvem com dinheiro. Dessa forma tudo parece muito bom. Quando vocês cometem um erro, porque vocês têm dinheiro, vocês o encobrem rapidamente. Não é que vocês sabem fazer as coisas direito, mas porque vocês têm dinheiro fica tudo parecendo muito bom. Com dinheiro vocês podem cobrir todas suas deficiências."
Srila Prabhupada disse: "Krishna deu a vocês rapazes e meninas americanos muitos recursos." O que não me era óbvio na época é que a razão pela qual tínhamos tanto era devido a sua potência, e não aos nossos esforços. Srila Prabhupada via Krishna em tudo, o tempo todo. Portanto ele nos corrigia quando não éramos econômicos. Ele era muito tolerante de nossa imaturidade espiritual e material.
Srila Prabhupada, por favor, perdoe-me pelos meus hábitos de desperdiçar. Sobretudo, perdoe-me por desperdiçar tanto tempo no serviço da energia ilusória. Às vezes, durante suas palestras, você olhava para seu relógio e dizia que era impossível recuperar aquele momento que se passou, não importa quanto dinheiro você tenha. Eu tolamente pensava: "Por que isso é tão ruim? Nós somos eternos. Qual é a perda?" Agora, sentado aqui com um vazio em meu coração causado por sua ausência, começo a entender como era valioso cada segundo de sua presença. Dinheiro nenhum no mundo pode traze-lo de volta para essa alma desventurada. Novamente eu sinto o sabor amargo e doce da separação de Sua Divina Graça.

Srila Prabhupada Uvaca 65
O Domínio do Idioma Inglês de Srila Prabhupada
Muitas vezes Srila Prabhupada adaptava o idioma inglês para satisfazer suas necessidades, freqüentemente com resultados cômicos. Já mencionei alguns. Quando ele estava no Havaí em sua caminhada matinal, ele olhava para o oceano e brevemente observava os surfistas. Ele sempre os chamava de "sofristas" ("sufferes").
Nos EUA, quando falava sobre democracia, ele a chamava de "demon crazy" (loucura de demônio). Quando eu estava com Srila Prabhupada no início, ele tocava o sino, eu entrava e ele perguntava: "Onde está punditji?" Isso era sua maneira carinhosa de se referir ao seu editor de sânscrito. Depois de vários meses de freqüentes ausências, ele me chamava e perguntava: "Onde esta banditji?"
Em Deli, Brahmananda dasa e eu estávamos sentados no quarto de Srila Prabhupada. Comecei a secar o chão próximo de seu pote cerâmico de água, que estava vazando, criando uma poça. Brahmananda disse: "Srila Prabhupada, a água esta vazando do pote." Srila Prabhupada respondeu: "Sim, acredito que chamam isso de "percolating" (filtrar). Não é isso, Brahmananda?" Ele disse: "Não sei com certeza, Srila Prabhupada." Eu achei que  sua descrição estava quase certa, mas ainda assim um pouco errada. Brahmananda, que tinha um mestrado em Inglês, procurou a palavra no dicionário e descobriu que a descrição de Srila Prabhupada foi perfeitamente correta.
Ouvi um dos meus termos favoritos durante uma massagem noturna em Nova Dwarka. Ele estava deitado de costas e eu ajoelhado no chão, massageando suas pernas. Certo momento durante a massagem, ele olhou para mim com um sorriso, apontou para seu pé, e disse: "Faça meus dedos*." Fiquei um pouco confuso, sem fazer nada durante alguns instantes. Ele apontou para seus pés novamente e disse, com um sorriso ainda maior: "Meus dedos, massageie meus dedos." Finalmente entendi ao que ele estava se referindo e disse: "Oh! Seus dedos do pé. Você quer que eu massageie os dedos de seu pé." Ainda sorrindo largamente, ele disse: "Sim! Meus dedos. Faça meus dedos." Essa mesma conversa aconteceu mais três vezes depois disso. Toda vez que acontecia, eu levava alguns instantes para entender. Era incrivelmente doce.
Às vezes, durante a massagem noturna, Srila Prabhupada entrava em samadhi. Isso era um pouco assustador para mim, pois ele me tinha dado uma instrução, "Continue massageando até eu ficar cansado. Não até você ficar cansado." Ele me disse isso durante as massagens matinais. Comecei a passar de uma parte de seu corpo para outra, sem ele me solicitar. Ele deixou eu fazer isso durante alguns dias antes de corrigir minha preguiça. De qualquer forma, à noite era possível massageá-lo durante horas sem ele dizer nada. Ele fechava os olhos. Depois de um certo tempo eu começava a massagear com mais força, na esperança que ele lembrasse que eu estava lá. Em outras ocasiões ele me perguntava: "Você está cansado?" Eu sempre dizia: "Oh, não Prabhupada." Algumas vezes até cochilei enquanto massageava-o.
Às vezes Srila Prabhupada fechava os olhos quando eu estava massageando seus pés. Quando isso acontecia, eu colocava minha cabeça na sola daqueles lindos pés de lótus. Eu era sempre muito ganancioso. Para mim, não era suficiente massagear seus pés de lótus todos os dias. Queria mais. A massagem terminava com Srila Prabhupada dizendo docemente: "Está bom. Isso basta." Agora vinha mais néctar. Eu tinha a oportunidade de vê-lo sentar,  pegar a colcha e, ao mesmo tempo, em um único movimento, colocar sua cabeça no travesseiro e puxar a colcha por cima de sua cabeça. Não tenho como descrever isso da maneira que merece, mas era a coisa mais incrível de se ver. Outras vezes ele diria "Odeio descansar, é um completo desperdício de tempo. Gostaria de nunca ter que descansar. Estou simplesmente desperdiçando meu tempo."
Srila Prabhupada, perdoe-me por meu comportamento ofensivo ao pensar que tinha algo que você não sabia ou não entendia. Finalmente entendi que você estava me ensinando com suas carinhosas aulas. Se você diz que seus dedos do pé são dedos, então são dedos. Obrigado por me deixar massagear seus 20 "dedos".
*Nota do tradutor: Em inglês, os dedos do pé são chamados de "toes", e os da mão, "fingers".

Srila Prabhupada Uvaca 66
Janeiro de 1973; Bombaim, Índia
Durante seis semanas, Srila Prabhupada ficou no apartamento de Kartikeya Mahadevia. Do térreo saía um pequeno elevador, no qual cabiam apenas duas pessoas, e era usado para chegar aos aposentos de Srila Prabhupada. Certa manhã, Srila Prabhupada, Tamal Krishna Goswami, e eu estávamos a caminho do elevador para caminhada matinal. Como servo de Srila Prabhupada, o esperado era eu entrar no elevador com ele, mas Tamal Krishna Goswami entrou primeiro, portanto não havia lugar para mim. Quando as portas se fecharam,   desci os dois andares de escada correndo. Cheguei no exato instante que o elevador estava chegando, podendo assim abrir a porta e ajudar Srila Prabhupada a sair. Já saindo do prédio, Tamal Krishna Maharaja olhou para mim e começou a rir. Ele disse: "Srila Prabhupada, Srutakirti é realmente perito." Srila Prabhupada respondeu com um sorriso: "Sim, "kirti’ significa perito." Ele continuou em direção ao carro sem falar mais a respeito.
A vida como servo de Srila Prabhupada era cheia de aventura e suspense. Tudo que acontecia parecia ser carregado de uma certa energia. Todo mês eu tinha a oportunidade de raspar sua cabeça com um aparelho elétrico. Srila Prabhupada não ficava parado durante o processo. Ele ficava se mexendo para um lado e para outro e isso me deixava ainda mais preocupado. Ele muito bondosamente me ajudou a ficar ‘Consciente de Prabhupada’. Na primeira vez que o fiz, depois da primeira passada, ele me disse: "Desligue-o entre às passadas, assim não ficará quente." Isso não era muito difícil. A parte mais difícil foi  raspar em volta de suas orelhas. Parecia que toda vez que chegava perto de suas lindas orelhas, ele me dizia: "Cuidado com minhas orelhas." Eu tinha muito cuidado. Pela graça de Krishna nunca houve um acidente durante esse serviço. Ainda mais, eu tinha a oportunidade de levar devotos ao êxtase ao distribuir os cabelos de Srila Prabhupada.
As coisas mais simples eram fonte de ansiedade, especialmente na Índia. Em Mayapura, no ano de 1973, eu colocava um mergulho elétrico num balde de bronze para aquecer a água do seu banho. Naturalmente, nem sempre funcionava. O mergulho queimava ou faltava energia. Srila Prabhupada ficava pronto para o banho e não tinha água quente. Ele berrava: "Por que não tem água quente para meu banho?" Em Vrindaban, no templo de Radha Damodara, quando ficava no segundo andar, ele disse: "Deixe um balde de água no telhado e o sol o aquecerá bastante para o banho." Isso normalmente funcionava, exceto quando os macacos resolviam beber do balde e depois derrubá-lo.
Também tinham inúmeras manhãs quando Srila Prabhupada passava por mim a caminho de seu banheiro e perguntava: "O datong está lá?" Quando ele falava isso eu já sabia que significava que tinha esquecido de colocar o galho em seu banheiro para ele escovar seus dentes. Durante o tempo que fiquei com Srila Prabhupada, ele usava um galho para escovar seus dentes, não uma escova. Os melhores eram os da árvore neem. Isso era fácil de conseguir na Índia. Em qualquer loja você podia comprá-los aos montes. Porém, em Nova Iorque, não era fácil conseguir qualquer tipo de galho. De alguma forma, eu conseguia pegar alguma coisa. A qualidade mais importante era que ficasse cerdoso quando você o mastigava na ponta. Seu servo pessoal era responsável por garantir que, onde quer que estivesse no mundo, Srila Prabhupada teria condições de seguir sua rotina. Era incrível. Ele viajava tanto, mas mantinha seu ritmo, como se o termo ‘jet lag’ fosse apenas imaginação. Eu era, na melhor das hipóteses, medíocre no meu serviço. Obrigado, Srila Prabhupada, por me tolerar enquanto eu fazia meu serviço atrapalhado.

Srila Prabhupada Uvaca 67
Novembro de 1973; Bombaim, Índia;
ISKCON, Juhu
Essa noite, Srila Prabhupada me chamou para seu quarto. Quando entrei, ele disse: "Hoje você pode me trazer arroz inflado e amendoins. Me satisfará, mas não é pesado. O que eu comi ontem à noite me fez ter dificuldade em acordar para fazer meu trabalho de tradução. Com arroz inflado não terei indigestão."Sai de seu quarto e fui preparar o arroz inflado e amendoim. Ele me pediu para servi-los acompanhado de pepino fatiado e gengibre. Primeiramente fiz um chaunce, depois o arroz inflado e, amendoins foram colocados no wok e torrados. Levei-os para seu quarto, junto com leite quente, adoçado com açúcar. Logo em seguida ele me chamou e me disse que estava na hora da massagem.
Ele se sentava ou se deitava de costas para sua massagem noturna e, no seu apartamento em Juhu, eu sentava em sua cama por causa da tela de mosquitos. O quarto era muito tranqüilo. Enquanto massageava suas pernas ele disse: "Minha mãe, fazia arroz inflado de primeira. Ela tinha um wok especial. Um wok muito grosso, que ficava bem quente. Você bota areia no wok e o esquenta muito. Então joga o arroz e mistura. Ele estourava na areia quente. Aí então você tira toda areia com uma peneira. Ao peneirar, tinha que limpá-lo bem, para ter certeza que tinha tirado toda areia."
Ele pausou alguns instantes e depois continuou: "Ela nos dava isso freqüentemente. Esse arroz inflado era muito bom. Ela era uma cozinheira de primeira. Tudo que ela fazia, ela fazia bem. Era natural. Minha irmã também, ela cozinhava muito bem, de ver minha mãe. Na sociedade védica era o dever da mulher. O dia inteiro as mulheres estavam ocupadas na cozinha. Os maridos e crianças comiam prasadam gostosa e todos eram felizes. A mulher passava seu dia preparando e secando comidas. Guardando e preparando todo tipo de comida, reduzindo o leite e preparando ghi. Desta forma eram todas muito peritas. Na cultura védica, sempre que havia uma reunião, todas as mulheres se juntavam. Todo banquete que tinha, todos traziam algo. Dessa forma eles podiam ter grandes festivais."
Ainda absorto em seus passatempos infantis, ele continuou: "Quando eu era jovem, não havia escassez de comida. Nós sempre tínhamos muita comida. Na estação da manga, nós tínhamos uma cesta cheia de mangas em casa. Quando éramos crianças, nós corríamos pela casa, brincando. Nós pegávamos ao correr pela casa. O dia inteiro nós comíamos manga. Não tínhamos que pedir: ‘Oh, posso pegar uma manga?’ Bastante comida. Então a vida era simples. Meu pai não falava muito, sempre providenciava bastante comida. Não havia dificuldade."

Srila Prabhupada Uvaca 68
Misericórdia Pessoal
Como servo pessoal de Srila Prabhupada, raramente tinha alguma dúvida em relação a uma instrução sua. De fato, só me lembro disso ter acontecido uma única vez. Srila Prabhupada recebeu uma carta de um devoto pedindo autorização para divorciar-se de sua esposa e se casar com outra. Estando presente quando Srila Prabhupada respondeu a carta, fiquei chocado quando ele deu a permissão. Isso me incomodou o dia inteiro. Entendia que em nossa filosofia o divórcio não era permitido. Muitas vezes eu o tinha ouvido falar contra o divórcio. Eu sabia que ainda ocorria, mas nunca imaginei que Srila Prabhupada o autorizaria. Eu ficava pensando: "Não é isso que Srila Prabhupada faria."
Eu não conseguia mais me conter. Era a hora da massagem noturna. Eu já estava massageando-o durante meia hora, quando deixei escapar, "Prabhupada, eu quero lhe perguntar algo. Esse devoto que perguntou a respeito do divórcio..." Ele interrompeu: "Oh sim, eu disse que ele poderia ir em frente." Continuei: "Sim, eu sei. Eu estava só pensando. Você sempre diz que divórcio é contra os princípios Védicos. Que nunca pode haver divórcio." Ele disse: "Sim, mas nessa sociedade essas coisas são permitidas. Portanto nós podemos permiti-las."
Eu ainda não estava satisfeito. Srila Prabhupada parecia estar indiferente em relação ao assunto. Era uma qualidade que eu não tinha observado nele antes em relação a isso. Eu disse: "Sim, mas nessa sociedade eles aceitam o consumo de carne e intoxicação. Todas essas coisas são aceitas. Por que essas coisas não são aceitas?" Meu mais misericordioso mestre espiritual respondeu, com compaixão em sua voz: "Bem, na verdade, dando ou não permissão a ele, ele iria se divorciar. Se eu digo, ‘Sim, você pode’, porque ele vai seguir em frente de qualquer forma, então a ofensa não é tão grande." Eu estava aliviado. Eu achava que essa era a razão, mas precisava de sua confirmação da grandeza que era sua compaixão por todos nós.
Fevereiro de 1973; Jakarta, Indonésia
Enquanto estava hospedado na casa de um membro vitalício, hóspedes vieram visitar Srila Prabhupada. Lá, um deles disse: "Swamiji, nós queremos que você nos peça para construir um templo. Nós queremos construir um templo, mas queremos suas benções. Nós queremos que você nos peça para fazê-lo." Srila Prabhupada começou a rir e disse: "Não , não. Se você quiser construir um templo, isso é bom. Construa um templo. Nós cuidaremos dele para vocês." O senhor disse: "Swamiji, nós queremos que você nos dê suas benções, pedir que construamos o templo. Nós queremos essa benção." Ainda sorrindo e rindo, Srila Prabhupada disse: "Não, não. Se eu pedir para vocês fazerem isso e vocês não fizerem, então será uma ofensa. Se você não obedecer, será sua queda. Isso é muito ruim. Se vocês fizerem por conta própria, isso é muito bom, mas caso contrário, não tem problema porque eu não falei para fazerem."
Srila Prabhupada, você nos mostrou o que significa ser um líder e como dar instruções sem falso ego. Eu achava incrível a maneira como você me chamava em seu quarto e, depois de eu ter prestado minhas reverências, dizia com um olhar inocente, mas sério: "Você pode me dar massagem agora?" Sem acreditar, eu só podia responder: "Prabhupada, é por isso que estou aqui. Esperando a oportunidade de servi-lo." Você tornava muito fácil o desejo de servi-lo. Por favor, permita que minhas memórias de estar com você entrem em minha cabeça dura. Você me mimou. Sou tão arrogante. Apesar de estar cheio de defeitos, comparo todos a você, e assim não sou capaz de servi-los. Preciso sentar aqui e distribuir suas glórias, para não me secar e ser levado pelo vento. Seu servo inútil, Srutakirti dasa.

Srila Prabhupada Uvaca 69
Junho de 1975; Honolulu, Havaí;
Nova Navadvipa
Hoje de manhã, Srila Prabhupada fez algo muito fora do normal. Ele me chamou a seu quarto por volta de 1:30 da manhã. Normalmente, Srila Prabhupada se esforçava para garantir que eu não era incomodado enquanto descansava. Em alguns lugares, como o Krsna Balarama Mandir, ele tinha que passar pelos aposentos do servo a caminho do banheiro. Eu sempre acordava ao ouvir seus passos se aproximando e instintivamente prestava reverências. Ele se incomodava e dizia: "Não, não. Continue descansando."
Entrei em seu quarto, meio que dormindo ainda e prestei-lhe reverências. Levantei a cabeça para ver Srila Prabhupada com um lindo sorriso inocente. Também vi uma enorme pilha de fita do gravador em sua mesa. Ele estava traduzindo e de alguma forma ou outra a máquina tinha dado defeito. Eu não sei o que aconteceu, mas tinha fita para tudo quanto é lado. Ele não deu qualquer explicação. Com um sorriso transcendental ele disse: "Veja o que a máquina fez. Será que você pode dar um jeito?" Passei a próxima meia hora enrolando a fita e então a coloquei no Uher Dictaphone. Após completar esse tedioso serviço transcendental, ele falou carinhosamente: "Ok, vá descansar."
Nova Navadvipa era o palco para um passatempo bastante incomum. Quando nós chegamos, Srila Prabhupada foi usar o banheiro. A descarga não funcionou direito. Um devoto lá, com experiência de bombeiro, conseguiu consertá-la. Ele explicou a Srila Prabhupada que o problema era devido ao fato do banheiro não ser usado há muito tempo, e, assim, a descarga não funcionou bem. Srila Prabhupada disse: "Então agora está funcionando?" O brahmacari respondeu: "Oh, sim Prabhupada. Está funcionando perfeitamente." Srila Prabhupada não parecia estar convencido. Ele disse: "Então, como você sabe que está funcionando?" O devoto respondeu: "Eu dei descarga e a água desceu." Srila Prabhupada ainda não estava satisfeito. Ele disse: "Vá para cozinha e pegue um pouco de massa de chapati. Faça umas bolas e coloque-as na privada e se elas descerem, então saberemos que está funcionando." O jovem brahmacari cumpriu as ordens de Srila Prabhupada e ficamos todos alegres ao saber que tudo estava funcionando bem.
Srila Prabhupada, estar com você era sempre emocionante. Você me mostrou que não se deve aceitar as palavras dos outros. Muitas vezes você dizia: "Vendo é que se crê."Rezo para algum dia poder prestar algum serviço útil para você.

Srila Prabhupada Uvaca 70
Abril de 1973, Zurique, Suíça
Durante nossa estadia de dois dias aqui, na terra famosa por seus relógios, Shyamasundara deu de presente a Srila Prabhupada a última palavra em tecnologia para relógios de pulso, um dos primeiros relógios digitais. Parecia muito moderno. Sua face redonda era inteiramente preta, exceto durante os pouco segundos quando você apertava um botão do lado. Aí então, apareciam os números digitais vermelhos mostrando a hora exata. Era uma inovação e tanto. Srila Prabhupada, pouco impressionado, colocou o relógio. Seu secretário mostrou-lhe como usá-lo. Ele explicou que para ver a hora era preciso apertar o botão com sua mão direita. Não levou muito tempo para Srila Prabhupada dar sua avaliação desta mais recente peça tecnológica. Ele disse: "Então, agora precisamos de duas mãos para ver a hora, ao invés de uma."
Agosto de 1974; Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama Mandir
No dia 24 de julho voltei a ser servo de Srila Prabhupada, depois de passar sete meses longe. Enquanto estava longe, me casei e aumentei minhas posses. Levei umas das minhas novas aquisições para Índia. Era um aparelho elétrico de barbear . Durante uma de suas aulas matinais de Srimad Bhagavatam, Srila Prabhupada começou a falar sobre ‘ugra karma’. Ele disse: "Podemos fazer a barba com uma simples lâmina. Não tem o menor problema, mas agora fica complicado. Agora precisamos usar eletricidade. É barulhento e quando quebra você não pode mais fazer a barba. Ao tentar resolver um pequeno problema, tantos outros são criados." Ele nunca me disse nada diretamente, mas eu sei que ele estava se referindo ao fato que eu estava usando meu aparelho elétrico apenas um hora antes disso, e isso o estava incomodando.
Novembro de 1974; Bombaim, ISKCON Juhu
Quatro meses se passaram e eu aprendi muito pouco. Srila Prabhupada tocou seu sino. Vim correndo da cozinha, onde estava ocupado fazendo suco de legumes frescos para mim com um extrator de suco que Pallika devi tinha me dado de presente. Ele disse irado: "Que barulheira é essa?" Nervoso, respondi: "É um extrator de suco, Srila Prabhupada. Comecei a beber sucos frescos porque tenho dificuldade em ficar saudável na Índia e pensei que beber sucos frescos ajudariam." Ele não pareceu muito compreensivo. Ele disse: "Tanto barulho. Como posso me concentrar? Por que é preciso criar tanto distúrbio?" Concordei que era tolice e que não o  usaria mais. Passou-se uma hora e Srila Prabhupada novamente tocou seu sino. Fui para seu quarto, com os pensamentos já longe daquele incidente. Ele olhou para mim com compaixão e disse: "Então, se esses sucos frescos são bom para sua saúde, não há problema em continuar. O importante é você ficar saudável para continuar seu serviço. Não me incomodo."
Novamente, eu fiquei extático ao saber o quanto ele se preocupava comigo. Agora, eu me sentia envergonhado. É conhecimento comum que na Índia você deve cozinhar seus legumes e tirar a casca das frutas antes de comê-las, assim evitando todo tipo de organismos. Srila Prabhupada, você tolerou minhas tolices. Mais que isso, você me manteve por perto apesar de eu criar tantos distúrbios com meus aparelhos. Por favor, perdoe-me por minha tolice.

Srila Prabhupada Uvaca 71
Dezembro de 1972; Ahmadabad, Índia
Hoje, durante a palestra de Srila Prabhupada, estava me sentindo muito fraco e febril. Minha cabeça estava caída e eu estava apagando. Srila Prabhupada parou a palestra e me disse: "Acorde! Se você precisa dormir, então vá dormir." Fiz o possível para ficar com minhas costas retas e cabeça erguida durante o restante da palestra. Não me lembro de jamais estar tão doente. Mais tarde falei para Srila Prabhupada: "Não sei o que está acontecendo. Nunca fico doente. Não fico doente há anos." Srila Prabhupada olhou para mim surpreso e disse: "É mesmo, isso é muito incrível. Ficar doente e ter dificuldades são condições normais da vida. Você é muito afortunado."
Duas semanas mais tarde, estávamos fazendo uma caminhada matinal em Bombaim, com o sol brilhando forte. Shyamasundara prabhu olhou para meus olhos e começou a rir. Ele disse: "Rapaz, seus olhos estão amarelos. Você está com icterícia." Finalmente pude compreender minha fraqueza durante as últimas duas semanas. Agora, devidamente diagnosticado, eu me sentia pior. Arrastei-me para o quarto de Srila Prabhupada e prestei-lhe reverências. Eu disse alarmado: "Srila Prabhupada, estou com icterícia." Ele me olhou com surpresa e disse: "Ah é, qual são os sintomas?" Com um tom de preocupação eu disse: "Minha urina esta escura, não tenho apetite e me sinto fraco." Ele olhou para mim com um leve sorriso e disse: "Hmm, talvez eu também esteja com icterícia." Eu continuei: "Tamal Krishna Maharaja e os outros devotos sugeriram que talvez fosse melhor eu não cozinhar para você porque icterícia é altamente contagioso. Até mesmo tocar em sua comida pode ser perigoso." Srila Prabhupada falou com pouca emoção: "Não. Tudo bem. Você pode continuar a cozinhar. Não tem que se preocupar com nada." Graças as benções de Srila Prabhupada eu pude continuar com meu serviço, sem interromper as caminhadas matinais, massagens e preparo de suas refeições, enquanto fiquei doente.
Novembro de 1973; Índia; ISKCON, Nova Deli
Já se passou um ano desde que fiquei doente de icterícia. Agora era a vez do secretário de Srila Prabhupada, Brahmananda Maharaja, ficar doente. Era uma notícia relevante, então eu contei a Srila Prabhupada. Entrei em seu quarto, prestei reverências, e falei inocentemente: "Srila Prabhupada, Brahmananda está com icterícia." Srila Prabhupada olhou para mim surpreso e disse: "Oh, quais são os sintomas?" Não me lembrando de ter tido essa conversa antes eu lhe repeti a lista de sintomas. Você já adivinhou. Srila Prabhupada falou: "Hmm, talvez eu também esteja com icterícia."
Finalmente, depois que  Srila Prabhupada repetiu a mesma declaração pude entender. Só me levou um ano. Srila Prabhupada era incrível. Ele lembrava de tudo que acontecia com seus discípulos, utilizando isso no momento perfeito. Eu era tão tapado que a piada nem registrou. A potência de yoga maya era muito forte em minha volta. Eu não tinha a menor idéia de com quem estava. Isso era bom, caso contrário  não poderia ter realizado meu serviço devido a sentimentos de medo e reverência. Eu especulei que Srila Prabhupada estava me dizendo que ele tinha todos esses sintomas de doença que eu descrevi, mas sendo transcendental, ele continuava com seu serviço apesar de tantas dificuldades e dores.
Srila Prabhupada não estava com icterícia, mas ele sofria de certos sintomas. Ele nos mostrou que quando ficamos mais velhos, como estou agora começando a sentir, o corpo fica dolorido, e o nível de energia diminui. Srila Prabhupada explicou que não tinha nada de especial em nos sentirmos fracos, doentes ou doloridos. Pelo contrário, é incrível quando não estamos doentes. Ele nos mostrou como não devemos ser afetados pelas limitações do corpo.
Quando ficou de quarentena por não ter tomado uma injeção contra febre amarela, Srila Prabhupada disse: "O que eles acham? Eu ficar com febre amarela? Qualquer um que seja cem por cento, ocupado no serviço de Krishna, não tem a possibilidade de contaminação material. Ele não pode ser infeccionado por qualquer doença." Rezo para ser infeccionado com amor por você, Srila Prabhupada, para que possa ficar cem por cento ocupado em seu serviço. Por favor, me dê uma breve visão de sua posição transcendental.

Srila Prabhupada Uvaca 72
25 de março de 1973, Air Índia
As ações de Srila Prabhupada eram sempre uma surpresa. Com oito meses como seu servo pessoal, achei que já tinha uma boa compreensão de como agir e o que dizer em resposta a suas perguntas para não me trazer problemas. Eu considerava nosso relacionamento estritamente do tipo mestre espiritual-servo. Ao longo do tempo pude ver que Srila Prabhupada queria que respondesse naturalmente e honestamente quando ele me perguntava algo. Ele era muito carinhoso. Ele nunca me julgava.
Quando entrei no avião junto com Srila Prabhupada, estavam tocando música clássica Indiana. Nós andamos até nossos assentos. Srila Prabhupada sentou próximo à janela, como sempre, e eu, a seu lado. A música continuou a tocar. Ele olhou para mim com um sorriso e disse: "Você gosta desta música?" Virei para ele com um olhar vazio, pensando: "Como posso dizer a ele que eu gosto da música? Sim, parece ser boa, mas não tem o cantar dos santos nomes do Senhor. São só instrumentos tocando. Isso não pode ser Consciente de Krishna." Especulando loucamente, perdi a oportunidade de ter um momento íntimo com meu carinhoso mestre espiritual, que, por sua misericórdia, respondeu para mim: "Essa música é muito boa." Aliviado eu entrei em uníssono: "Sim, Srila Prabhupada, é muito boa." Eu me senti um covarde, incapaz de responder honestamente. Fiquei tão preocupado com minha resposta que esqueci que Srila Prabhupada é uma pessoa com gostos e preferências. Ele estava escutando a música e se lembrando de Krishna. Eu ouvia a música e tentava bolar uma maneira de responder-lhe de uma forma Consciente de Krishna.
Abril de 1973; Los Angeles, CA; Nova Dwarka
Já criei algumas amizades aqui no templo e decidir atender o Mangal Aratik para vê-los. Enquanto eu estava lá, Pradyumna entrou no templo e disse: "Srila Prabhupada está tocando seu sino. Ele quer vê-lo imediatamente." Naquele instante saí da sala do templo e corri para seu quarto, prestando-lhe reverências. Levantando a cabeça, eu disse: "Você queria me ver Srila Prabhupada?" Ele olhou para mim irado e disse: "Você não tem nada para fazer indo para o Mangal Aratik. O seu serviço é ficar comigo vinte e quatro horas por dia. Se eu precisar de você, você tem que estar disponível." Pedi desculpas e disse que nunca repetiria o erro.
É engraçado, mesmo antes de ir, eu já sabia que não era a coisa certa. Eu estava inquieto e imaginei que ninguém poderia achar defeito em eu ir ao Mangal Aratik. Calculei que Srila Prabhupada nunca me chamaria tão cedo de manhã. É claro, eu deveria saber que ele sempre sabia o que eu estava fazendo, e, assim, se eu fosse, ele certamente me chamaria. Eu era a única pessoa na ISKCON que tinha uma razão para não ir ao Mangal Aratik e, no meu caso, ir era um sinal que eu estava em maya.
Junho de 1973; Londres, Bhaktivedanta Manor
É uma tarde linda. O sol está entrando na sala de Srila Prabhupada através das janelas inglesas, com suas divisórias de chumbo. Ele está andando em seu quarto, cantando japa. Ele para na frente da janela, olhando para os jardins. Ele pergunta: "Então, qual o animal mais bonito?" Pensei durante alguns segundos e com pouca convicção, respondi: "A vaca?!" "Não," ele disse rapidamente: "O cavalo. O cavalo tem uma forma muito linda. Sua estrutura muscular é muito bonita." Mais uma vez, eu tinha pisado na bola. Pensei que o animal favorito de Krishna é a vaca. Tinha que ser a vaca. Tão logo eu ouvi a resposta de Srila Prabhupada, é claro que fazia perfeito sentido.
Srila Prabhupada, eu imploro que você novamente me diga que meu único dever é ficar com você vinte e quatro horas por dia. Seu servo inquieto, Srutakirti dasa.

Srila Prabhupada Uvaca 73
Maio de 1972; Los Angeles, Ca. EUA.;
Nova Dwarka
Kirtananda Maharaja e eu estávamos em Nova Dwarka já fazia uma semana, quando recebi minha iniciação Brahmínica de Srila Prabhupada. Apesar de ainda não ser o servo pessoal de Srila Prabhupada, vendo agora, posso entender que estava me inclinando nessa direção. Durante toda semana, sempre que via Nanda Kumar Prabhu, que era então o servo pessoal de Srila Prabhupada, eu ficava contemplando sua boa fortuna e não conseguia tirar meus olhos dele. Ele me olhava com um tipo de sorriso. Ele me devia achar muito estranho.
Certa manhã, durante sua palestra, Srila Prabhupada notou que seu servo não estava ao lado de seu Vyasasana e perguntou: "Onde está Nanda Kumar?" Alguém respondeu: "Ele está na cozinha." Sua Divina Graça continuou com sua aula de Bhagavatam. Depois da palestra, Kirtananda Maharaja e eu estávamos no quarto de Sua Divina Graça. O clima era tenso. Srila Prabhupada estava visivelmente insatisfeito. Ele sabia que tinha algo de errado. Quando Nanda Kumar trouxe seu desjejum prasadam, Srila Prabhupada perguntou irado: "Onde você estava durante minha palestra?" Seu servo respondeu: "Estava preparando seu desjejum." Srila Prabhupada falou mais alto: "Por que? Qualquer um pode preparar o desjejum. Você deveria estar presente na palestra." Nanda Kumar deu uma outra razão. Srila Prabhupada não aceitou e disse: "Você tem que estar lá. Não há razão para não estar presente."
Eu estava sentado lá, tremendo. Era minha primeira experiência vendo e ouvindo meu mestre espiritual de mau humor. Era difícil ficar vendo seu servo tentar se defender. Pensei: "Ele está retrucando Srila Prabhupada. Isso não pode ser uma boa coisa." Foi uma boa lição para mim. Decidi que nunca faria o mesmo se Srila Prabhupada estivesse me corrigindo. Quando Srila Prabhupada seguiu em viagem, Nanda Kumara ficou e se casou. Srila Prabhupada tentou mantê-lo com seu servo e disse que ele era perito.
Em setembro de 1973, eu era o servo de Srila Prabhupada em Nova Dwarka. Ele me pediu para preparar suas refeições no meu quarto, e não na cozinha do templo, porque lá tinham mulheres demais. Dezesseis meses depois, a história se repetiu – Srila Prabhupada deixou Nova Dwarka e fiquei para trás para me casar com uma moça que tinha encontrado na cozinha do templo. Srila Prabhupada conhecia todas as limitações de seus discípulos e misericordiosamente os estimulava para ultrapassá-las. Quando não conseguíamos, ele carinhosamente continuava a aceitar nosso serviço a altura de nossas capacidades. Várias vezes ele nos disse que nossa idade era a causa de nossa agitação.
Novembro de 1974; Bombaim, ISKCON Juhu
Quando Srila Prabhupada saiu de seu apartamento em Juhu para sua caminhada matinal, todos devotos presentes cantaram: "Jai, Srila Prabhupada!" e prestaram-lhe reverências. Todos, exceto um brahmacari que ficou em pé de mãos postas. Com sua bengala em mão, Srila Prabhupada começou sua caminhada. Olhando para frente ele disse: "Isso é o começo de seu declínio." Muitas vezes ele dizia que esse processo é um "fio da navalha". Nesse instante ele explicou como era afiada essa navalha. O devoto não estava consciente de suas ações. Nós não podemos ser Conscientes de Krishna se não somos conscientes. Srila Prabhupada, eu imploro por sua misericórdia para que sempre possa ser consciente de você e seu serviço ao Supremo Senhor.

Srila Prabhupada Uvaca 74
Maio de 1973: Los Angeles, Ca., E.U.A.;
ISKCON, Nova Dwarka
Srila Prabhupada queria que seu almoço fosse preparado em meu quarto, que ficava ao lado dos seus aposentos. Eu estava satisfeito da maneira com a qual fiz os arranjos necessários. O quarto de 2m x 3m tinha o que eu precisava, apesar de ser o local onde eu passava meus dias e noites. Karandhara providenciou uma geladeira. Tinha um pequeno fogão a gás de duas bocas no chão. Eu fiz uma estante com uma tábua e dois tijolos de cimento. Não tinha água corrente, então eu mantinha um estoque num balde de plástico. Srila Prabhupada freqüentemente me pedia para manter as coisas simples, mas eficientes. Estava tudo bem montado.
Depois de Srila Prabhupada acabar seu desjejum, eu trouxe seu prato de prata para meu quarto e transferi os restos para uma bandeja. Coloquei a casca de laranja, etc., na minha lata de lixo, e alegremente distribui a maha para os devotos que estavam ansiosamente esperando pela ‘misericórdia’.
Srila Prabhupada freqüentemente andava de um lado para o outro, cantando japa, depois do desjejum. Ele entrava e saia de seus aposentos, subia e descia o corredor, e, às vezes, parava rapidamente em frente a meu quarto, me observando preparar seu almoço. Hoje ele olhou para dentro e entrou no meu quarto.
Vendo a pequena lata de lixo, ele berrou: "O que é isso? Você é tão tolo." Pego de surpresa por sua bronca, eu disse: "É de seu desjejum." Não foi uma boa resposta. Srila Prabhupada estava apenas começando. "Você é um suposto devoto." Ele berrava: "Você não tem cérebro algum. Nenhuma inteligência. Você é nada mais que um mlechha. Você está com tudo tão arrumado e está preparando comida para as Deidades no meio desse lixo de alimentos comidos. Como você pode fazer algo tão tolo. Você é tão mlechha."
Não sabia o que dizer e pensava: "Esses são os restos de Prabhupada. Isso não é lixo." Não disse nada. Já tinha aprendido minha lição meses antes, ao ver ele corrigir Nanda Kumar prabhu. Finalmente concordei, dizendo: "Sim, Srila Prabhupada, sou um tolo." Ele não se satisfez com minha confissão vazia. Ainda muito irado, ele continuou: "Eles fazem isso na cozinha do templo? Eles têm uma lata de lixo assim?" Eu disse: "Bem, eles tem uma lata de lixo na cozinha." Ele rapidamente respondeu: "Mas, eles botam lixo já comido nele?" Com minhas energias esgotadas, eu disse: "Não, Srila Prabhupada." Srila Prabhupada parecia não se cansar. Ele disse: "Por que você faz uma coisa dessas? Você é tão mlechha. Você não tem inteligência." Parecia não acabar nunca. Finalmente, ele foi embora com suas mão em seu saco de contas, cantando japa.
Esvaziei a lata de lixo, ainda considerando seus restos como sendo sagrados. É irônico porque o primeiro pedaço de maha bhagavata prasadam que me foi dado por Nanda Kumar prabhu em Nova Dwarka era uma casca de laranja. Eu me senti muito afortunado e comi-a toda. Quando eu dava restos de cascas a outros devotos, eles beliscavam a parte branca e jogavam fora o resto. Eu fiquei trêmulo, mas entendi que Srila Prabhupada queria me dar uma lição. Parecia que sempre que eu ficava todo satisfeito com meu serviço, achando que estava fazendo um bom trabalho, Srila Prabhupada deixava eu saber que estava longe do padrão brahmínico vaishnava. Mais tarde ele me disse que eu preparei um almoço muito bom. Ele nunca me deixava pensar que mantinha algum rancor. Sempre que me corrigia ele em seguida me dizia algo muito amável ou me contava um de seus passatempos de sua vida antes da ISKCON. Era uma bela compensação. Srila Prabhupada sabia que eu era muito sensível a críticas e compassivamente as evitava ao máximo. Vendo agora, eu vejo esses momentos como sendo os mais extáticos, porque são dos quais me lembro mais vividamente, e isso é puro néctar. Tinham muitas oportunidades para Srila Prabhupada me corrigir, se eu tivesse tido a capacidade para apreciar a crítica construtiva. Eu então teria muitos outros momentos para saborear. Por favor, perdoe-me, Srila Prabhupada, por ser um malandro tão cheio de mim mesmo.Estou eternamente em seu débito por saber exatamente como lidar com um mlechha como eu.

Srila Prabhupada Uvaca 75
Dezenove de julho de 1971; Brooklyn, NY, E.U.A.;
ISKCON, Nova Iorque
Eu me mudei para o templo de Pittsburgh em abril de 1971. Em julho, Kirtananda Maharaja levou alguns de nós para receber primeira iniciação no templo de Brooklyn. Estávamos todos, é óbvio, muito excitados. Quando entramos na sala do templo, por ser o servo de Maharaja, pude ficar bem próximo ao Vyasasana de Srila Prabhupada durante a aula. Dia dezenove de julho de 1971 foi o primeiro dia que vi meu eterno mestre espiritual. Foi um momento que nunca esquecerei. Sua efulgência era extraordinária. Meus olhos estavam grudados nele, observando cada movimento. O kirtan foi extático. Ao se encerrar, a temperatura na sala do templo estava a pelo menos 37ºC.
Centenas de devotos lotavam a sala do templo, todos tentando ao máximo se aproximar de Srila Prabhupada. De repente todos se ajoelharam para prestar-lhe reverências. Isso fez com que houvesse ainda menos espaço. Comecei a me levantar antes do devoto que estava atrás de mim e, acidentalmente, coloquei meu traseiro em sua cabeça. Isso o assustou e fez com que ele levantasse rapidamente, conseqüentemente me empurrando para frente com muita força, me fazendo parar logo ao lado do Vyasasana de Srila Prabhupada. Minhas mãos e cabeça pararam imediatamente a sua direita. Ele olhou para mim surpreso e disse: "Qual é o problema?" Eu me encolhi para trás, incapaz de imitir uma resposta.
Srila Prabhupada, tantas vezes eu ouvi você dizer as palavras: "Qual é o problema?" Era uma pergunta que você sabia que não conseguíamos responder porque você tinha misericordiosamente removido todos os problemas desse processo. Você dava todas as respostas dizendo: "Esse processo é tão simples. Só cante Hare Krishna e seja feliz." Dezenas de vezes eu ouvi você falar: "Se você cantar suas dezesseis voltas e seguir os quatro princípios relativos, então no final de sua vida você ira de volta ao lar, de volta ao Supremo."
Todas as glórias a Srila Prabhupada!
 
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Srila Prabhupada Uvaca 76
Junho de 1973; Mayapur, Índia;
Mayapur Candrodaya Mandir
Outro dia Srila Prabhupada criticou seu editor de sânscrito, Pradyumna prabhu, por dormir durante o programa matinal. Pradyumna, meu devoto favorito da comitiva de Srila Prabhupada, levou à crítica muito a sério. Ele decidiu reduzir na sua alimentação, comendo apenas leite quente, frutas e amêndoas. Pradyumna disse que, “amêndoas são comida para o cérebro". Ele tinha muito cérebro, como também uma memória fotográfica.
Como já mencionei na Uvaca anterior, quando ficávamos em Mayapur, Srila Prabhupada andava pela varanda enquanto seus discípulos estavam aceitando prasadam, para ver o que eles estavam comendo. Ele gostava de ver suas crianças aceitando Krishna prasadam até o limite de suas vontades. Eu me sentia muito bem cuidado por meu pai espiritual. Ele parecia ficar satisfeito com nosso apego por Krishna prasadam. Ele não ficou satisfeito ao ver que Pradyumna não estava conosco.
Ele entrou em seu quarto e disse: "Por que você não está aceitando prasadam com os outros?" Pradyumna respondeu, suavemente: "Não estou com muita fome, Srila Prabhupada." A resposta não foi suficiente. Srila Prabhupada disse: "O que você quer dizer? Você deveria estar aceitando prasadam." Pradyumna, sabendo que seu mestre espiritual não estava satisfeito, disse: "Bem, Prabhupada, se eu aceitar prasadam, então eu durmo." Srila Prabhupada respondeu: "O que pode ser feito? Você tem que aceitar prasadam, mesmo se você tenha que dormir dez horas por dia. Como você pode viver se não aceitar prasadam?" Ele parou um pouco e disse: "Então, aceite prasadam e durma. Você não pode deixar de aceitar prasadam, mesmo se você durma o dia inteiro...Você tem que aceitar prasadam. Caso contrário, como viverá?" Pradyumna prabhu saiu do quarto, prestou reverências e foi aceitar prasadam conosco. Eu estava feliz por ter sua associação novamente.
Srila Prabhupada sempre estimulava seus devotos a minimizarem o consumo de comida e sono para avançarem em Consciência de Krishna, mas ele também nos dizia para usar nosso bom senso. Muitas vezes ele disse: "Você deve comer o tanto que consiga digerir." Ele também disse: "Pegue o tanto de prasadam que você quiser, mas coma tudo que pegar. Nem um grão de arroz deve ser desperdiçado." Ele era muito estrito com respeito a comparecer ao programa matinal. Se mais sono era necessário, deveria ser em outros horários, como uma cochilada após o almoço ou ir para cama mais cedo de noite.
Srila Prabhupada geralmente comia o desjejum logo após sua palestra matinal e seu almoço era por volta de 1:00 da tarde. Ele tomava leite quente antes de dormir a noite e, se ele estivesse com mais apetite, eu fazia algumas preparações, como puris, verduras e arroz inflado. Quando ele estava com um bom apetite ele tinha tanto prazer em comer como nós tínhamos em servi-lo. Portanto, meus dias mais prazerosos eram aqueles onde ele ficava comendo seu almoço e eu tinha que repetidamente correr até a cozinha e voltar com um chapati quente, colocando-o em seu prato enquanto ainda estava inflado com o vapor dentro. Indo e voltando cinco ou seis vezes dentro de um espaço de 10 minutos, prestando reverências cada vez que eu chegava próximo a seu corpo efulgente. Sentado com seu joelho direito para cima, ele graciosamente misturava o subji com seu chapati e saboreava a prasadam.
Srila Prabhupada, por favor, me dê sua misericórdia. Eu alegremente deixaria de comer e dormir por completo para poder enrolar e preparar chapatis para você novamente. Não há nada nos três mundos que se compare a poder ver sua inocência infantil ao sentar e honrar prasadam. Não acredito que seja possível alguém vê-lo comendo e não desenvolver um profundo amor por você, exceto um demônio como eu. Posso nunca saborear o néctar de amor a Deus, mas rezo por sua misericórdia à minha alma para poder cozinhar chapatis para você novamente. 

Srila Prabhupada Uvaca 77
Srila Prabhupada lembra sua juventude
Às vezes Srila Prabhupada falava calorosamente sobre seu pai. Era sempre com grande carinho. Ele disse: "Meu pai insistia em que eu tivesse tudo que queria. Mesmo no meio da noite, se eu quisesse puris ele dizia a minha mãe: ‘Faça puris para ele, se ele quer puris.’ Às vezes minha mãe resistia, mas meu pai a obrigava. Era assim. Eu não sei. Talvez meu pai soubesse. Ele estava sempre fazendo esse tipo de coisa. Aí então minha mãe tinha que ceder a suas vontades."
Certa vez, durante um vôo, Srila Prabhupada estava aceitando prasadam que consistia de puris e subji. Enquanto comia, ele começou a rir e me disse: "Quando era jovem, nunca comia chapatis. Eu era muito mimado. Eles não serviam para mim. Eu tinha que ter puris. Sempre que minha mãe cozinhava para mim eu tinha que ter puris. Mesmo mais tarde, como empresário." Ele parou de falar um minuto, mas foi só para rir mais. Ele estava muito alegre, e se divertia em me contar como era malandro. Srila Prabhupada continuou: "Às vezes eu ficava muito sem graça ao ir a casa das pessoas. Eles me convidavam para jantar e me davam chapatis."
Srila Prabhupada arregalou seus olhos e explicou seu dilema: "Eu não podia comê-los. Ao mesmo tempo, não podia recusá-los. Não sabia o que fazer. O poderia dizer: ‘Desculpe, eu não como chapatis.’ Eles iriam pensar: ‘Oh! Você é superior a mim? Você não come chapatis? Para você tem que ser puris?’ Então, ficava muito difícil. Às vezes eu ia embora e não os comia. Era muito difícil para mim falar, ‘Oh! Eu não quero chapatis.’ Eles ficavam muito ofendidos, mas eu não conseguia comê-los. Eu simplesmente não gostava."
Srila Prabhupada não parava de sorrir, enquanto descrevia suas travessuras. Ele continuou: "Naquela época eu tinha um empregado. Ele ficava tentando me convencer a comer chapatis. Certa vez, ele insistiu: "Eu quero que você os experimente. Quero que você me deixe fazer chapatis. Tenho certeza que você vai gostar.’ Finalmente eu disse: ‘Tá bom, eu os experimento.’ Ele fez chapatis de primeira classe. Desde então eu tenho gostado de chapatis. Foi uma mudança muita abrupta em minha vida. Até então eu nunca aceitava chapatis."
É difícil para eu colocar em palavras como era maravilhoso ver Srila Prabhupada se expressar, ao contar essa história. Ele encenava as emoções de cada um dos envolvidos, ao alegremente desenvolver a trama. Ele arregalava seus olhos ao máximo para demonstrar a surpresa dos outros com sua ‘superioridade’. Sempre que ele falava de sua juventude, não me parecia ser algo muito distante. Ele tinha grande prazer em falar desta época com seus discípulos.
Obrigado, Srila Prabhupada, por permitir que eu entrasse em seus passatempos de infância. É apenas por sua misericórdia sem causa que podemos testemunhar suas atividades gloriosas. Eu sei disso porque precisei tanto de você, e você carinhosamente me deu tudo que precisava. Estou eternamente em seu débito.

Srila Prabhupada Uvaca 78
Dezembro de 1973; LA., Ca.
ISKCON Nova Dwarka
Os dias têm sido extremamente frios, considerando que estamos em Los Angeles, com temperaturas de até 4ºC. Isso me da a oportunidade de fazer um pouco mais de serviço para Srila Prabhupada. Não importa a temperatura, Srila Prabhupada sempre faz sua caminhada matinal. Quando está frio assim, Srila Prabhupada usa uma roupa térmica, o que equivale a uma meia calça de lã e meias especiais. Srila Prabhupada gostava que eu lhe ajudasse a colocá-las.
Primeiro, eu pego a roupa térmica, açafroada, é claro. Com Srila Prabhupada sentado em sua cama, já vestido em seu dhoti e kurta, coloco-a em seus pés de lótus, um de cada vez, levantado-a até seus joelhos. Enquanto continua sentado, eu coloco as meias, também açafroadas, naqueles lindos e macios pés de lótus. Srila Prabhupada então fica em pé e puxa a roupa térmica até sua cintura, mantendo o dhoti em seu lugar. Depois colocava seu suéter açafroada sem minha ajuda, ia para sua mesinha, colocava tilak, e cantava o Gayatri.
Se tivesse mais alguém no quarto, naturalmente eles também cantavam o Gayatri. Normalmente, isso não era uma boa idéia, porque Srila Prabhupada sempre terminava antes de seus discípulos. O dilema deles era de decidir entre ficar em suas posições brahmínicas e assim não acompanharem seu Guru Maharaja saindo do quarto ou levantar rapidamente, tentando manter Sua Divina Graça à vista. Eu adorava assistir essa cena hilária. Apesar de sempre acontecer, eu nunca me convenci de alertar meus irmãos espirituais. Malandro que era, eu especulava que Srila Prabhupada gostava de ver seus olhares desesperados tanto quanto eu.
Depois de cantar Gayatri, Srila Prabhupada se levantava e eu ajudava-o a colocar seu casaco açafroado com capuz. Penas de pavão ficavam penduradas como borlas em volta de seu pescoço. Esse seu casaco favorito foi feito por Jayasri devi, do tempo de Honolulu em 1970 e viajou pelo mundo com Srila Prabhupada durante vários anos. Não posso imaginar nenhuma outra pessoa usando um casaco desses, salva e exceto Sua Divina Graça. Ele ficava glorioso nele.
Certa vez, quando fomos para Austrália, cometi o engano de não o levar conosco. Não imaginei que poderia estar suficientemente frio. Srila Prabhupada disse: "Por que você não trouxe meu casaco?" Fiquei parado, sem nada dizer. Ele ficou tão chateado comigo, que nem berrou. Seu secretário teve que providenciar para que enviassem o casaco.
Depois de abotoar o casaco Srila Prabhupada,dirigia-se à porta da frente. Geralmente, eu já estaria com seus sapatos e bengala a espera. Ele pegava a bengala, no mesmo tempo que me oferecia o seu pé direito, no qual eu colocava seu sapato de lona com a ajuda de uma calçadeira que rodou o mundo comigo. Então, dando um passo, eu colocava seu outro sapato antes que seu pé tocasse o chão, num único movimento contínuo. Sua economia de movimentos era incrível. Uma vez ou outra deixava um ávido devoto realizar esse serviço especialmente sagrado, mas depois de ver o incômodo que causaram a Srila Prabhupada com sua falta de jeito devido a admiração reverente, eu decidi não mais relegar o serviço.
As Gopis rezam para serem a flauta do Senhor Krishna, sempre em contato com seus lábios de lótus. Eu rezo para ser a calçadeira de Srila Prabhupada.
Essa breve meditação foi inspirada por meu gerente de produção do livro, Vidyananda prabhu. Ele ansiosamente espera para ouvir os detalhes de como servi Srila Prabhupada. Ele diariamente medita em servir pessoalmente seu amado mestre espiritual, Sua Divina Graça, Srila Prabhupada.

Srila Prabhupada Uvaca 79
Novembro de 1974; Bombaim, Índia;
ISKCON Juhu
Nesse tour da Índia com Srila Prabhupada, Paramahamsa Swami era seu secretário e Nitai dasa era seu editor de sânscrito. Nos entendemos muito bem. Éramos todos daquela segunda leva de devotos que foram morar nos templos por volta de 1971. Enquanto ficamos em Juhu, Palika devi prepou o almoço de Srila Prabhupada. Depois de acabar a massagem de Sua Divina Graça, Paramahamsa, Nitai e eu íamos para a praia, que fica a cerca de um quarteirão de lá, para nadar e tomar sol. Voltávamos antes de Srila Prabhupada acordar de sua cochilada, caso ele precisasse de nós.
Dentro de poucos dias, meus dois irmãos espirituais pararam de ir para tentar completar seus serviços, mas eu continuei a ir. Certo dia, quando voltei, Paramahamsa Swami chegou para mim e disse: "Srila Prabhupada está muito chateado de você ir a praia sozinho. Ele quer conversar com você. Ele está muito chateado." Eu esperei Srila Prabhupada terminar seu almoço. Quando ele voltou para seu quarto, entrei e prestei reverências. Quando levantei a cabeça vi que estava com um olhar contente. Não parecia nem um pouco chateado comigo.
Confuso, deixei escapar: "Srila Prabhupada, você gostaria que eu não fosse para praia depois de lhe dar a massagem?" Com tom indiferente, ele respondeu: "Não. Tudo bem. Você está indo sozinho?" Eu disse: "Sim," mas expliquei, "No começo nós três íamos nadar, mas agora sou o único." Ele disse: "Tudo bem. É bom ir para praia um pouco, tomar sol e entrar na água. Você pode ir." Aliviado eu disse: "Obrigado, Srila Prabhupada." Prestei-lhe reverências e fui embora. Imediatamente fui para onde estava Paramahamsa Swami, orgulhosamente lhe contar da minha conversa com meu amado Mestre Espiritual. Sacudindo a cabeça, ele confirmou sua história original.
Esse tipo de situação não era incomum. Tenho certeza que Srila Prabhupada reclamou do fato de ir à praia sozinho. O que era comovente era sua tolerância quando me apresentei diante dele com minha pergunta. Ele pode sentir meu apego e então deixar que eu decidisse. Alegremente deixei de ir porque ele não me obrigou a tanto.
Srila Prabhupada, você é muito perito. Você sempre disse: "Vocês estão voluntariamente prestando serviço. Eu não posso obrigá-los a fazer nada." Você sempre me tratou com muito respeito, geralmente me causando grande embaraço. Devido a sua humildade eu ficava tomado pelo desejo de fazer tudo que você me pedia. Misericordiosamente, seu único desejo era que eu, "cantasse Hare Krishna e fosse feliz". Sempre que me lembro de você, essa instrução é muito fácil de seguir.

Srila Prabhupada Uvaca 80
Maio de 1972; Los Angeles, CA., EUA.;
ISKCON Nova Dwarka
Eu fui para Nova Dwarka com Kirtananda Maharaja para receber minha iniciação brahmínica, ficando lá uma semana. Ao entardecer, Srila Prabhupada foi para seu jardim com alguns afortunados discípulos, ouvir os passatempos extáticos do Senhor Krishna, lidos do Livro de Krishna. Pela graça de Krishna, de alguma forma eu fui escolhido para ler. Eu passava o dia todo em antecipação dessa bem aventurada atividade. Srila Prabhupada sentava em seu asana, debaixo do arco da trepadeira, normalmente com sua mão no seu saco de contas. Às vezes podia-se ouvi-lo cantando muito suavemente, "Hare Krishna" em suas contas. Ele sempre escutava o Livro de Krishna com atenção, às vezes sorrindo ao ouvir as encantadoras atividades de Krishna e Seu irmão Balarama.
Certo dia, enquanto lia a história, ‘A Salvação do Gorila Dvivida’, Srila Prabhupada estava sorrindo largamente ao ouvir sobre as travessuras de Dvivida. Ele começou a rir um pouco a ouvir essa passagem, "Ele sempre ia para o eremitério de grandes santos e sábios criar confusão, destruindo seus belos jardins e canteiros." Imaginei que ia melhorar, como de fato, melhorou. Eu continuei: "Ele não só criava este tipo de distúrbio, mas às vezes urinava e defecava nas sagradas arenas de sacrifício." Srila Prabhupada estava rindo tanto que eu tive que parar a leitura. Todos nós experimentamos uma enorme bem aventurança ao ver sua reação. Ele extáticamente batia na sua perna com sua mão.
Ficou claro para mim que Srila Prabhupada gostava de ouvir histórias onde Krishna e Balarama matavam demônios. No dia seguinte, ao entrarmos no seu jardim, imediatamente sentei na grama e comecei a procurar uma história envolvendo um demônio. Depois de folhear durante alguns segundos, Srila Prabhupada me interrompeu e disse: "Vá. Leia de qualquer ponto. Krishna é como um doce. Não importa onde você morda, o gosto é bom."Alegremente fui até o início da história seguinte e comecei a ler.
Ficando próximo de Kirtananda Maharaja, pude ir com Srila Prabhupada nas caminhadas matinais. Todos dias nós esperávamos no corredor até Srila Prabhupada descer a escada. Pelo fato de estar lendo o Livro de Krishna todos os dias, Srila Prabhupada carinhosamente me reparou. Certa manhã, ao descer a escada, ele me olhou direto nos olhos e disse: "Oh! Veja só esse simpático jovem brahmacari. Qual é seu nome?" Surpreso e tomado por reverência não pude responder, enquanto ele continuava a descer a escada. Finalmente Kirtananda Swami disse: "Seu nome é Srutakirti, Prabhupada." Srila Prabhupada respondeu com um sorriso: "Oh! Suta Goswami." Srila Prabhupada continuou, saindo pela porta. Finalmente tinha uma razão para viver, pois meu amado guru deva tinha me identificado como um contador da lila de Krishna, como Suta Goswami. Tomado pela olhar gracioso de Sua Divina Graça, pude entender que ele apreciava minha maneira de ler o Livro de Krishna.
Depois de me tornar seu servo pessoal,  pude ver como você aprecia todo serviço feito por seus discípulos. Qualquer pequeno serviço feito era aceito com carinho especial por você. Você tem prazer em ver as sementes de serviço devocional que você plantou nascendo e ficando fortes. Você adorava ver seus alunos avançando em Consciência de Krishna. Muitas vezes você disse: "Eu transformei hippies em pessoas felizes ("happies*")".
Ao me lembrar de seus pés de lótus, eu me sinto muito feliz. Servi-los é meu único abrigo. Obrigado por ter me dado essa oportunidade eterna.
* Nota do tradutor: "Hippies into happies" – trocadilho de Srila Prabhupada. Happy significa feliz. "Happies" é sua adaptação do adjetivo em plural, que não existe em inglês.

Srila Prabhupada Uvaca 81
ISKCON, Qualquer lugar
Duas horas na vida do servo pessoal de Sua Divina Graça
Normalmente, quando não estávamos na Índia, o processo de preparar o almoço de Srila Prabhupada era o seguinte. Cerca de uma hora e meia, antes da massagem, eu fazia um pouco de massa de chapati. Então eu cortava vários tipos de legumes e colocava-os no andar do meio da famosa panela de três andares de Srila Prabhupada. No de baixo eu colocava couve-flor e batata, ou outra combinação de legumes com água, para fazer legumes molhados. No nível superior eu usava um tiffan. Eu botava dahl com água na parte inferior do tiffan e arroz com água na parte superior. Eram colocadas mais verduras no nível superior em volta desta tiffan. Agora, a famosa panela de três andares de Srila Prabhupada era colocada no fogo médio. Então eu deixava a cozinha e ia dar a massagem em Srila Prabhupada.
A massagem durava de uma a duas horas. O segredo em cozinhar ao mesmo tempo em que fazia a massagem era não deixar a panela sem água em baixo. Srila Prabhupada tinha me mostrado a usar a panela com dahl no nível inferior. Algumas vezes o dahl começava a queimar no meio da massagem. Isso era uma grande fonte de ansiedade para mim. Nunca queria largar Srila Prabhupada no meio da massagem, mas às vezes dava para cheirar o dahl queimando. Srila Prabhupada dizia: "Que cheiro é esse?" Ele sabia que era seu almoço. Isso é uma outra história, para outro dia. De qualquer forma, depois de oito meses e alguns almoços queimados, eu tive a idéia de cozinhar um subji molhado no nível inferior, fazendo o dahl e o arroz no vapor nos níveis superiores. Isso eliminava a ansiedade de queimar a comida, porque as verduras molhadas não engrossavam como o dahl.
Depois de completar a massagem, Srila Prabhupada pegava um pouco de óleo de mostarda em suas mãos e passava nos portões de seu corpo. Então ia para o banheiro tomar seu banho. Isso me dava uns 20 minutos para fazer o seguinte. Primeiro, eu colocava seu dhoti, kurta e copin (cueca) cuidadosamente em sua cama. Eu abotoava os primeiros dois botões de sua kurta, para que Srila Prabhupada tivesse só mais dois botões para fechar. Depois corria para sua sala e preparava sua mesa onde ele colocava sua tilak. Isso envolvia abrir seu espelho. Era redondo como um estojo de pó de maquiagem, com um pedaço de marfim talhado na tampa. Em seguida eu verificava que sua pequena lota (do tamanho de uma bola de golfe) estava com água. Tinha uma pequena colher de prata ao lado da lota. Finalmente, eu colocava a bola de tilak no centro de sua mesa.
Depois de ter feito isso tudo, corria de volta para meus aposentos para completar o almoço. Primeiro eu tirava a panela do fogão e botava um pequeno wok no fogo. Na falta, a tampa da panela era usada como substituto. Nele eu preparava um grande chaunce. Um pouco era colocado nas verduras molhadas. Um pouco colocado no dahl, no parte de cima do tiffan, no nível superior da panela. Então legumes diversos eram colocados no restante do chaunce no wok. Se tivesse melão azedo, eu o grelhava no ghi com turmeric. Um outro chaunce era feito para cozinhar o restante dos legumes cortados. Eu colocava todas as preparações no prato de Srila Prabhupada, junto com um katori com iogurte natural e um outro com doces feitos de leite. Com o prato de Srila Prabhupada quase pronto, era a hora de enrolar e cozinhar os chapatis.
Com sorte, tudo isso acontecia na mesma hora em que Sua Divina Graça estava acabando de cantar o Gayatri. Ele não se incomodava de esperar alguns minutos, mas eu ficava com medo de deixá-lo esperando mais do que isso. Eu colocava seus pratos no seu choki, prestava reverências, e corria de volta para fazer outro chapati. Depois de acabar de comer o almoço com os chapatis, ele abria o pequeno tiffan com o arroz dentro. Srila Prabhupada comia entre três a seis chapatis por refeição. Normalmente eram três ou quatro chapatis. Ele comia o resto de seu almoço com o arroz quente.
Por favor, perdoe-me por essa história. Eu comecei a escrever uma outra história, mas me perdi com as memórias de preparar o almoço de Srila Prabhupada. Era fantástico ficar ocupado cozinhando para você, Srila Prabhupada. Rezo para me tornar um cozinheiro perito, com minha irmã espiritual, Yamuna devi, para que eu possa lhe preparar  suntuosas comidas, vida após vida.

Srila Prabhupada Uvaca 82
Maio de 1973; Los Angeles, CA., EUA;
Nova Dwarka
Srila Prabhupada tocou seu sino de manhã. Quando entrei em seu quarto e prestei reverências, Srila Prabhupada olhou para mim e disse em voz baixa: "Não estou me sentindo bem hoje. Então, para meu almoço, por favor,  prepare khichari e molho de cuddy. Você pode fazer o khichari com duas partes de arroz, uma parte de dahl e um pouco de turmeric e ghi. Será leve e fácil de digerir." Eu disse: "Tudo bem, Srila Prabhupada." Um ajuste na dieta era a única maneira de eu saber que Srila Prabhupada estava doente, pois ele normalmente não dava muitas informações sobre seu estado de saúde. Às vezes ele pedia khichari quando estava resfriado.
Voltei para meus aposentos e preparei sua panela. Coloquei o khichari no nível superior e água no nível inferior. Essa refeição era muito mais simples daquela que fazia normalmente, descrito na história anterior. Eu me senti aliviado de não correr o risco de queimar nada durante a massagem, mas triste de saber que Srila Prabhupada não estava se sentindo bem. Normalmente eu ficava ‘consciente da panela’ durante a massagem, devido a minha marcante memória de ter queimado dois almoços de Srila Prabhupada no espaço de dois anos. Duas vezes era demais.
Voltei a seu quarto depois de montar a panela e Srila Prabhupada sentou-se na esteira para sua massagem. Às vezes quando estava resfriado ele me pedia para usar óleo de mostarda em todo seu corpo. Normalmente ele pedia para eu usar óleo de sândalo na sua cabeça, que tinha um efeito refrescante, mas hoje ele pediu que usasse só óleo de mostarda. Depois de quinze minutos de massagem, ele disse: "Bem, decidi que não vou almoçar." Eu disse:"Tudo bem , Srila Prabhupada." Lamentando que ele deveria estar se sentindo bem mal, continuei a massagem.
Passou-se mais meia hora de massagem e Srila Prabhupada disse: "Na verdade, acho vou ter um almoço normal." Eu disse: "Sim, Srila Prabhupada," momentaneamente feliz ao saber que a saúde de Srila Prabhupada estava se melhorando. De repente, fui tomado por uma tremenda ansiedade ao me lembrar que não tinha nada preparado, exceto o khichari. Oh não! Iria levar muito tempo para preparar seu almoço. Fiquei com muito medo de expor minhas preocupações, mas finalmente disse: "Prabhupada, eu não preparei nada. Pode levar um certo tempo." Ele disse: "O tempo quer for necessário, será necessário. Só faça-o."
Quando Srila Prabhupada foi tomar seu banho, corri para meu quarto e preparei seu almoço da forma melhor e mais rápida possível. Provavelmente eu estava ansioso desnecessariamente, mas é assim que minha mente fraca funciona. Eu tinha orgulho em estar sempre com meu serviço adiantado, para assim eliminar problemas potenciais. Srila Prabhupada graciosamente esperou eu terminar sem reclamar. Parecia que ele me fazia passar por testes como esse para me ensinar a ser mais flexível. Meu serviço era fazer aquilo que ele queria, não o que eu queria. Uma vez, enquanto massageava-o, ele disse: "Massageie até eu ficar cansado, não você."
Srila Prabhupada, obrigado por dar à oportunidade de me concentrar no seu bem estar enquanto realizava minhas responsabilidades como seu servo. Devido a minha natureza caída eu me esqueço que serviço devocional significa satisfazê-lo, e, desta forma, Krishna estará satisfeito. Por favor, continue a me guiar em seu serviço pessoal, me ensinando a ter amor incondicional.

Srila Prabhupada Uvaca 83
Onze de abril de 1975: Hyderabad, Índia
Lembro-me de poucas ocasiões quando era muito difícil estar no mesmo quarto que Srila Prabhupada. Obviamente, é fácil imaginar que todos almejem ficar com Srila Prabhupada  vinte e quatro horas por dia, mas temos que lembrar que a presença de outros no mesmo ambiente podia trazer mudanças.
Hoje, Devananda Maharaja veio visitar Srila Prabhupada. Ele recebeu iniciação de Srila Prabhupada e também foi sannyasi. Ele foi seu servo pessoal durante algum tempo por volta de 1970. Atualmente, ele não era um membro da ISKCON. Ele pediu para ver Srila Prabhupada e pode ter o darsana. Quando ele chegou, Srila Prabhupada estava sentado atrás de sua mesa. Brahmananda Maharaja e eu também estávamos presentes. Devananda entrou no quarto usando uma túnica de seda de cor laranja forte. Quando ele entrou, não prestou reverências. Seus longos cabelos e barba estavam mal cuidados. Ele estava um sorriso muito estranho. Ele começou a falar com Srila Prabhupada de uma maneira tão estranha, que não pude entender o que ele estava dizendo. Enquanto falava, ele mexia suas mãos como se estivesse fazendo algum tipo de mudra. Era estranho demais para ficar vendo. Parecia provável que era excesso de intoxicação.
Srila Prabhupada tolerou essa tolice durante alguns minutos. Não houve conversa alguma, uma vez que Devananda estava incoerente. Finalmente seu todo misericordioso mestre espiritual, Srila Prabhupada, disse: "Se você quiser voltar, faça como ele." Ele apontou para Brahmananda Maharaja e continuou: "Faça a barba, corte o cabelo, coloque um dhoti, e aí estará tudo bem. Você pode voltar."
Devananda começou a girar seus braços de novo e disse: "Não. Não é por isso que estou aqui." Ele continuou a mexer seu corpo e falar besteira. Srila Prabhupada já tinha visto o suficiente. Ele berrou: "Saia já!" Ao mesmo tempo começou a tremer de raiva. Brahmananda Maharaja pegou-o e o levou para fora do quarto a força. Srila Prabhupada estava furioso. Eu me senti como se tivesse sido atingido por um raio, apesar da raiva de Srila Prabhupada não estar sendo dirigida a mim. Era assustador só de estar próximo. Se eu pudesse desaparecer, agora era o momento ideal. É difícil descrever a potência espiritual gerada pela ira de Srila Prabhupada. Seu compromisso total com seus discípulos foi claramente demonstrado nesse episódio.
Foi umas das experiências mais difíceis que tive durante todo meu tempo com Srila Prabhupada. Era incrível como Srila Prabhupada tolerou seu estranho comportamento e mesmo assim o convidou de volta como seu discípulo, apesar dos claros sinais que Devananda tinha se afastado muito do caminho de Consciência de Krishna e tinha cruzado a fronteira do normal, a beira da loucura total. Quando Sua Divina Graça viu que ele não tinha interesse algum em aceitar suas instruções, ele misericordiosamente o mandou embora antes que pudesse cometer mais ofensas.
Srila Prabhupada, eu imploro que você me proteja de mim mesmo. Não quero nunca fazer algo que o deixe tão irado. O maior perigo é perder o abrigo de seus pés de lótus. Aqui estava meu irmão espiritual mais velho, imerso na ilusão, rolando no modo da ignorância, se afogando no lamaçal do falso ego. Por sua misericórdia, você o tinha elevado a um posto alto, por sua graça ele tinha atingido um nível de serviço como um sannyasi. Mesmo quando você estava conosco alguns de seus discípulos caíram na ilusão, pensando que tinham que buscar a perfeição em outro lugar. O resultado desse desvio era desastroso.
Perfeição para mim significa ficar sentado nos aposento do servo, esperando você tocar o sino. Rezo para poder responder a seu chamado, correndo para seu quarto, prestando-lhe reverências e vendo seu pés de lótus aparecendo por baixo da mesa.
PS É com grande pesar que ficamos sabendo que Devananda morreu de inanição auto-imposta numa caverna no sul da Índia.

Srila Prabhupada Uvaca 84
13 de abril de 1973; Los Angeles, CA, EUA.;
ISKCON Nova Dwarka
Certos serviços eram especialmente extáticos. Andar atrás de Sua Divina Graça ao sair de aviões e entrar na área de desembarque era definitivamente uma das experiências mais incríveis. Haviam-se passado oito meses desde que Srila Prabhupada estava nos EUA. Era fantástica a maneira pela qual Srila Prabhupada se preparava para o desembarque. Como já mencionei antes, quando o aviso de ‘colocar cintos de segurança’ acendiam, ele normalmente se levantava, ia para o banheiro e aplicava a tilak. Eu o acompanhava, esperando-o do lado de fora. A ida e volta para o assento era às vezes um tanto emocionante, com o avião balançando e tremendo devido a turbulência ou a sua aproximação para pouso. Se alguém tentava detê-lo, ele o ignorava por completo, como se não tivesse nem ouvido. Ao voltar para seu assento, ele pendurava seu saco de contas em volta do pescoço com muito cuidado. Quando o avião aterrissava, ele colocava uma guirlanda de flores. Se tivessem outros juntos, ele dava uma para cada membro da comitiva.
Ao sair do avião e entrar no corredor, já se podia ouvir os devotos cantando. Ficava cada vez mais alto ao entrarmos na área de desembarque. O sorriso de Srila Prabhupada também aumentava na medida que ele se aproximava de seus queridos discípulos. Hoje tinham centenas de devotos no aeroporto no momento que Srila Prabhupada entrou no terminal de desembarque. Eles estavam desligados de todos e de tudo à suas voltas, exceto do seu glorioso mestre espiritual. Não tenho qualificação alguma para descrever as emoções de meus irmãos e irmãs espirituais, por nunca ser afortunado o suficiente para amar tanto a Srila Prabhupada. Era óbvio para todos presentes no aeroporto que os devotos estavam em êxtase transcendental. A reciprocidade de amor entre Srila Prabhupada e seus discípulos era claramente vista na lila de aeroporto. Durante vários minutos parecia que os pés dos devotos não tocavam o chão. Rios de lágrimas extáticas corriam livremente de todos lá, exceto de uma alma caída, eu.
Ao chegarmos no quarto de Srila Prabhupada por volta de meio-dia, imediatamente fiz os preparos para sua massagem. Durante a massagem minha mente estava muito aflita. Eu não conseguia me livrar da dor ao realizar que todos amavam tanto seu guru, exceto eu. Eu era um farsante, um impostor. Finalmente criei coragem para falar, enquanto massageava as costas de Srila Prabhupada. Dessa forma eu não tinha que falar cara a cara. "Srila Prabhupada, todos seus discípulos amam-no muito. Isso me faz sentir mal. Eu não tenho esse profundo amor. Quando estou com você no aeroporto eu vejo todos dançando, cantando e chorando. Tenho tanta associação com você, porém não sinto esse amor inebriante como eles."
Eu torcia para que ele falasse algo para aliviar minha mente. Ele ficou silencioso. Atormentado, acabei a massagem e voltei para meus aposentos para acabar de preparar seu almoço. Depois que ele cantou o Gayatri,  me chamou. Entrei, prestei reverências e olhei para cima já preocupado, pois ele estava com uma cara muito séria. Ele perguntou: "Bem, você gosta de me servir?" Respondi: "Oh, sim, Prabhupada. Gosto muito de servi-lo." Ele continuou: "Então, isso é amor. Todo mundo pode fazer tantas coisas...cantar, dançar, pular para cima e para baixo. Mas você está realmente fazendo algo. Isso não é amor?" Eu disse: "É, acho que sim, Srila Prabhupada." Ele disse: "Então, apenas faça seu serviço. É tudo que é necessário. Isso é o que significa amor. Prestar serviço."
Srila Prabhupada, você tem tanta compaixão com essa alma caída. Você me deu tanto força ao longo dos anos, apesar de eu ser incapaz de lhe dar residência em meu coração. Vejo agora, como via então, como muitos de seus discípulos amam lhe tanto, mas eu não tenho amor algum por você. Apesar desta minha falta de amor, você me permite realizar o íntimo serviço de descrever sua incrível misericórdia a esse desgraçado ingrato que sou. É irônico que de todos seus discípulos você escolheu logo eu, o mais seco, para descrever seu lila suculento. De fato, é apenas outra amostra de sua misericórdia sem causa. Obrigado por suas gentis palavras. Rezo para algum dia me qualificar para saborear uma gota do oceano de amor a Deus e assim poder cantar e dançar como seus dedicados discípulos.

Srila Prabhupada Uvaca 85
Julho de 1973: Calcutá, Índia;
ISKCON Calcutá
 
Fiquei conhecendo Bhavatarina, a irmã de Srila Prabhupada, durante essa visita ao templo de Calcutá. Desde então ela era sempre conhecida como ‘Pishima’ que, eu acho, significa irmã. Tinha uma aparência e tanto. Ela era alguns centímetros mais baixa e vários quilos mais gorda, mas sua cara era como de um versão feminina de Srila Prabhupada. Sempre que vinha para o templo ela trazia doces e dava-os para seu irmão mais velho, Srila Prabhupada, e depois os distribuía a todos devotos no templo. Ela adorava se associar com Srila Prabhupada e passava o máximo de tempo possível com ele.
É impossível eu descrever as conversas que os dois tinham,  pois não compreendia o Bengali, mas às vezes Sua Divina Graça descrevia alguns detalhes. Para mim era claro que ela tinha muito amor por seu irmão, não apenas na plataforma material. Ela podia compreender sua mais elevada posição espiritual também. Ela freqüentemente cozinhava para ele. Isso gerava muita ansiedade entre seus discípulos porque ela sempre usava óleo de mostarda, que Srila Prabhupada disse, "...ser difícil de digerir." Certa vez, quando a questionaram a esse respeito, ela disse: "Ele pode digerir pregos, se quiser."
Certo dia enquanto massageava Srila Prabhupada antes do almoço, ele me perguntou: "Você conhece alguém que é gordo, sem comer?" Eu disse: "Não, Srila Prabhupada.  Não conheço ninguém. Você está se referindo a sua irmã?" Ele começou a rir e disse: "Sim! Ele fica me dizendo que come só um pouco, mas fica engordando. Você não conhece ninguém que fica engordando sem comer, conhece?" Rindo, eu disse: "Não , Srila Prabhupada. Eu acho que não é possível engordar sem comer." Agora nós dois estávamos  rindo e ele disse: "Sim! Eu também acho que não. Acho que sua conclusão está correta. Ela tem comido muito. Ela me diz que não está comendo, mas eu sei que está."
Ele continuou: "Ela reclama que está mal de saúde, que ela não se sente bem. Eu disse à ela:‘Você é tão gorda. Como você pode ficar saudável?’ Ela disse: ‘Eu não sei porque. Eu quase não como. Eu não sei como sou tão gorda.’" Eu continuei a massagear Srila Prabhupada, observando como ele estava a vontade por estar próximo de sua família em sua cidade natal. Eu me sentia um felizardo por poder me associar com Srila Prabhupada nesses momentos tão íntimos. Eu pude entender sua preocupação com sua irmã, pois ele nos tinha dito que doença vem de ansiedade, falta de higiene e excesso de comida.
Nesse mesmo dia à tarde, Srila Prabhupada estava dando um darsana a seus discípulos. Pishima também estava presente no quarto. Ela não se incomodava de não entender a conversa. Ela gostava de estar com ele o tanto possível por amar incondicionalmente seu querido irmão mais velho. Como ela era afortunada e elevada para ter esse amor e apego natural por Srila Prabhupada! De repente Srila Prabhupada disse com um sorriso: "Olhe para ela sentada ali. Olhe para ela – veja como ela é gorda." Todos começaram a rir, inclusive Srila Prabhupada e Pishima. Ele continuou a brincar com ela como um menino malcriado, "Ela é tão gorda. Olhe para ela, como ela é gorda. Ela diz que não come, mas mesmo assim engorda." Todos riam sem parar. Pishima estava gostando de ver todos rindo, não sabendo que graças a seu irmão mais velho, todos estavam rindo dela. Srila Prabhupada estava se divertindo com sua piada e saboreando a participação de seus discípulos na piada. Foi um momento raro e incrível para todos lá.
Srila Prabhupada, vendo-o nessa lila tão feliz, tão a vontade foi puro néctar. Espero que algum dia, numa vida distante futura, você me abençoe tanto que eu possa servi-lo ao trazer um sorriso à sua face, rindo de minhas situações embaraçosas. Nessa condição caída, a única emoção que pude gerar em você foi preocupação compassiva ou irritação devido a minhas inabilidades desajeitadas em seguir suas instruções corretamente ou com a devida atenção.

Srila Prabhupada Uvaca 86
Setembro de 1974; Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama Mandir
Srila Prabhupada ficou em Vrindaban por seis semanas. Durante esse período ele estava muito doente. Nos templos ao redor do mundo, estavam sendo realizados kirtans contínuos, vinte e quatro horas por dia, se possível. Sua irmã, Pishima, estava lá, ficando a maior parte do tempo no templo. Ela estava preocupada e queria ver seu irmão sempre que possível.
Uma das minhas tarefas era minimizar isso o máximo possível. Não era um serviço fácil ou agradável. Não era mera coincidência que Pishima (que agora sei significa tia), tinha uma poderosa determinação como a de Srila Prabhupada. Ela nunca me dava ouvidos. De fato, ela ficava muito chateada e com raiva de mim. Ela tinha a mania de estar sempre por perto e, quando não tinha ninguém vendo, ela entrava em seu quarto.
Ele me chamou em seu quarto, depois de uma visita dessas. Ele disse: "Eu sou um sannyasi. Não é bom ela ficar no quarto quando não há mais ninguém por perto. Mesmo sendo minha irmã. Sendo minha irmã, ela não consegue entender. Eu não posso ficar com uma mulher no quarto comigo, mesmo sendo minha irmã."
Entrei certa tarde nos aposentos dos servos, também meu quarto, e a vi dormindo em minha cama. Dei um giro de 180 graus e corri para o quarto de Srila Prabhupada, onde ele estava sentado a sua mesa. Prestei-lhe reverências com um olhar de ansiedade e disse: "Prabhupada, sua irmã está dormindo em minha cama. Não sei o que fazer." Ele disse: "Ela não pode. Você diga a ela! Ela tem que saber que não pode fazer essas coisas. Isso não é bom. Vai dar o que falar." [Aqui Srila Prabhupada está se referindo aos sannyasis locais, goswamis de casta, e seus irmãos espirituais que podiam estar procurando uma razão para criticar nosso querido Gurudeva. Srila Prabhupada sempre disse que aqui em Vrindaban tinha que ser de primeira classe, caso contrário não seríamos levados a sério. Com sempre, sendo o acarya, ele tinha que dar o exemplo.] Ele continuou: "Não é bom que ela esteja passando tanto tempo assim." Eu respondi ansiosamente: "Prabhupada,  não posso falar nada para ela. Ela não me escuta. Ela só liga para aquilo que você diz."
Ele conversou com ela naquele dia durante um bom tempo. Não sei sobre o que eles conversaram, mas só sei que no dia seguinte, quando entrei no quarto, lá estava ela, no meu quarto, dormindo profundamente. Desisti, fui embora e achei um canto do outro lado do quarto de Srila Prabhupada. Ela sabia que seu irmão era transcendental e não se importava o que os outros poderiam pensar do fato dela ser uma mulher. Ela era sua irmã. Sua determinação de ficar próxima a seu querido irmão, um devoto puro, era maior que minha habilidade de impedi-la. Ela fazia qualquer coisa para conseguir associação com Srila Prabhupada. Mais tarde eu mencionei a reincidência do problema para ele, e ele me disse compassivamente: "Ela é minha irmã. Ela quer ficar por perto." Satsvarupa Maharaja me disse mais tarde, em 1977, que Srila Prabhupada pediu perdão por suas ofensas. Ele disse”: "Às vezes você quis me ver e meus discípulos não a deixaram entrar."
Eu imploro o perdão de Bhavatarini, a quem cometi tantas ofensas ao tentar fazer o que achava que era meu serviço. Imploro para que, no futuro, meu amor por Srila Prabhupada se desenvolva ao ponto exibido por sua irmã. Devido a essa determinação ela pode ser a irmã caçula de Srila Prabhupada e ajudá-lo durante toda sua vida. Rezo para ter os mesmos desejos que Bhavatarini tem de servir os pés de lótus de Srila Prabhupada, vida após vida.

Srila Prabhupada Uvaca 87
Março de 1975; Mayapura, Índia;
Mayapur Candrodaya Mandir
Muitas aventuras cheias de alegria ocorriam diariamente enquanto viajava com Srila Prabhupada. Muito néctar correu das atividades reguladas do serviço pessoal ao nosso glorioso Gurudeva. Quem poderia imaginar algo superior a cozinhar, massagear, e cuidar de Sua Divina Graça? Mas a jóia da coroa da intimidade era de estar presente quando Sua Divina Graça exibia sintomas de êxtase. Era o tesouro mais raro. Esses excepcionais eventos, invariavelmente, ocorriam quando Srila Prabhupada estava em seu Vyasasana na sala do templo, dando uma palestra. O mais famoso aconteceu aqui, durante o festival de Mayapura.
Centenas de devotos lotavam a sala do templo e Srila Prabhupada estava falando. De repente ele parou e ficou em total silêncio com seus olhos fechados. Todos pararam, não querendo incomodá-lo. Dava para ouvir uma agulha caindo, com todos até respirando com cuidado para não fazer barulho. Isso continuou durante vários minutos. Centenas de devotos estavam tomados pelo êxtase de Srila Prabhupada, todos sendo transportados por ele. Nossas mentes estavam tomadas por bem aventurada antecipação. Srila Prabhupada carregou todos nós para outro reino.
De repente um sannyasi líder de kirtana, sentado próximo ao Vyasasana, começou a cantar em voz alta, "Namo om visnu-padaya..." Eu me senti enxotado do reino celestial. Gradualmente, os devotos relutantes começaram a acompanhá-lo. Logo, Srila Prabhupada retomou sua consciência externa e juntou-se a seus discípulos no kirtan.
Após o kirtan houve muita discussão entre os devotos. Muitos criticavam o sannyasi, dizendo: "Como você pode fazer aquilo? Srila Prabhupada estava em êxtase. Você viu que mais ninguém estava cantando." Ele respondeu: "Oh, achei melhor cantar. Parecia ser a coisa certa de se fazer." Brahmananda Maharaja era o secretário de Srila Prabhupada naquela época. Ele estava tentando mediar o assunto, mas não foi possível chegar a uma conclusão. Então, concordaram em levar o assunto a Srila Prabhupada.
Nós entramos no quarto de Srila Prabhupada à tarde. Brahmananda Maharaja disse: "Srila Prabhupada, você se lembre que durante a palestra você parou de falar e entrou em êxtase?" Antes que pudesse continuar, Srila Prabhupada respondeu com a voz muito doce, como se estivesse um pouco sem graça: "Não faço muito isso." Compreendendo a humildade de Srila Prabhupada, Brahmananda continuou: "Não, Prabhupada, mas quando acontece, o que devemos fazer? Devemos apenas ficar lá sentados, Srila Prabhupada? Ou devemos cantar japa?" Srila Prabhupada respondeu: "Sim, só cante. Cante Hare Krishna. Por que vocês estão dando tanta importância assim? Fazer o que? Só cante Hare Krishna. Isso está bom."
Como sempre, não tenho como descrever corretamente como Srila Prabhupada falou. Quando ele disse: "Eu não faço muito isso”, foi o tom de voz mais inocente que jamais ouvi em minha vida. A gentil graça e humildade que ele demonstrou foram incríveis. Ele estava pedindo desculpas por exibir os sintomas de um devoto puro. Pareceu-me que Srila Prabhupada se sentiu sem graça por nos expor seu êxtase.
Um dos aspectos mais maravilhosos de Sua Divina Graça era que ele sempre nos fazia sentir que, apenas por seguir o processo de Consciência de Krishna, você poderia avançar ao estágio máximo de perfeição, sem dificuldade. Parece-me que ele não queria nos desestimular ao nos mostrar como ele era especial, e assim nos deixar pensar que Consciência de Krishna é muito difícil para neófitos. Ele nos deu esperança. Ele nos fez sentir que Consciência de Krishna é para todos. Ele sempre falava de si mesmo no plural: "Nós somos servos de Krishna." Srila Prabhupada nos incluía. Como ele nos transportou naquele dia especial, ele continua nos levando, ‘De volta para o lar, de volta para o Supremo.’
Srila Prabhupada, obrigado por nos dar essa breve visão de seu êxtase particular. Eu teria saboreado a oportunidade de ter ficado horas aos seus pés de lótus naquela sala do templo. Posso apenas imaginar onde você estava. Tenho muito orgulho de saber que você é a personalidade mais elevada nesses três mundos. E mesmo assim você fala timidamente a respeito de seu êxtase. Eu lhe imploro pela oportunidade de ouvir sua doce voz sempre.

Srila Prabhupada Uvaca 88
Calcutá, Índia; ISKCON Calcutá
Na história anterior, mencionei a maneira gentil que Srila Prabhupada tinha de nos estimular, fazendo o processo de Consciência de Krishna parecer fácil. Ele falava de uma maneira muito humilde. Ele nos mostrou que se ele pudesse ser Consciente de Krishna, nós também poderíamos.
Certa vez um sannyasi falou para Srila Prabhupada que estava tendo dificuldade devido ao seu apego à esposa. Srila Prabhupada disse: "Até mesmo ontem à noite, sonhei com minha mulher. O apego é muito forte, que mesmo depois de tantos anos de separação, ainda tive um sonho com ela ontem à noite. Portanto, existe a regra. Você não pode nunca ver sua mulher após receber sannyasa. Você nunca pode vê-la, porque só de vê-la todo tipo de pensamento surgirá em sua mente."
Mais tarde em Calcutá ele falou em tom de brincadeira sobre o apego entre homens e mulheres. Ele disse: "Mulheres são comparadas ao fogo e homens, à manteiga. Portanto nossos sannyasis deviam ter um carimbo em suas testas: ‘Mantenha em local fresco’. Como nos pacotes de manteiga, tem isso escrito. Então, nossos sannyasis, eles também deveriam ter isso carimbado em suas testas. Isso os manterá longe de perigo."
Nosso Guru-Deva nos ocupa em serviço de Krishna, conhecendo nossa condição degradada da qual ele heroicamente nos salvou, nos levando, ‘De volta para o Supremo’.
Maio de 1971; L.A., CA.; ISKCON Nova Dwarka
Hoje de manhã Srila Prabhupada andou na praia. No grupo estavam Kirtananda Swami, Kuladri, eu e um jovem bhakta de uns dezessete anos de idade. Durante a caminhada o bhakta viu um caranguejo grande correndo pela praia. Ele parou para vê-lo enquanto nós continuamos andando com Srila Prabhupada. Observador como sempre, Srila Prabhupada disse: "Esse menino está apegado demais às coisas materiais. Esse pequeno desleixe vai virar uma bola de neve. As coisas acontecem, pequenas, depois grandes." A cainhada continuou, com o bhakta se juntando ao grupo após um minuto. Ninguém tocou no assunto com o bhakta. Quando voltamos a Nova Vrindaban uma semana depois, o rapaz saiu do templo e nunca mais foi visto, como Srila Prabhupada tinha previsto.
Srila Prabhupada, por favor, carimbe em minha testa essas palavras: ‘Mantenha-se aos pés de lótus de Jagat Guru.’ Sem você para seguir, eu ando como os caranguejos.
 
Seu servo, Srutakirti dasa

 Srila Prabhupada Uvaca 89
7 de setembro de 1972; Moundsville, WV, EUA;
Nova Vrindaban
Um dia antes de me tornar servo pessoal de Srila Prabhupada
Srila Prabhupada está aqui em Nova Vrindavan há uma semana, e tudo que vi é o interior da cozinha de Bahulaban.Estou extremamente invejoso de meus irmãos e irmãs espirituais que tem subido o morro para ver e ouvir Srila Prabhupada falar todos os dias. Tenho cozinhado para centenas de devotos das 3:30 da manhã até 9 da noite. Todos vieram ver Srila Prabhupada durante o festival anual de Janmastami. Não tenho tido tempo de cantar minhas voltas e estou aflito. Eu tinha me acostumado a ter a associação de Srila Prabhupada durante minha visita a Los Angeles, lendo o Livro de Krishna em seu jardim, mas agora estou sentindo cada vez mais pena de mim mesmo.
Era entre oito e nove da noite e eu estava lamentando minha situação, quando Kirtananda Maharaja entrou na cozinha com um enorme sorriso e disse: "Adivinha só? Você vai ser o servo pessoal de Srila Prabhupada. Você partirá amanhã com ele e irá para Pittsburgh." Fiquei pasmo, estático e muito nervoso. Tudo aconteceu tão de repente, que não tive tempo de entrar na mental. Eu estava estaticamente exausto.
Por volta das seis da manhã, Kirtananda Swami me trouxe para Madhuban, uma pequena casa de um andar na fazenda, onde Srila Prabhupada estava ficando. Eu ainda estava em estado de choque, incapaz de ficar nervoso, quando entramos na pequena sala de estar e prestamos reverências. K. Swami disse: "Esse é Srutakirti, Srila Prabhupada. Ele cozinha muito bem." Srila Prabhupada sorriu e disse: "Isso é muito bom." K. Swami continuou: "Mas ele não sabe dar massagem." Srila Prabhupada disse: "Tudo bem, qualquer um pode dar massagem. É muito fácil."
Srila Prabhupada então pegou uma lota no chão, próximo a sua mesa, e disse: "Ok. Venha comigo." Ele saiu pela porta dos fundos da casa e andou até o final da calçada. Ele parou um pouco, virou-se para mim e disse: "Tudo bem, me espera aqui." Srila Prabhupada andou mais uns 20 metros para dentro da floresta. Depois de alguns minutos ele voltou para onde eu estava lhe esperando, de acordo com suas instruções. Ao passar por mim ele me deu a lota e disse: "Tudo bem, lave isso com terra e água." Ele então voltou para casa.
A forma como ele me tratou aquela manhã foi maravilhosa. Nada de conversa fiada, nada de ‘por favor’ ou ‘obrigado’. Ele imediatamente me deixou saber que minha posição era de simples servo, ajudando-o em tudo que ele desejasse, cuidando de suas necessidades corporais. Eu estava em puro êxtase ao saber que aquilo era meu serviço. Eu não tinha habilidade para fazer nada que precisasse de inteligência, portanto, para mim, esse era o serviço ideal. Eu tinha recebido o serviço mais maravilhoso, cuidando do corpo transcendental do servo de Deus.
Esse foi o primeiro dia de minha vida. Pela primeira vez  pude entender para que serviam meu corpo e mente. Infelizmente, devido à inquietude juvenil e inabilidade em seguir o processo de Consciência de Krishna com sinceridade, eu perdi esse serviço após breves e poucos anos. Agora, com muito arrependimento, estou implorando ao Supremo Senhor Krishna para dar a esse tolo uma outra chance de servir meu pai espiritual.
Srila Prabhupada, sem você, me sinto perdido e só. Eu não sei o que fazer de mim. É muito doloroso. Quando não penso em você, meu amado mestre espiritual, não tenho razão para viver. Quando me lembro de você, Srila Prabhupada, sinto muita dor em saber que desperdicei minha vida em inútil gratificação dos sentidos. Srila Prabhupada, eu poderia estar com você, limpando sua lota.

Srila Prabhupada Uvaca 90
Janeiro de 1973; Bombaim, Índia;
Apartamento de Mahadevia
 
Srila Prabhupada falou todas as tardes durante uma semana, como parte do programa de pandal organizado pelos devotos. Milhares de pessoas estavam presentes. Num grande palco com um metro e meio de altura estavam deidades de Radha Krishna. Depois do programa de pandal elas foram instaladas no Bhaktivedanta Manor. Srila Prabhupada ficava sentado em seu Vyasasana no palco com seus discípulos a seus pés.
Foi um final de semana muito agitado. Certa tarde um fogo elétrico começou atrás do altar das deidades. O fogo se espalhou rapidamente, mas felizmente foi apagado imediatamente. Mais devotos chegavam todos os  dias e, assim, até o final, dezenas de discípulos de Srila Prabhupada estavam presentes. Nós, ocidentais, não conseguíamos compreender as palestras, já que eram todas em Hindi, mas era evidente pelas multidões entusiásticas que Srila Prabhupada estava causando um impacto em todos.
O último dia foi especialmente maravilhoso. Depois de Srila Prabhupada acabar a sua palestra, ele deu um sinal com a cabeça  e disse: "Tudo bem, teremos kirtan." Acyutananda Swami, sentado próximo ao microfone com uma mrdunga em mãos, começou a liderar o canto. Dentro de poucos minutos Srila Prabhupada desceu de seu Vyasasana e iniciou a circumambular as deidades. Ele deu uma volta e se curvou diante de Sri Sri Radha Krishna. Os outros devotos já começaram a seguir Sua Divina Graça quando ele deu a segunda volta, novamente se curvando diante das deidades. O kirtan estava ficando cada vez mais extático a cada segundo. Todos acompanhavam os movimentos de Srila Prabhupada, saboreando o néctar de seu êxtase.
Majestosamente ele andou em volta das deidades mais uma vez, completando a terceira volta. Ele novamente se curvou diante do Supremo Senhor e sua potência de prazer, virando sua cabeça para a multidão. Ao virar ele levantou seus braços para o alto. Ele nos abençoou com o maior sorriso que já tinha visto. Dançando, pulando para cima e para baixo ao som do kirtan, ele nos elevou imediatamente ao reino transcendental. Era incrível como Srila Prabhupada nos controlava com o movimento de seus braços. Ao levantá-los ele nos pegava e nos depositava no mundo espiritual. A multidão de milhares estava absorta no êxtase. O kirtan foi algo de outro mundo.
O dançar de dezenas de devotos na plataforma ficou tão animado que o palco começou a tremer. As deidades começaram a balançar para frente e para trás no altar, como se Eles estivessem acompanhando Seu devoto puro em seu êxtase. Eu e outro devoto fomos atrás do altar e seguramos as deidades pelas Suas bases. Srila Prabhupada compreendeu a situação e parou de dançar. Depois de terminado o kirtan, Srila Prabhupada e eu entramos no Ambassador, e fomos em direção ao apartamento de Mahadevia, onde Srila Prabhupada estava ficando. Com um sorriso transcendental ele disse: "Então, o pandal foi bom?" Ainda imerso na onda de êxtase pela misericórdia do meu mestre espiritual, eu disse: "Prabhupada, foi realmente maravilhoso. Quando você dança, todos imediatamente entram em êxtase." Ele respondeu: "Sim! Na verdade, poderia ter continuado, mas eu vi que as Deidades estavam em perigo, portanto parei. Caso contrário, eu teria continuado a dançar."
Srila Prabhupada, obrigado por me dar à oportunidade de testemunhar a sua potência espiritual.
Foi evidente pela conversa que tivemos no carro que você tinha grande prazer em distribuir sua misericórdia a todos lá presentes. Eu sabia que era a entidade viva mais afortunada do mundo por poder sentar a seu lado no carro. Por favor, eleve seus braços acima de mim para que eu possa dançar de acordo com seu desejo.

Srila Prabhupada Uvaca 91
Vinte de fevereiro de 1973; Auckland, Nova Zelândia;
ISKCON Nova Zelândia
Antes de Srila Prabhupada chegar ao templo da Nova Zelândia, Siddha Swarupa e Tusta Krishna Maharaj retiraram os devotos do templo para que Srila Prabhupada pudesse ter uma estadia tranqüila. Era um arranjo interessante, e um tanto fora do comum, mas permitiu com que Srila Prabhupada tivesse a chance de relaxar.
Essa noite, Srila Prabhupada pediu que eu preparasse puris e subji. Enquanto preparava sua refeição, me dei conta que não havia nenhum doce de leite para por em seu prato. Aqui não tinha adoração à deidade, portanto não pude pegar maha prasadam para seu prato. Eu não tive tempo de preparar sandesh, já que tínhamos chegado apenas há um dia. Levei o puris, subji, e leite quente para o quarto de Srila Prabhupada e coloquei-os em sua mesa, e prestei-lhe reverências. Siddha Swarupa e Tusta Krishna Maharaja estavam ambos presentes no quarto conversando com Srila Prabhupada quando entrei. Isso era uma grande benção, pois era algo que Srila Prabhupada raramente fazia. Ele normalmente honrava prasadam em particular.
Sai do quarto e voltei para cozinha para enrolar e fritar mais alguns puris. Corri de volta para meu mestre espiritual com dois puris frescos, colocando-os em seu prato, antes de prestar minhas humildes reverências. Srila Prabhupada olhou para mim inquisitivamente e perguntou: "Não têm doces?" Respondi: "Não, Prabhupada. Não preparei nenhum ainda." Srila Prabhupada, misericordiosamente compreendendo minha situação, então disse: "Oh, tudo bem. Então me traga um pouco de açúcar." Voltei para cozinha e enchi uma cumbuca com açúcar branco. Voltei para seu quarto e coloquei-a em sua mesa. Ele pegou um puri e enfiou-o na cumbuca e deu uma mordida. Ele repetiu várias vezes. Dava para ouvir o barulho do açúcar sendo esmagado enquanto ele alegremente mastigava. Ele parou alguns instantes e cantou: "luci cini sarpuri laddu rasabali" e continuou dizendo: "Essa é uma combinação muito gostosa. É muito saboroso."
Os dois sannyasis ficaram boquiabertos vendo ele comer essa ‘combinação muito saborosa’. Ah sim, eu esqueci de mencionar que nenhum dos dois Maharajas comiam qualquer coisa que continha açúcar, o que dizer de comer a terrível substância diretamente em sua forma ‘impura’. Era apenas mais uma das qualidades maravilhosas de Srila Prabhupada. Ele parecia sempre saber fazer exatamente aquilo que surpreendia e chocava mais seus discípulos, dando-lhe a oportunidade de entender sua elevada posição transcendental.
Certa vez, quando estávamos em Nova Dwarka, ele fez uma visita de um dia ao sul, para o templo em Laguna Beach. Era apenas uma viagem de duas horas de carro. À noite ele pediu um pouco de leite quente. Nesse templo tinha adoração a Deidade, mas eu não pude achar açúcar na cozinha do templo, então adocei com mel. Às vezes Srila Prabhupada pedia para ter seu leite adoçado com mel, mas nessa noite, quando levei o leite, ele provou-o e imediatamente quis saber, "Por que não foi adoçado com açúcar?" Eu lhe disse: "Eles não têm açúcar no templo." Ele respondeu irado: "Como pode ser isso?" Eu expliquei: "Alguns devotos acham que açúcar branco não é saudável e que é melhor evitá-lo." Ele disse: "Tudo bem. Se eles não quiserem comer açúcar, eles não precisam, mas Krishna gosta muito de açúcar. Isso é tolice. Eles tem que usar açúcar ao fazer as preparações das Deidades."
Srila Prabhupada, você é incrível. Não importa onde estivesse, você rapidamente eliminava toda a tolice criativa que seus discípulos inventavam. Você não precisava de uma rede de espiões para lhe dizer o que estava acontecendo. Krishna era seu espião e ele lhe dava toda informação necessária para que você pudesse estabelecer o curso correto para suas crianças imprudentes. Eu saboreei as várias oportunidades que vi você exibir suas habilidades psíquicas, às vezes de forma bem humorada, outras com seriedade. Freqüentemente os devotos lhe perguntavam se você tinha desenvolvido poderes místicos. Eu os vi constantemente, lendo a mente de seus discípulos e lidando com eles de acordo. Sou grato pelas muitas vezes que pude presenciar esse tipo de acontecimento. Por favor, Srila Prabhupada, dê-me sua associação sempre, residindo em meu coração. Você sabe que não tenho qualquer qualificação, mas eu sei como você é misericordioso. Afinal, permitiu que eu associasse com você.

Srila Prabhupada Uvaca 92
Junho de 1973; Mayapura, Índia;
ISKCON, Mayapura Candrodaya Mandir
Em Mayapur, Srila Prabhupada morava em dois quartos. Um quarto era sua sala de estar, onde ele traduzia e recebia  os convidados. Ao lado ficava seu quarto de dormir, onde ele também honrava prasadam e por isso tinha uma pequena mesa de mármore (choki) encostada na parede, à direita de sua cama.
Junho, em geral, era uma época quente, portanto, quando Srila Prabhupada almoçava, eu às vezes o abanava com um abanador de penas de pavão. Não só criava uma brisa, mas afastava as moscas também. Porém, quando Srila Prabhupada almoçava, a população de formigas ficava imediatamente ciente do fato. Eles sempre tinham patrulheiros correndo pelas paredes e dentro de poucos minutos após colocar seu prato na mesa, ele chegavam em seus batalhões. Certa vez, em Los Angeles, Srila Prabhupada me disse para colocar turmeric nos pontos onde elas entravam. Deu certo em Los Angeles. Creio que aquelas formigas eram mais materialistas. As formigas de Mayapur não podiam ser impedidas. Obviamente, eram entidades espirituais e não podiam ser dissuadidas de pegar as sobras maha prasadam do prato de um devoto puro.
Eu assistia as centenas de formigas subirem o choki, rodear o seu prato e finalmente atacar sua prasadam. Elas pareciam saber exatamente quando eram permitidas certas preparações. Srila Prabhupada comia por partes. Primeiro eram os chapatis e verduras, depois o arroz era misturado e finalmente ele comia os doces. Inicialmente elas se agrupavam em volta do prato. Gradualmente elas chegavam até as preparações que Srila Prabhupada já havia terminado. Parece que as formigas tinham uma certa educação. Finalmente Srila Prabhupada terminava sua refeição comendo alguns doces e  levantava para se lavar. Para as formigas, o momento esperado tinha chegado. Elas sabiam que agora era a hora de atacar os doces. Incrivelmente, Srila Prabhupada nunca fez qualquer comentário sobre esse ataque diário a seu almoço.
Isso não era algo anormal. Acontecia com grande regularidade. Parece que tinha um acordo entre o devoto puro e os pequenos insetos. Ele podia levar o tempo que quisesse para comer, e elas podiam comer tudo que ele já não queria mais. Eu tentava pegar os pratos o mais rápido possível depois que ele tinha terminado, para ver se sobrava algo para seus discípulos. Com Prabhupada disse em Calcutá: "Tudo bem, elas não comem muito."
Certo dia enquanto o abanava durante o almoço, Srila Prabhupada começou a rir. Ele disse: "Esse é o costume védico. A mulher abana o marido enquanto ele come. Depois que ele acabou, ela come tudo que sobrou." Rindo, ele disse: "Dessa forma ela sempre fazia bastante prasadam. Caso contrário, poderia ficar sem comer. Mas, isso era estritamente o costume." Ainda sorrindo ele continuou: "Na verdade, na cultura védica esse era o papel da mulher. Elas serviam de duas maneiras, uma era cozinhando boas comidas e o outro era providenciando uma boa vida sexual. Essa é a essência da vida material. É claro a diferença está na Consciência de Krishna. Nós enfatizamos castidade, ser casto."
Abanando Srila Prabhupada, silenciosamente, enquanto ele comia, fiquei todo envergonhado. Esse assunto era uma fonte de grande atração e aversão da minha parte, devido a meu fascínio pelo sexo oposto e meu constante esforço de controlar meus sentidos. Fquei lá, tentando compreender o conhecimento que ele estava me passando. Fiquei mudo, sem coragem de dizer nada, inteiramente apegado à vida material.
Srila Prabhupada era completamente transcendental. Só ele poderia ficar sentado e comer com legiões de insetos se preparando para atacar seus restos. Só ele poderia falar sobre o prazer do sexo sem reservas, porque ele não tinha qualquer atração à vida material. Sendo um devoto puro todo compassivo, ele era capaz de entender nossa situação caída, pacientemente nos libertar e nos dar a oportunidade de realizar serviço devocional.

Srila Prabhupada Uvaca 93
Agosto de 1973; Vrindaban, Índia
Krishna Balarama Mandir
Seria normal imaginar que estar em Vrindaban com Srila Prabhupada seria uma experiência extática, mas esse período de sete semanas foi muito difícil. Srila Prabhupada está extremamente doente, portanto estávamos todos em grande ansiedade, pois parecia que ele poderia nos deixar a qualquer instante. Ele praticamente não estava comendo fazia muito tempo e, conseqüentemente, estava muito fraco.
Certa manhã ele me chamou para seu quarto. Estava sentado em sua cama. Quando entrei ele disse, com voz fraca: "Você pode me fazer um pouco de upma, como eu lhe mostrei." Parecia um pedido estranho, uma vez que não estava comendo. Era difícil também para eu entender por que ele queria que eu fizesse, quando Yamuna devi, estava disponível e obviamente mais bem qualificada do que eu para cozinhar para ele. Fui para a cozinha, falei para ela do pedido, e perguntei–lhe se tínhamos legumes disponíveis. Infelizmente, não tinha legumes frescos na cozinha, mas ela tinha ervilhas secas. Para não  demorar, fiz a upma usando as ervilhas secas, depois de hidratá-las.Fiz isso o mais rápido possível. Estávamos todos animados pelo fato dele ter solicitado uma preparação cozida, porque até então só estava comendo laranja fatiada.
Pensando mais a respeito, me lembrei que no passado ele pedia para eu preparar seus pratos favoritos com a intenção de aumentar seu apetite. Ele pessoalmente me ensinava a fazer um prato e, se eu conseguisse recriá-lo bem, ele o pedia todos os dias, durante uma semana. Portanto, ele deve ter pensado na upma que me ensinou a fazer. Lembrei-me dele me ensinando a fazer couve-flor com batata e coalhada na Bhaktivedanta Manor. Em Nova Dwarka certa vez, ele entrou nos meus aposentos, pediu para eu pegar um repolho e batatas. Ele me ensinou a cortar o repolho bem fino, grelhando-o no wok com batatas cortadas em cubos, criando assim um delicioso subji de batata e repolho. Eu me sentia afortunado por ele ter pedido que eu o servisse.
Estávamos todos muito animados pelo fato de Srila Prabhupada estar pedindo algo que ele gostava de comer. Eu lhe trouxe um prato com katori recheado de upma para seu quarto. Coloquei-o na choki, e coloquei a pequena mesa na cama, em frente dele. Prestei reverências e sai do quarto, voltando para cozinha. Eu me sentei, aguardando ansiosamente junto com outros devotos, na esperança que Srila Prabhupada gostasse da oferenda e a comesse toda. Passado uns cinco minutos, Srila Prabhupada tocou seu sino. Corri de volta para seu quarto, vendo que mal tinha comido a upma. Eu prestei reverências, olhei para cima, e vi meu glorioso mestre espiritual, que me disse com um olhar carinhoso: "Essa upma estava de primeira. Eu não pude comer muito porque estou sem apetite, mas eu quero que você saiba que estava muito bom. Pensei que se você preparasse algo que gosto eu conseguiria comer, mas não foi possível. Comi um pouquinho e estava muito gostoso." Eu não podia acreditar o que estava ouvindo. Muito grato, eu respondi: "Obrigado, Srila Prabhupada." Peguei o prato com o choki e me retirei.
Srila Prabhupada, fico sempre maravilhado pela maneira carinhosa com a qual lidava comigo. Milhares de devotos por volta de todo planeta estavam realizando kirtan, rezando para o Supremo Senhor que o deixasse ficar conosco. Mesmo assim, você se deu o trabalho de garantir que seu baixo servo não ficasse magoado em razão de não ter comido a upma. Mesmo doente você me estimulava. Você sempre é completamente transcendental, pensando nos outros. Não importando como se sentia pessoalmente. Espero poder um dia ter uma fração de carinho por você que você teve por mim. Eu queria agradá-lo naquele dia e, sabendo, você me retribui enchendo meu coração de alegria. Por favor, perdoe-me por ser tão carente.

Srila Prabhupada Uvaca 94
Setembro de 1974; Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama Mandir
Durante esse período em que Srila Prabhupada estava doente, havia muita atividade em progresso. Seus aposentos estavam na fase final de construção e outros projetos estavam se completando ao redor. O templo e a casa de hóspedes estavam sendo construídos e, com isso, tinha muito barulho das obras. Srila Prabhupada estava comendo tão pouco há tanto tempo, que estava muito fraco. Quando precisava ir de um quarto para outro, um ou dois devotos o ajudavam.
A verão estava extremamente quente, portanto montamos sua cama na varanda de trás, onde era muito mais fresco do que em seu quarto. À tarde ele descansava do lado de fora, apesar das obras estarem em andamento na varanda e no jardim. Quando chegava a hora de dormir à noite, eu entrava debaixo da rede de mosquitos com ele e dava-lhe uma massagem nas pernas. Depois da massagem, eu colocava uma esteira de palha debaixo de sua cama, onde dormia. Passei todas as noites dormindo diretamente embaixo da cama  de Sua Divina Graça. Assim, se ele precisasse de algo, eu estaria disponível imediatamente.
Essa era a primeira vez que dormi diretamente ao lado de Srila Prabhupada. Ele queria que ficasse perto para poder ajudá-lo a andar quando se levantasse. Era uma situação muito grave. Eu me sentia como um cão fiel, dormindo no chão ao seu lado, esperando a oportunidade de servi-lo. Considerava isso como sendo minha posição.
Certa noite, por volta de 1:00 da manhã, acordei com o barulho de uma bengala caindo próximo de minha cabeça no piso de tijolos. Quando abri meus olhos vi meu amado mestre espiritual caído no chão ao meu lado. Horrorizado, imediatamente peguei os braços de meu Gurudeva e o levantei de volta para a cama. O barulho que tinha ouvido era de Srila Prabhupada caindo no chão, depois de tentar andar sem ajuda. No mesmo instante, eu estava completamente acordado e assustado. Confuso, eu disse: "Srila Prabhupada, o que você estava fazendo? Por que não me chamou?" Ele respondeu com a voz fraca, se desculpando: "Oh, eu precisava ir no banheiro. Pensei que não precisaria de ajuda e não quis incomodá-lo porque estava dormindo."
Eu sabia que Srila Prabhupada era muito humilde, mas, até para mim, isso me pegou de surpresa. Eu estava chateado que não tinha me acordado e, com respeito, lhe dei uma bronca: "Não, Srila Prabhupada, não há incômodo algum! É para isso que estou aqui. Você está muito fraco. Você devia ter me chamado." Ele disse: "Eu pensei que tinha forças o suficiente, mas vejo agora, que não tenho força alguma."
Em pé, atrás dele, eu coloquei minhas mãos em suas axilas e o ajudei a andar até o banheiro em seus aposentos, e o esperei do lado de fora. Quando terminou, eu o ajudei a andar de volta para sua cama na varanda. No dia seguinte ele não fez qualquer comentário a respeito do incidente, nem reclamou de qualquer machucado que possa ter ocorrido em razão da queda. Era mais um dia na vida de um devoto puro. Ele realmente não se afetava pelas condições de seu corpo. Ele só se preocupava com o andamento das obras no templo.
Srila Prabhupada exibia humildade em todas as circunstâncias. Às vezes ele me chamava para seu quarto e, quando entrava, ele perguntava de forma muito humilde: "Você pode me preparar algo agora?" Impressionado pelo seu tom humilde, eu respondia: "Sim, Prabhupada. Não tenho nada mais para fazer a não ser servi-lo. É por isso que estou aqui." ``As vezes, ele dizia para os devotos que estavam em seu quarto esperando pela caminhada matinal: "Podemos ir agora?" Ele era sempre digno e bem educado. Tudo que dizia, tudo que fazia, nos permitia ficar ainda mais apegados a ele.
Srila Prabhupada, não há nada que possa dizer para propriamente glorificar suas atividades. Qualquer um afortunado o suficiente para ter tido sua associação sabe que você é a personificação de todas as qualidades transcendentais. Você dá sentido à minha vida. Quando penso em você caindo enquanto dormia, fico profundamente entristecido. Eu deveria estar acordado, vigiando sua bela forma. Porém, tenho certeza que não considera isso uma falha de minha parte, devido à sua grande humildade. É essa qualidade que me mantém viciado em seus pés de lótus. Obrigado por ser meu divino e amado mestre espiritual.

Srila Prabhupada Uvaca 95
Setembro de 1974; Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama Mandir
Durante esse período de convalescença, surgiram problemas com o andamento das obras no templo. Meu ponto de vista era um tanto limitado. Eu só ouvia comentários aqui e ali, das conversas que ocorriam no quarto de Srila Prabhupada. Estavam com problemas para comprar cimento. Isso, é claro, criava grandes atrasos. Nessa época um político de Mathura conseguiu um grande carregamento de cimento para ajudar a completar o projeto e estava agora vindo visitar o templo, para ver o que tinha sido feito.
Srila Prabhupada estava determinado a fazer um programa no templo para honrar esse senhor. Isso gerou muita ansiedade para seus discípulos, que não queriam que Srila Prabhupada se esforçasse tanto. Alguns dos devotos o estavam aconselhando a não fazer isso, porque estava fraco e com febre alta. Ele disse: "Esse homem está vindo. Eu tenho que sair e falar algo."
No dia que ele chegou, ajudei Srila Prabhupada a colocar suas roupas. Depois, ele colocou tilak. Depois de alguns minutos ele estava se preparando para sair de seus aposentos e ir para o templo. Ele virou-se para mim e perguntou: "Tilak, eu já coloquei a tilak?" Eu lhe disse que sim. Ele acenou com a cabeça e disse: "Ok, vamos lá." Não dava para acreditar sua determinação. Sua febre estava muito alta, mas mesmo assim ele se concentrava em sua missão de propagar o movimento de Consciência de Krishna. Ele não levava em conta sua condição pessoal. Era uma oportunidade de glorificar o Supremo Senhor. Nós carregamos Srila Prabhupada até o templo, onde ele deu uma rápida palestra e publicamente expressou sua gratidão pela ajuda do político em ajudar a completar a construção.
Já no final do período de doença de Srila Prabhupada, eu peguei malária. Durante alguns dias fiquei de cama. Na verdade eu estava em minha esteira de palha, nos aposentos dos servos. A saúde de Srila Prabhupada estava melhorando e ele já estava andando por conta própria. Ao passar pelo meu quarto, ele me viu deitado no chão. Outros devotos estavam lá comendo prasadam. Srila Prabhupada disse: "O que ele está fazendo no chão? Ele está muito doente. Leve-o para uma cama." Ele olhou para mim, com compaixão, no momento em que eu estava no meio de um ataque de malária. Ele disse carinhosamente: "Já lhe deram algo?" Eu disse: "Não, Prabhupada." Ele virou para Palika e disse: "Faça-o um pouco de limonada quente e cuide dele."
Não me lembro se tomei alguma medicação ou não, mas sei que logo fiquei melhor. Era uma sensação incrível saber como você se preocupava tanto comigo, Srila Prabhupada. Você sempre fazia me sentir especial. Um ano atrás, num encontro na Segunda Avenida, 26, me perguntaram se você dava tratamento ‘especial’ para alguns de seus discípulos. Eu não precisei pensar muito antes de responder: "Sim! A todos eles." Se tem um serviço que posso lhe render é de tentar mostrar o tanto de amor que você tinha a todos seus seguidores e como era grato por eles lhe ajudarem em sua missão. Se pudesse compreender a extensão de seu amor por mim, eu nunca me distrairia de seus dourados pés de lótus, nem sequer por um segundo. Eu lhe imploro pela inteligência para poder entender sequer uma fração de seu amor por mim.

Srila Prabhupada Uvaca 96
Setembro de 1974; Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama Mandir
Para o alívio de todos, Srila Prabhupada começou a recuperar sua saúde. Com o melhorar de sua saúde, ele começou a passar uma hora por dia de baixo da árvore de tamal, no pátio do templo, ouvindo as palestras de seus discípulos. Ele não estava sentado com eles, mas observava de uma certa distância. Às vezes ele gostava de ouvir seus discípulos mais antigos dando palestra, às vezes eu o ouvia fazer críticas. O que era certo é que ele escutava muito atentamente. Eu me lembro das vezes quando, durante suas viagens, Srila Prabhupada pedia para um discípulo falar em sua presença. Meu coração parava, com medo de que ele faria o mesmo comigo. Fiquei feliz em saber que Srila Prabhupada estava consciente de minha falta de compreensão filosófica. Ele nunca me colocou numa situação dessas.
Certa noite, o comandante do templo estava dando uma aula. Srila Prabhupada estava sentado confortavelmente em sua cadeira e eu estava sentado a seus pés, no piso de mármore. O discípulo de Srila Prabhupada começou a falar sobre a importância de se participar dos programas no templo. Certos devotos não estavam comparecendo a todos programas, e o comandante do templo aproveitou a aula para tentar reverter essa situação. Ele começou a dar uma bronca num devoto francês que não estava indo para as aulas matinais. O palestrante disse: "Não importa se você não entende inglês. É uma vibração sonora transcendental." Ele continuou a falar de uma maneira dura. Finalmente Srila Prabhupada me disse: "Diga a ele para parar de falar agora. Ele já falou o suficiente." Eu transmiti a mensagem e o devoto parou de falar.
Alguns dias depois, a palestra do comandante do templo estava novamente seguindo o mesmo rumo. Srila Prabhupada me disse: "Essas palestras deveriam durar apenas meia hora. Do contrário ninguém vai escutar. Ele está falando demais. Diga a ele, apenas meia hora." Imediatamente fui e falei com o palestrante, transmitindo a mensagem de Srila Prabhupada. Eu não perguntei, mas me pareceu que Sua Divina Graça não estava incomodado com a duração da palestra, mas sim pelo fato dele estar fazendo tudo parecer mais um istagosti do que uma aula sobre os Sastras. Observando a opulência em renuncia de Srila Prabhupada, notava-se que Sua Divina Graça dava uma instrução particular de uma forma direta e curta. Ele nunca se repetia inutilmente ou depreciava qualquer um. Ele estava interessado em treinar seus discípulos para que eles pudessem progredir em suas vidas espirituais.
Certa noite, quando Srila Prabhupada estava sentado em sua cadeira no pátio e eu no piso de mármore ao lado de seus gloriosos pés de lótus,  pedi para melhor explicar um comentário que ele tinha feito de manhã, em sua sala. Ele tinha dito: "Quando os indianos tocam meus pés, eles estão simplesmente atrás de benções materiais. Portanto, não deixe qualquer um tocar meus pés, pois eu terei que sofrer reações pecaminosas e então ficar doente, me deixando mais fraco."
Sentado debaixo da árvore de tamal, com a palestra em andamento um pouco distante, eu disse: "Srila Prabhupada, quando seus discípulos tocam seus pés de lótus, eles estão tentando lhe mostrar respeito. Eles não estão interessados em ganhos materiais." Ele sabiamente respondeu: "Sim, isso é verdade, mas, mesmo assim, o mestre espiritual tem que sofrer ao aceitar suas reações pecaminosas." Ele ficou lá até mais tarde. Eu fiquei sentado a seu lado, feliz que ele tinha decidido permanecer mais tempo com suas crianças espirituais. Ele estava preocupado em se manter saudável e não nos deixar só.
Srila Prabhupada, meu desejo é morar no passado. Entendo que seus passatempos neste planeta são eternos e, portanto, eu posso sempre ficar com você ao me lembrar de seus lindos pés de lótus sobre o piso do pátio do Krishna Balarama Mandir. Obrigado por me deixar tocar seus pés diariamente. Perdoe-me por assim forçar as reações da minha vida pecaminosa para cima de você. Por favor, não me afaste.

 Srila Prabhupada Uvaca 97
Setembro de 1973; Vrindaban, Índia;
Krishna Balarama Mandir
Com a melhora da saúde de Srila Prabhupada, eu comecei a ficar mais consciente de meu próprio desconforto corporal. Eu não tomei os devidos cuidados aqui na Índia, e, em conseqüência disso, contraí malária, estou tendo dificuldade na digestão e desenvolvi colites. Srila Prabhupada reparou que já perdi muito peso. Meus ânimos andam baixos. Acho que em parte a razão pela minha fraqueza é o estresse de cuidar de Srila Prabhupada durante seu período doente. Eu desenvolvi uma aversão a morar na Índia depois de perder minha energia e força.
Fui até o secretário de Srila Prabhupada, Brahmananda Maharaja, e falei com ele sobre a possibilidade de eu voltar a Los Angeles para recuperar minha saúde. Eu pedi para ele falar com Srila Prabhupada. Eu estava com vergonha de falar diretamente com Sua Divina Graça, porque não conseguia aceitar bem a idéia de largar seu serviço. No meu coração eu sabia que era errado. Brahmananda Maharaja falou com Srila Prabhupada sobre meu pedido.
Mais tarde, Srila Prabhupada me chamou para seu quarto. Entrei nervoso e prestei-lhe reverências. Ele estava sentado atrás de sua mesa. Eu estava muito envergonhado, cabisbaixo, incapaz de olhar diretamente em seus olhos. Ele disse: "Então, você não está se sentindo bem?" Respondi: "Não, Srila Prabhupada. Tenho me sentido mal faz um bom tempo." Ele continuou: "Você quer voltar para Los Angeles e recuperar sua saúde." Respondi, timidamente: "Sim, Srila Prabhupada. Se você achar que não tem problema." Com sua mais doce voz, ele disse: "Sim, é claro. Você me manteve vivo mês passado. Se não fosse por você eu não estaria aqui agora. Como posso não querer que você fique saudável? Você tem feito tantas coisas. Você precisa se cuidar. Não tem problema em conseguir alguém. Tem tantas pessoas aqui na Índia. Qualquer um pode fazer seu serviço."
Eu não podia acreditar o que estava ouvindo. Sua humildade era sem limites. Eu prestei reverências e sai de seu quarto, muito emocionado. Eu estava no topo do mundo. Ouvir Srila Prabhupada dizer que eu era responsável por salvar sua vida me encheu de êxtase. Sabia que ele estava constantemente sendo protegido pelo Senhor Krishna, mas, mesmo assim, reconhecer meus serviços assim foi inegavelmente doce. Simultaneamente, eu me senti mais baixo que uma lombriga intestinal. Como poderia deixar o serviço de uma personalidade tão magnânima? Minha mente ficou girando o resto do dia.
Aquela noite, acompanhei  Srila Prabhupada ao pátio do templo, onde ele sentou de baixo da árvore de tamal. Sentado aos seus pés de lótus, comecei a pensar como era louco. Não havia melhor lugar para ficar em todo universo de que aos seus dourados pés de lótus. Finalmente, eu disse: "Srila Prabhupada, não posso ir embora. Não é a maneira certa de agir. Eu devo apenas ficar aqui e depender de Krishna." Srila Prabhupada sorriu largamente e disse: "Sim, isso é muito bom. Por ser sincero, Krishna lhe dará todas as facilidades para realizar seu serviço." Eu senti um enorme alívio ao saber que estava fazendo a coisa certa.
Fiquei na Índia com Srila Prabhupada durante mais três meses antes de largar seu serviço pessoal pela segunda vez.
Srila Prabhupada, todo dia que sento aqui e escrevo, fico triste ao pensar em todas as oportunidades que perdi ao não ter sua associação pessoal, devido a minha falta de Consciência de Krishna. Hoje, estou feliz em saber que, não importa o serviço que tenha a boa fortuna de realizar, você está transcendentalmente satisfeito, portanto que meu desejo seja sincero.

Srila Prabhupada Uvaca 98
Fevereiro de 1973; Auckland, Nova Zelândia:
ISKCON Auckland
Desde que me tornei o servo pessoal de Srila Prabhupada, sempre teve um nome que nunca trouxe um sorriso a Sua Divina Graça. Esse nome era Sr.Nair. Ele era o Kamsa da Iskcon. Ele cometeu o engano de vender um terreno em Juhu para Srila Prabhupada com uma pequena entrada. A jogada do Sr. Nair baseava-se na hipótese que Srila Prabhupada não seria capaz de completar os pagamentos e, assim, perderia a posse. Aí então, o Sr.Nair venderia o terreno de novo, como já tinha feito diversas vezes no passado. Porém, o Sr. Nair não sabia com quem estava lidando. Tão logo Srila Prabhupada conseguiu o direito de posse, ele fez seus discípulos colocarem um templo lá, instalou as deidades, e iniciou-se a adoração completa às deidades.
É uma longa história que será o tema de um livro de Giriraja Maharaja. Eu não conheço a história do projeto de Juhu. Todos estavam prontos para ceder as artimanhas do Sr. Nair, exceto Sua Divina Graça. Srila Prabhupada passou muitos dias intensamente cantando japa e andando para um lado e para o outro em seus quartos ao redor do mundo. Sua determinação ímpar era de adquirir esse terreno para as Deidades. Ele trabalhou muito para manter seus discípulos inspirados o suficiente para continuar lutando e não diminuir os esforços de aquisição. Alguns até mesmo questionavam a razão pela qual Srila Prabhupada estava tão apegado aquele terreno, a ponto de serem ofensivos.
Tudo ficou muito claro numa linda manhã, durante a massagem matinal. Eu me lembro como se tivesse acontecido ontem. Eu estava sentado no chão, atrás de Srila Prabhupada, massageando vigorosamente suas costas. Tusta Krsna e Siddha Swarupa Maharajas estavam no quarto conosco. Tusta Krsna Maharaja foi atender ao telefone. Em seguida me disse para ir atender ao telefone. Falei brevemente no telefone e voltei correndo para o quarto, com a seguinte mensagem: "Srila Prabhupada, era Bali Mardana no telefone. Ele ligou para lhe contar que o Sr. Nair morreu." Imediatamente Srila Prabhupada juntou suas mãos em prece e, com um brilhante sorriso, falou:"Oh, obrigado, Krsna!"
Confuso, sentei-me atrás de Sua Divina Graça para massagear suas costas. Eu estava surpreso com a felicidade de Srila Prabhupada, pensando que, afinal, alguém tinha morrido. Normalmente isso era uma ocasião para se lamentar e eu esperava uma reação diferente de Srila Prabhupada. Entendi que nada sabia sobre vida espiritual ou o devoto puro. Sua Divina Graça continuou: "Eu rezei para que Krsna o matasse. Ele nos causou muitas dificuldades. Eu rezava para que Krsna fizesse algo com esse demônio." Então ele citou uma sloka em sânscrito do Srimad Bhagavatam. Em seguida, a traduzindo para o inglês, disse: "Prahlada Maharaja disse: ‘Até o sadhu fica satisfeito quando uma cobra ou escorpião é morto.’ O Sr. Nair era assim como uma serpente, portanto isso é muito bom."
Ele leu minha mente e imediatamente corrigiu minhas idéias malucas. Senti um grande alívio. Agora, com sentimento apropriado, eu perguntei: "Srila Prabhupada, Krsna o matou? Isso significa que ele obteve a liberação?" Srila Prabhupada riu da minha pergunta tola e disse: "Não! Krsna não o matou pessoalmente. Isso só se aplica quando Krsna o mata pessoalmente. Ele não era um demônio tão grande. Krsna não veio pessoalmente para matá-lo."
Continuei a massageá-lo e Srila Prabhupada continuou a explicar seu apego pelo projeto, dizendo: "As Deidades foram instaladas na propriedade. O Sr. Nair estava cometendo uma grande ofensa a Krsna, que eu não podia tolerar. Ele estava insultando Krsna. Krsna estava lá e ele tentou expulsar Krsna do terreno. Nós temos dinheiro. Podíamos comprar propriedades em qualquer lugar, mas Krsna estava lá em Juhu. Portanto, estava determinado a consegui-lo para o Senhor." Depois de alguns minutos, Sua Divina Graça disse: "Eu me lembro da última vez que veio me visitar em Bombaim. Eu já sabia que Krsna matá-lo-ia. Eu reparei que ele estava mancando. Normalmente ele era um homem muito robusto, muito forte. Ele não estava doente, mas, em sua última visita, estava mancando. Foi então que soube que Krsna matá-lo-ia. De fato, Krsna o matou."
Srila Prabhupada, sua determinação em servir o Supremo Senhor é transcendental. Fica óbvio porque você foi escolhido pelo Senhor Caintanya para distribuir Suas glórias em todas as cidades e vilas. Você é inteiramente qualificado para ser adorado por todas entidades vivas neste planeta durante os próximos dez mil anos. Eu pude ver como você estava fixo em sua determinação ao longo de todas as enormes dificuldades envolvendo o projeto de Juhu. Você é inteiramente rendido a Krsna. Por favor, abençoe-me com a determinação de me render inteiramente aos seus pés de lótus.

Srila Prabhupada Uvaca 99
Julho de 1971; Nova Iorque; NY EUA
ISKCON Brooklyn
Cheguei no Templo de Nova Iorque, vindo de Nova Vrindavan, com Kirtananda Maharaja e alguns outros bhaktas para receber minha iniciação. Já mencionei meu primeiro contato com Srila Prabhupada, acidentalmente caindo em seu Vyasasana. Meu primeiro encontro formal foi no dia que Sua Divina Graça me deu iniciação de Hare Nama. Haviam dez bhaktas sendo iniciados diariamente enquanto ele ficou no Templo de Brooklyn.
Eu me lembro da cerimônia de iniciação vivamente, a partir do momento que o secretário de Srila Prabhupada chamou, "Bhakta Vin." Com dificuldade atravessei a lotada sala de templo até chegar ao Vyasasana de Srila Prabhupada e, muito nervoso, prestei minhas reverências. Srila Prabhupada perguntou: "Então, você conhece os princípios regulativos?" De alguma forma, consegui citá-los. Então ele disse: "E quantas voltas você vai cantar em suas contas?" "Dezesseis," eu disse enfaticamente. Então seu nome é Srutakirti. Isso é um nome de Krsna, que significa ‘aquele cujas atividades são mundialmente famosas’". Todos os devotos da sala berraram, "Jaya!" Srila Prabhupada continuou, "E seu nome é Srutakirti dasa." Quando ele disse isso ele colocou enorme ênfase no ‘dasa’.
Eu prestei minhas reverências e consegui voltar ao meu lugar na sala do templo. Quando sentei, alguém me perguntou que nome tinha recebido. Eu disse: "Não sei." Felizmente nós tínhamos a opção de rever nossos nomes colocados numa lista pregada na porta de Srila Prabhupada.
Novembro de 1973; Deli, Índia, ISKCON Deli
Srila Prabhupada estava palestrando aqui todas as noites no programa de pandal, perante a presença de milhares de habitantes. Depois do programa, Srila Prabhupada, voltava aos seus aposentos, protegido por seus discípulos. Em volta de Srila Prabhupada, alguns discípulos sannyasis usavam suas dandas para proteger Sua Divina Graça, mantendo afastados todos aqueles admiradores que esperavam tocar seus pés de lótus. Certa noite quando entramos em seu quarto ele sorriu e disse: "Lembro-me de quando era jovem. Eu via Mahatma Gandhi. Ele tinha muitas pessoas a sua volta, protegendo-o dos milhares de admiradores. Eu pensava: ‘Algum dia, eu quero ter isso.’ E agora eu tenho."
Srila Prabhupada, já se passaram vinte e cinco anos desde que você misericordiosamente iniciou esse patife desqualificado. Eu tenho passado a maior parte desse tempo em ilusão. Eu quero aproveitar a oportunidade de seu centenário para seguir suas ordens. Suas primeiras instruções para mim foram de cantar dezesseis voltas, seguir os quatro  princípios regulativos e me tornar servo daquele cujas atividades são mundialmente famosas. Não é possível para eu servir Krsna diretamente. Rezo para que você seja bondoso comigo e me permita servir seus pés de lótus. Suas atividades são mundialmente famosas. Rezo para passar vida após vida elogiando suas glórias mundo afora. Você é o glorioso servo do Senhor Caitanya porque você satisfez os Seus desejos e aqueles dos acaryas anteriores. Por favor, me proteja para que  não me desvie de suas instruções. Quero que você resida em meu coração para sempre, para que possa sempre degustar a doçura de sua separação. É uma emoção muito sublime e só está disponível para seus fieis seguidores.

Srila Prabhupada Uvaca 100
Cinco de  abril de 1973;
Vôo da Pan American; Londres - Nova Iorque
Uma vez que Srila Prabhupada era transcendental e completamente livre para fazer o que bem quisesse, voar com ele era uma experiência emocionante. Você nunca sabia o que esperar. Hoje não foi diferente.
Srila Prabhupada estava sentado ao lado da janela, na parte traseira do avião. Shyamasundar e eu estávamos sentados nas duas poltronas ao lado. Como de costume nesses vôos transcontinentais as aeromoças freqüentemente oferecem algo para beber para os passageiros, para não sofrerem os efeitos desidratantes do ar reciclado. Estava agora então uma aeromoça descendo o corredor com uma bandeja de bebidas em copos de plástico transparentes, oferecendo-as aos passageiros.
Ao se aproximar de nossos assentos, Srila Prabhupada perguntou: "O que é isso?" Respondi: "Oh. Isso é 7-Up, Srila Prabhupada. Você quer?" Ele disse: "Sim. Deixe-me experimentar." Naturalmente, imediatamente pedi  três copos para nós todos. Shyamasundar e eu esperamos Srila Prabhupada tomar o primeiro gole. Queríamos ter certeza que 7-Up seria prasadam. Observamos atenciosamente enquanto ele colocava o copo em sua boca de lótus. Ele bebeu um pouco, colocou o copo em sua mesa, e disse: "Ahh, isso é muito refrescante." Estando todos com muita sede, bebemos tudo em poucos minutos.
Durante o vôo tomamos 7-Up umas três ou quatro vezes. Cada vez que Srila Prabhupada bebia um pouco ele dizia: "Ahh, muito refrescante. Isso é muito bom." Em uma das vezes, a aeromoça deixou a lata na mesa, junto com os copos cheio de gelo. Srila Prabhupada pegou-a e perguntou: "Qual são os ingredientes?" Ele começou a ler: "Água, açúcar, ácido cítrico, óleo de limão e lima. Oh! Está bem. Isso é muito bom. Todos ingredientes naturais."
Srila Prabhupada era maravilhoso. Parecia que estava fazendo um anúncio do refrigerante. Ele estava muito entusiástico a respeito de sua descoberta. Animado, eu o vi aproveitar cada momento. Depois de chegar no templo um dos devotos me perguntou se havia algo que Srila Prabhupada quisesse. Eu não conseguia pensar em nada. Isso era um problema comigo. Certa vez, Srila Prabhupada disse, "Srutakirti não tem imaginação." É a pura verdade. Eu não conseguia imaginar o que o devoto poderia conseguir para meu amado Mestre Espiritual. O devoto estava determinado a oferecer alguma coisa. Finalmente eu disse: "Bem, ele gosta de 7-Up. Você poderia conseguir isso para ele." Eu o convenci de que isso era uma boa idéia. Mais tarde aquele dia o devoto trouxe uma caixa de 7-Up e eu a guardei na cozinha de Srila Prabhupada.
Devo confessar que durante os primeiros dias eu hesitei, e não ofereci nem uma a Srila Prabhupada. Eu comecei a bebe-las porque estava com medo de oferece-las. Não conseguia imaginar o momento apropriado. Lembre-se, não tenho imaginação. Finalmente, surgiu uma ocasião.
Certa noite um presidente de templo chegou de longe para ver Srila Prabhupada. Quando Sua Divina Graça estava em seu quarto conversando com esse discípulo, Srila Prabhupada tocou seu sino. Fui em direção ao quarto de Srila Prabhupada, quando o devoto me parou no corredor e disse: "Srila Prabhupada quer água." Eu disse: "Ok," mas continuei a andar em direção ao quarto de Guru Maharaja. O presidente do templo, já nervoso, repetiu em voz alta: "Srila Prabhupada quer água!" Irritado, eu tentei manter minha compostura, respondendo: "Espere, por favor, eu quero perguntar algo a Sua Divina Graça."
Aparentemente esse discípulo estava tendo uma conversa importante em particular com Srila Prabhupada e eu estava interrompendo-o. Faltando sensibilidade e imaginação eu não entendi suas necessidades naquele instante, portanto finalmente cheguei ao quarto de Srila Prabhupada, prestei reverências, e disse: "Srila Prabhupada, você gostaria de um pouco de 7-Up?" "Ah, sim!", ele respondeu com um sorriso, "Me traga um pouco de 7-Up." Eu corri de volta para cozinha e enchi uma taça de prata com 7-Up e gelo. Correndo de volta,  coloquei a taça em sua mesa e prestei reverências. Srila Prabhupada se inclinou em sua asana e começou a beber lentamente. Quando baixou a taça ele disse: "Isso é muito refrescante."
Ele se levantou e começou a andar em volta de seu quarto, degustando sua 7-Up. Fiquei no quarto, estaticamente observando meu mestre espiritual aproveitando a bebida gelada. Meu irmão espiritual ficou surpreso com aquilo tudo, ansioso para que eu fosse embora. Depois de Srila Prabhupada ter terminado seu 7-Up, peguei a taça vazia, prestei reverências, e alegremente me retirei, sentindo que tinha satisfeito meu Guru Maharaja com esse simples ato, apesar de ter inadvertidamente incomodado meu irmão espiritual.
Srila Prabhupada, sou abençoado por sua misericórdia sem causa. Obrigado pela oportunidade de testemunhar seus passatempos divertidos. Observando-o em sua lila confidencial me permitiu ver sua associação com o Senhor Supremo. Sua amável natureza quase que infantil ficava fortemente contrastada ao seu perfil de acarya como de um leão. Para dar continuidade ao movimento do Senhor Caitanya você fazia o necessário com força e determinação. Como um devoto puro do Senhor, você não tinha qualquer apego à fama e adoração da qual constantemente era alvo. É por isso que você a merece.
 
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Srila Prabhupada Uvaca 101
Abril de 1973; Nova Iorque, NY, EUA;
ISKCON, Brooklyn
Nessa época, Bali Mardan estava discutindo a hipótese de conseguir um novo lugar para o templo na cidade de Nova Iorque e convidou Srila Prabhupada para ver as possíveis localidades. O sol estava brilhando forte quando Bali Mardan, Kirtiraja, e eu entramos num pequeno Toyota juntos com Srila Prabhupada. Bali Mardan dirigiu durante um bom tempo, parando finalmente em frente a uma linda catedral.
Bali Mardan explicou a Srila Prabhupada: "Esse é o local que podíamos usar para o templo, Srila Prabhupada. Não podemos entrar porque talvez não seja uma boa idéia, eles saberem que somos Hare Krishnas. Podemos vê-la daqui." Saímos todos do carro e ficamos olhando a imensa catedral do outro lado da rua. Era um prédio muito impressionante e bonito. Felizmente as portas estavam abertas e, assim, podíamos ver o interior. Srila Prabhupada estava muito impressionado com o local. Vendo as enormes colunas de mármore ele disse: "Isso faria um belo templo da ISKCON. É lindo."
Em pé na calçada, Srila Prabhupada se virou e viu um pequeno mercado italiano. Ele perguntou a Kirtiraja: "Você acha que eles têm 7-Up?" Com um olhar muito surpreso, Kirtiraja prabhu disse: "Bem, eu posso ver se eles têm, Srila Prabhupada. Você quer uma?" Srila Prabhupada respondeu: "Sim, eu gostaria de uma 7-Up." Kirtiraja entrou na loja, voltando rapidamente com uma lata de 7-Up. Srila Prabhupada ficou lá, com uma aparência de realeza, bengala na mão, e saco de contas pendurado no pescoço, parecendo especialmente transcendental.
Kirtiraj abriu a lata e Srila Prabhupada a pegou com sua mão direita. Sua bengala estava em sua mão esquerda, plantada firmemente no concreto da calçada. Ele levantou a lata aos seus lábios de lótus, bebendo o 7-Up. Eu estava em êxtase, assistindo mais esse episódio da saga do 7-Up. Não tínhamos como conter nossos sorrisos ao ver nosso Guru Maharaja em sua simplicidade aristocrática. Ele bebeu metade da lata e disse: "Bem, agora podemos ir embora." Depois de entrarmos no carro, Srila Prabhupada passou a lata para Bali Mardan e disse: "Bebi o suficiente. Você pode beber." Nós três estávamos em êxtase, passando o maha de um para o outro, até acabarmos a lata de refrigerante. A volta ao templo foi animada e relaxada.
Tentei não espalhar a notícia, por entender que criaria um frenesi de 7-Up. Uma semana depois, quando nós chegamos em Los Angeles, era aparente que a notícia já tinha chegado na comunidade de Nova Dwarka. Karandhara disse a Srila Prabhupada que 7-Up poderia ajudar a aliviar problemas gastrointestinais, e, assim, Srila Prabhupada ocasionalmente bebia um pouco.
Certo dia ele disse: "Isso não é bom. Nós não devíamos estar bebendo tanto 7-Up. Eu o tomo para minha digestão. Caso contrário, beber 7-Up não é necessário."
Depois, quando voltamos para Índia, muitos devotos estavam avidamente bebendo refrigerantes, tendo ouvido que Srila Prabhupada tolerava esse tipo de bebida. Certo dia, ao sair de seus aposentos em Juhu, Srila Prabhupada viu ao longo da escada dezenas de garrafas de 7-Up e Limca. Desaprovando o lixo juta (contaminado) ele disse: "O que é isso? Isso não deve ser feito! Isso não é bom! Não pode ser feito!" Ele continuou a andar para o templo e não mais mencionou o caso.
Srila Prabhupada, nunca o vi fazer nada para sua gratificação dos sentidos. Acredito que você só realizou esse passatempo único para aumentar o amor por você daqueles discípulos que eram afortunados o suficiente para estar por perto. Você é sempre completamente renunciado e totalmente satisfeito ao servir o Supremo Senhor. A imagem de você naquela calçada está eternamente gravada em meu coração. Obrigado por nos ensinar a usar tudo em serviço de Krsna.

Srila Prabhupada Uvaca 102
Janeiro de 1973; Los Angeles, CA., EUA;
ISKCON Nova Dwarka
Srila Prabhupada me avisou para ficar longe da cozinha de Nova Dwarka uns dezesseis meses atrás. Agora suas palavras parecem uma profecia. Nanda Kumar demonstrou o que poderia acontecer se associando com devotas enquanto trabalhava na cozinha ao se casar e deixar o serviço pessoal de Srila Prabhupada. Infelizmente não aprendi com sua experiência e agora era minha vez de ser tomado por desejo.
Em setembro de 1972, Srila Prabhupada me instruiu a preparar suas refeições nos meus aposentos e ficar longe da cozinha do templo. Devido a ilusão, gradualmente ignorei essa instrução. A história se repete e agora estou em frente a Srila Prabhupada pedindo sua permissão para ficar aqui em Nova Dwarka e me casar. Todos meus irmãos espirituais mais velhos tentaram me convencer a ficar com Srila Prabhupada, mas já era tarde para mim. Eles também tentaram me convencer a me casar com uma outra devota, mas minha mente estava fixa em conseguir uma garota em particular.
Com a mesma facilidade com a qual me tornei servo pessoal de Srila Prabhupada, agora para servir meus sentidos, eu perdia meu tesouro mais valioso. Em poucos dias abandonei o serviço pessoal de meu Guru Maharaja. Srila Prabhupada me conhecia completamente. Ele não tentou me convencer a ficar com ele ou impedir meu casamento.
Tendo passado alguns dias, meu eternamente misericordioso mestre espiritual me chamou para entrar em seu quarto. Queimando de culpa e vergonha, lentamente fui em direção ao quarto de Sua Divina Graça. Meus sentidos estavam em parafuso. A minha parte inteligente sabia que estava colocando gratificação pessoal dos sentidos acima do serviço íntimo a meu mestre espiritual, mas minha parte luxuriosa estava perdidamente descontrolada. O tumulto estava me massacrando. Quando cheguei aos pés de lótus de Srila Prabhupada, prestei-lhe humildes reverências, um tanto desajeitado.
Ele carinhosamente me poupou mais vergonha, dizendo: "Traga minha bolsa branca." Essa bolsa branca viajava com Srila Prabhupada ao redor do mundo. Nela mantinha todos documentos importantes, documentos bancários, etc. Sai do quarto, abri seu pequeno baú de metal com tranca e retirei a bolsa.
Quando voltei, coloquei a bolsa branca em sua mesa e me sentei em sua frente. Senti-me um pouco perdido e deslocado, não o tendo servido já alguns dias, era um intruso, como se não pertencesse a esse lugar sagrado, esse núcleo da espiritualidade. Não tinha a menor idéia do que estava se passando. Sabia que estava comentando um enorme erro ao deixa-lo, mas não conseguia me impedir.
Srila Prabhupada abriu a bolsa e dela tirou dois anéis. Ele passou-os para mim e disse: "Isso é para você e sua esposa." Dizer que fiquei chocado é pouco. Eu me senti completamente caído, deixando meu Mestre Espiritual para satisfazer meus desejos, e aqui estava ele me dando presentes, expressando sua gratidão pelo serviço que tinha prestado. Não era de se estranhar em se tratar de meu amado Gurudeva. Era algo até normal. Aceitei os presentes, pois já fazia tempo que tinha aprendido que era melhor aceitar sua misericórdia quando Srila Prabhupada a dava.
Alguns dias depois ele me chamou novamente. Entrei em seu quarto e prestei –lhe reverências. Com um sorriso, ele disse: "Então Kirtananda Maharaja quer que você volte para Nova Vrindaban com sua nova esposa." Respondi: "Citsukananda prabhu pediu que eu fosse para o templo em Caracas para ajudá-lo na adoração da Deidade." Ele disse: "Kirtananda está ansioso para vê-lo de volta em Nova Vrindaban." Eu respondi: "Srila Prabhupada, realmente não tenho interesse algum em voltar." Ele sorriu e acenou com a cabeça, compreendendo minha determinação. Prestei-lhe reverências e sai do quarto. Ele mandou uma carta a Kirtananda Maharaja no dia sete de janeiro de 1974, que incluía o seguinte trecho:
"Em referência a Srutakirti, propus que ele voltasse a Nova Vrindaban, mas ele disse que não gosta de trabalho de fazenda e prefere então ir para Caracas para realizar adoração a Deidade no templo. Então eu já falei com ele, mas falarei de novo, que você gostaria que ele fosse a Nova Vrindaban, e como ele deveria trabalhar bem aí com as vacas, sob sua guia."
Srila Prabhupada não me pediu novamente; sabendo como eu era teimoso, ele não me deu outra oportunidade para cometer mais uma ofensa a seus pés de lótus. Não houve longos sermões. Ele nunca tentou me manipular de qualquer forma. Ele nunca me fez sentir culpado e demonstrou compaixão e gratidão pelo serviço que tinha realizado. A incrível misericórdia de Srila Prabhupada não pode ser igualada.
Srila Prabhupada, se um nível de pureza da pessoa é medido por sua capacidade de aceitar todas situações como sendo a misericórdia de Krsna, então é certo que você é o devoto mais puro do Senhor. Você aceitou a inconveniência que criei com graça e carinho. Por favor, perdoe-me por ter-lhe largado. Obrigado por nunca me deixar e de sempre permitir com que voltasse aos seus sempre misericordiosos e doces pés de lótus.
Seu servo desastrado, Srutakirti dasa. 

Srila Prabhupada Uvaca 103
Agosto de 1973; Paris, França;
ISKCON Paris
Quando Srila Prabhupada chegou no templo de Paris, os devotos ansiosamente o aguardavam na varanda que ficava bem acima da entrada principal. Como semideuses, eles jogavam pétalas de flores sobre Sua Divina Graça. Srila Prabhupada respondeu com um lindo sorriso, retribuindo o amor e carinho que seus discípulos exibiam.
Um dos pontos altos do tour de Srila Prabhupada pela França foi a instalação das Deidades de Radha Krsna. Os devotos estavam muito excitados pelo fato de Srila Prabhupada presidir as festividades. Sua Divina Graça observou atentamente enquanto seu editor de sânscrito, Pradyumna prabhu, preparava o sacrifício de fogo. Quando Pradyumna começou, Srila Prabhupada ocasionalmente chamava sua atenção, dizendo: "Faça assim, não assim." Os devotos estavam em êxtase assistindo Srila Prabhupada atentamente orquestrando cada detalhe da cerimônia como um maestro transcendental. O cuidado que Srila Prabhupada tinha com os detalhes era impecável. Ele queria que tudo fosse feito da melhor forma possível, de primeira classe, afinal tratava-se da instalação de Radha Krsna. Tomado por amor, Srila Prabhupada decidiu finalmente fazer tudo por conta própria.
Ele desceu do Vyasasana e assumiu o yajna de fogo. Todos os discípulos presentes ficaram cheios de alegria, ao ver seu Mestre Espiritual  preparar talentosamente a arena para o auspicioso evento. Com Srila Prabhupada se encarregando das atividades, tudo correu perfeitamente bem. As Deidades foram banhadas com Panchamrita (cinco líquidos diferentes) e depois com água, secadas e envoltas em lindas toalhas novas. Depois Sri Sri Radha Krsna foram trazidos para a sala da Deidade e vestidas de forma opulenta. Srila Prabhupada pessoalmente ofereceu o primeiro Aratrik às Deidades. Com extremo cuidado ele ofereceu cada um dos itens a Sri Sri Radha Krsna, enquanto os devotos extaticamente cantavam os Santos Nomes do Senhor e dançavam. Os olhos dos devotos acompanhavam cada movimento gracioso de Srila Prabhupada enquanto que ele extáticamente realizava o aratrik. Seus olhos, brilhando com ungüento de amor ao Supremo, estavam fixos na suas Deidades durante toda oferenda.
Três meses mais tarde em seu quarto em Vrindaban, Srila Prabhupada recebeu a mais recente edição da revista ‘De Volta ao Supremo’. Srila Prabhupada ficava sempre animado ao receber novas edições do ‘De Volta ao Supremo’. Ele entusiasticamente olhou cada página, apreciando as enormes fotos coloridas de suas Deidades de Radha Krsna, recentemente instaladas no Yatra de Paris. Seu olhar cuidadoso parou em uma foto em particular, que ele ficou examinando com especial carinho. A foto captou o momento especial em que Sua Divina Graça estava realizando o aratrik. Seu braço estava graciosamente levantado sobre cabeça, oferecendo o abanador de camara (rabo de Yak) as Deidades. Srila Prabhupada olhou para a foto com um olhar meditativo, como se tivesse entrado nela por uma fração de segundo. Em seguida, ele virou para nós com os olhos brilhando e um largo sorriso e inocentemente revelou: "Veja só! Krsna está olhando para mim e eu estou olhando para Krsna!"
Srila Prabhupada, eu não tenho a menor idéia de como seria olhar para o Supremo Senhor e ter o seu olhar de volta para mim. Fui afortunado de ter você misericordiosamente olhar para essa alma desprezível e rezo para vê-lo de novo, ao nunca perder de vista suas instruções, e, assim, seguir seus passos.

Srila Prabhupada Uvaca 104
Vinte e quatro de julho de 1974; Moundsville, WV, EUA;
ISKCON, Nova Vrindaban
No início de Janeiro, eu parti de Nova Dwarka com minha esposa e fui para Caracas, Venezuela. Foi uma experiência incrível para mim. Minha esposa e eu éramos os únicos Brahmanas iniciados no templo e cuidávamos da adoração das Deidades. Eu dei muitas aulas, que quase sempre acabavam em aulas sobre o néctar de Prabhupada. Como não falava espanhol e a maioria dos devotos lá não falavam inglês e as aulas tinham que ser traduzidas. Depois de alguns meses em Caracas, a administração do templo mudou e decidi ir embora. Voltei para Philadelphia e morei em casa durante alguns meses, enquanto trabalhava para reembolsar à minha mãe o preço das passagens aéreas. Enquanto lá, recebi uma ligação de Kuladri prabhu de Nova Vrindaban, me pedindo para voltar lá junto com minha esposa. Finalmente concordei e cheguei em Nova Vrindaban no início de julho.
Minha vida de grihastha em Nova Vrindaban foi diferente de minha vida de brahmacari lá. Tinha meu próprio quarto e não estava fazendo tanto serviço quanto fazia dois anos atrás. Ainda assim, continuava não gostando da vida de fazenda, uma vez que tinha viajado ao redor do mundo, prestando serviço devocional em templos de todos continentes.
Felizmente, chegaram boas notícias. Incrivelmente, Srila Prabhupada estava vindo passar a semana de Janmastami, dezoito a vinte e quatro de julho. Quando deixei Srila Prabhupada em dezembro de 1973, Satsvarupa Maharaja se tornou o servo pessoal de Srila Prabhupada. Satswarup Maharaja pessoalmente serviu Srila Prabhupada durante sete meses e meio, até Sua Divina Graça sair de Nova Dwarka em quinze de julho de 1974. Com isso, Srila Prabhupada chegou em Nova Vrindaban sem um servo pessoal. Brahmananda Maharaja era seu secretário. Entusiasticamente aceitei a oportunidade de cozinhar para Srila Prabhupada e massageá-lo enquanto ele ficou em Nova Vrindaban. Minha vida novamente tinha sentido.
Um dia antes de Srila Prabhupada partir de Nova Vrindaban, Brahmananda Maharaja perguntou-me se não queria reassumir minhas funções como servo de Srila Prabhupada. O problema era que Sua Divina Graça estava voltando para Índia. Era uma escolha difícil. O ponto positivo era servir Srila Prabhupada. O ponto negativo era morar na Índia durante os próximos seis meses, onde sempre tinha problemas de saúde. A outra escolha era ficar com minha esposa, grávida de seis meses. Eu ficaria trabalhando na fazenda de Nova Vrindaban. Foi uma escolha agonizante, mas imediatamente decidir ir com Srila Prabhupada. Brahmananda Maharaja perguntou a Srila Prabhupada se ele queria que eu fosse junto como seu servo pessoal. Srila Prabhupada respondeu: "Sim, tudo bem."
Srila Prabhupada nunca me perguntou o que tinha feito durante os últimos sete meses. Ele nunca me perguntou qualquer coisa a respeito de minha esposa. Ele não me disse que eu tinha finalmente tomado juízo. Ele não me disse que sentiu saudades de mim ou que foi difícil sem minha ajuda. Ele disse muito ao não me dizer nada.
A opulência da renúncia e austeridade de Srila Prabhupada era vista por sua capacidade de aceitar tudo aquilo que Krsna providenciava ou não. Se Sua Divina Graça tinha um servo ou não, não fazia diferença. Ele não pedia nada para si mesmo. Eu já ouvi Srila Prabhupada dizer que uma pessoa apegada finge não ser apegada, mas uma pessoa desapegada age com consideração e de uma forma amável. Eu vi Srila Prabhupada demonstrar isso na sua vida diariamente. Srila Prabhupada cuidava de todos nós muito carinhosamente, apesar de ser completamente desapegado.
Recomecei minhas tarefas como servo pessoal de Srila Prabhupada como se nunca tivesse parado. Ele é meu mestre e eu sou seu servo. É uma relação eternamente doce. Consegui entender que Srila Prabhupada me permitiu realizar serviço devocional pela sua misericórdia sem causa. Minha única qualificação era o desejo de servir. Rezo para continuar lhe servindo como se nunca tivesse ido embora, apesar de ser sempre caído. Srila Prabhupada, você é uma personalidade que ama incondicionalmente. É por isso que o Senhor Caitanya o escolheu para distribuir o Santo Nome mundo afora, sem consideração por casta, raça, cor ou sexo. Você é o avatar mais liberal de todos.

Srila Prabhupada Uvaca 105
Dezenove a vinte e quatro de fevereiro de 1973; Auckland, Nova Zelândia
ISKCON Auckland
A maioria dos devotos sabe que Siddha Swarupa tinha um relacionamento distinto e único com a Sociedade Internacional para Consciência de Krishna, ao ser o único guru que se rendeu a Srila Prabhupada, junto com um número razoável de discípulos. Naturalmente, muitos devotos da ISKCON tinham dificuldades em aceitar a distinção reservada para Siddha Swarupa, apesar de suas aparentes qualificações. Conseqüentemente, muitos membros da ISKCON não se davam muito bem com Siddha e, aparentemente, os sentimentos eram mútuos.
Porém, Siddha teve bastante associação com Srila Prabhupada e Sua Divina Graça o estimulava para continuar levando o movimento para frente. Srila Prabhupada disse a Siddha: "Trabalhe sob o comando do GBC, mas se não conseguir fazer isso, então trabalhe diretamente sob meu comando." Era claro para mim que Siddha amava Srila Prabhupada muito e Sua Divina Graça retribuía .
Certa manhã em Auckland, Siddha presenteou Srila Prabhupada com uma grande garrafa de alumínio com óleo de sândalo de Mysore, pouco antes de Srila Prabhupada aceitar sua massagem. Desejando o prazer de Sua Divina Graça, Siddha disse: "Por favor, use esse óleo de sândalo para massagear todo seu corpo." Srila Prabhupada disse: "Não, óleo de sândalo é apenas para esfriar a cabeça e óleo de mostarda é usado no resto do corpo." Não entendendo a significado ayurvédico, Siddha insistiu generosamente: "Por favor, Srila Prabhupada, só desta vez!" Siddha queria que o melhor óleo possível fosse usado para massagear Srila Prabhupada. Entendendo a determinação de Siddha em agradá-lo, Srila Prabhupada consentiu relutantemente. Naquele dia, então, usei óleo de sândalo para massagear todo corpo de Srila Prabhupada, enquanto que Siddha assistia alegremente.
Como de costume, após a massagem Srila Prabhupada tomou banho, honrou prasadam e cochilou. Depois de seu descanso ele me chamou. Corri para seu quarto e prestei-lhe reverências. Ele olhou para mim com uma cara séria e disse: "Não estou me sentindo bem. Acho que foi a massagem. O óleo de sândalo esfriou meu corpo demais."
Fiquei tomado de decepção por não ter tido o devido cuidado com meu Gurudeva. Sabia que óleo de mostarda era sempre usado no corpo dourado de Srila Prabhupada, devido às suas características térmicas. Eu compreendia o efeito positivo que o calor tinha na saúde de Sua Divina Graça. Geralmente Srila Prabhupada não deixava seus problemas de saúde interferirem no seu serviço devocional. Ele raramente ficava de cama quando não estava se sentindo bem, a não ser no caso de um problema que se prolongasse por semanas. Ele nunca tomou aspirina para dor de cabeça.
Durante um episódio de doença, as únicas mudanças no dia a dia que via em Srila Prabhupada eram com respeito à sua dieta. E se Srila Prabhupada não tivesse bem o suficiente para tomar banho, ele me pedia para massageá-lo sem óleo. Em poucas ocasiões, quando estava gripado, ele me pedia para colocar um pouco de cânfora no óleo de mostarda e esquentá-lo um pouco. Ele disse: "Continue aquecendo o óleo enquanto agüentar tocá-lo."
Era impressionante como Srila Prabhupada aceitava dificuldades para agradar seus discípulos. Ele sabia que usar óleo de sândalo lhe causava dificuldades, mas mesmo assim, só para satisfazer seu discípulo, ele o aceitou. Claramente Srila Prabhupada sofreu muitas austeridades para satisfazer seu Guru Maharaja, mas ele também estava disposto a aceitar dificuldades para o prazer de seus devotos. Ele estava sempre ansioso para nos estimular a avançar em serviço devocional, mesmo quando nós o colocamos em dificuldades.
Srila Prabhupada, rezo para que possa compreender suas instruções. Dessa forma poderei lhe servir de acordo com seus desejos, não minhas vontades. Por favor, perdoe-me por não lhe proteger. Sabia que não era uma boa idéia usar o óleo de sândalo e deveria ter explicado isso ao Siddha. Ele teria compreendido, pois seu único desejo era lhe satisfazer.

Srila Prabhupada Uvaca 106
Outubro de 1974, Mayapura, Índia;
ISKCON Candrodaya Mandir
Durante o mês de outubro (Kartik), Srila Prabhupada abençoou os devotos de Mayapur com sua associação. Era uma época do ano especialmente agradável na Índia. Srila Prabhupada e sua comitiva ficaram no Mandir, do lado mais longe da rua, no segundo andar. Tinha um grande banheiro de cada lado do prédio. Em cada banheiro tinha quatro chuveiros e quatro vasos sanitários, todos com portas.
Certo dia, ao entardecer, Srila Prabhupada estava dando um darsana em seu quarto. Eu sempre limpava o banheiro de Sua Divina Graça depois de Srila Prabhupada ter tomado seu banho. Todo um banheiro foi reservado para uso exclusivo de Sua Divina Graça durante sua visita.
Quando passei o primeiro vaso sanitário, uma enorme cobra de quase dois metros passou em frente de mim, entrando por baixo da porta. Horrorizado, sai correndo do banheiro o mais rápido possível, tremendo de medo. Não sabia que tipo de cobra que era, não quis criar uma grande confusão e interromper o darshana de Srila Prabhupada. Apesar das minhas intenções, o primeiro devoto com qual dei de cara foi Bhavananda Maharaja. Com o coração batendo forte, eu disse: "Bhavananda, Bhavananda, tem uma cobra no banheiro de Prabhupada. Passou na minha frente e não me pegou por pouco!"
Obviamente, meus planos de manter a calma e não criar um distúrbio não estava nos planos de Krishna, e assim Ele envolveu Bhavananda Maharaja no drama. Bhavananda entrou correndo no quarto de Srila Prabhupada, gesticulando dramaticamente com seus braços e disse: "OOOHHH! Prabhupada! Tem uma cobra em seu banheiro! Precisamos de ajuda! Vamos chamar Rasaparayana!" Rasaparayana era o Ksatriya do templo, grande e forte. "Vamos! Vamos chamar Rasaparayana!", berrou Bhavananda enquanto saíamos correndo do quarto de Srila Prabhupada.
Efetivamente encerramos o tranqüilo darshana. Srila Prabhupada e seus discípulos saíram do quarto e foram para grande varanda que rodeava o prédio. Alguns devotos foram até o banheiro para procurar a serpente, outros ficaram na varanda. Srila Prabhupada ficou cantando sua japa silenciosamente, andando de um lado para o outro, claramente indiferente.
Bhavananda começou a especular: "Deve ter sido colocada por alguém da Gaudiya Math, caso contrário como que um cobra iria parar no segundo andar?" Os outros concordaram, dizendo que não era possível um cobra aparecer no segundo andar sem ter sido levada. Alguns teorizaram que era um complô comunista. Como eu era um visitante ao sagrado Dhama de Mayapur, não conhecia a clima político local. Conclui que simplesmente aconteceu da cobra estar no banheiro de Srila Prabhupada.
Rasaparayana tentava achar a cobra, de faca em mãos. Ele nos informou: "Elas sempre viajam em pares, portanto se há uma, a outra estará por perto." Finalmente ele viu parte da enorme cobra saindo por detrás dos encanamentos de um dos vasos sanitários. Ele transmitiu a boa notícia aos devotos na varanda. Com grande agitação Bhavananda e os outros começaram a cantar, "Mata! Mata!" Srila Prabhupada continuava do lado de fora, tranqüilamente cantando em sua japa. Ele não deu qualquer instrução a respeito da situação. Rasaparayana partiu a cobra em dois com sua faca afiada.
Com sólida determinação ele disse: "Vamos continuar olhando. Tem que ter outra." Os devotos começaram a realizar que possivelmente as cobras tinhas subido pelo encanamento. Afinal de contas, não era um complô comunista. Vários ansiosos minutos se passaram em busca do outro intruso. Rasaparayana finalmente o viu no encanamento atrás dos vasos. Uma vez detectada, a cobra escapou pelos encanamentos, para nunca mais ser vista de novo.
Depois que todos se acalmaram, nós voltamos ao quarto de Srila Prabhupada. Ele disse: "Às vezes, essas cobras tem a missão de matar uma certa pessoa. Elas não param até conseguirem. Especialmente no final de suas vidas, às vezes, as cobras adquirem asas. Elas têm uma pessoa que tem que matar. A cobra vai matar essa pessoa e depois vai para um canto morrer." Eu me lembro de algumas vezes em Mayapura, durante as calmas e silenciosas noites, Srila Prabhupada identificava um som:"Ouça isso. É uma cobra voadora. Fazem um barulho especial." Todos devotos presentes ficavam quietos durante um tempo, esperando ouvir mais.Fiquei um pouco assustado, pensando que poderia ser o próximo.
Naquela noite, no quarto de Srila Prabhupada, eu gentilmente massageava suas pernas. O quarto estava silencioso e escuro. Ele começou a rir e disse: "Então, que devo fazer aqui se a cobra vier? Só uma cobra foi morta. Talvez a outra virá me pegar essa noite." Ele parecia se divertir ao lembrar da ansiedade de todos durante o episódio. Pude entender que ele não estava nem um pouco preocupado com a cobra. Incentivei o assunto: "Não sei Srila Prabhupada." Ele respondeu: "Bem, nós não temos medo de uma picada de cobra. Nós não nos preocupamos com isso. Tanto faz se vier ou não. Nós simplesmente cantamos Hare Krishna." Acabei de massagear meu amado mestre espiritual. Ele dormiu em paz, sua mente destemida fixa no Supremo Senhor. Ao contrário, fui para meu quarto, preocupado com o paradeiro da outra cobra.
Srila Prabhupada, você é meu herói. Você é o devoto destemido e puro do Senhor. Certa vez durante uma caminhada matinal em Mayapura, onde todos estavam discutindo as terríveis conseqüências de uma guerra nuclear, você disse: "Se uma bomba vier, nós vamos olhar para o céu e dizer: ‘Aqui vem Krsna.’" Por favor, me abençoe com uma fé inabalável em você para que não tenha mais medo nesse mundo material. Quero poder cantar os Santos Nomes enquanto a cobra voadora se prepara para administrar sua última mordida.

Srila Prabhupada Uvaca 107
Outubro de 1974; Mayapura, Índia;
ISKCON Mayapura Candrodaya Mandir
A noite chegou e com ela a escuridão, e meus irmãos espirituais ainda estavam excitados, discutindo o incidente com a cobra que ocorreu naquele dia. Todos estavam preocupados com o paradeiro e intenções da cobra que escapou, cujo companheiro tinha sido executado. Todos já tínhamos ouvido sobre a capacidade das cobras se vingarem, especialmente quando se tratava do assassino de seu cônjuge.
Finalmente sai do quarto de Srila Prabhupada e fui aos aposentos dos servos para dormir. Nitai prabhu e eu colocamos nossos colchões no chão. Estávamos preocupados com a cobra desaparecida, mas não o suficiente para chegar a perder o sono. Exaustos das agitações do dia, nós apagamos as luzes, prontos para a escuridão. O quarto não era muito grande, e com nós dois no chão não sobrava muito espaço. Isso não impediu que Pradyumna prabhu enfiasse seu colchão entre nós dois. Era sua opinião que se a cobra estivesse por aí, então ao menos ele estaria mais seguro protegido por nossos corpos. Cansados demais para reagir, Nitai e eu dormimos confortavelmente, apesar da multidão. Na manhã seguinte estávamos todos vivos e ninguém tinha sofrido uma picada de cobra.
Nossas atividades seguiram inalteradas. Naquela noite fui para o quarto de Srila Prabhupada, para lhe dar uma massagem. Eu prestei reverências e comecei a gentilmente massagear seus pés de lótus. A noite em Mayapura era sempre muito silenciosa e tranqüila. Era um lugar excelente para Srila Prabhupada se recuperar de sua recente enfermidade em Vrindaban.  Fiquei sentado lá, intoxicado pelo ambiente, vendo Srila Prabhupada como o centro do Universo. Estava completamente relaxado, como se eu estivesse recebendo e não dando a massagem. Não me contive e acabei contando ao meu mestre espiritual a respeito da noite anterior.
Falei: "Srila Prabhupada, ontem à noite quando estávamos nos preparando para dormir, Pradyumna se enfiou entre Nitai e eu para não ser mordido pela cobra." Srila Prabhupada começou a rir e disse: "Sim, isso é muito bom. De fato, me lembro de uma história que meu irmão espiritual, Damodara Maharaja, me contou. Aconteceu numa vila aqui perto. Ele disse que lá tinha uma pequena criança que tinha sido amaldiçoada por alguém a ser mordida por uma cobra. Tinham cinco membros da família e, quando dormiam, eles cercavam a criança para protegê-la de cobras em potencial. A criança dormia no meio cercado por toda família. Certa noite a cobra entrou, silenciosamente passou pelos membros da família e picou a criança, matando-a."
Srila Prabhupada continuou: Então, é assim com cobras. Se você está destinado a ser morto por uma cobra, não importa que tipo de proteção você arranja. A cobra vai lhe matar. Mas nós não nos preocupamos com tais coisas. Se Krsna quer protegê-lo ninguém pode machucá-lo e se Ele quer matá-lo, ninguém pode salvá-lo."
Continuei a massagear Srila Prabhupada até ele me instruir: "Está bom, vá descansar." Prestei-lhe reverências e sai de seu quarto me sentindo completamente seguro. Agarrados aqueles dois pés de lótus dourados, fragrantes como uma árvore de sândalo, situado no centro do universo, encontrei abrigo para todo tipo de perigo.
Srila Prabhupada, rezo para que você me deixe sempre ligado a seus destemidos pés de lótus. Esse mundo é um lugar muito perigoso, com as cobras da dúvida e tentação passando em frente da minha consciência todos dias. Você as mata facilmente. Por favor, seja misericordioso comigo, me proteja das serpentes que estão constantemente invadindo meu coração. Eu me abrigo em seus heróicos pés de lótus.

Srila Prabhupada Uvaca 108
Fevereiro de 1975; Honolulu, Havaí, EUA;
ISKCON, Nova Navadvipa
Depois de seis meses na Índia, Srila Prabhupada, voltou ao ocidente, passando pelo Havaí. Ele ficou em Oahu, em Nova Nabawip, durante uma semana. Foi uma estadia muito movimentada. Havia muita agitação nesse centro devido às diferenças entre as autoridades locais e Siddhaswarupa Ananda Goswami. Reclamavam que Siddha não aceitava a autoridade da Iskcon. As objeções foram encaminhadas ao secretário de Srila Prabhupada, Paramahamsa Swami. Ele foi a Srila Prabhupada e lhe explicou algumas das dificuldades que estavam ocorrendo. Srila Prabhupada disse: "Então, me traga Siddhaswarup e nós teremos uma reunião."
Na reunião estavam Srila Prabhupada, Siddhaswarupa Maharaja, Paramahamsa Maharaja, Nitai prabhu, o presidente do templo e eu. Foi realizada no quarto de Srila Prabhupada. A brilhante luz do sol e uma brisa gostosa entravam pelas várias janelas abertas no quarto de Srila Prabhupada, criando uma atmosfera alegre. Tinha uma janela no teto, diretamente acima da mesa de Srila Prabhupada. Srila Prabhupada sempre gostava de suas vindas à Nova Nabadwip e essa vez não foi uma exceção.
Srila Prabhupada não perdeu tempo com formalidades. Depois de todos se sentaram no chão ele virou-se para Siddha e, sem demonstrar qualquer expressão, declarou, muito objetivamente: "Então, os devotos aqui têm feito reclamações contra você." Siddha sorriu e respondeu: "E quais seriam elas, Srila Prabhupada?" Srila Prabhupada continuou: "Uma coisa - por que não raspa sua cabeça?" Siddha sorriu e respondeu: "Se raspo minha cabeça  às vezes fico resfriado." Srila Prabhupada começou a rir: "No Havaí, você fica resfriado?" Siddha disse: "Às vezes, Srila Prabhupada." Srila Prabhupada sugeriu: "Então você pode usar um chapéu. Aí não ficará resfriado. Você é um sannyasi, as pessoas estão de olho. É importante estabelecer um bom exemplo."
Srila Prabhupada continuou com outra reclamação: "Também, você não carrega sua danda?" Siddha respondeu: "Bem, eles normalmente não me deixam entrar no avião com ela, portanto fica difícil viajar com ela." Srila Prabhupada rebateu: "Nós temos muitos sannyasis, todos carregando suas dandas. Paramahamsa, ele está carregando sua danda. Ele a trouxe no avião." Siddha respondeu: "Bem, tenho tido muitos problemas tentando entrar no avião com ela."
Srila Prabhupada calmamente passou para o próximo ponto. Cada assunto era mais sério que o anterior. Srila Prabhupada disse: "Eles dizem que seus seguidores, eles não vem me ver aqui, eles só vêem você. Só escutam de você e lidam com você. Por que não vem aqui?" Siddha respondeu: "Se eles quiserem vir, eles podem." Srila Prabhupada rapidamente respondeu, dessa vez com um tom mais autoritário:"Mas esse é seu dever. Tudo bem que eles lhe adoram e gostam de muito de você, não tem problema. Mas seu dever é traze-los até mim. Você é meu discípulo. O dever do discípulo é levar os devotos até o mestre espiritual. Esse é seu dever. Sua pregação deve ser assim. Se sua pregação não os traz até esse ponto, então é inútil."
Siddha respondeu: "Dever ser uma falha minha. Minha pregação não é muito boa. Portanto, eles não estão vindo. Mas que posso fazer, se não tentar pregar a eles." Srila Prabhupada respondeu: "Bem, se sua pregação é insuficiente, então é melhor não pregar."
Ficou tudo silencioso e, de repente me senti um pouco corajoso. Para manter a conversa fluindo eu disse: "Srila Prabhupada, eu gostaria de fazer uma observação." Srila Prabhupada fez um sinal de aprovação com a cabeça e disse: "Sim, diga." Eu disse: "Por exemplo, hoje de manhã na sala do templo Siddhaswarupa Maharaja estava dando aula. Ele estava sentado ao lado de seu Vyasasana e um discípulo dele se aproximou com uma guirlanda de flores frescas e a colocou em Siddhaswarupa. Quando eu vi isso acontecer, minha mente ficou perturbada. Na minha opinião a guirlanda deveria ter sido colocada em você, uma vez que não havia uma guirlanda na sua foto no Vyasasana. Eu acho que a guirlanda deveria ter sido colocada no Vyasasana primeiro." Srila Prabhupada virou para Siddha e disse: "Ele tem razão. Está correto. Tudo bem que eles queriam colocar uma guirlanda em você, mas você deveria ter instruído-os a colocá-la em minha foto."
Srila Prabhupada encerrou a discussão sem insistir nesse ou naquele ponto. Ele tratou diretamente da questão de seguir as instruções do mestre espiritual e do relacionamento entre Guru e discípulo. Essa última observação foi o final da reunião. Todos prestamos reverências e saímos do quarto de nosso Divino guia e amado Gurudeva. No dia seguinte Siddhaswarupa Maharaja visitou Srila Prabhupada. Siddhaswarup deu US$ 10000 a Srila Prabhupada, que um de seus discípulos tinha lhe dado. Isso demonstrou sua compreensão das instruções dadas por Srila Prabhupada.
Você é o perfeito meio transparente a seu Guru Maharaja. É em nome dele que você sempre aceitou serviço. Como você foi o discípulo perfeito você é completamente qualificado como o mestre espiritual perfeito. Você transmite a devoção e adoração de seus discípulos para os pés de lótus de seu Guru Maharaja. Srila Bhaktisiddhanta Saraswati Maharaja transmiti os frutos de sua devoção aos pés de lótus de seu Guru Maharaja. E assim vai de Guru a Guru no sampradaya até os pés de lótus do Senhor Krsna. Humildemente rezo para me manter ligado a seus pés de lótus, sempre me lembrando que você é meu eterno Senhor e mestre. Exceto por sua misericórdia sem causa, minha vida não tem qualquer valor ou qualificação. Eu lhe imploro, permita-me eternamente divulgar suas glórias. Rezo para nadar no oceano de bem aventurança que está disponível para aqueles que lembrarem sua eterna lila.
Seu servo, Srutakirti dasa

Srila Prabhupada Uvaca 109
Dez de junho de 1975, Honolulu, Havaí EUA;
ISKCON, Nova Navadvipa
Srila Prabhupada fez certos comentários a respeito de se nascer na Índia outro dia. Preocupou tanto meus irmãos espirituais e eu que tive que lhe perguntar a respeito durante a caminhada matinal. Perguntei: "Srila Prabhupada, outro dia você disse que Govinda dasi lhe perguntou se teríamos que nascer na Índia antes de voltar ao lar e você disse que sim. Então estávamos nos perguntando (a essa altura os meus irmãos espirituais estavam todos rindo, sabendo como eu não gostava da Índia) como isso é possível. Porque não temos vistos muitos estritos vaisnavas lá."
Srila Prabhupada, conhecendo meu coração, respondeu compassivamente: "A terra está lá, como essa terra aqui. Tem vaisnavas lá. Essa terra não era para ter uma cultura espiritual, mas ainda sim há vaisnavas aqui. Da mesma forma, na Índia, não, há muitos vaisnavas lá. A maioria das pessoas na Índia são vaisnavas."
Ainda queríamos entender melhor, então Paramahamsa perguntou: "Então, ao nos juntar a esse movimento nós chegamos a plataforma de nascer na Índia, numa família de bons brahmanas?" Srila Prabhupada respondeu: "Não, você por ir diretamente também, se você quiser encerrar o negócio. ‘Sucinam srimatam gehe.’ Isso é uma consideração, para aqueles que falharam na execução. Mas se você se tornar bem sucedido, então irá diretamente para onde Krsna estiver. Krsna está lá em algum universo. Então, para aqueles que estão completamente liberados, eles vão para aquele universo. Da mesma forma que Krsna vem aqui, para cada um dos universos há uma Vrindavana. Então, é naquela Vrindavana que se nasce, e depois na Vrindavana original."
Ainda preocupado com a idéia de nascer na Índia, Paramahamsa continuou: "Aqueles que não conseguem seguir os princípios de consciência de Krsna, então, eles terão que ir para Índia na próxima vida?" Srila Prabhupada misericordiosamente respondeu: "Sim, ‘srimatam, srimatam sucinam.’ Então srimatam, você pode vir para cá. Srimatam significa uma família muito rica. Aqui tem muitas famílias ricas, os Ford, mas srimatam e sucinam. Então se vocês estão criando tanto brahmanas, se esse culto for permanente, então teremos muitas famílias de brahmanas aqui no ocidente também." Srila Prabhupada bondosamente satisfez nossas mentes inquietas e rapidamente mudamos o assunto.
Srila Prabhupada, perdido sem sua guia, sigo seus passos. Fico envergonhado, ao lembrar de minha mentalidade ofensiva e total falta de Consciência de Krsna. Como poderia não reconhecer vaisnavas na terra dos vaisnavas? Você gentilmente corrigiu minha atitude e pensamentos desrespeitosos sem me dar uma bronca. Você descreveu como será possível nascer nesse país se esse culto de Consciência de Krsna for permanente. Seu otimismo em nossa habilidade de nos tornarmos Conscientes de Krsna ainda nessa vida me da esperança, apesar de meu desajeitado esforço todos esses anos. Rezo para que algum dia eu possa ver todas entidades vivas como devotos, seguindo seu exemplo.

Srila Prabhupada Uvaca 110
Abril de 1975; Vrndavana, Índia;
ISKCON, Krsna Balarama Mandir
Srila Prabhupada era sempre muito bondoso com seus discípulos. Ele satisfazia nossos desejos ao distribuir artigos de roupas prasadam, que ele tinha usado, quando chegavam novas. Srila Prabhupada nunca acumulou muitos pertences, sempre distribuindo aos seus discípulos. Um item que era especialmente cobiçado era o chadar de lã cinza de Srila Prabhupada, já bastante usado. Meditando nele, eu imaginava Srila Prabhupada usando-o a bordo do Jaladutta em sua viagem transatlântica. Eu pensava como ele tinha usado-o havia muitos anos. O valor mágico do chadar aumentava cada vez que Srila Prabhupada o usava. Eu vi Sua Divina Graça usá-lo para se aquecer durante as caminhadas matinais durante muitos anos. O chadar estava com pequenas manchas de água em alguns lugares. Foi com esse chadar que Srila Prabhupada me ensinou a dobrar chadars, durante minha primeira caminhada matinal junto com ele, já como seu servo pessoal, em Dallas dois anos e meio atrás.
Em Mayapur os sannyasis juntarem seu dinheiro e compraram um lindo chadar de caxemira para Srila Prabhupada. O chadar custou vários milhares de rúpias. Era marrom com um trabalho elaborado nas bordas. Veio de uma região conhecida por sua caxemira de primeira qualidade. Acho que era chamada de lã de pashima, famosa por ser macia e fina, mas ao mesmo tempo bem quente. Diziam que um chadar inteiro poderia ser puxado através de um anel, de tão fino e leve que era a caxemira. A lã vinha da barba de um bode que vivia nos mais inclinados picos dos Himalaias. O chadar era fino e leve, mas mantinha você bem quente. Com muito orgulho os sannyasis deram o presente para Srila Prabhupada certa manhã. Um dos sannyasis já tinha decidido que quando Srila Prabhupada o aceitasse, seria ele o afortunado de ficar com o seu velho chadar.
Quando Srila Prabhupada recebeu o chadar ele sorriu e disse: "Quando era jovem eu recebia um desses todo ano. Tinha um senhor, um amigo de meu pai, que estava sempre indo e vindo de Caxemira. Ele trabalhava com isso. Todo ano eu ganhava um." Srila Prabhupada aceitou o chadar mas não ofereceu seu chadar velho para nenhum dos sannyasis presentes. Ele não usava muito o novo chadar e continuou a usar seu chadar velho durante as caminhadas matinais.
Uma semana depois Srila Prabhupada estava no Krsna Balarama Mandir. O fato que todos queriam o chadar de Srila Prabhupada só fez aumentar meu desejo de possuí-lo. Eu era um grihastha e tinha algumas centenas de rúpias no bolso. Pensei então em comprar um chadar idêntico ao de Srila Prabhupada. Tinha certeza de que se eu desse a Sua Divina Graça uma réplica exata daquele chadar, porém novo, ele imediatamente me daria seu velho e abençoado chadar. Fiz arranjos para que um devoto fosse até Deli e me comprasse um, já que nunca largava meu posto. Ele voltou com um chadar novo, cinza, da marca Lohi. Paguei 150 rúpias, o que equivalia a US$7 na época.
Prabhupada com Seu Chadar
Srila Prabhupada com seu chadar de lã cinza
Na tarde seguinte, ciente de minha motivação egoísta, entrei no quarto de Srila Prabhupada, acanhado, com meu presente condicional debaixo dos braços, e prestei-lhe reverências. Meu Guru Maharaja estava sentado tranqüilamente atrás de sua mesa, efulgente como sempre. Eu disse: "Srila Prabhupada, acabei de comprar esse chadar para mim mesmo, mas, como ele está novo, achei que você deveria ficar com ele. Seu chadar é muito velho." Srila Prabhupada, como sempre, conhecia bem minha mentalidade infantil. Ele olhou diretamente para mim e perguntou: "Você precisa de um chadar?" Respondi: "Bem, sim, preciso." Ele disse: "Então, pode ficar com ele. Não tem problema."
Srila Prabhupada estava dificultando as coisas para mim e não me deixou enganá-lo. Já bem embaraçado, insisti: "Mas Srila Prabhupada, realmente ficaria feliz se você aceitasse esse chadar novo. Seria melhor para mim se você o aceitasse. Você é meu mestre espiritual." Srila Prabhupada, se divertindo com minha difícil situação, respondeu timidamente: "Não, tudo bem. Já basta o meu. Não preciso de um novo." Pude entender que ele não iria permitir nem sequer um pingo de duplicidade da minha parte. Srila Prabhupada, conhecendo meu coração, estava brincando comigo. Eu me rendi, finalmente falando a verdade, confessei: "Na verdade, Srila Prabhupada, prefiro muito mais ficar com seu chadar do que esse chadar novo. O seu é prasadam. Eu quero o seu."
Com grande prazer Srila sorriu largamente e disse: "Ok, então pode pegar o meu. Aceitarei esse chadar novo." Coloquei o chadar novo em sua mesa e prestei-lhe reverências. A verdade realmente nos libera. Aliviado, fui até a estante. Em êxtase,  peguei o velho chadar de Sua Divina Graça e flutuei triunfante de volta ao meu quarto.
Srila Prabhupada, ainda tenho seu chadar. Certa vez você me instruiu: "Quando o mestre espiritual deixa esse planeta, toda sua parafernália é adorável. Até então, tudo do mestre espiritual pode ser usado por seu discípulo, exceto seus sapatos." Seu chadar está sendo usado em seu murti. Na nossa sala de templo da família está sua forma, em tamanho real. Quando chega o inverno, você a usa, como fez durante tantos anos, viajando pelo mundo. Quando a vejo em você, me lembro de toda sua generosidade para comigo, em troca de meu insignificante serviço realizado por tão pouco tempo. Quando usava aquele chadar, sabia que maya não podia me tocar. Sua misericórdia me protege. Agora, sei que devo usar suas instruções como um chadar protetor, cantando dezesseis voltas e seguindo os quatro princípios reguladores. Eu quero sempre estar com você e rezo para poder eternamente servir suas instruções.

Srila Prabhupada Uvaca 111
Abril de 1975; Vrndavana, Índia;
ISKCON Krsna Balarama Mandir
Esse período de duas semanas no Krsna Balarama Mandir foi extremamente corrido, devido às preparações finais para abertura do templo. Srila Prabhupada andava diariamente pelo templo, aconselhando Surabhi Maharaja, os arquitetos e engenheiros, sobre alterações necessárias. Os aposentos de Srila Prabhupada também estavam sendo terminados, apesar de já estarem bastante habitáveis. Com a aproximação do glorioso dia, Surabhi Maharaja estava aparentemente dormindo muito pouco. Ele estava constantemente correndo atrás e supervisando centenas de carpinteiros e pedreiros que trabalhavam na obra.
Certo dia Srila Prabhupada me chamou. Entrei em seu quarto e prestei-lhe reverências. Ele estava chateado. Ele disse: "Eles colocaram um assento de plástico no vaso sanitário do meu banheiro e ele já quebrou. Chame Surabhi."Sai pela propriedade atrás de Surabhi, descrevendo-lhe a situação. Juntos nós corremos de volta para o quarto de Srila Prabhupada. Nós entramos e prestamos reverências. Srila Prabhupada olhou para Surabhi e disse: "O assento do vaso sanitário já quebrou. Eu preciso de um assento novo, caso contrário como poderei me sentar? Sou um homem velho, eu preciso sentar." Surabhi respondeu: "Sim, Srila Prabhupada. Eu cuidarei disso."
Dois dias tinham se passado e nada tinha sido feito a respeito do banheiro de Srila Prabhupada. Srila Prabhupada me chamou e disse: "Onde está meu assento. Chame Surabhi." De novo, sai atrás, encontrei Surabhi e voltamos para o quarto de Srila Prabhupada, prestando reverências ao entrar. Srila Prabhupada perguntou impacientemente: "Onde está meu assento para o vaso sanitário?" Surabhi respondeu: "Srila Prabhupada, eles estão procurando por um na cidade hoje. Eles não conseguiram achar um em Vrndavana, portanto foram procurar em Mathura." Srila Prabhupada respondeu: "Não! Eu não quero um assento desses de plástico. Eles são mal feitos e vão quebrar novamente. Mande um dos carpinteiros esculpir um de madeira. Eu o quero hoje." Surabhi chamou um dos trabalhadores e explicou: "Guru Maharaja quer um assento esculpido de madeira. Faça uma assento muito bem feito." O carpinteiro Brijbasi estava muito feliz com a oportunidade de realizar um serviço pessoal para um devoto puro de Krsna.
Naturalmente, as coisas não se desenrolaram como planejadas. Surabhi estava extremamente ocupado e não teve tempo para supervisar o trabalho sendo feito no importante assento. Os mistris eram muito profissionais, mas incrivelmente lentos, pois tudo era feito com as ferramentas mais simples. Naquela tarde Srila Prabhupada me chamou e perguntou: "Onde está meu assento? "Respondi: "Vou descobrir, Srila Prabhupada." Sai do quarto bem depressa, não querendo que sua irritação sobrasse para mim. Dentro de poucos minutos estávamos no quarto de Sua Divina Graça, prestando reverências. Surabhi disse: "Desculpe-me, Srila Prabhupada. Não consigo acompanhar o trabalho de todos. Eu lhe disse para já ter isso pronto. Achei que já estaria instalado." Srila Prabhupada disse: ‘Eu quero esse assento agora. Tem que estar aqui. Tem que estar pronto." Nós dois prestamos reverências e rapidamente nos retiramos do quarto. Estressado, meu falso ego silenciosamente tentava se desculpar por não conseguir satisfazer as exigências transcendentais de Sua Divina Graça.
Nós corremos até o mistri e Surabhi disse, já em voz alta: "Você tem que acabar esse assento ou está despedido. Você tem que terminá-lo imediatamente." Eu fiquei impressionado com a simplicidade das ferramentas utilizadas para esculpir o assento de um pedaço de madeira. Despreocupado o homem calmamente perguntou a Surabhi: "Guru Maharaja via querer desenhos esculpidos no assento?" Surabhi virou os olhos e disse: "Só termine o trabalho. Agora!" Finalmente o mistri levou o assento ao quarto de Srila Prabhupada e prestou reverências. Ele entrou no banheiro e corretamente instalou o assento no vaso. O mistri estava muito feliz de ter a oportunidade de entrar no quarto santificado de Srila Prabhupada.
O mistri compreendia que era afortunado por poder realizar um serviço importante para o Guru. Srila Prabhupada nos lembrava que não importa qual grandioso serviço que aparentemente estamos fazendo, nosso objetivo mesmo é servir o Guru Maharaja. Nós poderemos receber a oportunidade de realizar um grande projeto, mas nossa posição é de servo. Ficando humildes, nós nos garantimos o serviço contínuo e eterno ao nosso amado mestre espiritual.
Depois que todos saíram, Srila Prabhupada disse: "Esfregue um pouco de óleo de mostarda no assento, até não absorver mais."Alegremente acatei suas instruções, aliviado com a iminente conclusão do incidente. Depois de passar o óleo no assento, informei a Srila Prabhupada que seu banheiro estava pronto para ser usado. Mais tarde, Srila Prabhupada entrou no banheiro e, quando saiu, acenou com a cabeça e disse: "Está bom."
Srila Prabhupada mantinha um padrão muito estrito de Consciência de Krsna em Vraj Dhama. Ele esperava que seus discípulos residentes mantivessem os padrões, vivendo vidas exemplares. Isso era aparente em todos aspectos da vida no Krsna Balarama Mandir. Sendo inferiores, nós tínhamos dificuldade em entender a importância dessa visão superior. Portanto, Sua Divina Graça nunca recomendava viver em Vrindavan de forma ordinária ou mundana. Se um devoto não pudesse manter os mais elevados padrões de Consciência de Krsna, então ele não deveria estar morando em Vraj Dhama. Srila Prabhupada supervisionava nossas práticas devocionais atentamente, já que a vida era como o fio da navalha aqui nesse mais sagrado Dhama.
Eu ficava impressionado com Surabhi. Diariamente Srila Prabhupada o chamava para seu quarto e dava lhe uma bronca sobre diferentes aspectos da construção. Com a abertura do templo se aproximando, a pressão sobre Surabhi era enorme. Srila Prabhupada queria que tudo fosse feito perfeitamente, e era o serviço de Surabhi garantir que os desejos de Sua Divina Graça fossem satisfeitos. Certo dia, enquanto andava, Srila Prabhupada olhou para os quartos das Deidades e disse: "Por que ainda não colocaram as portas?" Surabhi respondeu: "Estou tentando Srila Prabhupada, mas tem muita coisa para fazer. É difícil." Srila Prabhupada respondeu: "Isso não importa, você tem que conseguir. Esses homens estão todos lhe enganando. Não os deixe lhe enganar. Você tem que ficar em cima de tudo, para ter certeza que tudo será feito."
Isso continuou durante uma semana, com Srila Prabhupada perguntando a Surabhi: "Por que não colocaram as portas das Deidades ainda? Por que não colocaram os portões da frente?" Surabhi explicava que estava cuidando do assunto. Finalmente, pela misericórdia de Krsna, tudo começou a dar certo nos últimos dias antes da inauguração. Durante uma caminhada matinal, com Srila Prabhupada pelo templo, os devotos residentes admiravam o magnífico templo. Um dos discípulos de Srila Prabhupada disse: "Surabhi fez um trabalho muito bom, Srila Prabhupada. Ele trabalhou arduamente. Seu trabalho é excelente." Srila Prabhupada riu e disse: "Sim, todos dizem, ‘Surabhi fez um bom trabalho", exceto eu. Eu fico só criticando, dizendo: ‘Por que você está trabalhando tão devagar? Por que está trabalhando tão mal? Todos estão dando-lhe os parabéns, exceto eu. Meu dever é instrui-lo. Portanto faço críticas, esse é meu dever. Sou seu mestre espiritual, portanto devo guia-lo." Não tenho certeza, mas acho que Surabhi Maharaja pode respirar pela primeira vez em duas semanas.
Srila Prabhupada, fico pasmo quando vejo o serviço que meus irmãos e irmãs espirituais lhe renderam ao longo dos últimos trinta anos. Meu serviço tem sido insignificante. Não fui nem capaz de aceitar suas broncas sem ficar magoado. Você sempre foi gentil comigo, conhecendo a fragilidade da minha fé. Rezo para desenvolver fé implícita em suas ordens para poder realmente servir seus pés de lótus, não importa como você lida comigo. Por favor, me dê sua misericórdia sem causa. Permita-me estar presente em seus passatempos e jamais me afastar de seus pés de lótus novamente.

Srila Prabhupada Uvaca 112
Era sempre um prazer estar com Srila Prabhupada. Eu especialmente gostava quando ele nos dava uma noção de como era sua vida antes de vir para América. Compartilhar assim sua vida era uma expressão maravilhosa de seu amor por nós. Srila Prabhupada também tinha grande prazer em descrever diferentes aspectos de sua vida com seus discípulos. Certa tarde ele começou a descrever a sua vida como sannyasi para Paramahamsa e eu.
Ele disse: "Quando morava em Vrindavana, às vezes ia para Deli durante alguns dias para conversar com meu editor. Eu ficava em um pequeno quarto durante essas visitas. Durante o inverno, era muito frio. Tinha que quebrar uma pequena camada de gelo com minha lota no balde com a água de banho. Aí eu me banhava com essa água."
Havia umas senhoras que vieram visitar Srila Prabhupada na Bhaktivedanta Manor algumas vezes. Elas sabiam que Sua Divina Graça era um homem santo. Elas queriam que Sua Divina Graça os ajudasse com uns problemas que elas tinham. Elas falaram que tinham fantasmas morando em seu apartamento. Tentavam de tudo para se livrar deles, mas nada funcionava. Falaram que objetos da casa eram quebrados, ao serem jogados pelos quartos. Uma das mulheres perguntou a Srila Prabhupada se tinha alguma reza ou mantra que elas poderiam cantar para expulsar essas entidades para fora permanentemente.
Não foi nenhuma surpresa aos seus discípulos quando Srila Prabhupada as aconselhou a cantar o Maha Mantra. Ele carinhosamente nos contou de sua própria experiência com o ‘sobrenatural’. Ele contou que quando era um grihastha, ele comprou uma grande casa assombrada em Calcutá por um ótimo preço. Ele disse, sorrindo: "Ninguém queria comprar o lugar. Era uma grande e linda casa, mas por ser assombrada, todos tinham medo. Então comprei a casa e fui morar lá. Às vezes, me lembro de ficar sentado vendo coisas se mexendo pela casa. Eu ficava lá sentado e cantava ‘Hare Krsna’. Certa vez, um dos meus empregados veio até mim e me disse: ‘Swamiji, como posso ficar aqui com todos esses fantasmas?’ Eu lhe disse que não tinha que se preocupar com nada, era só cantar Hare Krsna. Então, eu vivia lá e muitas coisas aconteciam, mas nada me assustava."
Certo dia na primavera de 1973, Srila Prabhupada estava em seu quarto em Nova Dwarka. Ele estava andando, cantando Japa. Felizmente eu estava sentado no chão observando-o. De repente, ele olhou para mim e, com um tom de voz muito sério, disse: "O problema é que nenhum de meus discípulos acredita que Krsna está aí. De fato, ninguém acredita que Krsna existe." Fiquei pasmo enquanto que Srila Prabhupada continuava a cantar Japa. Minha fé era microscópica, na melhor das hipóteses. Eu estava em ilusão, mas não o suficiente para discordar de suas palavras. Além do mais, não conseguia pensar em nada para falar. Srila Prabhupada já tinha falado tudo.
Srila Prabhupada, minha fé é muito fraca e meus sentidos são como fantasmas, me assombrando. Por favor, purifique minha alma desses demônios. Permita-me escutar o santo nome de seus corajosos lábios de lótus. Por favor, guie-me em seu serviço devocional. Eu não conheço Krsna, mas já pude experimentar o abrigo de seus pés de lótus. Eu tenho absoluta fé que você se relaciona amavelmente com Krsna a todos momentos. Se eu me agarrar a seus destemidos pés de lótus, por sua misericórdia, de alguma forma, eu servirei o Senhor.
Sua Consciência de Krsna era evidente em cada palavra que você falava, em cada olhar que você dava e em cada movimento transcendental seu. Por favor, abençoe essa alma perdida e olhe para mim misericordiosamente de novo. Sem ouvir você cantar os Santos Nomes, eu fico perdido e com medo.
Ansioso para lhe servir,
Srutakirti dasa

Srila Prabhupada Uvaca 113
Oito de outubro de 1974; Mayapura, India;
Mayapura Candrodaya Mandir
 
Hoje à tarde recebi um telegrama muito especial. Minha mulher deu luz  um menino no dia seis de outubro de 1974, as 4:15 da manhã. Eu achei isso muito auspicioso, porque o Mangal Aratrik começa as 4:15 da manhã aqui em Mayapura. Imediatamente corri para o quarto de Srila Prabhupada e prestei reverências. Sorrindo largamente, disse: "Srila Prabhupada, minha mulher acabou de dar luz ao meu filho!" Srila Prabhupada sorriu e disse: "Muito bem. Então, você pôde chamá-lo de Mayapuracandra." Ele começou a rir e continuou: "Mayapuracandra! Você não encontrará esse nome em lugar algum no Sastra. Acabei de inventá-lo. Você encontrará Navadvipa Candra e Nadir Nimai, mas não encontrará esse nome em lugar algum."
Ele continuou: "Então, lhe darei um pouco de dinheiro. Você pode pedir para um dos rapazes locais irem até Navadvipa comprar pulseiras e tornozeleiras de prata para ele." Ainda emocionado, nem considerei recusar sua generosa oferta.
Quatro meses depois (nove de fevereiro de 1975), Srila Prabhupada parou em Nova Dwarka durante dois dias a caminho da Cidade do México. Depois de seu descanso à tardinha, ele tocou seu sino. Eu corri até seu quarto e prestei reverências. Ele disse: "Chame aqui Nanda Kumar." Felizmente ele estava do outro lado da rua. Eu lhe disse que Srila Prabhupada queria o ver. Nanda me perguntou porque e respondi: "Não faço a menor idéia. Ele só me pediu para lhe chamar." Nós dois voltamos correndo e prestamos reverências. Quando olhei para cima, Srila Prabhupada me deu as chaves de seu baú de metal que ficava no quarto e disse: "Traga-me minha bolsa branca."Peguei a bolsa e nós dois ficamos sentados lá, não tendo a menor idéia do que estava para se passar.
Ele tirou duas notas de cinqüenta dólares de sua bolsa e me deu uma, dizendo: "Tome. Compre algo para seu filho." Sempre que Srila Prabhupada demonstrava seu amor me dando algo desta forma eu ficava tomado de amor por ele. Eu não podia recusar uma demonstração tão bela de amor. Imensamente feliz, peguei a nota e disse emocionado: "Muito obrigado Srila Prabhupada!" Aí então ele se virou para Nanda Kumar, que tinha sido seu servo pessoal antes de mim, e tentou lhe dar a outra nota de cinqüenta dólares. Nanda Kumar recusou-a, dizendo: "Não posso aceitar isso de você, Srila Prabhupada." Imediatamente Srila Prabhupada graciosamente derrotou seu argumento, dizendo: "Não é para você. É para seu filho." Nanda alegremente aceitou a nota de seu amável mestre espiritual. Depois de nos dar esses presentes para nossos filhos, Srila Prabhupada gentilmente fez um sinal com sua cabeça e disse: "Ok, agora você podem ir." Nós prestamos reverências e saímos de seu quarto, comentando entre nós que éramos muito afortunados de ter um mestre espiritual tão incrivelmente generoso.
Srila Prabhupada, muitas vezes você me deu artigos de roupa, cuidando de mim de todas maneiras. Nunca pensei que você me devia algo em troca de meus serviços, afinal de contas, você nos deu o maior presente de todos. Você nos deu a oportunidade de desenvolver amor a Deus, mas a atenção pessoal que você nos deu é outro presente inigualável. O exemplo que você dá é incrível. Apesar de ser nosso mestre espiritual, e como tal deve ser tratado com o próprio Senhor, ainda assim você nos serve, providenciando todas nossas necessidades.
Quando chegará o dia quando eu verei meus irmãos e irmãs espirituais como ‘prabhus’, oferecendo-lhes meus respeitos e não brigando com eles sobre a melhor forma de lhe servir e honrar.

Srila Prabhupada Uvaca 114
Dezembro de 1974; Bombaim, Índia;
ISKCON Juhu
Meu segundo tour de viagens transcendentais com Sua Divina Graça começou informalmente em meados de julho e continuou até o fim de dezembro. Passamos a maior parte do tempo na Índia, lugar que inicialmente tinha me afastado dos pés de lótus de meu mestre espiritual. Infelizmente, quando estava na Índia, eu ficava doente quase o tempo todo. Sofri durante o período de sete semanas em que Srila Prabhupada estava extremamente doente em Vrindavana. Quando ele melhorou, minha saúde se deteriorou e só conseguia pensar em ir embora para recuperar minha saúde. Pela graça de Srila Prabhupada, eu havia conseguido superar minha falta de rendição e ficar aos seus pés de lótus. Porém, tendo novamente ficado doente na Índia (Juhu), minha mente ficou muito agitada.
Eu era incapaz de apreciar minha posição altamente afortunada e meditava nas minhas enfermidades corporais. Srila Prabhupada já estava aqui há um mês e estava se preparando para voltar ao ocidente, passando pelo Havaí. Fiquei muito apegado aos planos de viagem, contemplando minha sobrevivência até a programada data de embarque. Infelizmente houve um atraso devido a insistentes problemas técnicos no projeto de Juhu. Quando recebi a notícia fiquei arrasado. Ao andar todos dias na linda praia de Juhu com meu amado Srila Prabhupada, eu ficava ciente dos 747s voando acima. Imaginava todos indo para o ocidente e queria muito está abordo de um daqueles aviões. Sua Divina Graça falava de filosofia com seus discípulos e eu ficava só meditando nos aviões, acompanhado-os até ficarem fora de vista.
Durante certas caminhadas tentei brincar com Paramahamsa Maharaja, na esperança de descobrir se ele também estava querendo ir embora da Índia. Como Paramahamsa Maharaja não se identificou com minhas vontades, eu transferi a conversa para Brahmananda Maharaja na esperança de alguma simpatia.
Nessa época havia um problema sério no templo do Havaí. Eu contei a Brahmananda meu desejo de voltar aos EUA, devido a meus problemas de saúde. Certa tarde nós fomos falar com Srila Prabhupada. Entramos em seu quarto com muita apreensão e prestamos reverências. Eu estava ciente de como era tolo de querer abandonar os pés de lótus de meu amado Guru Maharaja, mas minha mente incontrolável me obrigava. Eu disse: "Srila Prabhupada  tenho agüentado, na esperança que estivesse indo embora em breve, mas parece que não está pronto para ir ainda. Quero saber se posso voltar ao ocidente para recuperar minha saúde." Com sua compreensão transcendental de sempre ele bondosamente disse: "Tudo bem. Você volta para Los Angeles e recupere sua saúde. Brahmananda, você pode ir para o templo no Havaí para ajudar com o problema lá. Eu me reencontrarei com vocês dois quando voltar para o Havaí."
O vôo de volta para os Estados Unidos não foi tão prazeroso quanto imaginei. Quando o avião já estava nas nuvens, Brahmananda e eu viramos um para o outro e lamentamos nossa decisão de deixar Sua Divina Graça. Srila Prabhupada nos deixou ir embora tão facilmente como tinha deixado eu voltar a ele alguns meses atrás. Ele aceitava aquilo que Krsna providenciava e nunca forçava ninguém a fazer algo que não queriam. Observei sua graciosa opulência de renúncia repetidas vezes.
Devemos implorar pela associação com Guru e Krsna. Não vem automaticamente ou de forma barata. Srila Prabhupada sempre disse: "Serviço devocional é voluntário e realizado com prazer." Brahmananda Maharaja parou no Havaí, agindo como o representante de Srila Prabhupada, ele foi cuidar dos problemas do templo.
Segui em frente para Los Angeles, Nova Dwarka, indo morar com minha mulher e filho, que agora já estava com três meses de idade. Escondi minha ansiedade de nunca ter visto meu filho, tentando artificialmente ser desapegado. Ao negar meus sentimentos naturais, eu estava tentando satisfazer estritas exigências internas e externas. De alguma forma, precisava provar externamente minha sólida posição como um bom devoto. Dessa forma, voltei a Nova Dwarka sem saber que a causa da minha doença pode ter sido a negação de minhas vontades emocionais. De fato, eu estava ansioso para voltar a Nova Dwarka e estar com minha família.
Passei um tempo no templo de Nova Dwarka e depois fui à Nova Navadvipa com minha família. Quando Srila Prabhupada chegou no dia vinte e nove de janeiro de 1975 eu já estava inteiramente envolvido com a vida familiar. Paramahamsa Maharaja e Nitai prabhu estavam trabalhando arduamente para cuidar de todas necessidades de Srila Prabhupada. Eu estava tão envolvido com meu novo ashram que nem sequer ofereci meus serviços, exceto por dar a Srila Prabhupada sua massagem noturna.
Apesar de Srila Prabhupada misericordiosamente permitir com que eu massageasse sua linda forma todas as noites, ele nunca me perguntou porque eu não estava mais ativamente em seu serviço pessoal. Ele não me perguntou o que estava fazendo durante o dia ou por que estava tão envolvido com minhas atividades familiares. Nunca me ocorreu que deveria estar inteiramente ocupado em realizar serviço pessoal a Srila Prabhupada. Minha consciência estava definitivamente atraída as atividades de grihastha. Felizmente, eu não estava controlando meu destino e Krsna fez arranjos para que eu retornasse ao serviço pessoal de Sua Divina Graça após pouco tempo brincando de vida caseira.
Srila Prabhupada, é doloroso ver como tenho sido um discípulo ingrato e caído. Muitas vezes eu ouvi seus discípulos perguntarem: "Por que Krsna não me obriga a servi-Lo?" Você respondia: "Se você é obrigado então não pode haver amor. Tem que ser voluntário." Você sempre me tratou dessa forma e rezo para que não faça isso mais. Não sou inteligente e desejo que você me obrigue a servi-lo. Porém, você é tão paciente e bondoso que nunca nos obrigou. Dessa forma, nós não podemos cometer a grande ofensa de não seguir suas ordens. Por favor, crie em mim o desejo de servi-lo a cada instante. Minha única felicidade é servir seus pés de lótus. Por favor, mantenha esses dourados pés de lótus na minha cabeça para que seja incapaz de me desviar de sua proteção. 

Srila Prabhupada Uvaca 115
Cinco de fevereiro de 1975; Honolulu, Havaí;
ISKCON Nova Navadvipa
Recentemente ouvi falar sobre a ‘bolha de ilusão.’ Eu estava sempre cercado por essa ‘bolha da ilusão.’ Essa bolha começa onde minha Consciência de Krsna acaba. Pude observar que, como servo pessoal de Srila Prabhupada, eu ficava cercado por uma ‘bolha de proteção.’ Era um benefício maravilhoso que vinha automaticamente por estar na presença de um devoto puro. Sendo o servo de Srila Prabhupada, eu era bem cuidado. Nunca tinha que me preocupar com minhas refeições ou onde iria dormir. Meu passaporte, visas e passagens aéreas pareciam se manifestar por conta própria. Viajei em volta ao mundo cinco vezes sem nunca me preocupar com um acidente de avião. Afinal estava sentado ao lado do devoto mais puro do Senhor do Universo.
Era uma posição de dar inveja, mas infelizmente eu a larguei voluntariamente. Agora, aqui no Havaí, eu sou um dos grihasthas me esforçando para ser um devoto ativo, viver fora do templo e cuidar de minha família. Srila Prabhupada compreendia a dificuldade. Eu sei disso porque certa vez em Vrindaban Srila Prabhupada falou sobre o grihastha ashram, "É um grande dilema. Nós não podemos pagá-los para morar no templo, mas tampouco eles podem trabalhar externamente." Hoje, fazendo compras com alguns amigos devotos, a perda da minha ‘bolha de proteção’ me custou caro. Tivemos um acidente de carro. Hamsavatar e sua esposa, Sangita levaram minha esposa e eu ao mercado. Eu estava sentado ao lado do motorista quando um carro furou o sinal e bateu no porta do motorista. Minha porta abriu e sai voando, junto com Hamsavatar. Aterrissei no meu sacro. Minha coluna ficou dolorida durante meses. Nosso carro quase passou por cima de mim. Nós dois fomos levados ao hospital.
Naquela noite eu não dei em  Srila Prabhupada sua massagem noturna. No dia seguinte Paramahamsa Maharaja me encontrou e disse: "Srila Prabhupada quer saber onde você estava ontem a noite." Eu lhe contei minha tragédia. Ele voltou a Srila Prabhupada e explicou minha situação. Meu compreensivo mestre espiritual disse: "Oh! Chame-o aqui." Sentindo muito dor, cheguei com dificuldade até o quarto de Srila Prabhupada e prestei reverências lentamente. Visivelmente aparentando dificuldade, eu me sentei diante de meu efulgente mestre espiritual. Ele olhou para mim atentamente e com compaixão disse como uma voz gentil: "O que aconteceu? Ouvi falar que você teve um acidente de carro." Eu lhe contei os detalhes e ele escutou atentamente. Quando terminei ele disse: "Accha! Se não fosse pela misericórdia de Krsna você estaria morto." Tentei sorri e disse: "Sim, foi muito assustador."
Nos dias que se seguiram fui afortunado de poder estar no quarto de Srila Prabhupada em diferentes ocasiões. Todas as vezes que estava lá com outros devotos, Srila Prabhupada acabava falando de mim. Muito dramaticamente ele disse: Srutakirti, ele se envolveu num acidente muito sério. Se não fosse pela misericórdia de Krsna ele estaria morto." Depois de ouvir isso pela terceira vez, finalmente pude realmente compreender – se não fosse pela misericórdia de Srila Prabhupada e Krsna, eu estaria morto. Era jovem e despreocupado e a morte me parecia muito remota. Se não fosse, nunca teria largado os pés de lótus de meu Gurudeva. Ele insistiu no assunto. Finalmente pude compreender e realizar que Srila Prabhupada estava falando a verdade absoluta. Foi a experiência mais incrível ter meu carinhoso Guru reafirmar que Krsna tinha me salvado. Rezo para poder aumentar minha fé e compreensão em cada palavra dita por Sua Divina Graça e cada ação por ele realizada.
Srila Prabhupada estava traduzindo o quinto canto do ‘Srimad Bhagavatam’ nessa época. Ele descreveu a história do meu acidente assim:
S.B.5:14:1
SIGNIFICADO
"Quando na luta pela existência, a entidade viva está perdida na floresta do mundo material, seu primeiro dever, é encontrar um guru fidedigno que vive ocupado aos pés de lótus de Visnu, a Suprema Personalidade de Deus. Afinal de contas, se ela estiver realmente ansiosa de livrar-se da luta pela existência, deve encontrar um guru autêntico e receber instruções aos seus pés de lótus. Dessa maneira, ela pode escapar dessa luta.
Visto que nessa passagem compara-se o mundo material a uma floresta, poder-se-ia apresentar o argumento de que, em Kali-yuga, a civilização moderna concentra-se principalmente nas cidades. Uma grande cidade, contudo, é como uma grande floresta. Na verdade, a vida na cidade é mais perigosa que a vida na floresta. Se alguém, sem amigo ou refúgio, entra numa cidade desconhecida, viver nessa cidade ser-lhe-á mais difícil do que viver numa floresta. Existem muitas metrópoles em toda a superfície do globo, e, para onde quer que olhemos, vemos que a luta pela existência acontece vinte e quatro horas por dia. As pessoas correm a toda em seus carros, a uma velocidade de cento e dez a cento e trinta quilômetros por hora, constantemente indo e vindo, e isso monta o cenário da grande luta pela existência. A pessoa tem que levantar de manhã bem cedo, entrar nesse carro e viajar a uma velocidade muito arriscada. Sempre há perigo de acidentes, e a pessoa precisa tomar bastante cuidado. Em seu automóvel, a entidade viva está cheia de ansiedades, e sua luta não é nada auspiciosa." Copyright BBT 1975
Meu querido Srila Prabhupada, os anos se passaram rapidamente. Passei por várias situações difíceis. Mesmo assim, eu sigo em frente sem realmente compreender que, "Se não fosse pela misericórdia de Krsna eu estaria morto." Por favor me dê a inteligência para compreender a urgência de me render a você. Quando a morte chegar quero ter minha mente fixa em seus pés de lótus. Não quero ser jogado de um lado para o outro pela energia material. É doloroso demais.
Desejando entender o que significa ser,
Seu servo,
Srutakirti dasa 

Srila Prabhupada Uvaca 116
Sete de fevereiro de 1975; Honolulu, Havaí;
ISKCON, Nova Navadvipa
 Sudama Maharaja se retirou da administração de Nova Navadwipa, então Srila Prabhupada estava reunido com um grupo de discípulos antigos para decidir quem iria assumir essa responsabilidade. Seu editor de sânscrito, Nitai prabhu, sugeriu que fosse eu. Srila Prabhupada conhecia bem minha natureza e disse: "Não. Srutakirti é calmo demais para administrar um templo." Quando Nitai me contou isso, sorri, podendo ver que ele me conhecia melhor que eu mesmo. Srila Prabhupada chamou Manasvi para vir de Bombaim para administrar o templo. Durante a estadia de Srila Prabhupada aqui, Nitai e Paramahamsa Maharaja estavam tentando me convencer a ir com eles como servo pessoal de Srila Prabhupada, durante suas viagens pelo ocidente. Eu lhes disse gostava da idéia de ser seu servo no ocidente, mas eu sempre acabava de volta na Índia, e eu não queria ir para Índia. Eles disseram que seria muito bom eu viajar com eles pelo ocidente por que não havia ninguém para cozinhar para Srila Prabhupada. Quando fosse para voltar à Índia eles chamariam Nanda Kumar para viajar com Srila Prabhupada. Eu disse que me parecia ser bom em teoria, mas não muito prático. Eles não conseguiram me convencer.
Um dia antes de Srila Prabhupada sair de Nova Navadvipa, Guru Kripa Maharaja me disse que Srila Prabhupada queria me ver antes de sair para Los Angeles. Juntos nós voltamos ao quarto de Srila Prabhupada e prestamos reverências. Srila Prabhupada olhou para mim com um sorriso e disse: "Então, Srutakirti, você vai ficar aqui? Sua esposa está aqui, com filho?" Respondi: "Sim, Prabhupada." Ele continuou: "Então, você vai ajudar Manasvi administrar o templo?" Respondi com menos convicção: "Sim, Prabhupada. Acredito que sim." Eu estava pensando como era egoísta de não ir com meu magnífico Mestre Espiritual. Ele estava me dando toda oportunidade para dizer que queria ir com ele, mas ainda assim não o fazia. Srila Prabhupada sorriu afetuosamente e disse: "Então, isso é bom. Você fica aqui com sua esposa e filho."
Fiquei sentado lá, em frente a Srila Prabhupada, com minha mente girando. Meus sentidos estavam me arrastando para todos os lados. Srila Prabhupada estava me dando a oportunidade de viajar com ele novamente. Ele estava me esperando abrir a boca e meu coração, mas eu não conseguia. Era realmente incrível como ele era tolerante. Eu não sabia o que dizer. Srila Prabhupada começou a rir e virou seu olhar transcendental a Guru Krpa, e disse: "Sim, você sabe o que eles chamam a mulher e filhos? São conhecidos como a tigresa e o chacal." Gurukrpa Maharaja, que estava sentado ao meu lado durante toda a conversa, disse, rindo: "Srila Prabhupada, eu sei porque a mulher é comparada ao uma tigresa, mas porque as crianças são comparadas ao chacal?" Srila Prabhupada respondeu: "Bem as crianças, de várias maneiras, criam muitas inconveniências para o pai. Estão sempre precisando de tantas coisas e às vezes o incomodando tanto que não consegue dormir. Dessa forma, é como se tivessem comendo a corpo do pai. Essa é a ocupação dos chacais, comer a carne de outros animais."
Foi a gota d’água. Imediatamente me rendi, dizendo: "Srila Prabhupada, eu irei com você como seu servo." Srila Prabhupada sorriu largamente, inclinando sua cabeça para a direita, e disse: "Tudo bem!" Eu prestei reverências e sai do quarto de Srila Prabhupada com passos enérgicos. Sabia que estava fazendo a coisa certa. Comecei a me preparar para mais um excitante tour a serviço de Sua Divina Graça. Quando a notícia rapidamente se espalhou dentro da comunidade, Janmadogni dasa, um devoto inteligente com idéias controversas, me disse que estava em maya por não ficar com minha esposa e filho. Não afetado, sorri e sai, confiante, me sentindo corretamente situado. Srila Prabhupada misericordiosamente tinha deixado meu serviço muito claro para mim. Era apenas devido a minha pouca inteligência que foi necessário me dar uma paulada com um exemplo tão forte.
As comparações que ele fez são para pessoas materiais. Ele freqüentemente explicava que esses exemplos não se aplicavam àqueles envolvidos em serviço devocional. Tais almas iluminadas não estão no conceito corporal da vida. O que era realmente incrível foi quando vi o seguinte verso e significado que Srila Prabhupada tinha traduzido apenas alguns dias antes.
S.B.5:14:3
Tradução
"Meu querido rei, os membros familiares neste mundo material são rotulados de esposa e filhos, mas, na verdade, eles se comportam como tigres e chacais. Tentando proteger suas ovelhas, um pastor faz tudo o que pode, mas os tigres e raposas levam-nas à força. Do mesmo modo, embora um homem avaro queira guardar seu dinheiro mui cuidadosamente, seus membros familiares levam à força todos os seus bens, por mais vigilante que ele seja."
Significado
Um poeta hindi canta: din ka dakini rat ka baghini palak palak rahu cuse. Durante o dia, a esposa é comparada a uma bruxa, e de noite é comparada a uma tigresa. Sua única ocupação é sugar o sangue de seu esposo tanto de dia quanto de noite. Durante o dia, existem muitas despesas domésticas, e o dinheiro ganho pelo esposo à custa de seu sangue é gasto. À noite, devido ao prazer sexual, o esposo elimina o sangue na forma de sêmen. Dessa maneira, sua esposa aplica-lhe sangria tanto de dia quanto de noite, mas ele é tão louco que chega inclusive a mantê-la com muito cuidado. Do mesmo modo, os filhos são como tigres, chacais e raposas. Assim como os tigres, chacais e raposas levam as ovelhas apesar da proteção vigilante do pastor, os filhos surrupiam o dinheiro do pai, embora o pai o controle pessoalmente. Assim, os membros familiares podem ser chamados de esposas e filhos, mas, na verdade, eles são assaltantes. S.B. 5:14:3 Copyright BBT 1975
Srila Prabhupada  nunca poderei lhe recompensar por todos as coisas maravilhosas que você fez por mim. Mas essa realmente se destaca. Da maneira mais doce você me levou de volta aos seus pés de lótus por mais cinco meses. Você facilmente poderia ter ido sem mim, mas você me permitiu segui-lo, de novo. Fico imerso no néctar de saber que você queria que fosse junto. Por favor, me dê a inteligência para poder glorificá-lo propriamente, podendo assim realizar um pouco de serviço mostrando ao mundo que você é o devoto mais glorioso do Senhor. Por favor, pegue-me mais uma vez e coloque-me a seus pés de lótus, o único lugar seguro para essa alma distraída.

Srila Prabhupada Uvaca 117
Onze de fevereiro de 1975; Cidade do México, México;
ISKCON, Cidade do México
Chegando na Cidade do México tivemos uma experiência extraordinária. Srila Prabhupada, emissário transcendental de Goloka Vrindavana, foi recebido com honra pelos devotos aqui. Srila Prabhupada não teve que passar por nenhuma alfândega ou controle de passageiros, indo direto do avião para uma limusine que o esperava. Como se não fora o suficiente, os devotos daqui, liderados por Hridayananda Maharaja, providenciaram uma escolta policial, que acompanhou a limusine do aeroporto até o templo. Foi uma mudança extremamente agradável da normalmente massacrante experiência com aeroportos. Nós estávamos acostumados a sermos tratados com suspeita, como criminosos em potencial, na alfândega de outros aeroportos internacionais.
A caminho do templo Srila Prabhupada expressou apreciação pelo tratamento VIP. Ansioso para continuar a agradar Sua Divina Graça, Hrdayananda Maharaja aproveitou a oportunidade para relatar a Srila Prabhupada todas o incrível serviço que a BBT espanhola tinha realizado. Muitos livros estavam sendo traduzidos e distribuídos em espanhol. Srila Prabhupada ficou muito feliz em saber que as glórias do Senhor estavam sendo divulgadas.
Quando ele chegou no templo, Srila Prabhupada teve darshan com as Deidades e depois pediu o maha Delas. Essa era a rotina de Srila Prabhupada, ao viajar de templo em templo. Ele sempre tinha especial interesse em ver como as Deidades estavam sendo adoradas. Era como se Srila Prabhupada fosse o inspetor transcendental de Krsna, tendo certeza que a adoração das Deidades estavam sendo bem feitas por suas crianças.
Depois de provar um pouco da maha prasadam, Srila Prabhupada disse: "Essa prasadam está horrível. A adoração não está à altura. É importante que a adoração da Deidade seja muito bem feita." Srila Prabhupada enfatizou novamente: "É igualmente importante adorar as Deidades da melhor forma possível como é distribuir livros." Meu coração pesava ao pensar nos devotos responsáveis pela cozinha, mas eu sabia que era a vez deles de receber instruções misericordiosas. Isso seria algo que nunca esqueceriam.
Eu especulava a respeito do relacionamento de Srila Prabhupada com as Deidades. Tendo uma visão mundana, eu via as lindas formas do Senhor, mas não conseguia reconhecer o princípio inato de interação recíproca (lila). Às vezes, tentava imaginar como seria ter darshan com as Deidades e ver Krsna da forma que Srila Prabhupada certamente via. Srila Prabhupada enfatizava que tínhamos que entender que Krsna não é diferente de sua forma no templo. Ele gentilmente nos lembrava repetidamente - "Krsna está aqui em Sua forma Arca-Vigraha."
Durante sua estadia Sua Divina Graça deixou todos ficarem sabendo que era imperativo ter adoração de primeira classe, junto com a distribuição de livros. Afinal, o propósito de todos livros de Srila Prabhupada era de compreender que Krsna era a Suprema Personalidade de Deus e nós Seus servos. Adoração da deidade era uma forma de se aplicar tudo que estava descrito nos livros de Srila Prabhupada.
Quando chegou a hora de sair da Cidade do México a Caracas, os devotos fizeram os mesmos arranjos, com a limusine e escolta policial até o aeroporto, na esperança de aliviar os incômodos normais de viagens internacionais. Porém, quando Srila Prabhupada chegou no aeroporto no carro, houve um atraso e ele não pode embarcar. Ele teve que ficar no carro quase uma hora. Sentado lá ele disse: "Teria sido melhor esperar no terminal. Mas estou esperando aqui no carro." Foi difícil para nós que estávamos presentes, saber que Srila Prabhupada não estava tendo a oportunidade de se despedir dos seus discípulos.
Srila Prabhupada retribuía com transcendência, em aeroportos com muitos de seus discípulos ao redor do mundo. Para muitos devotos, essa era a maior oportunidade de se associar pessoalmente com Srila Prabhupada. Srila Prabhupada sentiu a separação de seus discípulos ao ser negado esse prazer.
Quando Srila Prabhupada chegou no templo de Caracas, Venezuela, foi como um replay de sua chegada a Cidade do México. Ele teve darshan com as Deidades e mais tarde, em seu quarto, pode provar a maha prasadam. De novo, Srila Prabhupada disse: "Esses puris estão terríveis e as verduras também. Essa prasadam não está boa. Adoração da Deidade tem que ser de primeira. É preciso adorar a Deidade com esmero!" Novamente fiquei surpreso, pois era muito raro Srila Prabhupada dizer a seus discípulos que tinham que melhorar a adoração da Deidade. De qualquer forma, Srila Prabhupada gentilmente estimulou seus piedosos e jovens discípulos a avançarem no caminho espiritual.
Nunca era o caso de Srila Prabhupada ficar chateado conosco e por isso nos estávamos arruinados. Ele sempre enfatizava a importância de realizar nosso serviço com cuidado e atenção. Esse é o exemplo que nosso amado Mestre Espiritual nos deixou. Tudo que Srila Prabhupada fazia era com a máxima atenção e devoção ao Senhor.
Srila Prabhupada gostava muito de ficar nessa parte do mundo e ficou impressionado com a sinceridade dos devotos. Eu também gostava de estar no templo de Caracas, visto que fiquei lá alguns meses, quando pela primeira vez  larguei o serviço pessoal de Srila Prabhupada em janeiro de 1974. Conhecia bem a maioria dos devotos e, para mim, era como estar em casa.
Srila Prabhupada, você criou uma grande família de Vaisnavas. Você é o munificente pai e avô de dezenas de milhares de devotos do Senhor Krsna. Você bondosamente possibilitou que seus seguidores fossem para qualquer lugar no mundo, tivessem darshan com a Suprema Personalidade de Deus e aproveitassem a associação de amigos e família. Esse é um dos grandes benefícios adicionais de ser um membro de sua Iskcon. Por favor, permita que esse filho pródigo permaneça em sua família para sempre.
Você nos instruiu que "Distribuição de Livros e Adoração da Deidade" tem que ir lado a lado. Seus livros nos inspiram e nos dá conhecimento para servir Krsna. Adoração da Deidade nos dá a prática. As Deidades são a raiz original dessa família Vaisnava, sem Elas, estamos perdidos. Seus livros são como cordiais convites a vir pessoalmente servir à Deidade. Nosso dever é lembrar a todos que encontramos que nós somos servos do Senhor. Adoração à Deidade do Senhor Krsna acontece em seus templos ao redor do mundo. Seus livros convidam todos, "Por favor, venha você servir o Senhor." Adoração da Deidade é o apogeu do serviço amoroso. Seus livros são o conhecimento que nos permiti chegar a esse estágio. Você está nos chamando, "Volte ao Supremo."

Srila Prabhupada Uvaca 118
Vinte e cinco de fevereiro de 1975; Miami, Florida, EUA
ISKCON Miami
Srila Prabhupada chegou em Miami, depois de duas maravilhosas semanas na Cidade do México e Caracas, Venezuela. Ele ficou numa pequena casa próxima ao templo. A casa era normalmente a residência de um casal de devotos. Na casa havia posters de quadros devocionais dos livros de Srila Prabhupada nas paredes. Quando Srila Prabhupada e eu entramos na casa, ele olhou para um poster em particular. Krsna estava sentado na carruagem e Arjuna estava em pé ao Seu lado, com sua mão esquerda levada a sua testa. Parecia que Arjuna estava muito angustiado.
Srila Prabhupada começou a rir. Fiquei ao seu lado e ele explicou: "Sim, essa imagem, eu gosto muito desse trabalho. Essa imagem é muito instrutiva." Desconhecendo qualquer ligação com minha própria vida, ingenuamente perguntei: "Como assim, Srila Prabhupada?" Conhecendo-me completamente, ele respondeu: "Bem, Krsna está dizendo a Arjuna, ‘Você tem que abrir mão de tudo.’ Ele está dizendo para Arjuna, ‘Largue sua família, você tem que matá-los, você tem que matar os membros de sua família.’ Então essa é a questão. A pessoa tem que estar disposta a abandonar tudo para Krsna e fazer o que Krsna deseja. Você tem que estar disposto a abrir mão de sua esposa, filhos, tudo. Você tem que estar disposto a matar seus parentes se é isso que Krsna quer, o que dizer de abandoná-los. Se Krsna quiser, você mata seus parentes. Isso é um devoto. Um devoto está disposto a matar seus parentes para Krsna. Então, aqui Arjuna está pronto, ele está aceitando, aí tudo vai ficar bem. Como devotos, temos que ter a capacidade de abrir mão de todos vínculos familiares." Foi um choque, já que ainda me considerava um recém casado com um lindo filho. Eu estava apenas iniciando minha vida familiar e certamente não estava dispostos a abandoná-los, muito menos matá-los. Esse nível de rendição era muito extrema. Simplesmente aceitei o fato que eu ainda não podia ter essa compreensão. Oprimido por minha ignorância, olhei para o chão e disse em voz débil: "Sim, Srila Prabhupada."
Depois de explicar a imagem, Srila Prabhupada seguiu para dentro da pequena casa. Comecei a desfazer sua bagagem, considerando a valiosa instrução. Eu ansiava pelo conforto do apego familiar e estava atormentado pelo fato de ter deixado meu filho e jovem esposa.
A maneira com qual Sua Divina Graça falou comigo ao entrar na casa, explicando o dilema de Arjuna, foi completamente objetiva. Srila Prabhupada era tão esperto e maravilhoso que ele não estava me instruindo diretamente. Ele não estava me dizendo que tinha que abandonar minha família. Ele estava gentilmente me convidando a chegar a minhas próprias conclusões. Não tinha qualquer indicação em sua voz que isso se tratava de minha situação especificamente. Eu estava apegado e determinado a ficar com minha família. Srila Prabhupada estava me preparando filosoficamente para tomar a importante decisão que tomaria em breve.
Eu tinha me juntado ao exército de Prabhupada e Krsna. Em vez de ser o Tio Sam no cartaz, era Prabhupada apontando e dizendo: "Krsna quer você!"* Estávamos em guerra contra maya. Srila Prabhupada, que é  nosso comandante e chefe, pediu que nós adotássemos medidas de emergência. Como guerreiros voluntários isso requeria grandes sacrifícios pessoais. Podíamos escolher entre a pregação na linha de frente ou fazer um trabalho de apoio nas bases. No meu caso isso significava servir Srila Prabhupada pessoalmente e para muitos significava longas horas de sankirtan.
Um pouco cansado da batalha contra maya, fiquei ciente que a guerra nunca acabaria. De alguma forma ou outra compreendi que não bastava uma única tentativa para me render. A mágica de eliminar todo estresse através de Consciência de Krsna instantânea não parecia ser mais possível para mim. Poderia fazer a maravilhosa escolha de ficar corretamente situado aos pés de lótus de Srila Prabhupada, mas isso não significava que minha mente se entregaria ao controle da minha inteligência. Minha inteligência batalhava diariamente com minha mente rebelde. No passado essa batalha tinha me levado à doença.
Eu estava tranqüilo sabendo que minha família estava sendo cuidada pelo Templo do Havaí. Não era como se eu tivesse abandonado-os. Simplesmente tinha sido chamado para fazer um serviço externo. Eu só estava com Srila Prabhupada há duas semanas, desde que saímos do Havaí. Ficava feliz em pensar que estaria de volta a minha amada família quando Sua Divina Graça deixasse os EUA. Afinal, esse era o acordo feito com Paramahamsa Swami, o secretário de Srila Prabhupada, onde Nanda Kumar seria o servo de Srila Prabhupada durante suas viagens pela Índia. Eu estava muito apegado a esse acordo.
Porém, Srila Prabhupada parecia está me preparando para mais serviço amoroso transcendental ao me instruir num nível bem diferente. Ele estava me dando a oportunidade de me render a Krsna e ficar com ele com seu servo pessoal. Parecia que ele estava me pedindo para largar meu apego por minha família e continuar como seu servo pessoal. Ele não disse mais nada a respeito enquanto ficamos em Miami. Com medo, certamente também não toquei mais no assunto.
Sempre cem por cento, Consciente de Krsna, Srila Prabhupada sempre nos ensinava a nos render a Krsna, declarando guerra a maya. Porém, eu não estava Consciente de Krsna. Eu tinha flashes, mas visão mesmo não. Era difícil para eu ficar no fogo de Consciência de Krsna. Era difícil ficar na linha de frente. Estava cansado e precisando de alívio, de um pouco de gratificação dos sentidos. Eu precisava de uma dose rápida, para aliviar a dor de negar meus sentidos. Meu vício ao prazer independente me consumia. Apesar de sempre gostar de ficar com Srila Prabhupada, meus sentidos estavam sempre agitados. Estava sempre procurando uma maneira de pacificá-los. Posso me lembrar de como, não importa onde estivesse, estava sempre ansioso para chegar ao próximo templo. Incapaz de ficar em paz onde estava, sempre me prometia que a satisfação estava na próxima esquina. Então estava sempre pronto para seguir em frente.
De alguma forma ou outra, apesar de minha natureza instável, Srila Prabhupada estava satisfeito me tendo como seu servo. Isso é um fato importante. Srila Prabhupada, estava satisfeito com aquilo que Krsna providenciava. Felizmente ele não desistiu de mim. Apesar de minhas numerosas falhas, ele nunca me pediu para ir embora ou fazer outra coisa. Ele me deixou ficar aos seus pés de lótus e render-lhe serviço íntimo, não importa o quanto minha mente estava agitada. Eu me refugiava ao massagear os pés de lótus de Sua Divina Graça e ficava em paz.
Meu amado mestre, você é tão compassivo. Você sempre me estimulava da maneira mais doce possível a ficar sob seus cuidados e realizar serviço devocional. Eu era tão desafortunado que não fui capaz de me render aos seus desejos. Não tem um dia que se passa que não lamento minha tolice. Rezo para que algum dia eu possa novamente ter a oportunidade de esfregar seus pés de lótus. Se acontecer, espero poder me lembrar quão facilmente abandonei esse serviço, para que nunca mais largue esses dourados e macios pés de lótus.
*Nota do tradutor: Aqui Srutakirti se refere ao famoso poster amplamente usado na Segunda Guerra Mundial pelo Governo Americano, onde Tio Sam, a personificação do Governo, estava apontando para frente e dizendo a todos para se juntarem ao exército e ajudar o governo nos seus esforços bélicos.

Srila Prabhupada Uvaca 119
Vinte e oito de fevereiro de 1975; Atlanta, Geórgia, EUA;
ISKCON Atlanta
A visita de Srila Prabhupada ao templo de Atlanta durou apenas alguns dias, mas foi repleta de néctar transcendental. Srila Prabhupada inundou a comunidade de devotos com amor a Personalidade de Deus. Quando Sua Divina Graça chegou, ele fez a seguinte palestra, breve e doce, para os devotos, em frente às Deidades.
Srila Prabhupada: Então estou muito feliz de vê-los e estou vindo da Cidade do México?
Devoto: Sim!
Srila Prabhupada: Então, Cidade do México, depois Caracas, depois...
Devoto: Miami.
Srila Prabhupada: Miami. Então vejo que o templo de vocês é o melhor.
Devotos: Jaya! Haribol!
Srila Prabhupada: Então, Caintanya Mahaprabhu é muito bondoso. Parama karuna pahu dui jana. Dois Senhores, Nitai-Gauracandra, Nityananda Prabhu and Sri Caintanya Mahaprabhu, Eles são muito bondosos, entendem? Eles apareceram para salvar as almas caídas desta era. Então eles são mais bondosos que Krsna. Krsna, Ele também é muito bondoso. Ele vem para nos salvar. Mas Krsna exige que primeiro nós devemos nos render. Caintanya Mahaprabhu não sequer exige rendição. Ele é tão bondoso (voz já falhando). Então, rendam-se a Sri Caitanya Mahaprabhu e sejam felizes. Muito obrigado. (chorando).
Srila Prabhupada se derreteu em êxtase ao ver as Deidades. Inundado pelo amor a Deus, lágrimas nectáreas de êxtase corriam dos olhos de Srila Prabhupada. Srila Prabhupada ficou emocionado ao ver as Deidades sendo tão bem cuidadas. Como fomos afortunados! Foi incrivelmente doce testemunhar os encontros transcendentais de Srila Prabhupada com as Deidades! Não é possível descrever adequadamente Sua Divina Graça, nos dando uma noção de seu êxtase divino. Srila Prabhupada via o Senhor perante ele. Eu, por outro lado, via apenas linda deidades feitas de metal. Não compreendia a natureza real de Arca Vigraha. Podia apenas imaginar o que Srila Prabhupada estava sentindo.
Srila Prabhupada raramente revelava seus sintomas de êxtase. Ele pediu desculpas quando entrou em transe extático da última vez em Mayapur. Essa foi a única vez que fui afortunado o suficiente para ver as lágrimas de êxtase de Srila Prabhupada. Pasmos e maravilhados pelos humores transcendentais de Srila Prabhupada, todos ficaram parados. Estávamos absolutamente atentos ao ver nosso Mestre Espiritual deixar sua consciência externa e cada momento parecia doze anos ou mais. Misteriosamente o tempo se expandiu em nossa volta como o grande desconhecido. Intensamente comovidos, ficamos extáticamente esperando Srila Prabhupada voltar. Quando Sua Divina Graça novamente se juntou a nós, ele acenou com a cabeça para que o kirtana fosse começado.
O que mais me impressionava era a capacidade que Srila Prabhupada tinha de conter esses sintomas de êxtase regularmente. Ele se controlava perfeitamente para nos instruir e dar continuidade ao movimento do Senhor Caitanya. Não éramos capazes de realmente entender o êxtase de Srila Prabhupada, portanto ele compassivamente nos treinou do nível de neófito para frente. Serviço devocional é tão cheio de bhava transcendental que malandros tolos poderiam facilmente considerar tais emoções como sendo mundanas, pois é tudo que conhecem. Srila Prabhupada cuidadosamente viveu uma vida exemplar, nos ensinando aquilo que estávamos prontos para aprender.
Aqui em Atlanta ele também tocou mrdunga no vyasasana durante kirtan. Essa foi a única vez que testemunhei esse incrível evento. Todos aqui tiveram uma oportunidade muito rara de ver brevemente seu mestre espiritual de forma muito extática.
Hoje posso entender que se eu conseguir meditar em qualquer dia de sua vida eu posso me tornar consciente de Krsna. Cada minuto de sua presença, é repleta de ondas de néctar que continuamente saem de sua forma transcendental. Sou incapaz de apreciar o amor a Deus que você emana porque minha consciência está coberta pelo desejo de gozar os sentidos. Srila Prabhupada, por favor, me dê os olhos para poder vê-lo.

Srila Prabhupada Uvaca 120
Um de março de 1975; Atlanta, Geórgia, EUA;
ISKCON Atlanta
 Paramahamsa, Nitai e eu recebemos um tesouro transcendental único durante nossa estadia em Atlanta. Quando Srila Prabhupada chegou em Atlanta o clima estava frio. Os devotos deram a Srila Prabhupada um par de meias e sapatos de lona. Na manhã seguinte ajudei Srila Prabhupada enfiar seus dedões transcendentais em seus novos sapatos com a ajuda da abençoada calçadeira. Depois de sua caminhada e programa matinal, Srila Prabhupada tocou seu sino. Fui até seu quarto e prestei reverências. Sentei-me e olhei para Srila Prabhupada. Ele disse: "Esses sapatos não são do tamanho certo, você pode usá-los." Imediatamente respondi: "Não posso usar seus sapatos Srila Prabhupada. Seria ofensivo." Ele respondeu gentilmente: "Se eu lhe der permissão então não tem problema."
Que surpresa! Srila Prabhupada era sempre cheio de surpresas, mas essa eu nunca imaginei - andar com os sapatos de meu Guru Maharaja*! Com um menino, fiquei cada vez mais excitado com a idéia de calçar os sapatos do meu pai espiritual. Eu tinha ouvido falar que não se deve usar o sapato do Mestre Espiritual, o que tornou a idéia ainda mais fascinante. Pensar que eu poderia quebrar essa regra era algo controverso! Adorei! Eu tinha firme fé que quando Srila Prabhupada dizia que algo estava bem, então com certeza não tinha problema, portanto estava seguro e muito feliz, sabendo que seus sapatos eram cheios de incrível potência. Sorrindo, aceitei ficar com seus sapatos. A generosidade de Srila Prabhupada continuou a fluir em minha direção. Ele perguntou: "Você precisa de meias?" Tenho que confessar que, apesar de não se recomendar ficar aceitando presentes do mestre espiritual, eu estava achando o máximo. Com elevado prazer e muito sem vergonha, alegremente respondi: "Sim, acho que sim." Ele disse: "Tudo bem, pegue algumas meias para você e para Paramahamsa e Nitai também."
Alegremente segui sua instruções. Prestei reverências, enchi os braços com o sapato e algumas meias e sai correndo do quarto. A primeira coisa que fiz foi correr para um lugar escondido, como uma criança que está aprontando, e tentei calçar aqueles sapatos transcendentais. Como a malvada meia irmã de Cinderela, meus pés infelizmente eram grandes demais para os sapatos de Sua Divina Graça. Insistentemente, tentei enfiar meus pés nos sapatos mágicos de Srila Prabhupada. Finalmente pude compreender a profunda lição. Eu, praticamente e simbolicamente, jamais poderia andar com os sapatos de Srila Prabhupada.*
Brincalhão como sou, infelizmente não dei muita importância a esse profundo significado. Minha natureza malandra me fez correr até meus irmãos espirituais, a quem alegremente entreguei as meias de Srila Prabhupada, explicando que ele queria que eles as aceitassem. Eles resistiram, dando me uma bronca por ter agido de forma pouco recomendada. Eles reagiram exatamente da maneira que eu esperava. Ainda resistindo fortemente, ainda brinquei com eles e depois lhes transmiti as benções de Srila Prabhupada. A controvérsia tinha sido confirmada pela maneira que me criticaram, ficando assim mais doce a aventura. Ouvindo as benções, eles rapidamente pegaram as meias das minhas mãos e as colocaram sobre seus dedões frios.
Srila Prabhupada pessoalmente utilizava tudo em serviço de Krsna ou fazia com que outros seguissem esse princípio transcendental de utilidade. Então, tentando seguir seus passos, não em seus sapatos, rapidamente me recuperei do fato que seus sapatos não me cabiam. A próxima vez que vi o presidente do templo, eu lhe expliquei o fato dos sapatos não servirem Srila Prabhupada bem, e que ele poderia ficar com eles.
Ele os pegou e colocou ao pé do Vyasasana de Srila Prabhupada. Envergonhado, não consegui lhe contar a história toda, mas me tranqüilizei pelo fato de saber que não é possível contaminar nada que já tivesse tido contato com nosso completamente puro mestre espiritual.
Srila Prabhupada, você foi incrivelmente misericordioso comigo. Muitas vezes ouvi dizer que, ‘a familiaridade gera desprezo’. Eu sei que fui incrivelmente ofensivo ao não compreender corretamente sua gloriosa presença, mas contrário a relacionamentos mundanos, quanto mais você me abençoava com sua associação, mas eu podia apreciar sua grandeza.
Você continuamente expressou seu amor por todos que encontrava. Você retribuía com genuína afeição, ao expressar, calorosamente, seu amor por seus discípulos, fiquei cada vez mais encantado e apegado a você. Você encarna tudo que prega. Você livremente dava seu amor espiritual a todos. Como seu amor era imotivado e incondicional, ele nunca diminuía ou perdia seu valor. Seu amor atravessa o tempo e espaço e atinge o coração de todos afortunados o suficiente para receber sua literatura transcendental. Você fica eternamente perto dos corações de seus discípulos fieis, que aderiram ao seu Bhagavat Vani. Por favor, me perdoe por pensar que poderia andar com seus sapatos*. Ninguém pode ser comparado a você. Eu deveria saber disso. Apesar de nunca poder calçar seus sapatos,  rezo para algum dia poder seguir esses divinos passos que você tão claramente colocou diante de mim.
*Nota do tradutor: Aqui, e em outros lugares desta história, Srutakirti faz uma alusão a uma expressão em inglês – "fit (ou walk) in your shoes" (literalmente calçar seus sapatos) que significa "ter a mesma capacidade" ou "atingir o mesmo nível".

Srila Prabhupada Uvaca 121
Dezembro de 1974; Los Angeles, CA, EUA;
ISKCON Nova Dwarka
Durante uma noite muita fria em Nova Dwarka, eu estava com as duas bocas do meu fogão acessos no meu quarto, para aquecê-lo o suficiente para conseguir dormir. Ajudava bastante, pois eu dormia numa esteira de palha usando meu chaddar como um cobertor. Eu tentava manter ao mínimo minha parafernália para ficar mais fácil de viajar em volta ao mundo com Srila Prabhupada. Às vezes, eu usava uma mala para Sua Divina Graça e uma pequena para mim, mas a maioria das vezes eu mantinha os pertences de nós dois na mesma mala.
Srila Prabhupada viu isso à noite e então, na manhã seguinte, ele me chamou bem cedo. Entrei em seu quarto, prestei reverências e olhei para meu sempre misericordioso guru. Ele disse: "Por que você está dormindo com o fogão aceso à noite?" Eu lhe expliquei que o calor do fogo me ajudava a dormir a noite, agora que tinha ficado tão frio.
Ele prosseguiu: "Você não tem um cobertor?" Respondi: "Não, Srila Prabhupada. Normalmente não preciso de um." Ele respondeu: "Tudo bem, vá até meu armário e escolha qualquer cobertor e suéter que quiser." Eu entusiasticamente corri até o seu armário. Depois de examinar os quatro cobertores cuidadosamente dobrados na estante, eu escolhi o mais grosso e colorido deles. Depois peguei uma de seus suéteres açafroados. Voltei ao quarto e lhe mostrei minhas escolhas. Ele sorriu em aprovação, acenando com a cabeça, e disse: "Tudo bem, pode ir agora." Eu prestei reverências e sai do quarto me considerando a alma mais afortunada do mundo.
Usei o cobertor todas as noites, me sentindo coberto pelo amor de Srila Prabhupada, que me manteve espiritualmente quente. Certo dia estava andando com um de meus amigos, Brahmarupa prabhu. Ele me perguntou se não queria dormir na sala do templo aquela noite, junto com os outros devotos. Eu aceitei. Como fico sempre sozinho, a idéia me pareceu interessante. Fui com meu cobertor colorido. Tinha um lado com um acabamento bem liso, tipo de seda, e do outro era bem peludo e macio. Quando entrei na sala Brahmarupa arregalou seus olhos e exclamou: "Onde você conseguiu isso?" Eu lhe disse: "Srila Prabhupada me deu-o." Quando eu disse isso, comecei a me sentir culpado por possuir algo tão valioso e disse: "Você quer?" Ele imediatamente disse: "Sim!" Então dei o cobertor  para ele.
Uma semana mais tarde, quando estava me preparando para dormir em meu quarto, Srila Prabhupada viu que não estava com meu cobertor. Ele perguntou: "Onde está o cobertor que eu lhe dei?" Envergonhado, eu respondi em voz baixa: "Um dos devotos o viu e, quando disse que era seu, ele ficou tão excitado que me senti na obrigação de dar para ele." Ele calmamente respondeu: "Tudo bem, pegue outro cobertor." Com um pouco mais de emoção ele disse: "E dessa vez não o dê para ninguém." Novamente, acatei alegremente sua generosa instrução e peguei outro cobertor prasadam.
Em certas ocasiões, quando estávamos em lugares frios, Srila Prabhupada me dava suéteres. Porém, nunca consegui ficar com sequer um deles. Invariavelmente um devoto descobria que era prasadam de Srila Prabhupada e eu ficava me sentindo egoísta e então o dava. Meus irmãos espirituais apreciavam muito prasadam de Srila Prabhupada. Quando viajava com Srila Prabhupada, eu ficava com muito pouco. Eu achava que não era prático carregar muitas coisas. Ao contrário, eu não estava sendo nada prático, mas na época eu não entendia isso.
Srila Prabhupada, você exibe completa fé no Supremo Senhor em todas suas atividades. Você freqüentemente nos dizia que se nós nos ocupássemos completamente no serviço de Krsna, então todas nossas necessidades seriam supridas. Pude vivenciar essa verdade diversas vezes enquanto realizava seu serviço pessoal. Não havia necessidade de fazer esforço específico. Sua simplicidade era exemplar. "Os homens comuns seguem os passos de um grande homem." A vida é uma luta constante quando esqueço de servir seus pés de lótus. Eu rezo para obter sua misericórdia sem causa e assim poder eternamente lhe servir sem me preocupar com meu conforto pessoal.

Srila Prabhupada Uvaca 122
Três de março de 1975; Dallas, Texas, EUA;
ISKCON Dallas
Srila Prabhupada viajou rapidamente pelo mundo ocidental. Normalmente, ele passava apenas alguns dias ou, no máximo, uma semana em cada templo. Os dois locais, que ele abençoou com estadias mais longas, foram Nova Dwarka em Los Angeles e Nova Navadvipa no Havaí.
Depois de ficar no Yatra de Atlanta durante dois dias, Srila Prabhupada e sua comitiva seguiram para o centro de Dallas, ficando lá por mais dois dias. Minha mente estava fixa no acordo que fiz com Paramahamsa Maharaja, onde eu voltaria para minha esposa e filho no Havaí antes de Srila Prabhupada partir para Índia. Parte de mim ansiava pelo conforto de sociedade, amigos e amor que a vida como grihastha oferecia. Uma outra parte de mim estava se acabando com sentimentos de culpa por largar meu amado Guru Maharaja. Com um coração intranqüilo era difícil para eu ficar sentado sozinho no quarto, hora após hora, dia após dia, esperando ser chamado. Meus sentidos estavam agitados, me obrigando a falar com Paramahamsa Maharaja para por o plano em prática.
Falei então com Paramahamsa, já que o centro de Dallas era o mais próximo de Los Angeles, onde Nanda Kumar estava. Eu lhe disse que estava na hora de fazer a troca entre Nanda Kumar e eu. A próxima parada de Srila Prabhupada era Nova Iorque, depois Índia. Eu tinha medo de ir para Índia. Como resultado eu geralmente ficava extremamente doente. Eu queria ter certeza que o acordo ia ser posto em prática. Era uma simples questão de providenciar o vôo de Nanda Kumar até Nova Iorque, e meu vôo poderia ser direto de Dallas até o Havaí.
Mais tarde naquela manhã, enquanto energicamente massageava Srila Prabhupada, Paramahamsa Maharaja, o secretário de Sua Divina Graça, entrou no quarto e prestou reverências. Ele disse: "Srila Prabhupada, deveríamos chamar Nanda Kumar em Los Angeles? Não deveríamos chamá-lo agora para substituir Srutakirti? Nanda Kumar poderá ser seu servo agora que estamos a caminho da Índia. Podemos tomar as providências necessárias?"
Para mim esse era o momento da verdade. Eu estava muito ansioso, esperando a resposta de Srila Prabhupada. Eu não sabia o que esperar, mas sabia que tudo era possível. Era curioso como era freqüente ter Srila Prabhupada tomando decisões enquanto massageava suas costas, impedindo com que visse a expressão em sua linda cara dourada. Eu fiquei sentado atrás de Srila Prabhupada, com as pernas cruzadas, vigorosamente esfregando, prendendo a respiração. Esperei muito pouco.
Srila Prabhupada respondeu: "Não estou muito ansioso para ter Nanda Kumar vindo comigo. Ele é caprichoso demais. Alguma mulher vai passar por perto e ele irá embora. E então, estará acabado. Será o fim. Ele é muito bom, ele é muito qualificado, mas ele é caprichoso demais. Uma menina cruzará seu caminho e aí acabou. Ele vai embora."
Paramahamsa, sentado em frente a Srila Prabhupada, disse: "Bem, Srila Prabhupada, o que poderemos fazer? Srutakirti deveria ir para Índia?" Passou-se três segundos antes de Srila Prabhupada responder. Era como se ele estava esperando eu dizer alguma coisa. Ele estava me dando a escolha. Minha ambivalência me manteve quieto. Eu estava suando frio, entendo que, apesar de minha apreensão, provavelmente eu estava indo para Índia com meu amado Srila Prabhupada.
Srila Prabhupada disse sem cerimônia: "Sim, ele pode vir." Novamente, Srila Prabhupada muito misericórdia e gentilmente me deu outra oportunidade para tomar uma decisão. Meu coração derreteu, meu Guru Maharaja queria que eu fosse come ele! Eu senti que meu amado Guru Maharaja precisava de mim! Srila Prabhupada me fez sentir tão heróico, que eu corajosamente aceitei ir para Índia com ele. Nada mais foi dito durante o restante da massagem. Paramahamsa prestou reverências e saiu do quarto. Continuei a massagear meu amado mestre espiritual até ele pedir para eu parasse.
Voltando ao meu quarto, contei tudo aos meus irmãos espirituais, rindo do que tinha acontecido. No fundo eu já sabia que isso ia acontecer. Depois de Srila Prabhupada ter tomado essa decisão, eu me senti muito aliviado. Algo de muito especial tinha acontecido! Srila Prabhupada tinha dado a entender que gostava de me ter com seu servo! Pode parecer besteira, mas para mim significava muito. Srila Prabhupada nunca dizia muito a respeito de meu serviço. Ele era transcendental, servindo o Supremo Senhor, e aceitava todas as situações como a misericórdia do senhor. Hoje ele disse que gostaria que eu fosse com ele. Srila Prabhupada tinha passado muito tempo me treinando e estava satisfeito com os resultados. Era uma boa sensação. Srila Prabhupada sempre expressava sua gratidão aos meus serviços indiretamente. Hoje ele confirmou isso.
Às vezes os devotos perguntavam sobre a natureza de um servo pessoal de primeira. Penso agora que um bom servo sempre ajuda o mestre antecipando suas necessidades, o satisfazendo sem ser solicitado. Um bom servo pessoal não pede muito em troca, nem precisa de muito estímulo ou de ter muitos problemas resolvidos. Um bom servo pessoal não inventa perguntas e só fala quando é questionado. Um bom servo pessoal não tenta manipular o mestre. Ele faz seu serviço e tenta não atrapalhar. Um bom servo pessoal só dá sua opinião quando solicitada. Todas suas perguntas devem ser feitas com sinceridade e submissão. Um bom servo pessoal é influenciado pelo Guru e não interfere na missão do Guru.
Senti-me maravilhoso ao saber que você queria que eu ficasse com você. Agora, sinto apenas tristeza por meu desejo de ficar com você não ter sido forte o suficiente. Srila Prabhupada, todo dia eu lamento e minhas emoções me atormentam. Eu sou a pessoa mais desgraçada na face da terra. Você nunca me mandou embora, mas ainda assim eu lhe deixei. Sem visão e tolo, eu achei que você estaria conosco para sempre através de seu vapu. Perdoe-me minha ignorância. Eu rezo para que você me de darshana mais uma vez. Estou no inferno, perdido e só, sem ver seu sorriso ou tocar seus pés de lótus macios como seda.

Srila Prabhupada Uvaca 123
Orgulho Espiritual
Um devoto receptivo pode aprender muito, ficando apenas sentado e quieto, vendo Srila Prabhupada. Eu já mencionei anteriormente que Srila Prabhupada, sentado com a sua coluna muito reta em seu jardim de Nova Dwarka, certa vez disse: "O devoto tem orgulho de ser o servo de Krsna." Isso era uma lição muito importante para mim, pois para ficava um pouco confuso tentando equilibrar minha humildade com meu orgulho de ser um servo de Krsna.
Eu era um tanto tímido na execução de meu serviço quando envolvia pedir a ajuda ou o serviço de pessoas fora da comunidade de devotos. Eu confundia minha humildade devocional com apreensão corporal. Eu podia ter tido muito orgulho de ser o servo de Krsna, o servo de Prabhupada; invés disso, eu achava que tinha que pedir desculpas. Iludido, eu achei que tinha que emanar humildade.
Amorosamente, Srila Prabhupada era a personificação do orgulho em ser o servo de Krishna. Às vezes quando Srila Prabhupada voltava ao seu quarto depois de um programa matinal ele virava-se para mim e dizia com um sorriso em seu rosto: "Você gravou a palestra de hoje?" Eu respondia: "Sim, Srila Prabhupada." Ele continuava: "Deixe-me ouvi-la. Eu quero ouvi-la." Em outras ocasiões ele estaria sentado atrás de sua mesa em seu quarto e, quando devotos entravam para lhe ver, ele perguntava: "Então, foi boa a palestra hoje?" É claro que os seus discípulos sempre respondiam com entusiasmo, adorando cada palavra que fluía dos lábios de lótus de seu mestre espiritual. Os devotos compreendiam mensagens especiais em algumas de suas palestras e até a entidade viva mais burra poderia entender o ponto central que Srila Prabhupada sempre e continuamente explicava.
Parecia que Srila Prabhupada ficava especialmente orgulhoso com certas palestras. Na minha experiência, quando ele estraçalhava a filosofia Mayavadi, ele se divertia muito. Ele orgulhosamente apresentava Krsna a todos, claramente derrotando qualquer falso argumento deles. Ele tinha muito orgulho de ter Krsna como seu Senhor e Mestre.
Srila Prabhupada demonstrava muito orgulho de seus discípulos. Numa linda tarde em julho de 1973, Srila Prabhupada estava sentado no gramado do Bhaktivedanta Manor com alguns de seus discípulos e convidados Indianos. Eu estava lendo um trecho; ‘Cinco Aspectos do Senhor Caintanya’, uma publicação inicial e parcial do ‘Sri Caintanya Caritamrta’. Eu estava me esforçando, tentando pronunciar o Bengali através da transliteração. Para minha grande surpresa, depois de ler uns dez minutos Srila Prabhupada disse: "Veja só como ele pronuncia bem o Bengali. Apesar de nunca ter lido em Bengali em toda sua vida, com esse método ele pode pronunciá-lo muito bem."
Muitas vezes Srila Prabhupada elogiava seus discípulos ocidentais diante da comunidade Indiana. Ao fazer isso ele cumpria muitos objetivos. Ele estimulava seus discípulos a continuarem a progredir em Consciência de Krsna. Ele estimulava a comunidade Indiana a levar mais a sério aquilo que era o direito de nascença deles. Ele mostrava a todos que pela misericórdia de Guru e Gauranga e a potência do Santo Nome, até mesmo mlecchas e yavanas poderiam progredir na vida espiritual. Srila Prabhupada sempre dava crédito à potência do Nome do Senhor e de seu Guru Maharaja por tudo que tinha feito. Certa vez em seu quarto em Nova Dwarka, Srila Prabhupada me disse: "Vocês rapazes e meninas ocidentais tem se intoxicado tanto, que se não fosse pelo cantar do Maha mantra, não seriam capazes de fazer nada."
Em maio de 1975, em Perth, Austrália, Srila Prabhupada estava conversando com um professor. Srila Prabhupada estava falando muito enfaticamente sobre as diferentes classes de seres humanos. Paramahamsa Maharaja e eu estávamos sentados no quarto nos divertindo, vendo nosso mestre espiritual expressar ao bastante receptivo senhor que quase todos eram homens de quarta classe. Srila Prabhupada olhou para o professor e disse: "Você também é um homem de quarta classe." O senhor respondeu: "Bom, que posso fazer?" Srila Prabhupada respondeu energicamente:"Você deve se tornar um devoto puro, como eles!" Ele acabou a frase apontando a Paramahamsa e eu, como exemplos de um devoto puro. Meu irmão espiritual e eu olhamos um para o outro e sorrimos largamente. Sabíamos que não éramos devotos puros, mas adorávamos ser usados como evidências por nosso querido mestre espiritual. Sabíamos que Srila Prabhupada jamais, mas nunca mesmo, diria, "Torne-se um devoto puro como eu." Essa era uma das lindas qualidades de meu mestre espiritual, um devoto puro do Senhor.
Srila Prabhupada, tudo que posso ter feito na minha vida é única e exclusivamente graças a sua misericórdia sem causa. Estou sempre consumido pelo orgulho falso, mas meu maior orgulho, corretamente situado, é de me identificar como seu servo. Você é meu Senhor e eu tenho muito orgulho de ser seu servo. Rezo para ficar eternamente assim. Por favor, me dê a inteligência para nunca esquecer minha eterna posição. Apesar de não ter qualquer qualificação, eu tenho fé em suas palavras quando apontou para Parahamsa e eu. Eu sei que você nos abençoou a obter serviço devocional puro nessa vida ou numa vida futura. De sua boca para o ouvido de Krishna. Todas as glórias a você, Srila Prabhupada!

Srila Prabhupada Uvaca 124
Março de 1975; Mayapur, Índia;
ISKCON Mayapur Candrodaya Mandir
Mais de duas semanas já se passaram desde que Srila Prabhupada me animou a acompanhá-lo em seu tour da Índia. Muitas lições valiosas estavam à frente. Como já mencionei, provavelmente demais, eu estava com medo de ir para Índia por razões de saúde. Durante minha primeira viagem para Índia com Srila Prabhupada em 1972, eu contraí icterícia, malária, colites e, é claro, disenteria – tudo nos primeiros dois meses. Os efeitos custaram a ir embora e minha saúde estava então um pouco frágil. Esse tour de Srila Prabhupada na Índia durou dois meses e, pela graça de meu querido Gurudeva, eu fiquei bem de saúde o tempo todo.
Não gosto de falar sobre minhas atividades, mas preciso porque Srila Prabhupada pessoalmente cuidou para que eu recebesse todo que precisasse para ficar saudável. Eu comia frutas frescas, iogurte, e queijo de vaca. Eu também comia legumes ao vapor e arroz. No café da manhã eu comia mingau de aveia. É claro que continuava comer maha de Srila Prabhupada sempre que possível. Freqüentemente Srila Prabhupada me perguntava se estava tomando leite de vaca fresco e comendo frutas o suficiente. Ele falava para a Mataji encarregada de preparar suas refeições para assegurar que eu estava recebendo tudo que quisesse. Não quero parecer ofensivo, mas Srila Prabhupada cuidou de mim não como um pai, mas como uma amável e dedicada mãe. Sua Divina Graça se tornava querido a todos que o encontravam. Fiquei encantado com seu carinho e amor. Ele se preocupa e cuida muito de todos nós. Fico até envergonhado, pois nunca mereci esse tratamento transcendental.
A maravilhosa qualidade de compaixão de Srila Prabhupada não era direcionada apenas para mim. Ele amava todos seus discípulos. Quando ele chegou no Krsna Balaram Mandir para a abertura do templo ele chamou seus líderes no quarto e disse: "Como estão todos sendo tratados? Estão recebendo leite de vaca para beber? Eles têm que receber leite de vaca. Eles não devem tomar leite de búfalo." São literalmente inumeráveis as vezes que Srila Prabhupada falava sobre a importância de dar boa prasadam para os devotos. Uma das primeiras coisas que aprendi é que toda visita tem que tomar prasadam antes de ir embora, mesmo se fosse apenas um pedaço de fruta.
Durante o utsava, festival de abertura do Krsna Balaram Mandir, os devotos ficaram em diversas casas de hóspedes em volta do templo, já que não havia lugar suficiente no templo. Srila Prabhupada falou para os responsáveis: "Providenciam para que os devotos tenham bons lugares para ficar, eles não devem ficar desconfortáveis." Era um enorme prazer ver uma pessoa Consciente de Krsna em ação. Srila Prabhupada estava completamente ciente de tudo aquilo que se passava a sua volta – e tudo aquilo que não se passava. A carinhosa atenção de Srila Prabhupada influenciava todos devotos a fazerem o melhor possível.
Srila Prabhupada se certificava que toda sua comitiva comesse boa prasadam e tinham todas suas necessidades atendidas. Ele disse aos líderes para se certificarem que todos sob sua responsabilidade recebiam o mesmo tratamento. Eu nunca ouvi Srila Prabhupada falar para qualquer pessoa que essa estava comendo em excesso. Porém, era comum Sua Divina Graça, falar para seus discípulos, que estavam acordando muito tarde, se não acordassem cedo o suficiente para aproveitar os benefícios espirituais de Brahma Muhurta.
Srila Prabhupada, você sempre estabeleceu o exemplo perfeito, nos mostrando como agir em todas circunstâncias. Quando estava doente você continuava a realizar seu serviço sem reclamar, mas quando eu reclamei você carinhosamente atendeu a todas minhas necessidades. Eu lhe devo minha vida e muito mais. Para si mesmo você aceitava tudo que Krsna providenciava, mas para seus discípulos você se esforçava para providenciar todo o conforto com o qual estavam acostumados. Você tinha prazer em ver seus discípulos ocupados em serviço devocional, sem ansiedades. Por favor, me abençoe com o desejo de tratar meus irmãos e irmãs espirituais com o mesmo amor e carinho que você me proporcionou.

Srila Prabhupada Uvaca 125
Setembro de 1973; Bombaim, Índia;
ISKCON Juhu
Já falei muitas vezes de meu medo de ir para Índia com Srila Prabhupada, devido a questões de saúde que dificultavam meu serviço. Diferenças culturais também eram uma das importantes razões que me levava a não gostar de viajar para esta parte tão diferente do mundo. Eu não era o único com uma aversão a ficar na Índia. Testemunhei a vinda de muitos a essa terra sagrada, que rapidamente foram embora devido a uma série de dificuldades, como problemas de saúde, falta de estrutura, problemas pessoais com a gerência e choque cultural.
Testemunhei dois discípulos veteranos de Srila Prabhupada chegando a seus limites pessoais na terra sagrada. Histórias de importantes oportunidades de pregação no ocidente os chamavam de volta para os EUA. Pregar para os membros vitalícios parecia ser dolorosamente lento na Índia. Os Indianos nos diziam que nós não estávamos lhe dizendo nada de novo, afinal eles tinham passado suas vidas ouvindo sobre Krsna. Membros vitalícios freqüentemente diziam: "Ah sim, conhecemos Krsna."
Srila Prabhupada tinha uma boa maneira de explicar essa situação. Ele dizia que os ocidentais estavam a 100 quilômetros de Krsna, mas agora, sob sua tutela, estávamos caminhando em direção ao Senhor. Os Indianos estavam a 10 km de Krsna, mas infelizmente estavam se afastando. Nosso problema, então, era de descobrir uma maneira de fazê-los virar, para que pudessem ir "De Volta ao Supremo." Às vezes não era nada animador.
Alguns discípulos de Srila Prabhupada estavam em seu quarto, suplicando a Srila Prabhupada para deixá-los voltar ao ocidente. Um deles disse: "Nós somos como homens de negócio, arrecadando dinheiro e registrando membros vitalícios." De certa forma isso era verdade, mas a diferença era que estávamos fazendo isso para Srila Prabhupada e Krsna, não para nosso lucro pessoal.
Srila Prabhupada era compreensivo em relação a frustração deles, mas disse de forma severa: "Mas eu quero que fiquem aqui. É o desejo de seu mestre espiritual ficar aqui, então é melhor ficarem." Continuaram a argumentar. Um dos sannyasis disse: "Não é serviço ir para América e pregar? Na América a pregação é tão melhor." Eu estava sentado num canto do quarto, impressionado com a insistência de meus irmãos espirituais. Era algo um tanto raro de se ver. Os discípulos de Srila Prabhupada pareciam ser incapazes de desistir. Eles estavam determinados a saírem da Índia e Srila Prabhupada parecia ainda mais determinado a mantê-los aqui. Era evidente que Srila Prabhupada considerava a pregação na Índia como de total importância. Essa foi uma lição que aprendi em minha primeira viagem a Índia com meu Guru Maharaja.
Antes, em janeiro de 1973, no apartamento de Kartikeya Mahadevia, uma discussão entre Srila Prabhupada e alguns de seus discípulos ficou bastante acirrada. Esses dois sannyasis também estiveram presentes nessa reunião. Incrível testemunhar a determinação de Srila Prabhupada, e sua enorme capacidade em administrar seus jovens discípulos em serviço devocional. Srila Prabhupada estava furioso depois de ter recebido diversas reclamações de membros vitalícios que não estavam recebendo seus livros. Srila Prabhupada disse aos seus discípulos no quarto: "Se vocês não conseguem administrar isso corretamente, então é melhor encerrarmos nossas atividades na Índia e ir embora. Isso não é nada bom. Tudo tem que ser feito muito cuidadosamente." Todos podiam entender como era importante para Srila Prabhupada distribuir essa literatura transcendental. E todos nós queríamos satisfazer Sua Divina Graça, não importa quais fossem os obstáculos que  tivéssemos à frente.
Agora, nove meses depois, Srila Prabhupada estava novamente pedindo a esses mesmos dois sannyasis para ficarem na Índia. A reunião não estava indo bem. Eu já queria sumir, ao ver como Srila Prabhupada estava chateado. De outro lado, podia bem entender a dificuldade que era ficar na Índia. Srila Prabhupada estava dependendo desses dois homens para ajudá-lo em seu importante trabalho, mas eles simplesmente não conseguiam ficar mais. Foi uma batalha dura. A intensidade das negociações era algo que poderia esperar ver entre pessoas do mesmo nível, nunca entre discípulos e o mestre espiritual. Srila Prabhupada queria que eles ficassem e pronto. Seus discípulos argumentavam; diziam que tinham que sair da Índia para pregar, que o ocidente estava cheio de oportunidades. Finalmente, demonstrando puro desgosto, Srila Prabhupada disse: "Tudo bem. Cantem suas dezesseis voltas, sigam os quatro princípios reguladores e façam o que bem entender."
Foi assim que essa rara conversa chegou ao seu fim. Nosso magnânimo líder lhes deu permissão para servirem ele da forma que pudessem. Novamente ficou claro que Srila Prabhupada nos considerava voluntários em seu exército transcendental. Nós é que tínhamos que decidir o quanto queríamos a misericórdia e o avanço espiritual de servir nosso mestre espiritual de acordo com seus desejos. Diariamente nós escolhíamos o que e o tanto de serviço que estávamos dispostos a fazer ao nosso Guru Maharaja.
Certa vez em seu quarto em Nova Dwarka, Srila Prabhupada disse: "No fundo, todos nós temos que voar nosso próprio avião." Srila Prabhupada,  ainda estou tentando voltar para o aeroporto. Sem você me guiando, fica muito difícil achar o caminho de volta. Você deu a todos nós tudo que era necessário para nos ocuparmos em serviço devocional, mas eu acho que jamais serei qualificado o suficiente para voar em meu próprio avião de volta para Krsna. Permita-me servir aqueles que estão qualificados para voarem seus aviões "De Volta ao Supremo." Rezo para que você me permita ser seu comissário de bordo em suas viagens pelo universo liberando almas condicionadas.


Srila Prabhupada Uvaca 126
Novembro de 1972; Vrindaban, Índia;
Templo de Radha Damodara
Desta vez Srila Prabhupada ficou num quarto no segundo andar do Templo de Radha Damodra. Não me lembro a razão por ele não ter ficado em seu habitual conjunto de dois quartos no primeiro andar. Seu quarto no segundo andar tinha uma grande varanda de concreto, que ficava em cima de seu quarto no primeiro andar. Em Vrindaban, quase todos os prédios são feitos de tijolo e concreto, portanto os tetos são superfícies lisas de concreto que podem ter muitas utilidades.
Os aposentos de Srila Prabhupada do segundo andar tinham uma sala e um quarto, e sua comitiva ficava em um outro quarto separado. Srila Prabhupada recebia sua massagem na varanda, em frente ao seu quarto, e os raios do sol refletiam em sua dourada e brilhante pele, besuntada com óleo de mostarda. Ele me disse: "Ponha o balde de água no telhado. O sol há de esquentá-lo." Usando sua lota e com sua gumpsa ele tomava seu banho na varanda com apenas esse único balde d’água. Srila Prabhupada fazia questão de manter sua manutenção corpórea muito simples. Depois de tomar seu banho ele voltava ao seu quarto e vestia roupas limpas que eu tinha colocado em sua cama antes da massagem. Hoje o clima estava muito quente, portanto Srila Prabhupada só vestiu seu dhoti, sem kurta.
Certo dia, alguns minutos antes dele entrar em seu quarto para se vestir, eu o ouvi berrando. Ainda estava na varanda limpando tudo. Tão logo lhe escutei, entrei correndo no quarto. A porta da frente estava aberta. Não fazia a menor idéia do que se passava e, apesar de ter entrado correndo, por força de hábito eu prestei reverências. Srila Prabhupada estava atrás de sua mesa. No que eu me sentei, com pressa, e olhei para ele, ele atirou sua bola de tilaka em direção a minha cabeça. Era do tamanho de uma bola de golfe e ele a jogou com a força de um arremessador de beisebol. Errou minha cabeça por poucos centímetros. Levei um susto e estava com medo. Perguntei: "Qual é o problema?" Apontando em direção a minha cabeça ele berrou: "Aquele macaco roubou meu sapato." Eu me virei a tempo de ver uma das pestes peludas  de Vrindaban sair correndo do quarto com a sandália de Srila Prabhupada em sua mão.
Havia muitos macacos nessa parte do Dhama e eles estavam sempre procurando um saco de contas, óculos, ou outro pertence valioso para roubar, que eles então usavam para trocar por comestíveis. Fiquei aliviado de saber que meu Guru Maharaja estava jogando a bola de tilaka no macaco e não em mim. Foi uma experiência extremamente fora do comum ter uma bola de tilaka passar voando próximo a minha cabeça assim. Felizmente meu mestre espiritual tinha uma boa mira.
O macaco pulou para o telhado do quarto de Srila Prabhupada e esperou. Srila Prabhupada disse: "Esse malandro pegou minha sandália. Pegue um pouco de doce e venha para fora."Peguei uns doces de leite do vidro acima da estante de Srila Prabhupada e segui meu guru para o confronto na varanda. Srila Prabhupada levou sua bengala. O macaco estava sentado na beira do telhado com a sandalha em sua boca esperando o início das negociações.
O telhado ficava fora de nosso alcance, uns dois metros e pouco do onde nós estávamos. Srila Prabhupada começou a pular para cima e para baixo, ameaçando o macaco com sua bengala. O macaco pareceu até gostar da atenção que estava recebendo. Ele parecia não se sentir nem um pouco ameaçado ou preocupado com a possibilidade de Srila Prabhupada conseguir pegar a sandália. O diabinho peludo começou a balançar a sandália, nos provocando. Srila Prabhupada continuou a pular, tentando acertar o macaco com sua bengala e disse: "Esses macacos são tão malandros." O macaco continuou a nos provocar. Agora estavam fazendo caretas. Era evidente que se tratava de um profissional, muito hábil em seqüestrar os bens dos outros para obter um resgate. Era um ladrão esperto que tinha prazer em fazer suas negociações malandras.
Essa foi minha primeira experiência nesse tipo de combate e, devo admitir, achei tudo muito divertido. Pronto para me envolver eu disse: "Srila Prabhupada, deixe-me ver se consigo lhe dar um doce em troca da sandália." Srila Prabhupada respondeu: "Sim, tente isso." Com meu destemido líder ao meu lado, cuidadosamente levantei minha mão com o doce, esperando que o macaco me desse aquela sandália mágica em troca. Como era de se esperar, ele tentou me enganar. Tentou pegar o doce sem largar a santa sandália de Srila Prabhupada. Novamente tentei. Ofereci o doce e fiz um sinal para que me desse a sandália. O macaco começou a me dar a sandália com uma mão e pegar o doce com a outra. Tomei menos atenção ao observar o meu sucesso. Em frente a meu Guru, eu estava prematuramente orgulhoso de meu sucesso antecipado. Mas o macaco me enganou, ficando com o doce e a sandália. Infelizmente, o macaco não abriu mão da sandália. Para minha vergonha, eu consegui perder três doces ao inimigo sem sequer chegar perto de pegar a sandália de lótus.
O macaco começou a mastigar a sola da sandália com vontade. Ele conseguiu rasgar um pequeno pedaço e deixar várias marcas de dentes nele. Srila Prabhupada não achou aquilo nada engraçado e disse: "Esqueça isso. Agora ele estragou o sapato." Sua Divina Graça voltou ao seu quarto e se preparou para o almoço. Eu comecei a segui-lo. Olhei para cima e vi o macaco largar a sandália e fugir. Imagino que ele tenha entendido que a sandália não valia nada para ele se não valesse para nós. Achei melhor pegar a sandália e então chamei o Girisha, o filho de Hayagriva, e pedi para ele subir até o telhado para pegar a sandália de Srila Prabhupada. Girisha tinha dez anos de idade e estava ansioso para ser útil.
De baixo vi Girisha indo pegar a sandália. Quando ele estava se abaixando para pegá-las, um bando de macacos sem vergonhas, apareceram de repente e o atacaram. Eles lhe deram o maior susto. Um dos macacos começou a ameaçá-lo. Girisha berrou: "Srutakirti! Srutakirti!" Assustado, olhei a meu redor e vi um pedaço de bambu. Peguei e joguei para ele. Tão logo ele pegou a pedaço de bambu, começou a ameaçar os macacos com ele, eles rapidamente recuaram. Girisha pegou a sandália e correu escada abaixo, com os macacos em sua cola. Girisha heroicamente me entregou a sandália.
Levei a sandália até Srila Prabhupada, uma vez que ele a tinha usado durante muito tempo e parecia gostar muito dela. Ele tinha outras, mas gostava mais dessa. Quando eu lhe mostrei a sandália ele disse: "Ah, não parece estar tão ruim. Pegue um pouco de cola e veja se consegue consertá-la." Eu a levei de volta a meu quarto e a consertei da melhor forma possível. Corri de volta para o quarto de Srila Prabhupada com a sandália remendada, prestei reverências, e lhe mostrei meu trabalho. Com um sorriso em sua cara e acenando sua cabeça em aprovação ele disse: "Ficou bom. Ainda posso usá-las."
Duas semanas mais tarde estávamos em Hyderabad, na casa do Sr. Pithi, um membro vitalício muito rico. Certo dia o Sr. Pithi viu a sandália de Srila Prabhupada. Eu lhe expliquei o que tinha acontecido. Ele disse: "Adoraria comprar novas sandálias para Srila Prabhupada." Eu lhe disse que era uma ótima idéia. Ele mandou seu empregado comprar sandálias. Quando as novas sandálias foram apresentadas a Srila Prabhupada ele as aceitou carinhosamente e mais tarde, disse: Não posso usá-las. São feitas de couro." Ele continuou a usar sua sandália danificada durante várias semanas, até chegarmos a outro templo. Compramos uma sandália que ele gostava e ele abriu mão da que estava usando. Sua sandália rasgada esta hoje na casa de Kirtiraja prabhu em Alachua. Estão dentro de um mostruário de vidro e são veneradas por seus curadores.
Srila Prabhupada, é muito difícil descrever o imenso prazer que senti naquele dia, em pé ao seu lado, enquanto você tentava acertar o macaco com sua bengala. Durante alguns poucos minutos estávamos lutando contra um inimigo em comum, na terra de Krsna. Posso nunca mais poder participar de passatempos transcendentais assim novamente, mas eu nunca esquecerei aquele dia especial, pois durante alguns minutos você me deixou participar de um jogo muito divertido em Vrindaban Dhama. Rezo para que minha memória daquele dia nunca seja tirada de mim.

Srila Prabhupada Uvaca 127
Setembro de 1974; Calcutá, Índia;
ISKCON Calcutá
Durante a estadia no Templo de Calcutá, em 1973, pude observar como Srila Prabhupada gostava da culinária Bengali. Por incrível que pareça, durante todo o tempo que fui servo pessoal de meu amado Srila Prabhupada, Sua Divina Graça não comeu muito a  típica prasadam Bengali. Mesmo quando ele ficava nos templos de Calcutá e Mayapur, ele regularmente honrava prasadam feita por seus devotos ocidentais. O problema era que as maravilhosas preparações Bengalis, apesar de serem muito gostosas, continham muito óleo de mostarda e Srila Prabhupada já tinha dito: "Para mim é difícil de digerir."
Certo dia no Templo de Calcutá, Tamala Krsna Maharaja entrou no quarto de Srila Prabhupada e prestou reverências. Sentado confortavelmente atrás de sua mesa, Srila Prabhupada estava efulgente como de costume. Tamala Krsna Maharaja perguntou: "Você não disse que óleo de mostarda é para ser usado externamente no corpo e ghi internamente na comida?" Srila Prabhupada sorriu e respondeu: "Sim." Tamala Krsna Maharaja continuou: "Então, isso não significa que não deveríamos usar óleo de mostarda na cozinha? Às vezes alguns devotos usam óleo de mostarda na preparação de alimentos. Eu não acho que isso seja uma boa idéia." Srila Prabhupada riu e disse: "Bem, é verdade, mas óleo de mostarda é muito gostoso. Faz as verduras ficarem de primeira. Portanto, em Bengal, todos usam óleo de mostarda na cozinha. É muito gostoso."
Às vezes, quando Srila Prabhupada ficava em Bengal, sua irmã vinha ao templo cozinhar para ele. Se por um lado isso era bom, por outro criava muitos problemas. Todos sabiam que a irmã de Srila Prabhupada, Pishima, entrava na cozinha do templo contrabandeando óleo de mostarda debaixo de seu sari para usar no preparo das refeições de seu amado irmão. Como Srila Prabhupada, Pishima tinha o hábito de escutar o que tínhamos a dizer e depois fazer o que ela bem queria. Srila Prabhupada comia tudo que ela preparava e ocasionalmente reclamava mais tarde: "A comida que ela me fez está me fazendo passar mal."
Ele até brincava: "Acho que ela está querendo me matar." Às vezes eu dava lhe uma bronca, como de pai para filho, dizendo: "Prabhupada, você não fica doente quando come as coisas feitas em sua panela, mas quando come as coisas que sua irmã prepara você fica doente." Ele respondia com convicção: "Sim! Não me dê outra coisa. Deixe me comer apenas aquilo que você prepara. Se minha irmã me dar algo, você o coma, se quiser. Eu não o quero."
Fiquei muito animado com sua determinação em seguir minhas valiosas instruções. É claro, ele nunca seguiu as instruções dos outros por muito tempo, especialmente no que se tratava de sua dieta. Ele sempre fazia o que bem queria. Certa vez, um dos sobrinhos espirituais de Srila Prabhupada, um brahmacari Bengali, visitou Srila Prabhupada em seu apartamento em Juhu. Ele era um ótimo cozinheiro e se ofereceu para preparar shukta, um prato de legumes amargo. Fiquei assistindo o jovem devoto fritar com talento grandes pedaços de verdura, incluindo o melão amargo. Quando ele acabou tinha um grande pote de sopa muito gordurosa e amarga. Srila Prabhupada adorou, se deliciando a cada mordida. Ele disse: "Isso é a coisa mais incrível. Srutakirti, você tem que aprender a fazer isso. Faça desse jeito. Está de primeira."
Nunca fui capaz de preparar aquele prato tão bem quando o jovem brahmacari. Felizmente para mim, Srila Prabhupada aceitava as comidas muito mais simples que eu preparava regularmente. Fiquei muito feliz em ouvi-lo dizer que não ficava doente com minhas comidas.
Srila Prabhupada, eu sempre fico maravilhado com dimensão de sua compaixão. Você regularmente aceitava serviço de qualquer um, não importava as conseqüências que isso lhe trazia. Ninguém sabe disso mais do que eu. Você nunca desistiu de mim e eu sei que, enquanto tiver um desejo sincero de lhe servir, você nunca irá me deixar. Por favor, deixe me adquirir um gosto por aquela shukta que você comeu e um gosto por serviço devocional. Ambos são amargos demais para eu poder saborear com esses meus sentidos inutilizados por vidas e mais vidas comendo coisas demoníacas

Srila Prabhupada Uvaca 128
Vinte e sete de setembro de 1972; Los Angeles, CA. USA;
Nova Dwarka
Abaixo um trecho da carta que mandei a Kirtananda Maharaja três semanas depois de deixar Nova Vrindaban e de me ter tornado servo pessoal de Srila Prabhupada:
"Eu estou começando a entender que qualquer coisa ligada a Srila Prabhupada é realmente nectárea. É pela misericórdia sem causa dele que finalmente consegui me ocupar num trabalho de pregação que realmente gosto – descrever as gloriosas atividades de nosso amado mestre espiritual aos outros devotos. Cada palavra dita e cada passo dado por Srila Prabhupada  é uma fonte de néctar para milhares de discípulos ao redor do mundo. Só Prabhupada pode converter vidas desgraçadas em algo aproveitável. Ele aceita o mais insignificante serviço como um grande feito.
"Enquanto massageava Srila Prabhupada ontem, mencionei que fazíamos aratis para as vacas. Quando disse isso, Prabhupada  ficou mais sério. Eu lhe perguntei se era bom fazer isso e ele disse que não. Eu lhe perguntei se tinha algo de especial para fazermos pelas vacas. Ele disse: "Mantenham as vacas limpas, passe escova e banhe elas e podem também polir seus chifres e cascos."
"Prabhupada recebeu sua sandesa ontem e ele me pediu para colocar duas delas em seu prato ontem à noite, junto com abacaxi e leite quente. Ele deu uma mordida e disse: ‘Kirtananda Maharaja fez sandesa de primeira.’ Ele então disse que sandesa e rasagulla são chamados de doces Bengalis e que são ‘padrão’. Ele tem criticado o fato do templo de Los Angeles ficar inventando doces – doces com ‘puffed rice’, carob, leite em pó, corante, pasta de amendoim, etc. – coisas que ele não gostou. Ele disse: "Eu lhes dei sandesa, rasagulla e bolas doces. Esses são doces padrões e são muito bons. Por que ficam inventando tantas coisas diferentes?’ Então, ontem à noite, fiz queijo e preparei sandesa hoje de manhã. No almoço eu lhe dei uma feita por você e uma minha. Ele comeu as duas. Quando terminou, lhe perguntei como estava a sandesa. Ele sorriu e disse: "Você as preparou?!" Eu lhe contei o que tinha feito e ele disse que estavam muito bons. Ficou muito feliz, pois sandesa é um de seus doces favoritos."
Srila Prabhupada, a verdade absoluta nunca muda. Vinte e cinco anos se passaram desde que escrevi essa carta a Kirtananda Maharaja. Por sua misericórdia sem causa pude redescobrir um, "trabalho de pregação que realmente gosto". Rezo para que nunca mais deixe tantos anos vazios passarem sem glorificar meu magnífico mestre espiritual. Por favor, me dê mais uma oportunidade de preparar sandesa para seu almoço – assim poderei saborear sua maneira de me encorajar, ao arregalar seus olhos e declarar: "Isso está muito bom." 

Srila Prabhupada Uvaca 129
Srila Prabhupada, hoje estou começando a aceitar a passagem de seu querido servo, Upendra Prabhu. Fico sempre impressionado ao constar quão pouco aprendi sobre Consciência de Krishna. Falei muito com Upendra no verão passado. Ele me falou de sua condição e que era provável que morreria no ano seguinte. Apesar de estar ciente de sua doença, ainda assim pensava, "Não, ele não nos irá deixar tão cedo." Me defronto com minha incapacidade de aceitar a morte, e meu querido amigo, Upendra, agora se foi.
Isso me lembra de quando eu fui lhe visitar em agosto de 1977. Era então presidente de Nova Nabadwip, o templo do Havaí. Fui para Vrindaban com Madhudvisa prabhu para passar um tempo com você, Srila Prabhupada. Quando cheguei e vi sua condição, fiquei muito perturbado. Você tinha perdido muito peso e estava muito fraco. Ainda assim, você nos recebeu com entusiasmo. Você estava charmoso e efulgente como sempre, nos encorajando. Você disse a Madhuvisa:"Então, permaneça como grihastha e renda seu serviço. Não há problema algum. Se a pessoa não pode seguir em frente, não tem problema. O fracasso é a base do sucesso. Depois tente. Tente novamente. Onde está Srutakirti? Como está você?" Respondi: "Muito bem, obrigado." Srila Prabhupada disse: "Srutakirti também é um grihastha. Então vocês podem trabalhar juntos para melhorar esse movimento. Essa é nossa ambição. Grhe ba banete thake, ha gauranga bole dake, narottama mage tara sanga. ‘Ficando em casa ou como um sannyasi, se ele é devoto do Senhor Gauranga, eu quero sua associação.’ Isso é de Narottama Thakura... Grhe ba banete thake, ha gauranga bole dake, narottama mage tara sanga. Então siga os princípios e qualquer posição será adequada. Não se deixe ser levado pelas ondas de maya. Capture Caintanya Mahaprabhu e você será salvo. Está bom assim? Não nos deixe. Você é bem...pelo menos você fez avanços. Você é um dos devotos importantes. Então não perca essa posição agora. Administre da posição que você quiser ficar. Agora Gaurasundara também veio. Então fico feliz em ver que você...Seu tufo de cabelo está longo. Sim. Corte-o. Dê a eles um bom lugar para ficar." Tamala Krsna disse: "Prasadam." Srila Prabhupada respondeu: "Aceite prasadam e fique aqui durante um tempo. É claro que, de acordo com meu horóscopo, esses são meus últimos dias. Mas se Krsna quiser me salvar, aí é diferente. Eles calcularam oitenta e dois anos e dois dias?" Tamala Krsna disse: "Oitenta e um anos, cinco meses, e 28 dias." Srila Prabhupada continuou: "Isso é de acordo com os cálculos de meu horóscopo. Oitenta e um anos se completaram e eu começarei meu octogésimo segundo ano. Não importa se eu deixar esse corpo. Mesmo na morte eu continuarei vivendo. Um ano antes ou um ano depois...Agora, na medida do possível eu lhes treinei. Tente seguir os princípios. E siga em frente. Não deixe que os truques de maya o atrapalhem. Continue, siga em frente, a qualquer custo. Bhaktivinoda Thakura disse:  Surgem tantos obstáculos, maya é muito forte e ainda assim, nós continuamos seguindo em frente. Isso é bom."
Passei as duas seguintes semanas no Krishna Balaram Mandir. Upendra estava massageando-o e dando-lhe banhos de esponja. Ele me permitiu realizar esse maravilhoso serviço com ele. Pela sua misericórdia e a misericórdia de Upendra prabhu  pude novamente tocar o corpo de meu transcendental pai espiritual. Era o serviço ao qual eu estava mais apegado, e ter Upendra ao meu lado o fez mais doce ainda. Ele era um servo tão maravilhoso. Ele carinhosamente partilhou o néctar do serviço comigo, sabendo que ao compartilhar você com outros, sua própria êxtase aumentava.
Quando estava me preparando para ir embora de Nova Nabadwip, Upendra me deu a esponja que usamos para banhá-lo como um presente de despedida. Estava perfumada com o cheiro de seu corpo e o pó que usamos durante a massagem. Eu a dei quase toda, mas minha esposa, Kusa, conseguiu ficar com um pequeno pedaço e o colocou numa moldura. Está hoje em seu altar em nossa sala de templo.
Tolamente deixei Vrindaban cedo demais. Eu poderia ter ficado com você se meu desejo você mais forte, mas, pensando que era indispensável como presidente de templo e não realizando que nunca mais veria seus pés de lótus novamente, parti. É uma decisão que vou me arrepender por toda eternidade. De repente, você se foi. Eu nunca pensei que isso fosse acontecer. Você me ensinou tanto sobre a natureza temporária deste mundo material, mas aprendi muito pouco. Quando vou aprender aquilo que você tão cuidadosamente ensinou a esse tolo servo. Não há nada mais valioso nesse mundo que a associação com os devotos do Senhor. Quando vou aprender que o único néctar nessa vida é a associação com os devotos de Krsna?
Srila Prabhupada, eu me identifico muito com Upendra. Basicamente ele é carinhosamente conhecido como sendo seu servo pessoal. Ele era muito sentimental. Depois que você foi embora ele ficou mais conhecido por suas dificuldades em seguir o caminho de Consciência de Krsna. Minha condição depois que você deixou seu corpo tem sido similar. Você misericordiosamente deu sua mão e levou seu servo, Upendra, ajudando-o cuidadosamente em sua passagem para o próximo mundo. Você nos mostra como é compassivo e carinhoso para conosco. Você nunca reconhece nossos maus hábitos, graciosamente mostrando gratidão pelo serviço que façamos, não importa quão insignificante.
Srila Prabhupada, sou muito caído e preguiçoso. Não consigo sentir sua presença desde que partiu deste mundo. Meu apego a você é sentimental e sou incapaz de realizar qualquer serviço útil. Por favor, me leve deste lugar horrível para que possa massageá-lo, junto com meu irmão espiritual, Upendra prabhu. Olhe para mim carinhosamente e me salve de mim mesmo.
Você vive eternamente em suas instruções e sua presença pode ser vista em seus discípulos que seguem essas instruções, se tivermos olhos para ver. Por favor, lembre-se de mim como lembrou de Upendra. Dê-me essa alegria de ter a associação de meus irmãos e irmãs espirituais no momento da morte. Rezo para poder estar cantando os santos nomes de Guru e Gauranga ao deixar meu corpo e assim seguir os passos de meu mais afortunado amigo e irmão espiritual, Upendra prabhu.